Rios verdes
Existem rios de palavras
à solta no meu peito...
Molham-me os medos
e afogam-me as lembranças
quando se espalham na pele.
Há um encanto que é só meu...
que o resto do mundo desconhece calado...
Um suspiro dado com gosto...
e uma boca presa
num beijo apaixonado.
Há um pássaro que voa livre
por cima do meu corpo...
Acaricia-me com as suas penas
e rouba-me o frio da alma
quando repousa perto de mim.
Sorri feliz e quando saboreia os meus pedaços...
sonha com o pensamento desperto.
Voa longe e eu não o alcanço por momentos...
Há liberdade nos seus gestos
e um adeus tremido em cada abraço suado.
Existem rios de palavras
à solta no meu peito...
Onda fui por uma noite
e com frescura beijei a areia
e ela enrolou-se no meu caminho.
Como gostei de a envolver no meu sal
e esquecer que o salgado
sabe a tristeza...
Tinha sonhos a espicaçar-me o olhar
e com o horizonte a morder-me os seios
fiz-me lua de seda
para satisfazer o seu toque...
Tínhamos estrelas no dedos
e na escuridão da noite
senti-me poesia.
Daniela Pereira
Direitos Reservados
Tirem-me a madrugada dos olhos!
Tirem-me a madrugada dos olhos!
A noite é o momento mágico dos poetas...
A hora dos sonhos e dos sonhadores
que nada mais sabem fazer
quando se alimentam de escuridão
e de olhares invertebrados...
Que não param para pensar
no tempo que passaram
de pernas fechadas à curiosidade do mundo...
Roubam-se palavras ao silêncio
e a dor de um grito profundo
encontra um refugio na lágrima de um amor perdido
e chorado num poema
escrito com sal e pimenta.
Não há luz...
Talvez o luar seja uma opção
para o poeta esfomeado pelas estrelas...
É noite e tudo é realidade
na ilusão dos dias.
Fogem amantes dos seus ninhos...
Porque as asas queimam
e o voo é desejado
com as bocas em fogo.
É noite...
Tenho uma onda na garganta
difícil de engolir
e nos dedos rebentam-me palavras sem fim.
Quero gravar aquele amor sonhado
no meu cubículo de papel...
Quero lamber as gotas de mel
paridas nos seus corpos...
Porque a poesia está nua
e os poetas já perderam a pele...
É noite...
Tirem-me a madrugada dos olhos
que eu ainda não terminei de sonhar
e a minha noite tem alma de criança.
Daniela Pereira
Direitos reservados
Feliz Natal a todos que ousaram entrar no meu coração
[img]Hoje não vou escrever poesia...não vou mascarar as palavras e muito menos vou fazer delas gotas de sangue.
Porque hoje,quero deixar aqui as palavras mais bonitas e profundas que o meu coração consegue soletrar...
Isto deveria ser uma mensagem a desejar Feliz Natal ao mundo inteiro..mas esta manhã apeteceu-me ser um pouco egoísta e quero que esta mensagem chegue a um cantinho especial...o meu mundinho .
É um mundo,não muito grande...mas que tem muita sorte ,porque mesmo quando tem os seus momentos de solidão encontra sempre alguém a bater-lhe à porta com uma palavra amiga.E quando essa palavra não vem da boca de quem desejo...ela voa até de mim dos mais variados recantos e é com surpresa que a recebo com pedacinhos de ternura tão gentilmente partilhada por quem vive no meu peito.Por isso considero-me uma pessoa de sorte...tenho pedaços de mim espalhados por terras com aromas diferentes...com sorrisos distintos...com passos bem diferenciados.
E mesmo quando sofro pela ausencia e pelo silêncio de alguns bocadinhos do meu coração...sei que no momento em que consigo reunir novamente junto ao peito todas as pessoas que amo ,sou a pessoa mais privilegiada e feliz deste mundo .
Por isso quero agradecer a todos que tiveram a ousadia de chegar até mim...espreitar cá para dentro e sem saber o que iriam encontrar,mergulharam fundo e até hoje ainda flutuam neste mar imenso de melancolia e sentimento que eu sou.
A todos vocês(que eu sei,que sabem quem são) eu desejo o Natal mais aconchegante ...mais terno..mais amigo...mais amoroso...mais Tudo...porque para mim,vocês são o melhor que a minha vida tem e não vou descansar enquanto não vos vir a todos realmente felizes:)
Feliz Natal Amigos...Poetas...Familia...Curiosos...Almas da partilha...
beijinhos azuis
O original sabor do amargo...
Hoje despertei leve e serena...
Com o olhar sorridente e o peito cuidadosamente escancarado.
Mas a poesia em mim
Não costuma jorrar na tranquilidade.
Não me importa
Que as palavras hoje surjam nas horas mais estranhas
Ou nos momentos mais relaxados.
Estão-me a fazer cócegas nos dedos
Pedindo-me para sair
E eu até sinto
Um friozinho na barriga
Quando elas dão voltas e mais voltas à procura de um buraco...
Não tenho lágrimas nos olhos...
Nem sequer tenho um sorriso especial a cintilar nos lábios...
Mas sinto-me bem assim
Espectacularmente normal e natural...
Deliciosamente doce e amanteigada...
Vigorosamente fresca e regenerada...
Hoje despertei sentindo-me bem na minha pele
Apreciando todas as imperfeições da minha carne
E descobrindo um original sabor em todas as pedras que engulo.
Daniela Pereira
Direitos Reservados
Estás louca?
Parte-me o espelho
para eu não ver mais este rosto inútil.
Estilhaça a escuridão dos meus olhos
com um tiro certeiro
e não receies errar
porque vou colar a cara ao vidro.
Posso até escolher a pedra se quiseres!
Rasga-me o corpo
e corta as minhas roupas em farrapos.
Tens uma tesoura à tua espera
na caixa de costura
porque não vou mais
coser sorrisos nos teus braços.
Quebra-me os ossos
com os teus músculos de aço
e essas mãos de ferro.
Fura-me a pele
e espeta-lhe fios de seda
para dominares os meus gestos
como se eu fosse uma reles marioneta.
Pinta-me a janela de negro
e põe fim aquele sol
que não quer deixar de brilhar
em todas as manhãs que acendes no quarto.
Prende os meus olhos com fita cola
sempre que os vires
a olhar para ti hipnotizados
e lava-me a boca com sabão
quando ela te gritar palavras apaixonadas.
Quando eu escrever no papel que te amo
Responde-me em silêncio...
ESTÁS LOUCA!!!
Daniela Pereira in "Cortar as Palavras num só Golpe-Corpos Editora"
O perfume mais que perfeito
Hoje queria perfumar as palavras...
Estou cansada
de as ver com cores desfocadas
e quero tanto encher o ar
com odores pintados.
Não quero escrever um mundo cinzento...
quero cheirá-lo e senti-lo doce...
quero tocá-lo e sentir os dedos pegajosos
para deixar as palavras coladas
na moldura dos rostos distraídos que vejo a passar.
Mas que perfume escolher?
Que odor posso deixar pingar
na pele de uma letra?
Chocolate ou baunilha...
São doces na boca
mas se eu deixar cair uma lágrima
não matarei a doçura do papel?
Gosto do aroma do vento...
Sim,porque o vento tem perfume...
Cheira a amores abraçados
despidos à beira do mar
e a sonhos soprados em segredo no horizonte.
Mas será que o vento
vai se deixar prender numa garrafa de vidro
só porque eu quero perfumar um poema?
Talvez tenha que aprender
a amar apenas
o perfume dos corpos
nas memórias que flutuam junto ao peito...
Mas hoje vou mergulhar
despida no vazio...
Quero ouvir o sussurrar
do meu perfume
mais que perfeito.
Daniela Pereira
Direitos Reservados
Hoje queria vomitar o tempo...
Passa o tempo devagar
naquele relógio que aparafusei na cabeça
e nada sei ainda...
Então pergunto sem cessar
Se estou certa...
Se este medo tem alguma razão de ser...
Se estas lágrimas ainda fazem algum sentido.
Depois lembro-me dos sorrisos
que já galoparam em cima dos ponteiros
quando os sonhos tinham o aroma dos nossos passos
e não encontro motivos
para que a areia hoje esteja assim tão salgada.
Já nem vejo o mar à minha frente
porque agora os meus olhos
preferem a melancolia de um rio
para pintarem tranquilamente o seu pranto...
Então porque sabem a sal os meus dedos?
Estou enjoada...
E sempre que os meto à boca
apetece-me vomitar com esta caneta seca
todas as palavras salgadas
que me dão a volta ao estômago
porque este silêncio amargo e doce dá-me vómitos.
Daniela Pereira
Se um dia o amor cegar...deixa-o por aí à toa
Se o amor cegar...deixa-o por aí a andar à toa
Se um dia aprenderes a amar-me
até à raiz mais profunda
que albergo no fundo do peito
talvez encontres uma árvore florida
plantada na areia seca
que tanto sopras nos teus passos...
Deixa-me rodopiar um bocado
nas pontas dos dedos...
ser bailarina tonta
em cima da varanda
a um palmo de mão
prestes a cair...
Vou desenhar nas paredes
o sol dos meus verões
para esta chuva maldita secar ...
Se um dia desaprender a falar
e a minha boca
para ti se calar...
ouve-me nos gestos...
porque os gritos
levo-os sempre maquilhados no rosto...
Deixa-me brincar ás escondidas
com os sentimentos que abandonei por cobardia
atrás das cadeiras da sala...
enrolar as batidas do coração
nas dobras dos tapetes...
partir essas tuas dúvidas
com toda a força no meu chão.
Se um dia descobrires este amor palpitante
que trago estampado nos seios
que apertas de olhos fechados...
Se um dia adivinhares as cores
com que a minha língua
te pincela a pele
para pintar o teu corpo
com arco-íris endiabrados...
Se um dia esqueceres as tuas ânsias
e encontrares os teus desejos
nas primeiras páginas
do livro que já lês
à tanto tempo...
Talvez saibas inventar
outras histórias
onde as lágrimas estejam
para sempre perdidas...
estou tão cansada
de ver sempre morrer as esperanças
a duas páginas do fim.
Ai se estes sorrisos
que vês a decorar as folhas
soubessem ser uma razão
para não pensares ainda
como seria escrever um final feliz...
Mas deixa-me rodopiar mais um pouco
no escuro dos teus dias...
ser bailarina tonta
e dançar na tua boca
até o teu amor chegar...
Depois pegas na caneta...
Daniela Pereira
Direitos Reservados
A folga do poeta...
Apetece-me escrever sobre o mar...
Sobre as ondas que nascem tão cheias de orgulho e fortes
e depois logo morrem com vergonha de engolir o mundo
numa só vaga...
Apetece-me escrever sobre o céu...
Aquele infinito que tantos poetas cantam no papel
mas quando olho pela janela...
vejo nuvens e mais nuvens...
e nem se quer sabem a algodão doce
porque já as tentei soprar , mas são tão espessas
que nada as remove do meu cenário
pintado com tinta azul...
Alguém roubou todas as cores do meu tinteiro...
e eu imagino um horizonte coberto de tons cinza...
Apetece-me escrever sobre o amor...
Aquele sentimento tão imenso
que nos leva a ser crianças 24 horas por dia
sem nunca hesitar em dar o salto...
o salto em queda livre...
a queda para o precipício..
O Amor...
Divino...sorrateiro...encantador....
Farpa que cega o olhar mas o rasgo fica no peito...
Gesto celestial de entregas e partilhas
por vezes tão debilmente equilibradas...
Eterna fonte da juventude...
curiosamente salgada quando chega ao fim...
A única eternidade que termina..
mas não é falsa...é só fraca
porque se deixa abater bem devagar
batendo com a cabeça contra os teus sonhos.
Apetece-me escrever sobre o ódio...
Sentimento banal mas recheado de tanta verdade
naqueles ossos ingratos...
Tem lágrimas geladas a caírem-lhe incessantemente pelo rosto abaixo
por isso dizem que o ódio é um sentimento feio...
e ele acredita e sente raiva por ser assim..
um monstro tão hediondo
que na verdade só quer voltar a ser bela adormecida...
pura e doce
sem mágoas nem despedidas a rasgarem-lhe a carne de seda...
Talvez por isso o ódio não goste de mim..
não se dê bem com o ar que respiro...
Sabe que já fui fada e tinha magia na ponta dos dedos
e que bastava abanar uma varinha de condão
para esquecer que o ódio existe
porque só o mel me entrava regularmente na boca...
Mas eu também não gosto dele...
calha bem..
assim o nosso Amor não resiste...
E o mar ainda tem ondas
e vagas fortes para me afogar
se me fartar da tranquilidade dos rios...
E o céu ainda pode ser pintado por mim
com a cor que bem me apetecer...
Por isso se acordar com vontade de o ver púrpura..
púrpura para mim será!
E de nada vai valer ouvir vozes de burro
pedindo estrelas e luares de prata
porque se eu quiser dentro de mim
o céu também pode ser breu
como pode ser um arco-íris
com cores nunca vistas pelos mortais...
Porque se eu quiser ser Feliz...
não há dor nenhuma no mundo
que me consiga impedir
de sorrir de novo para o mundo...
nem que tenha que construir o meu sorriso
dente por dente...
Por isso..
Hoje não acho que não me apetece escrever sobre nada...
escrevam vocês por mim...
escrevam vocês em mim...
porque hoje os meus dedos
têm fome de leitura...
Daniela Pereira
Direitos Reservados
Pilhar a alma com o corpo
Estou sentada com o corpo irrequieto
deslizando na cadeira
e os dedos baloiçando no teclado
ao ritmo imposto pelas palavras bocejadas.
A cabeça percorre velozmente
todos os suspiros ecoados numa noite
e suborna os olhos com lânguidos acenos
para que mantenha aprisionadas na retina
as imagens despidas na escuridão.
O nariz empinado vai procurando
os aromas nocturnos que o deliciaram
por entre os cheiros rafeiros
que se espalharam no odor matinal.
As pernas cruzam-se
varrendo a esquerda e a direita
com movimentos oscilantes
em busca do encaixe perfeito.
A pele rebusca o toque incendiado
que a lambeu com beijos ardentes
enquanto as cortinas se encolhiam
na janela envergonhadas.
Sinto a frescura do vento
soprado com força
esbofeteando o meu rosto suado
numa tentativa de acordar a alma adormecida no corpo.
Mas ela dorme pacificamente
e louca ainda sonha deitada
com o coração servindo de cabeceira.
Daniela Pereira -in "Cortar as Palavras num só Golpe"-CORPOS EDITORA