Ao meu querido avô
Ganhei-te, presente divino.
Pra pai de meu pai e meu.
Criaste com tanto afinco
o menino que cresceu
como homem bem formado,
de caráter apurado,
que trouxe-me como filha
Pra esse mundo de Deus...
Em mim, acho que pensavas
quando gerou tantos filhos...
Fartou-me de tios generosos
de braços que revezavam
em balançar meus desejos.
E tuas belas histórias?
Imaginárias e divertidas...
As cantigas inventadas
e a lista de apelidos
me encharcam de saudades
Ah! Meu avô querido...
Como eu definiria
avô tão especial
se o muito que eu escreva
pouco diria de ti?
E eu não sou escritora
Mas se fosse, te garanto:
Minhas obras se inspirariam
em teus cabelos grisalhos.
Ao meu avô Adelino Almeida Costa (In memorian)
em 11/11/06
Um dia perfeito...
Planejo doar para mim
O que chamo de “um dia perfeito”:
despertar-me com um raio de sol ao canto de passarinhos;
largar matinal languidez na areia
com passos serenos, descalços
beijados pela agradável espuma concebida pelas ondas do mar...
(mar que rebola num ritmo que deleita minh’alma
arrebatando-me à mais graciosa viagem contemplativa,
expandindo meu ânimo e renovando a robustez interior).
E enquanto o dia se estende,
dispensar-me à uma tarde de folga
na rede ou à fresca sombra doada pelos coqueirais...
envolvida com Pablo Neruda em total ociosidade...
Bem farta, encontrar-me com a noite
por velas, sendo iluminada
Aos mimos da pessoa amada curtir Eduardo Lajes
(que adorna em primor maestria os ares de nosso lar)
Que venha então a madrugada
e então que não haja mais pressa
em amanhecer um novo dia....
Dia de chuva
Pingos de chuva no telhado...
Corri para espiar pela janela
o gotejar incessante que embriaga o solo
e nos traz a sensação nostálgica
de alguma coisa que não sabemos dizer...
Lampejos tremulantes
em meio à ventania
me envolvem de sentimentos que oscilam
entre medo e admiração...
Não sou criança
mas quero uma companhia
que me mantenha albergada
ao som das gotas d’água que tilintam na cobertura.
Uma conversa descontraída ou um livro envolvente
aliado a uma xícara de café fresquinho.
Aceita um café?
Vida eterna
Ah se chegasse pra mim
A “vida eterna enfim”...
O tempo é meu grande vilão.
Quanta coisa eu não faria
não fosse essa limitação?
Setenta ou oitenta anos
é pouco pra o que eu queria:
viajar aos quatro cantos;
leria...Oh quanto leria!
Quanto não ouviria
de música, sinfonia...?
Para aprender coisas novas?
Com gosto eu me esmeraria:
Letras, música, pintura, veterinária, jardinagem...
Viver plenamente a vida
e não apenas a margem.
Enquanto esta vida curtinha
é a minha realidade,
Viajo bem mais em meus sonhos;
não leio o que tenho vontade;
das sinfonias compostas
nem conheço a metade...
Pudera dizer para a morte:
- Hoje não...passa mais tarde!
A Palavra Mágica
A Palavra Mágica
Autor: Carlos Drummond de Andrade
Como bem sugere a apresentação do livro, ao ler os poemas de Carlos Drummond de Andrade, é fácil identificar semelhanças com as nossas experiências de vida, pois ele abusa do cotidiano para fazer poesia.
A leveza de sua linguagem torna mais prazerosa a leitura de suas poesias. "Poesia assim como a arte geral, perpassa nossa vida, dialoga com a nossa sensibilidade, é inerente à nossa condição, está presente na ração diária que nos faz, a cada dia, humanos." (trecho da apresentação do livro).
E com quanta sensibilidade o poeta traduz o sentimento do trabalhador assalariado em seu poema 'Salário'!
A impressão que tive ao ler "A Palavra Mágica", é que as palavras saltam soltas, harmoniosas, às ordens do poeta. Em seu poema 'O lutador', Drummond simplesmente desmente esse aparente domínio.
Alguns textos de Drummond presentes nesse livro me reportaram à infância, aos tempos da escola primária. É o caso de 'José' e ' Lira do amor romântico' ou a eterna repetição.
Marcante nesse livro é também a ironia desse poeta presente, por exemplo, em 'O homem; as viagens':
"...o bicho homem, bicho da terra tão pequeno
chateia-se da terra...
toca pra a lua...
marte...
sol..."
e o poeta ironiza:(depois que o homem explora todo o espaço)
"...só resta ao homem,
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo...
descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas a perene, insuspeitada alegria de con-viver."
Em poesia, Drummond fala de algo tão profundo que me traz à lembrança as colocações do psiquiatra e escritor Augusto Cury quando diz que raramente fazemos uma viagem interior. Somos gigantes na ciência, mas pequeninos no campo das emoções.
Drummond enaltece valores intrínsecos em detrimento das aparências externas em 'Eu, Etiqueta'. Esse poema chama-nos à reflexão do que passou a ser encarado como valor pela nossa geração.
Embora eu concorde com Fernando Pessoa que "o poeta é um fingidor", a visão que este livro me deixa de Carlos Drummond de Andrade é de um ser humano sensível aos pequenos eventos e apreciador da vida tranqüila do interior mineiro onde se cercava da afeição familiar. Tal aparente simplicidade, a meu ver, dispensa maior comentário sobre a grandeza do autor.
Sandra Lima Costa Melo
Ver o mar
O sol parecia tremer
Na bela manhã de domingo
Ah se eu pudesse passar
o dia inteiro contigo...
Tranqüilo ou desassossegado
tu me trazes alegria
O balanço de tuas ondas
me provoca euforia.
Esse vem-abraça-e-volta
parece lavar-me a alma
Devolve-me as energias
me transmite tanta calma!
São ondas que se embolam
num magistral movimento
de alguma canção Suprema
regida ao compasso do vento.
O sopro, o cheiro de vida;
Nas pedras, o som do mar...
Encanta-me e me contagia
Diz o que nem sei falar...
O sol nasce mais imponente
Dá um espetáculo ao se pôr
Pintando nos céus um cenário
Romântico, cheio de cor.
Se apenas observo
Tal grandeza me fascina
Faz-me refletir com clareza
O quanto sou pequenina...
Um tempo de frente ao mar
Pra mim é especial!
Acende-me os instintos
Os sonhos, etc e tal...
(Saudades de Salvador Ba)
"Quando Nietzche Chorou " - filme
"Quando Nietzche Chorou " - filme
O filme “Quando Nietzche chorou, baseado no best-seller de Irvin D. Yalom mostra um suposto encontro entre o filósofo alemão Friedrich Nietzsche e o médico vienense Josef Breuer professor e mentor de Freud.
O médico é procurado para tratar do filósofo que passa por um momento de desespero tão intenso que desenvolve idéias suicidas, sendo tratado por outros médicos sem nenhum sucesso. Dr Breuer é um médico famoso que desenvolve a “terapia da fala” junto com seu aluno, Freud.
O tratamento do filósofo é desafiado pelo seu próprio orgulho e sua dificuldade em confiar suas mazelas interiores a outra pessoa mesmo por desabafo.
Num enredo interessante, o filme mostra que as pessoas que consideramos rudes e impenetráveis muitas vezes carecem apenas do jeito certo de serem conquistadas. Uma outra lição interessante é que as vezes as pessoas invejadas pelas suas realizações e fama são insatisfeitas e infelizes.
A trama transmite a importância de falar, desabafar conflitos emocionais que muitas vezes adoecem o corpo desafiando a eficácia de bons medicamentos. Mostra também como o domínio dos nossos pensamentos pode significar a diferença quando precisamos superar uma perda ou um desejo indevido.
Profundo e rico em lições de autoconhecimento, esse filme simula uma terapia inteligente onde há uma troca de experiências que resulta no crescimento pessoal e emocional dos envolvidos.
Numa era em que cada vez mais estamos trancados em nossos próprios mundos e adoecendo coletivamente, esse filme nos leva a repensar valores como a amizade e o interesse genuíno pelo nosso semelhante, o que pode significar a diferença para uma pessoa que enfrenta o caos emocional.
Um filme para ver e refletir que recomendo.
Sandra Lima Costa Melo
Finda a Vida
Chove a chuva, parece que a nuvem chora
gotas lúgubres, tal minha lamentação.
A saudade dum ser no adeus à vida,
o adeus carecendo de aceitação.
Bem se sabe. Se a vida é toda incerteza
não há fuga que impeça a separação.
Mas as células quando se regeneram
clamam, querem da vida prolongação.
Cessa o fôlego. Uma vida é encerrada
e a dor, qual legado, é de quem fica.
Cada canto vazio, cada lembrança...
um aperto, uma angústia que não se explica.
Subjuga-nos, vence-nos, sem clemência.
Paralisa - esse senso de impotência.
Jardim enlutado
Cedo fui ver o jardim
encontrei um funeral:
Folhas e flores molhadas
de grosso líquido lacrimal.
Homicida? Um felino
com passos deselegantes
na escura madrugada.
Lançou-se do teto ao solo
com seus saltos arriscados
Esbarrou-se sem lastimar
no mais seleto vaso...
Meu vaso belo, imponente.
Fora sempre bem cuidado
com rega, sombra e sol
Seu verde atraía, ornava.
Se alcanço o tal felino,
levava-o algemado
Pra que nunca mais eu visse
um vaso despedaçado
tampouco meu lindo jardim,
amanhecer enlutado.
Tu és...
És dentre a multidão, o único;
Entre escolhas, a melhor;
Em meio à dúvida, a decisão;
No fundo do poço, a mola;
Na melancolia, é aquele que consegue alegrar os meus pensamentos;
Quando o dia amanhece, és a minha primeira miragem,
meu desjejum matinal.
E quando anoitece,
A canção que embala meu corpo; aquieta minha mente,
fazendo-me adormecer e sonhar
na cômoda segurança da companhia incondicional...
És meu amigo verdadeiro,
meu sócio, meu companheiro.
A mão que se estira e me ergue
O colo que me acolhe se me arremesso.
És meu sim quando afirmo
e meu não se preciso negar.
És o brilho,
O claro,
O perfume,
O doce,
O bonito,
O sem igual...
E se pessoas conseguissem simular os nossos sentimentos eu resumiria:
- ÉS O MEU AMOR!