No pico das estrelas [1]
Recrio o castelo nos alicerces do céu:
Anulamos as nuvens num colchão de molas
A neblina que quebra é apenas meu véu
Num incenso de temas, decorado de rosas
Saltamos, pulamos entre o sexo dos anjos
Lambuzamos o mel no pico das estrelas
Idolatramos ao cio e a voz dos arcanjos
Somos almas análogas, guaridas, cometas
Oferecemos os dedos e também os anéis
Anilhamos brilho, olhos-de-sol e dedos
Somos bailarinos em nuvens de corcéis
Lágrimas perfumadas ninfas num decote
Destilamos na pele baldeamos nas fronhas
Conciliamos sorte de luas travessas risonhas.
Diz-me
Diz-me a cor dos meus olhos…
O meu nome…
A minha luz…
Diz-me o que sabes de mim…
o pronome e a minha cruz…
Diz-me tudo o que souberes…
Diz-me o que fui e o que seria…
Diz-me o silêncio e a alegria…
Diz-me a noite…
Diz-me o dia…
Diz-me o sonho…
Diz-me a morte…
O começo e a sorte…
Diz-me!
…Diz-me!
…Ventania…
Vento de mar e maresia
Ponto Norte e Ponto Sul
Onde o mar é mais azul
Pássaro de luz, - utopia!
Aflige-me
Aflige-me quando não sei de ti
Nestas horas tristes e pobres
Que nos restam.
Aflige-me não tocar nas tuas mãos.
Atravesso esta tristeza que me deixa débil…
Ao encontro da melodia que me faz recordar os teus lábios.
Estanco as lágrimas!...
Recapitulo desesperadamente por dentro, nos nós da voz,
O pouco do sonho que já foi vida.
Era mais fácil
Era mais fácil apagar-te
Como se sopra uma vela
Era mais fácil esmagar-te
Pisando na cinza torrela
D´um cigarro fumado a dois
D´uma madrugada singela
D´uma cama sem lençóis
Esquecida em alguma viela
Como vou conseguir apagar;
Flama que sempre assim arde
De noite, de manhã e de tarde
Dentro de mim como alarve
Consumindo-me só com ela
Perecendo-me cega de amarela
Desculpa
Desculpa!
Penso que por segundos me esqueci,
Foi um impulso,
Um simples impulso.
Tenho a certeza que não volto.
Vou ficar por aqui,
Por aqui mesmo...
Aqui neste meu canto, sossegada,
Por momentos esqueci;
Até me esqueci,
Daquilo que nunca vou poder esquecer .
A mentira
Esconde-se
no fundo do mar
Num coração de estrela
De lágrima a chorar
É peixe esquivo de arrebol
Oculto no sal
Lusco-fusco ao sol
Pestanejando
a alma
Negrinha
Por que se anda aos escondidos?
Quando ausência ofusca o sol,
Negrinha no seu alarido...
Brincando de esconde, esconde...
Dia-a-dia em seu rompido
Espreita o tempo, se está bem?
Não sabe quando nasceu
Troca o mês e o que vem
Quem sabe se já morreu
Essa ausência que passou
Se foi para muito longe
Ou se ainda cá ficou
Eixo
Somos como a terra, quando ardemos de amor giramos com a certeza que o universo está à nossa volta.
Aurora
Que se nutra a mais bonita
Pois se intitula de feia
-Estrelas lhe brilhem deleita!
…Porque a noite escureceu
No mar por onde se deita
Despida já morta e desfeita.
Soltem-se-me as gargalhadas
Não sei bem se do fígado
Se do estômago,
De onde for, que seja!
Soltem-se-me as gargalhadas
Não sei se dos dias de sombra cheios de sol
Que se soltem…
Que se soltem dos saltos pela manhã
Duma bolacha mergulhada numa chávena de café fina
Que se soltem…
Da imbecilidade doentia
Dos pensamentos que nem os dos primatas
Das vaidades sociopatas
Soltem-se-me as gargalhadas
Das conjeturas estrelares do ócio
Em ópios de poesia
Solta-te…
Se tiveres aprisionado,
Nem que pareças um Urubu.