Encontro Acidental
"Não te preocupes" - digo lhe em pensamento.
A tua memória anda vive em mim...
não por vontade ou esforço imenso,
mas porque o destino quis assim.
Vejo-a na rua a vaguear
levando consigo as compras do dia,
mal sabe que leva também o meu olhar
eu, a memória que a reconhecia...
E num cruzar lento, frente a frente,
reparo um brilho nos teus olhos espantados
aquele momento, de repente,
em que me reconheceste dos tempos já passados.
Repito então o mandamento,
enquanto revejo as memórias sem fim.
Não as esqueço, nem tento,
porque afinal foi o destino que o quis assim.
O Final.
Empunho a lâmina sem hesitar
e lentamente faço mais um corte,
a minha carne essa não pára de sangrar
enquanto a minha alma tresanda a morte.
Escorre o sangue aleatoriamente
e com ele escorre a minha força vital,
é triste mas não é um acto inconsequente,
este sempre foi o meu destino final.
E começa a dor a adormecer
enquanto o sangue continua a jorrar,
na minha mente, as pessoas que tentei esquecer,
no meu corpo, as marcas do meu pesar.
Assombram-me os rostos do passado...
assombra-me cada momento e acção...
e eu sinto-me apenas encurralado,
sem esperança, sem salvação.
Pergunto-me no tempo que me resta
o que será deles enquanto o Tempo passar...
sorrio, porque já não interessa,
nessa altura já não vou cá estar...
E já nem de mim se deverão lembrar,
serei no máximo uma dor adormecida...
e ficarei feliz se os vir ultrapassar
porque sei que não seria uma dor merecida.
E que todos consigam sorrir e seguir em frente
pois a minha morte será apenas passageira,
viverei nas vossas mentes eternamente,
e espero que percebam que não havia outra maneira.
- 20 de Junho de 2015 -
Saudade masoquista
Sinto demasiado
e morro mais um bocado
ao recordar a tua partida...
e os anos não acalmaram,
as saudades que exalam,
da minha Alma dividida.
Nostalgia
É por me recordar daqueles que amei
aqueles que perdi e nunca mais encontrei
que a minha nostalgia
se transforma em poesia
e eu choro por razões que só eu sei.
Já nem me lembro dos seus rostos,
o tempo desgastou-os da minha memória...
mas não há tempo que passe
que me faça esquecer cada história...
Porque essas foram as primeiras
e porque vos estimei de verdade,
não importa o tempo que passe
jamais esquecerei a vossa amizade...
Nossa primeira vez
Atraiçoa-me a memória
das coisas que já vivi
e dou por mim, sem saber a história
de como te conheci...
Sei que ainda éramos apenas crianças,
ingénuas, frágeis, puras de qualquer maldade...
no nosso pequeno grande mundo de esperanças
que não correspondia de todo à realidade...
Numa nova tentativa, tento forçadamente recordar,
mas em plena espiral de pensamento
perco-me no nosso último olhar,
perco-me no nosso último momento...
Mas ainda antes de desistir
foco a mente com solidez
e acabo por sorrir,
ao relembrar, a nossa primeira vez.
Morrer da Chama
Esperei...
até a chama da vela morrer...
e continuei a esperar,
até a noite desaparecer.
Sonhei acordado
com o teu regresso,
foi a réstia do “eu” esperançado
mas o tempo acabou,
e assim me despeço...
Não vale a pena voltares
pois encontrarás uma cadeira vazia
o vento já me veio buscar
levando consigo, a minha poesia.
Limbo
Cada vez que me olho ao espelho
vejo um rosto diferente,
será deficiência do meu corpo
ou ilusão da minha mente?
Para cada pessoa
o meu reflexo tende a variar
para uns, uma alma boa
para outros, um demônio por exorcizar.
Porque mesmo sendo sincero
o meu espelho continua em rotação,
entre o céu e o inferno impero,
numa luta contra a minha própria escuridão.
A Morte faz anos...
Não te consegui proteger,
acabaste por morrer,
e a Dor comigo permaneceu.
Mas mesmo depois do tempo que passou
nada em nós mudou
e a memória não esqueceu...
Foste fogo, água e vida,
foste todos os elementos combinados!
Hoje sofremos, por estarmos afastados,
da tua alegria desaparecida...
E hoje que a data avança
não hesitamos ao enfrentar a lembrança
do teu último sorriso antes do partir.
E passe o tempo que passar,
jamais te vamos apagar,
das nossas memórias não irás tu fugir!
Escrever o Amor
Da lua nasce o luar,
da noite, o doce amanhecer,
até o dia nos juntar,
num sentimento de ternura e prazer.
Do sol nasce a luz,
do dia, a esperançada mudança,
numa estrada que nos conduz,
que apenas a alma de nós dois alcança...
Do fogo nasce a paixão,
do mar, o espírito indomável,
uma força de atracção,
tão forte, que chega a ser quase inacreditável...
Da flora nasce a paciência,
da fauna, o instinto protector,
e é com eloquência,
que escrevo este nosso amor.
Minhas Filhas
O meu cérebro diz sorri,
mas o meu coração diz chora,
foi um privilégio ver-vos evoluir como vi
e agora retiro-me, vou-me embora...
A verdade é que nunca estive muito perto,
e é algo que lamento do fundo do coração,
sempre na sombra, eu sei, mas sempre desperto...
perdoem-me se puderem, é vossa a decisão.
E hoje que o testemunho é entregue
venho apenas para um último olhar,
não sabendo o que na vida se segue
sei, sem duvida, que ambas vão triunfar.