Poemas, frases e mensagens de DanielaPereira

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de DanielaPereira

Procura-se um amigo verdadeiro...

 
Hoje apetecia-me colocar um anúncio nos jornais...Amiga fiel procura por amigo verdadeiro...

Não tem que ser alto...mas tem que ter um ombro onde possa encostar a cabeça,quando me sentir cansada e com vontade de chorar.Não precisa de ter o ombro livre sempre para mim, mas precisa de saber distinguir quando as lágrimas são sentidas e demasiadas pesadas para carregar sozinha.

Não tem que pedir desculpas por não estar presente em todos os maus momentos...mas tem que me fazer sentir que desejava estar .

Não precisa de sorrir sempre...mas de ter um sorriso para me dar quando me sentir triste,por saber que nunca lhe neguei o sorriso quando de um sorriso meu precisou.

Não deve guardar-me numa gaveta com cheiro a passado...e deve sempre dar-me flores se a vida mostrar que o futuro tem espinhos no olhar.

Não deve fazer de mim uma recordação e sim um pedaço...grande ou pequeno...mas um pedaço de si,porque aos amigos dou-me por inteiro.

Não deve perguntar se estou bem...porque o coração deve saber sentir quando não estou,porque algures nesta amizade há-de existir uma ponte para puder viajar de uma ponta à outra do peito.Só a ausência pode ter força para quebrar esta ponte construída com tanta harmonia...Talvez um dia esqueças o caminho...

Hoje procura-se um amigo verdadeiro...com braços para abraçar...ouvidos para escutar..mas com uma boca para nos encher de palavras com gosto a conforto.

Todo o vazio é inimigo do sentimento...todo o silencio é desprezo se não houver um sussurro ouvindo-se ao longe para nos fazer sentir amparados.

Vou para a janela escrever Amizade em mil aviões de papel e vou atirá-los em direcção às nuvens,para ver se do céu ..hoje ainda me chove um amigo assim...

Feliz Natal

Daniela Pereira
 
Procura-se um amigo verdadeiro...

Se a lua me der a mão...eu não vou ficar deprimida com a ausência do sol

 
Se a lua me der a mão...eu não vou ficar deprimida com a ausência do sol

Parte-se me o peito...

e não me lembro tê-lo sentido quebrar

mas hoje ele jaz em mil pedaços

e é no chão que esta dor ecoa.

O céu calou-se por respeito

a esta tristeza sem fim

enraizada na carne ...

já não grito.

Estou cansada de gritar

e a garganta não devia ser uma arma de arremesso

mas sim...um jardim para plantar sementes

e para ver o choro das flores

quando brotam das pedras mais duras.

Se as palavras não se ouvem...

então chora-se em silêncio

porque o meu pranto ficou mudo de repente

Queimo o ar que respiro

porque os meus pulmões inspiram fogo

e eu intoxico-me por dentro...

Desconfio que vou ficar

dias a fio abraçada às paredes

a deprimir o olhar

com o sol atrás das costas...

Talvez à noite volte a ter coragem para sonhar

se a lua me der a mão...

Daniela Pereira
 
Se a lua me der a mão...eu não vou ficar deprimida com a ausência do sol

Calor vagabundo

 
Tenho um sentimento aqui dentro que me aperta a carne contra o peito...
Não é um sentimento triste,mas por vezes encontra-me a chorar e não existe uma explicação para as lágrimas que deixo cair.
Talvez seja a forma que a alma possui de se elevar...de ganhar alguma leveza.Sim..porque a queda de uma lágrima é pesada no rosto.
Somos revestidos de uma pele tão fina e delicada e o sal é sempre uma pedra...arranha e rasga quando nos beija.
Já procurei uma cura para este pensamento doentio...mas é um vírus tão poderoso...a saudade contagia até o ar que se respira.
Baixa-nos as defesas e alastra sem cessar cá por dentro e o sangue é o rio que a transporta a 3dimensões...pele..carne e alma...todas sufocam num ar de ansiedade crescente e a febre sobe quando as memórias queimam o olhar.
Sei que não se morre com saudades infestando o corpo...mas há momentos em que juro,que há sentimentos que caminham para um precipício e eu tenho vontade de empurrá-los,só para os ver cair mais depressa.
Sou tão pequena para compreender a imensidão deste sentimento mesquinho e egoísta...talvez seja apenas inocente ao sentir que nenhum sentimento vive solitário e que cada dor tem uma sombra gémea que a vê ao espelho.
Talvez a saudade seja cega e surda...não veja a tristeza que deixa nos olhos dos outros e acredite que a ausência seja um pedaço de magia que se oferece a quem gosta de viver intensamente...Talvez seja surda,porque passa os dias a cantar tão alto canções de amizade e de amor,que nem repara que esqueceu a voz no bolso e por isso da sua garganta funda só ecoa um silencio magoado.
Eu não sei porquê..mas tenho um sentimento aqui dentro que faz cócegas no nariz e deixa o meu coração destapado...sinto frio assim despida desse calor vagabundo que morava na minha casa.

Daniela Pereira
 
Calor vagabundo

Quando os opostos se cruzam

 
Quando os opostos se cruzam...

Quando os opostos se cruzam no caminho...
o inicio dos teus passos soam no fim daquela rua.
A luz enfeita-se de sombras e a escuridão penteia as estrelas
porque o dia ama a lua e a noite tem ciúmes do sol.
Quando os opostos tocam o olhar...
O chão tem nuvens dificeis de lavrar e no céu nascem mantos de tulipas
A chuva chora de luto porque uma lágrima no fogo morreu...
o vento assobia com espanto e jura que o mar se incendiou...
Quando os opostos se abraçam...
anulam-se todas as diferenças
e todas as certezas beijam-se na boca
a troco de um nada.

Daniela Pereira

Direitos Reservados
 
Quando os opostos se cruzam

Perfurei a lua cheia

 
Hoje sirvo ao teu silêncio

palavras cortadas num só golpe

na esperança que assim aguçadas

possam ficar bem atravessadas no teu pescoço.

Rápida… incisiva

e surpreendentemente letal

furo-te a alma

em meia lua ou em três quartos…

para mim tanto me faz!

Porque inteira…

hoje é que ela não fica!

Daniela Pereira-31/01/07
 
Perfurei a lua cheia

A solidão da carne

 
Porque tenho que me sentir assim?
Porque não sou apenas só mais uma pedra
no caminho por onde todos passam…
Porque tenho que sentir na carne
todos os passos que me atropelam a alma?
Se os pássaros quando cantam
ouvissem todos os ruídos do mundo
se calhar não perderiam tempo a inventar seus trinados
mas eles conseguem calar tudo à sua volta
para puderem chilrear no silêncio.
Então…Porque tenho eu que ouvir
o barulho de todas as bocas que se fecham para mim
a ranger prolongadamente nos meus ouvidos?
Não podiam fechar-se lentamente
com gestos suaves
como quando a areia escorre por entre dedos mal cerrados…
Tinha que as ouvir fechar!

Porque preciso de palavras densas
repletas de claridade e lucidez
e não me contento
com as que são ditas pelo meio
só para não dizer que chegou o fim.
Nasci no seio de uma maldição
e abri os olhos pela primeira vez
no berço traiçoeiro da sensibilidade
que hoje me afaga
como se fosse uma segunda mãe para mim.
Beija-me o corpo todos os dias…
Fere-me a alma todas as noites…
Ama-me e odeia-me como ninguém
Morro mil vezes por ela
quando o desespero em mim se instala
de malas e bagagem.
Mas no fundo sei
que será sempre com o seu ar doce
a entrar pela minha boca que voltarei a renascer
de olhos inchados e no rosto um sorriso discreto.
Mas porque tenho eu que sentir?
Não podia ser só mais uma pedra na solidão de uma calçada…
Existem tantas por aí perdidas…
Eu seria só mais uma…

Daniela Pereira
 
A solidão da carne

Estrelas em pó...

 
Que importa o sentimento
se é sozinha que o sentes?
Alguém abriu uma janela para ti
com vista para um céu repleto de estrelas
mas deixou-se ficar escondido na sombra
a ver-te a olhar tão sonhadora...
e tu sonhas...
sonhas porque és mais feliz a sonhar...
Tens flores nas tuas entranhas
semeadas sem adubo
mas lindas...
lindas cheias de cor e de brilhos..
tão formosas que elas são
nos seus prateados...
Há aroma de mar nas pétalas
e rios a acenar-lhes nas curvas...
Tens sorrisos nos olhos
e bonecas de louça
esculpidas na tua boca...
tão frágeis os teus lábios magoados...
Que pedra te feriu tão fundo
para fugires até das rosas
que encontras no caminho?
A lua está cheia...
cheia de sonhos e de fantasias desesperadas
e mesmo assim a escuridão
ainda chega a nós
que na realidade não sabemos existir...
Que importa o sentimento
que te arrebata os pensamentos
e os gestos mais secretos?
Não és segredo por ti murmurado...
por ti dito sem medo...
Existem coelhos brancos
guardados na cartola...
mas tu não queres magia...
queres a ilusão do sentir
e sentes que o mundo perdeu a cor...
que as estrelas são fabricadas em série
e nenhuma delas é especial...
O teu paraíso tem a janela fechada
e eu não a consigo abrir...
Se eu for uma estrela..
serás que dás por mim
assim tão enevoada?

Daniela Pereira
Direitos Reservados
 
Estrelas em pó...

Quando se perde um amigo...

 
:)É com uma felicidade imensa k partilho com voces este poema..Porque apesar de ter sido escrito numa altura muito dificil para mim..hoje estou feliz,pk sei k não perdi esta amizade e que ela resistiu a uma imensa tempestade e hoje está tão serena quanto eu:)

Quando sentimos que perdemos um amigo

parte de nós é lágrima que cai desamparada...

mas cá dentro, há um sorriso triste

a recordar os bons momentos

que esta amizade nos deu.

Nasce um vazio

de um todo quebrado

e um mar cinzento

chora despedaçado

pelas memórias que perderam a cor.

Abre-se um buraco no peito

e a enxada deve ter lâmina dura

porque nos escava uma ferida tão profunda

que esburaca o corpo só para nos atingir

em cheio o recheio da alma.

Se eu tivesse uma pedra no lugar

onde vi plantado o meu coração

Talvez,soubesse como impedir

que a dor me roube mais esta seara...

Quando sentimos que perdemos um amigo...

as pernas caminham sem destino

porque os passos esqueceram o seu rumo

e dormem sozinhos junto á estrada.

Há braços com frio

porque sonham com um abraço...

Há um pássaro a baloiçar naquele ramo

mas já sem vontade de cantar

para aquele banco de jardim vazio...

Há palavras sem força suplicando vozes na garganta

e restos de gritos que dela saíram altos demais...

Há quadros pintados com os dedos logo pela manhã

e arco-íris que desmaiam lá pela noitinha...

Há lágrimas abençoadas

que se ajoelham fielmente a rezar por nós

e sorrisos danados a rir do desespero das minhas preces.

Há poemas colados ao tecto

porque querem preservar no céu esta história

sem acreditarem que ela chegou ao fim...

Há sonhos por perto rasgados no chão

e folhas de papel tão teimosas que se recusam a voar para longe...

Ai se eu tivesse asas nas costas

para dar utilidade a todas estas penas!

Se eu soubesse o valor da eternidade dos gestos

e das promessas que se proferem sem olhar.

Mas, porque é que a tristeza me faz pensar

que hoje perdi um amigo...

se ainda ontem sorria tão feliz por o encontrar?
 
Quando se perde um amigo...

Por coisa nenhuma e por uma coisa de nada...

 
És o meu amor de coisa nenhuma..
e por coisa nenhuma assim te fizeste em mim...
Se o mar tivesse voz e não um rugido rabugento...
à muito que teria dito...
Basta, desta onda alucinada
tu não levas mais nada!
E eu teria deitado as lágrimas na areia..
teria escondido o rosto num rio improvisado
e só quando o mar
me cuspi-se para fora
eu saberia a verdade...
e não precisaria de coisa nenhuma
para a saber...
Que és um gesto no meu olhar...
uma gota de luz sombria
que na cor disfarça
todas as sombras...
Arco-íris de tudo e todos os sabores
a rasgar-me o céu
com a boca cheirando a fumo
e eu não morro sufocada...
habituo-me ao teu gosto
e fumo-te os lábios
até à exaustão dos meus pulmões...
E assim..
por coisa nenhuma e por uma coisa de nada
aqui ficaste no meu corpo...
a atravessar a minha alma
de lès a lés
como se eu fosse um quilómetro ainda por percorrer
mas já tão batido pelos teus passos
que em pouco tempo
lhe adivinhaste toda a paisagem...
E o que nasceu por coisa nenhuma
parece querer morrer por uma coisa de nada...

Daniela Pereira
Direitos Reservados
 
Por coisa nenhuma e por uma coisa de nada...

Beijos agrafados

 
Beijos agrafados

Como eu queria que as palavras
tivessem beijos agrafados na língua.
Seria mais fácil exprimir o que sinto
sem ser preciso tocar nesses lábios.
E se as lágrimas tivessem espelhos
em cada gota que cai?
Então seria transparente aos teus olhos a dor do meu rosto.
Não sei perfumar pensamentos...
Nem saberia que aroma escolher
para este mundo de emoções onde transbordo.
Tenho momentos...mas não são mais do que isso...momentos...
Em que sinto vontade
de arrancar todos os versos
como se eles fossem espinhos
e o meu peito a rosa onde eles estão cravados.
Mas depois olho para eles só mais uma vez
e aos meus olhos eles já não são mais espinhos...
São lindas pétalas azuis que coloram a minha breve negritude.
Então fico tonta a contemplar a sua beleza
e esqueço as feridas que eles rasgam na pele
e esqueço as lágrimas que neles choro .
Quando o poema chega ao fim
eu só tenho olhos para o sorriso doce
que saboreei nos beijos de papel
e esqueço tudo o que sonhei com a folha ainda em branco.

Daniela Pereira (in "Cortar as palavras num só golpe-Corpos Editora)
 
Beijos agrafados

Rios verdes

 
Existem rios de palavras

à solta no meu peito...

Molham-me os medos

e afogam-me as lembranças

quando se espalham na pele.

Há um encanto que é só meu...

que o resto do mundo desconhece calado...

Um suspiro dado com gosto...

e uma boca presa

num beijo apaixonado.

Há um pássaro que voa livre

por cima do meu corpo...

Acaricia-me com as suas penas

e rouba-me o frio da alma

quando repousa perto de mim.

Sorri feliz e quando saboreia os meus pedaços...

sonha com o pensamento desperto.

Voa longe e eu não o alcanço por momentos...

Há liberdade nos seus gestos

e um adeus tremido em cada abraço suado.

Existem rios de palavras

à solta no meu peito...

Onda fui por uma noite

e com frescura beijei a areia

e ela enrolou-se no meu caminho.

Como gostei de a envolver no meu sal

e esquecer que o salgado

sabe a tristeza...

Tinha sonhos a espicaçar-me o olhar

e com o horizonte a morder-me os seios

fiz-me lua de seda

para satisfazer o seu toque...

Tínhamos estrelas no dedos

e na escuridão da noite

senti-me poesia.



Daniela Pereira
Direitos Reservados
 
Rios verdes

Tirem-me a madrugada dos olhos!

 
Tirem-me a madrugada dos olhos!

A noite é o momento mágico dos poetas...

A hora dos sonhos e dos sonhadores

que nada mais sabem fazer

quando se alimentam de escuridão

e de olhares invertebrados...

Que não param para pensar

no tempo que passaram

de pernas fechadas à curiosidade do mundo...

Roubam-se palavras ao silêncio

e a dor de um grito profundo

encontra um refugio na lágrima de um amor perdido

e chorado num poema

escrito com sal e pimenta.

Não há luz...

Talvez o luar seja uma opção

para o poeta esfomeado pelas estrelas...

É noite e tudo é realidade

na ilusão dos dias.

Fogem amantes dos seus ninhos...

Porque as asas queimam

e o voo é desejado

com as bocas em fogo.

É noite...

Tenho uma onda na garganta

difícil de engolir

e nos dedos rebentam-me palavras sem fim.

Quero gravar aquele amor sonhado

no meu cubículo de papel...

Quero lamber as gotas de mel

paridas nos seus corpos...

Porque a poesia está nua

e os poetas já perderam a pele...

É noite...

Tirem-me a madrugada dos olhos

que eu ainda não terminei de sonhar

e a minha noite tem alma de criança.





Daniela Pereira

Direitos reservados
 
 Tirem-me a madrugada dos olhos!

Feliz Natal a todos que ousaram entrar no meu coração

 
Feliz Natal a todos que ousaram entrar no meu coração
 
[img]Hoje não vou escrever poesia...não vou mascarar as palavras e muito menos vou fazer delas gotas de sangue.

Porque hoje,quero deixar aqui as palavras mais bonitas e profundas que o meu coração consegue soletrar...

Isto deveria ser uma mensagem a desejar Feliz Natal ao mundo inteiro..mas esta manhã apeteceu-me ser um pouco egoísta e quero que esta mensagem chegue a um cantinho especial...o meu mundinho .

É um mundo,não muito grande...mas que tem muita sorte ,porque mesmo quando tem os seus momentos de solidão encontra sempre alguém a bater-lhe à porta com uma palavra amiga.E quando essa palavra não vem da boca de quem desejo...ela voa até de mim dos mais variados recantos e é com surpresa que a recebo com pedacinhos de ternura tão gentilmente partilhada por quem vive no meu peito.Por isso considero-me uma pessoa de sorte...tenho pedaços de mim espalhados por terras com aromas diferentes...com sorrisos distintos...com passos bem diferenciados.

E mesmo quando sofro pela ausencia e pelo silêncio de alguns bocadinhos do meu coração...sei que no momento em que consigo reunir novamente junto ao peito todas as pessoas que amo ,sou a pessoa mais privilegiada e feliz deste mundo .

Por isso quero agradecer a todos que tiveram a ousadia de chegar até mim...espreitar cá para dentro e sem saber o que iriam encontrar,mergulharam fundo e até hoje ainda flutuam neste mar imenso de melancolia e sentimento que eu sou.

A todos vocês(que eu sei,que sabem quem são) eu desejo o Natal mais aconchegante ...mais terno..mais amigo...mais amoroso...mais Tudo...porque para mim,vocês são o melhor que a minha vida tem e não vou descansar enquanto não vos vir a todos realmente felizes:)

Feliz Natal Amigos...Poetas...Familia...Curiosos...Almas da partilha...



beijinhos azuis
 
Feliz Natal a todos que ousaram entrar no meu coração

O original sabor do amargo...

 
Hoje despertei leve e serena...

Com o olhar sorridente e o peito cuidadosamente escancarado.

Mas a poesia em mim

Não costuma jorrar na tranquilidade.

Não me importa

Que as palavras hoje surjam nas horas mais estranhas

Ou nos momentos mais relaxados.

Estão-me a fazer cócegas nos dedos

Pedindo-me para sair

E eu até sinto

Um friozinho na barriga

Quando elas dão voltas e mais voltas à procura de um buraco...

Não tenho lágrimas nos olhos...

Nem sequer tenho um sorriso especial a cintilar nos lábios...

Mas sinto-me bem assim

Espectacularmente normal e natural...

Deliciosamente doce e amanteigada...

Vigorosamente fresca e regenerada...

Hoje despertei sentindo-me bem na minha pele

Apreciando todas as imperfeições da minha carne

E descobrindo um original sabor em todas as pedras que engulo.

Daniela Pereira
Direitos Reservados
 
O original sabor do amargo...

Estás louca?

 
Parte-me o espelho
para eu não ver mais este rosto inútil.
Estilhaça a escuridão dos meus olhos
com um tiro certeiro
e não receies errar
porque vou colar a cara ao vidro.
Posso até escolher a pedra se quiseres!

Rasga-me o corpo
e corta as minhas roupas em farrapos.
Tens uma tesoura à tua espera
na caixa de costura
porque não vou mais
coser sorrisos nos teus braços.

Quebra-me os ossos
com os teus músculos de aço
e essas mãos de ferro.
Fura-me a pele
e espeta-lhe fios de seda
para dominares os meus gestos
como se eu fosse uma reles marioneta.

Pinta-me a janela de negro
e põe fim aquele sol
que não quer deixar de brilhar
em todas as manhãs que acendes no quarto.
Prende os meus olhos com fita cola
sempre que os vires
a olhar para ti hipnotizados
e lava-me a boca com sabão
quando ela te gritar palavras apaixonadas.

Quando eu escrever no papel que te amo
Responde-me em silêncio...
ESTÁS LOUCA!!!

Daniela Pereira in "Cortar as Palavras num só Golpe-Corpos Editora"
 
Estás louca?

O perfume mais que perfeito

 
Hoje queria perfumar as palavras...
Estou cansada
de as ver com cores desfocadas
e quero tanto encher o ar
com odores pintados.
Não quero escrever um mundo cinzento...
quero cheirá-lo e senti-lo doce...
quero tocá-lo e sentir os dedos pegajosos
para deixar as palavras coladas
na moldura dos rostos distraídos que vejo a passar.
Mas que perfume escolher?
Que odor posso deixar pingar
na pele de uma letra?
Chocolate ou baunilha...
São doces na boca
mas se eu deixar cair uma lágrima
não matarei a doçura do papel?
Gosto do aroma do vento...
Sim,porque o vento tem perfume...
Cheira a amores abraçados
despidos à beira do mar
e a sonhos soprados em segredo no horizonte.
Mas será que o vento
vai se deixar prender numa garrafa de vidro
só porque eu quero perfumar um poema?
Talvez tenha que aprender
a amar apenas
o perfume dos corpos
nas memórias que flutuam junto ao peito...
Mas hoje vou mergulhar
despida no vazio...
Quero ouvir o sussurrar
do meu perfume
mais que perfeito.

Daniela Pereira
Direitos Reservados
 
O perfume mais que perfeito

Hoje queria vomitar o tempo...

 
Passa o tempo devagar
naquele relógio que aparafusei na cabeça
e nada sei ainda...
Então pergunto sem cessar
Se estou certa...
Se este medo tem alguma razão de ser...
Se estas lágrimas ainda fazem algum sentido.
Depois lembro-me dos sorrisos
que já galoparam em cima dos ponteiros
quando os sonhos tinham o aroma dos nossos passos
e não encontro motivos
para que a areia hoje esteja assim tão salgada.
Já nem vejo o mar à minha frente
porque agora os meus olhos
preferem a melancolia de um rio
para pintarem tranquilamente o seu pranto...
Então porque sabem a sal os meus dedos?
Estou enjoada...
E sempre que os meto à boca
apetece-me vomitar com esta caneta seca
todas as palavras salgadas
que me dão a volta ao estômago
porque este silêncio amargo e doce dá-me vómitos.

Daniela Pereira
 
Hoje queria vomitar o tempo...

Se um dia o amor cegar...deixa-o por aí à toa

 
Se o amor cegar...deixa-o por aí a andar à toa

Se um dia aprenderes a amar-me
até à raiz mais profunda
que albergo no fundo do peito
talvez encontres uma árvore florida
plantada na areia seca
que tanto sopras nos teus passos...

Deixa-me rodopiar um bocado
nas pontas dos dedos...
ser bailarina tonta
em cima da varanda
a um palmo de mão
prestes a cair...
Vou desenhar nas paredes
o sol dos meus verões
para esta chuva maldita secar ...

Se um dia desaprender a falar
e a minha boca
para ti se calar...
ouve-me nos gestos...
porque os gritos
levo-os sempre maquilhados no rosto...

Deixa-me brincar ás escondidas
com os sentimentos que abandonei por cobardia
atrás das cadeiras da sala...
enrolar as batidas do coração
nas dobras dos tapetes...
partir essas tuas dúvidas
com toda a força no meu chão.

Se um dia descobrires este amor palpitante
que trago estampado nos seios
que apertas de olhos fechados...

Se um dia adivinhares as cores
com que a minha língua
te pincela a pele
para pintar o teu corpo
com arco-íris endiabrados...

Se um dia esqueceres as tuas ânsias
e encontrares os teus desejos
nas primeiras páginas
do livro que já lês
à tanto tempo...

Talvez saibas inventar
outras histórias
onde as lágrimas estejam
para sempre perdidas...
estou tão cansada
de ver sempre morrer as esperanças
a duas páginas do fim.

Ai se estes sorrisos
que vês a decorar as folhas
soubessem ser uma razão
para não pensares ainda
como seria escrever um final feliz...

Mas deixa-me rodopiar mais um pouco
no escuro dos teus dias...
ser bailarina tonta
e dançar na tua boca
até o teu amor chegar...
Depois pegas na caneta...

Daniela Pereira
Direitos Reservados
 
Se um dia o amor cegar...deixa-o por aí à toa

A folga do poeta...

 
Apetece-me escrever sobre o mar...
Sobre as ondas que nascem tão cheias de orgulho e fortes
e depois logo morrem com vergonha de engolir o mundo
numa só vaga...
Apetece-me escrever sobre o céu...
Aquele infinito que tantos poetas cantam no papel
mas quando olho pela janela...
vejo nuvens e mais nuvens...
e nem se quer sabem a algodão doce
porque já as tentei soprar , mas são tão espessas
que nada as remove do meu cenário
pintado com tinta azul...
Alguém roubou todas as cores do meu tinteiro...
e eu imagino um horizonte coberto de tons cinza...
Apetece-me escrever sobre o amor...
Aquele sentimento tão imenso
que nos leva a ser crianças 24 horas por dia
sem nunca hesitar em dar o salto...
o salto em queda livre...
a queda para o precipício..
O Amor...
Divino...sorrateiro...encantador....
Farpa que cega o olhar mas o rasgo fica no peito...
Gesto celestial de entregas e partilhas
por vezes tão debilmente equilibradas...
Eterna fonte da juventude...
curiosamente salgada quando chega ao fim...
A única eternidade que termina..
mas não é falsa...é só fraca
porque se deixa abater bem devagar
batendo com a cabeça contra os teus sonhos.
Apetece-me escrever sobre o ódio...
Sentimento banal mas recheado de tanta verdade
naqueles ossos ingratos...
Tem lágrimas geladas a caírem-lhe incessantemente pelo rosto abaixo
por isso dizem que o ódio é um sentimento feio...
e ele acredita e sente raiva por ser assim..
um monstro tão hediondo
que na verdade só quer voltar a ser bela adormecida...
pura e doce
sem mágoas nem despedidas a rasgarem-lhe a carne de seda...
Talvez por isso o ódio não goste de mim..
não se dê bem com o ar que respiro...
Sabe que já fui fada e tinha magia na ponta dos dedos
e que bastava abanar uma varinha de condão
para esquecer que o ódio existe
porque só o mel me entrava regularmente na boca...
Mas eu também não gosto dele...
calha bem..
assim o nosso Amor não resiste...
E o mar ainda tem ondas
e vagas fortes para me afogar
se me fartar da tranquilidade dos rios...
E o céu ainda pode ser pintado por mim
com a cor que bem me apetecer...
Por isso se acordar com vontade de o ver púrpura..
púrpura para mim será!
E de nada vai valer ouvir vozes de burro
pedindo estrelas e luares de prata
porque se eu quiser dentro de mim
o céu também pode ser breu
como pode ser um arco-íris
com cores nunca vistas pelos mortais...
Porque se eu quiser ser Feliz...
não há dor nenhuma no mundo
que me consiga impedir
de sorrir de novo para o mundo...
nem que tenha que construir o meu sorriso
dente por dente...
Por isso..
Hoje não acho que não me apetece escrever sobre nada...
escrevam vocês por mim...
escrevam vocês em mim...
porque hoje os meus dedos
têm fome de leitura...

Daniela Pereira
Direitos Reservados
 
A folga do poeta...

Pilhar a alma com o corpo

 
Estou sentada com o corpo irrequieto
deslizando na cadeira
e os dedos baloiçando no teclado
ao ritmo imposto pelas palavras bocejadas.

A cabeça percorre velozmente
todos os suspiros ecoados numa noite
e suborna os olhos com lânguidos acenos
para que mantenha aprisionadas na retina
as imagens despidas na escuridão.

O nariz empinado vai procurando
os aromas nocturnos que o deliciaram
por entre os cheiros rafeiros
que se espalharam no odor matinal.

As pernas cruzam-se
varrendo a esquerda e a direita
com movimentos oscilantes
em busca do encaixe perfeito.

A pele rebusca o toque incendiado
que a lambeu com beijos ardentes
enquanto as cortinas se encolhiam
na janela envergonhadas.

Sinto a frescura do vento
soprado com força
esbofeteando o meu rosto suado
numa tentativa de acordar a alma adormecida no corpo.

Mas ela dorme pacificamente
e louca ainda sonha deitada
com o coração servindo de cabeceira.

Daniela Pereira -in "Cortar as Palavras num só Golpe"-CORPOS EDITORA
 
Pilhar a alma com o corpo