Canteiro de Obra
Desde cedo já escuto do meu quarto
o barulho tão bruto daquela construção.
Despertada de meu doce sonho,de minha cama parto,
e fico então a admirar por horas,repleta de atenção
o cenário daquele canteiro de obras.
As figuras humanas ali existentes
executam com grande força seu ofício.
Em meio a tantos sons estridentes
lá estão os operários a levantar mais um edifício.
zuuuuin
trrrac
iaaaaaaaun
[poeira no ar]
E quando se aproxima o meio do dia,
o sol radiante e ardente,sem dó nem piedade,
queima-lhes a face com tamanha energia.
[Gostas de suor escorrem pelo corpo com liberdade]
Diz então um colega:
-Bebe lá um copo d'água que o calor alivia!
Chegada a hora do almoço tão esperada,
para-se tudo de repente.Que silêncio encantador...
Abre-se uma embalagem de comida já bem resfriada.
Devora-se com rapidez.Tem fome o trabalhador!
Despois de alimentado,resta ainda algum tempo para o descanso:
Deita ali mesmo na calçada,à sombra de uma árvore
e tira uma soneca,como animal manso.
Rooonc...
Roonc...
Ronc...
Ron...
Ro...
R..."Acorda!"
Grita o mestre em seu ouvido.
Começa o serviço novamente.
Quanto concreto,madeira,prego,areia,cal...
Com o carrinho-de-mão transportam tudo rapidamente,
fazendo o trajeto várias vezes,de maneira irracional.
Enquanto um quebra,o outro martela,
mais adiante,ainda um outro,serra.
Na calçada uma bela forma se revela,
transforma-se a rua em passarela pra ela passar:
linda moça de curvas delineadas que está a andar,
será um anjo,ou apenas uma donzela?
[Momento de pura contemplação]
Depois da passagem,voltam a executar suas obrigações,
mas agora impulsionados pelo calor nos corações.
Cansado,o sol começa a se retirar,
e os trabalhadores vão deixando o serviço.
Ao final do dia,o que mais querem é descansar:
costas,mãos,braços e pernas doídas como se fosse feitiço.
Mesmo após a saída,ainda têm de enfrentar
algumas horas para ao lar retornar.
Força nas pernas para pedalar!
E eu fico só olhando aquelas várias bicicletas,
movendo-se,exauridas,prontas para amanhã mais um dia iniciar.
Ligo o rádio e adormeço,fatigada da vida de poeta.
Num poema há muito mais que uma gota de sangue
Num poema há muito mais
Que uma gota de sangue
Em cada verso há também
Dor
Paixão
Sofrimento
Há também uma lagrima
Em cada (vão) poema
Mas o poeta nem sempre sofre,
Nem sempre está ferido.
Às vezes o poeta é alegre e radiante,
E então despeja o brilho do seu sorriso no poema.
Há um raio de sol em cada poema
Um raio que segue como feixe luminoso
Em busca dos olhos do leitor
E, quando enfim atinge sua pupila
Cega-o com toda sua poética,
Emoção
Sonoridade
Beleza
Agressividade
[...]
Com toda sua poesia.
Há vida em cada poema!
Porque cada poeta deposita
Em sua obra um pouco de si,
Do seu sangue,amor,angustia,
Do seu sorriso,alegria,afeto
Porque cada poema vai além
Dos limites da gaveta empoeirada,
Do livro de páginas amareladas,
Das cartas corroídas pelo tempo.
Porque cada poema
Assim como as pessoas
Nasce livre.
Livre para ir e vir
E voar e circular pelo mundo.
E eternizar-se
Pois o poema,como vida,nunca morre.
Num poema há muito mais
Que uma simples gota de sangue.
Ah,cerejas...
Segundo o amigo Alberto
A época das cerejas se aproxima.
Se a colheita já está tão perto,
Por que não dedicar um poema
A esse fruto de beleza suprema?
As cerejas são originadas
A partir de uma planta asiática
De folhas de tonalidades rosadas.
Algumas não produzem frutos,
Mas geram madeira de qualidade;
Ambos, nobres produtos.
Mas falemos da figura principal:
Cerejas são frutos delicados,
De formato arredondado,
Nem sempre rubros,
Com um sabor especial.
Cerejas para o bolo enfeitar,
Cerejas para o licor adoçar.
Pois além de muito belas,
Cerejas são deliciosas.
Ninguém resiste a elas,
Oh frutinhas saborosas!
As cerejas de tão formosas
Invadiram o mundo da moda:
São blusas,sapatos e bolsas
Entre tantas outras coisas,
Exibindo o fruto com estilo.
Ah cerejas,ah cerejas...
Tens a cor do batom
Da menina que beija,
A cor da paixão,
Que a alma deseja.
Ah cerejas,ah cerejas...
Tomastes o meu coração!
Não mais tristezas,
Apenas cerejas existirão.
Ah cerejas,
tomastes o meu coração...
Vou viver de Poesia
Ah...quando eu crescer poeta serei!
Nada será maior que meu amor pela Poesia:
Rimas,versos,estribilhos...tudo isso farei.
E então minha vida será pura alegria.
Se fome eu sentir,de Poesia me alimentarei
e minha'lma de sentimentos será nutrida.
Se frio eu sentir,com a Poesia me esquentarei
e minha'lma com emoções será aquecida.
Se tristeza eu sentir,com a Poesia eu me rejubilarei
e minha'lma com palavras será iludida,
tendo a falsa impressão de que é feliz
enquanto se encontra triste,
gélida
faminta.
Quando criança,com a Poesia eu brincarei.
Farei jogo com as palavras e pequenas canções,
e ao entoa-las,eu num sono profundo adormecerei.
Na juventude farei dos versos os meus aliados:
quantos corações com eles hei de conquistar,
quantos amores serão declamados,
quantos suspiros as moças irão dar...
Salvem a Poesia!Amem o poeta!
Combinação perfeita,
mistura que se completa.
Com o passar dos anos,adulto me tornarei.
Lá virá a Poesia deixar sua marca em minha vida:
a alcunha de 'Homem-Poeta' eu receberei
por amar tanto a poesia minha querida.
E ao me verem a caminhar pelas ruas,dirão:
-Lá vai o 'Homem-Poeta',vive com imensa alegria
por poder transformar o mundo com sua Poesia;
ser poeta é a sua missão!
Chega a velhice,vêm as rugas,ficam as estrofes.
No auge de minha lastimosa solidão,
virá a mim a Poesia amiga,relembrando fatos melhores
da vida que aos poucos se esvai pelas minhas mãos
calejadas da escrita que tanto valorizei,
e a quem o meu destino entreguei:
-Leva-me,Poesia,então,
Para os versos de outra dimensão!
O Pacto
Considerando a situação em que nos encontramos
Declaro, por meio deste documento oficial,
Em vigor o nosso 'Pacto Colonial'.
Por meio deste,concordamos que:
Nenhum outro alguém poderá jamais,
Em hipótese alguma,nem menos nem mais
Amá-lo do que eu,e vice e versa.
Assim,o fluxo de amor dos nossos corações
Será restrito,controlado e fiscalizado;
Haveremos de honrar cada promessa
e juramento,como reafirmações
do nosso mais sincero amor.
Não deixe que outros ocupem
Esse Éden perdido na Terra,
Não entregue-o a ninguém,
A não ser àquele que o venera
E que muito lhe quer bem.
As riquezas de teu ser,deixe-as assim,
Escondidas,ocultas,visíveis só para mim,
Garanto que nenhum arrependimento haverá.
Mas,se por algum acaso o Pacto falhar,
Ah,tristeza!Oh, desventura!
Que esquisita esta sua loucura...
Outra saída não existirá!
Terei de deixar-te,sem pena nem dó,
Contando apenas com a sorte.
Terei ,amor,de deixar-te só.
Dissolvido
No tempo das inversões,
hoje ama-se primeiro o 'eu'
e só então o 'você'.
Talvez sobre tempo
para pensar no 'nós'. Talvez não.
Quando tudo é mecânico,
quando tudo é automático,
para que sentimentos?
amor,
solidariedade,
carinho?
para que 'nós'?
Amor a si mesmo,
amor às coisas, aos bens.
O bem é ter, e poder.
Não é ser.
Transporte através da mente
O poeta deseja comunicar
que hoje,num momento qualquer
descobriu que a mente
é a sua máquina do tempo.
Envolto no mar confuso de seus pensamento
projeta-se ora para o passado,
ora para o futuro,
esquecendo-se completamente do presente.
Revive sua infância:
as livres corridas,os soldados-de-chumbo,
as bonecas,lições-de-casa,
as traquinagens de criança.
De súbito se encontra velho,
com filhos e conjugue;lar formado.
Senta à mesa,requisita a salada.
Depois,lê o jornal,
abençoa os filhos e..dorme.
Desperta em meio à Revolução Industrial.
Sim,e por que não,
se a mente o quis levar até lá?
E era fumaça e barulho em todos os lados.
Um odor acre,e miséria,muita miséria.
Assustado e já com fome,
o poeta acordou de sua viagem.
Olhou ao redor ainda perplexo.
Estava no presente.
Raciocinou que,mais uma vez,
perdera-se em seus vastos pensamentos
durante vagos minutos de sua vida.
Coca Cola e Canela
Por causa do meu nome e da obra do Jorge Amado sempre ouvi quando criança me chamarem de ‘Gabriela cravo e canela’. Como eu era pequena e detestava canela e não sabia do livro, da novela nem do filme, aquela ‘brincadeira’ não me agradava nem me parecia engraçada ou simpática.
Um dia, não me lembro quem foi, me contaram que Coca-Cola tinha canela em sua composição. Oras, eu gostava de Coca-Cola, mas não de canela. E, de acordo com o que descobri até hoje, a tal canela está mesmo na fórmula.
No começo eu duvidei bastante que isso era verdade, porque eu não sentia gosto nenhum de canela. Mas existem pessoas que realmente sabem degustar...até refrigerante. Eu particularmente não conseguia sentir esses ‘detalhes’, mas um dia desses, depois de passar um tempo sem beber Coca-cola, eu senti um gosto bem marcante de canela. Parecia até refrigerante de canela...
A questão é que eu tive que ficar um tempo sem beber a Coca-Cola para poder sentir o gosto da canela. E aí eu parei pra pensar: quantas coisas nós temos que ficar por um tempo sem para poder sentir que existem, que estão ali, de baixo do nosso nariz?
Como exemplo eu falo de um que para quem mora em Nit. e trabalha/estuda no Rio é bem corriqueiro: andar de barca. Todo mundo (e eu também) acha chato, cansativo e desgastante, principalmente nos horários mais cheios. Mas, várias vezes eu vi turistas super felizes tirando fotos, observando a paisagem, curtindo o momento. Claro, é bem diferente fazer o percurso todo dia e fazer uma vez ou outra, mas eu posso garantir que é um trajeto privilegiado, com uma das paisagens mais lindas do mundo já no (super) preço da passagem.
Eu falei das barcas, mas existem várias outras situações em que não valorizamos/sentimos o que vivenciamos todos os dias. O que importa dizer é que é preciso descobrir/reparar a canela da Coca-cola, as pequenas coisas do dia a dia.
Lugar Íntimo
Grande surpresa tive eu
ao descobrir a razão
de ser a logarítmica uma função
de difícil entendimento .
Contou-nos o sábio professor
Que o logaritmo era complicado
Por ser um ‘lugar íntimo’.
Justificado este fato
Comecei a pensar;
Eu que nunca fui de adorar
A,para mim,confusa matemática,
Me via agora refletindo,
Sobre as possíveis implicações
Que a afirmação do mestre daria origem.
Primeiramente pensei no óbvio:
Se o interior do homem é tão complexo
Logo,o ‘lugar íntimo’ matemático
Seria de difícil entendimento.
Algo que me pareceu ter muito nexo,
Até que surgiu uma confirmação:
Sendo a função logarítmica
Inversa à exponencial
Notei que o seu resultado
Seria nada além
De um ‘ponto de encontro’
(se é que assim pode-se dizer),
Da união da base e do logaritimando.
Bela junção esta,mesmo sendo,
Ainda assim,complexa!
Complexa como nós,
Repletos de idéias
Que se fundem ,chocam-se e
Repelem-se a todo momento.
Nunca se sabe o que realmente
Se passa na mente do homem.
Tudo porque no íntimo
Toda verdade é aparente.
Nunca há uma razão exata.
Não era de se admirar,
Que uma ciência exata
Como a matemática
Tornasse difícil aos estudantes
Compreender assuntos
Como os números logaritmos:
Sem simplicidade nem ritmo,
um lugar tão humanamente íntimo.
Plano B
Sem escolhas declaro:
Resta-me o plano B.
Então,reflito e paro:
Será mesmo a melhor opção?
Antes de tudo é preciso crer.
Uma rota de fuga inesperada.
Mas haverá sucesso?
Terá de ser bem arquitetada.
Tenho medo,confesso.
Antes de tudo,é preciso arriscar.
E quando tiver o domínio nas mãos,
não me fartarei de possuí-lo?
Será que realmente quero esse chão
ainda desconhecido e para mim adormecido?
Algo me diz que sim.
Após tantas ardilezas falhas
talvez seja esta a solução,
a tentativa que faltava,
o caminho glorioso para a conquista.
Algo me diz que será a salvação.