BALADA PARA UMA PERUA SÓ
Em noites
De insônia
Sônia Cristina
Guarda as giletes
As agulhas de vodu
As lâminas
Facas
Gumes de punhais.
Liga o aquecedor
Que o frio demais
Há de cortar
Os lábios
Num desenho leporino.
Corta as unhas
Longilíneas
Capazes de riscar
A pele e o pensamento
O espelho sibila.
O espelho olha
Estúpido
A sua falta de rugas
Só no canto do olho
Um quê de paranóia.
Ó Glória!
O coração
Na geladeira
Tira o cabelo pra lavar
Um visual Lady Gaga
Que ela vai arrasar
Na balada.
Jesus, Prada e o princípio da mediocridade
Olha
Eu bem tentei
Mas não encontrei
Jesus
Nas coisas mundanas
E nas marcas famosas
O diabo veste mesmo
Prada
Lacroix.
O diabo, minha gente
Anda de havaianas
Dando mole em Ibisa
Pensa que é chique
Mas anda meio kitsch
Atende aqui e acolá
O princípio da mediocridade.
Novena, água benta
Valei-me São Benedito
Meu pretinho básico.
Livrai-me ao menos
De um pecado.
Sou tão, mas tão
Mas tão invejosa
Não suporto a visão
Da porta
Dando eternamente
Para o corredor.
Parides Burchellanus
Fugiu
Com a bailarina
Das coxas grossas.
Foi pro Japão
Comer sushi de bacalhau
Pro Afeganistão
Pagar promessa.
Deixou mulher
12 filhos
Dívidas na birosca
Do Manuel
Ah, cruel.
Malamada
Quis morrer
Afogada numa banheira
De leite de cabras de Israel
Sobrevivi
Fiz compressas
Com lama
Do Mar Mediterrâneo
E Moet Chandom
Jack, que bom!
Enfim, morreu.
Febre amarela
Atrás de uma borboleta azul
E rara
Uma tal de Parides burchellanus
Às margens
Do rio Amazonas.
Estranho é
O seu andar fantasma-da-ópera
A me chamar ainda:
Cristine, Cristine!...
Dá-me o prazer
Dessa contra-dança.
PEPINO DI CAPRI, BUCHADA DI BODI E OUTRAS FOMES
Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...
A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...
COMIDA - Titãs
Não poderia ficar impassível a algo que li há pouco: coração com fome de me ter... Algures...
É que algures também é indecente. Quase um palavrão. O jeito é sugerir mais duas categorias de poemas: vulcânicos e indecentes. Vulcânico é auto-explicativo, indecente é o que fere os ouvidos, e pisa na língua-mater com o desprezo de um filho ingrato. Não sou contra o derramamento poético como forma de catarse, ou cada um chora por onde sente saudade, não necessariamente nesta mesma ordem. Também acredito na democracia e nas confrarias do tipo quem tem amigo não morre pagão. Acredito na ridicularidade democrática que afeta a todos nós, sem exceção. Sou extremamente ridícula na minha solidão, bebendo minha champagne à beira do Siena, e o meu eterno e inoxidável mordomo Jack, ao lado, feito uma múmia paralítica, e seu traje que o assemelha a um pinguim, fugido daquele filme... de mesmo nome ridículo. Para descombinar total, ouço um Pepino di Capri a cantar champagne Quer coisa mais kitsch? Ai que dói. Dói essa humanidade toda de que somos feitos, entre a tragédia e a comédia pastelão. Veem que isso tudo dá fome e sede, e evidente que há comidas e bebidas que combinam com esses estados de espírito. Nunca experimentei, mas não sou de fricotes,porém imagino que ponche de vinho sangue de boi com buchada di bodi (que é assim que se fala), seja uma exótica combinação para outros momentos do tipo “pisada na jaca”. Minas gerais, estado desse imenso Brasil (grande e bobo), tem comidas fantásticas para momentos “trash”,ou escorregadas no quiabo: a famosa vaca atolada, cueca virada, mané com jaleco. A ridicularidade gastronômica é universal, até na comida árabe, com o famoso mijadra (arroz com lentilha e penne). Há que ter cuidado ao pedir,. Não vá logo pedindo uma mijadra. Vai que o garçom é novo.. . Sobre o penne, ah que perigo... Atente ao plural. Não vá fazer como uma amiga da minha irmã, após comer o dito cujo e dizer com o coração: “Que maravilha! Comemos um penne incrível. Estava tão bom que pedimos dois pennes! É o próprio coração com fome de me ter.
Ulalá! Mon Dieu!
INCOMPATIBILIDADE DE GÊNEROS
Era
Absolutamente original
Até queria colocar
A sua retórica
Na minha pletora
Mas não deu
Danou-se
Fodeu
À despeito de se
Dizer hetero
Repetia aff
De 5 em 5 minutos
Dependente de cupcakes
Gótica
Mas com alma vintage
Eu não me daria bem
Com a sua calça cáqui
Ele vanguarda demais
Mas démodé
Eu sem querer dizer
Disse
Pera
To boladona
Tipo eu acho
Muitas coisas
Mas acabo me perdendo.
Memórias de uma menina bruxa
Contornava as estrelas
Nas pontas dos dedos
Aonde mesmo
Nasceram-lhe as primeiras
Verrugas.
Passou a quebrar
Vitrais, cristais
E ilusões
Quando emitia
Um dó de peito
E sem razão.
Outros sinais vieram
Depois
Raspava o buço com gilete
E as aranhas fugiam-lhe
Como o diabo da cruz.
Queria ser médium vidente
Psicografar Marilyn Monroe
A cantar happy birthday mr. president
Mas, ó azar
O vestido da diva
Não entrou nem por feitiço.
Em sacrifício
Casou-se com um mago
Cornífero.
Lua-de-mel num famoso
Vulcão extinto
Do japão.
Antes, aprendeu o ofício
Comprou na liquidação
Um kit básico:
Chapéu, vassoura
E caldeirão.
Nota: totalmente autobiográfico.
Manual do Manuel
Se o problema
É na
Repimboca
Da parafuseta
Rode
A manivela
Da muvuca
Da braguete
Caso contrário
Acione
O ariri pistola
Da muvuca
Do carango
Por fim
Senta a pua
Logo atrás
Do songamonga
Sangre o porquinho
E acenda
O siriri
do ó
Do borogodó.
JEAN PIERRE
Bichinha fresca
Saída do armário
Tão recente
Alma de menina.
Até se enxergar
Inteiro
Era de batismo
João Pedro.
Língua plesa
Paga semple no céu
Da boca.
Da infância
Levava a amiga
Cagolina
E o desprezo oculto
Dos meninos machos.
Explodiu em Paris
Anus depois.
Colocou peito
E bunda.
Um bistrô na Champs Elisées
Coiffeur em Saint Germain.
Placa fashion
Em bom português:
Corto cabelo
E pinto.
Antes que me detonem por homofobia: Jean Pierre ces't moi!
Bain de décharge (Banho de descarrego)
Para afastar urucubaca
Para curar a ressaca
Lombeira, lezeira
E quebranto
Para levantar
Os caídos
Seios, pintos
Amor bandido.
Para quebrantar
As mazelas
As maldades, sinusites
Os fricotes
E os pitis
Tira verruga
Remela
Leva a ferrugem
O encosto
Sara do azambo
Ao mau-gosto.
E tome
Fumo, cachaça
Sal grosso
Arruda, guiné
Fedegoso
Ora-pro-nobis
Picão, alecrim
Sumaré.
Valei-me
Espada de Jorge
Cana, canela
Erva- forte
Leva o agouro
A má sorte
Traz o amor
E o dindin.
Foto: blog da madame.com