Mulher
Não sei como te explicar.
Amo-te, sinto-te em cada beijo
tento tudo, mas além do desejo,
és impossível de decifrar...
Será isto o Amor verdadeiro?
uma estabilidade recheada de dúvida e medo?
Sabes que sou teu, mas em segredo,
será que és minha, por inteiro?
Recordo o sorriso que me concedeste à pouco,
Recordo a carícia que sempre me dás,
mas o medo esse, consome-me em sufoco,
serei eu suficientemente bom? Terei eu paz?
Esta minha insegurança
apenas rivaliza com a minha desconfiança...
Ah que Diabos as levem e venha ela!
A mulher indecifrável, de todas a mais bela!
A Maldição do Artista
Vejo-te solene perante mim mas sei que não estás verdadeiramente aqui.
Avanças na minha direcção, rodeias a minha nudez como que vendo uma beleza que nem eu revejo em mim própria e dás início aquilo que só tu sabes fazer.
Tocas e retocas, deixas-me húmida à tua passagem e embora não me oiças sabes que te agradeço cada momento.
Ao início não percebia onde querias chegar, a tua Loucura leva-me a melhor e transporta-me para lugares muito antes de eu me aperceber do caminho que estamos a percorrer juntos...
Mas agora entendo. Entendo a intenção com que te aproximaste de mim e a intenção que desde o primeiro toque tiveste para que chegássemos onde chegamos. Essa Visão, essa capacidade de saber (não sabendo) o que vai resultar no final é tanto a tua maior força como o teu maior fardo. Essa é a verdadeira Maldição do Artista...
Concluído o quadro, poisas o pincel e a paleta e fitas-me com um olhar de cumplicidade. Soltas um suspiro de satisfação e sorris ao ver onde a tua inspiração te levou desta vez. Apesar de não o veres eu retribuo-te o sorriso porque hoje, graças a ti, eu sou uma tela feliz.
Nostalgia
É por me recordar daqueles que amei
aqueles que perdi e nunca mais encontrei
que a minha nostalgia
se transforma em poesia
e eu choro por razões que só eu sei.
Já nem me lembro dos seus rostos,
o tempo desgastou-os da minha memória...
mas não há tempo que passe
que me faça esquecer cada história...
Porque essas foram as primeiras
e porque vos estimei de verdade,
não importa o tempo que passe
jamais esquecerei a vossa amizade...
Limbo
Cada vez que me olho ao espelho
vejo um rosto diferente,
será deficiência do meu corpo
ou ilusão da minha mente?
Para cada pessoa
o meu reflexo tende a variar
para uns, uma alma boa
para outros, um demônio por exorcizar.
Porque mesmo sendo sincero
o meu espelho continua em rotação,
entre o céu e o inferno impero,
numa luta contra a minha própria escuridão.
Escrever o Amor
Da lua nasce o luar,
da noite, o doce amanhecer,
até o dia nos juntar,
num sentimento de ternura e prazer.
Do sol nasce a luz,
do dia, a esperançada mudança,
numa estrada que nos conduz,
que apenas a alma de nós dois alcança...
Do fogo nasce a paixão,
do mar, o espírito indomável,
uma força de atracção,
tão forte, que chega a ser quase inacreditável...
Da flora nasce a paciência,
da fauna, o instinto protector,
e é com eloquência,
que escrevo este nosso amor.
Introspecção
Estou a tornar-me no que não quero
mas ainda vou a tempo de mudar,
pelo menos é isso que espero,
é a essa esperança que me tento agarrar...
E em noite de desespero
apenas peço para me recordar,
que viver fugindo não é solução
e os problemas estão lá para os enfrentar.
E quem sabe, com um pouco de sorte,
eu me consiga melhorar,
e daqui a uns anos abrace a morte,
feliz, com o que em vida consegui alcançar.
Recomeço!
Olho para a minha vida
e vejo-a rapidamente a passar,
quis levantar-me, mas não conseguia...
e agora sinto que é tarde para tentar.
E sinto a minha alma dividida
numa luta interior já ancestral,
creio que começou no primeiro dia da minha vida
mas sem certezas, já não tenho memória para tal.
Na verdade a contagem começou cedo
e sem qualquer sossego
confesso que a Morte já quase me levou...
Mas sempre a Sorte decidiu teimar,
não deixou a Morte me levar,
parece que afinal o meu tempo ainda agora começou!