A cor transparente da letra
o remetente se transmuta
mas o destinatário
nunca muda
e por vezes ...
só o destinatário
sabe o verdadeiro
significado
de certas letras …
só assim faz sentido
a poesia do meu íntimo
tantas vezes
aqui exprimido
vestido de diferentes
roupas
Contudo ...
só tu sabes o tecido da pele
depois das palavras despidas
só tu sentes
certas linhas
onde aquele
vocábulo se senta
e te arrepia
só nos sabemos
cor dos olhos
entre silêncios
a centímetros do rosto
depois de tantas
frases amadas
fora das páginas
A alma no corpo de luz
ancorado nestas palavras de sempre
deixo este teu coração de ontem
querendo girar como farol
nas linhas
da tua mão
esperando
por alguma razão
iluminar
teus lindos versos ….
nos rodopios da luz
anseio
que surja
neste mar de escrituras
teu nome
passo
espreito
danço
lanço
a luz
no casco
dos teus azuis
flor
desejando
que o embate
seja real
no meio dos nossos
braços
sabes …
todas as lágrimas
trazem lugares
flashes de saudade
as minhas
as tuas
trazem
esse clarão
de um amor
inacabado
e aquela
gémea
alma
que
que ficou para trás
sangrando
o sonho
Só falta as vermelhas pétalas …ao teu silêncio …
a Helena Kolody
já escrevia sobre o “nós” dela
alguém que dedilhava a poesia coronária como a tua …
“fomos duas árvores castas.
não misturamos as raízes.
apenas enlaçamos os ramos
e sonhamos juntos.”
no meu caso
a invisibilidade das tuas raízes
trespassaram o núcleo
umbilical do sentir
sem vestígios audíveis
nem cicatrizes
hoje o vento lá fora
traia a calma
aparente das horas
e me ensina …pingo a pingo
que o amor silencioso
é perigoso
quando não temos calaboiço
para o abrigar
e torna-lo
gente
presente
na vida
como foi contigo …?
sei
que naquele dia
trazia orquídeas
para colher no teu olhar
a beleza que me faltava
cheguei-te
escondendo
debaixo da pele
veias de seiva
nascidas
do teu lindo tronco
naquele dia
o único trunfo que levava
para te impressionar
era e é
o tal amor puro
que não se via
que não se distinguia
do homem ou da mulher
aquela chama branca
que se acende e permanece
no fundo do mar…
acesa …
até possibilidade
finita
do sempre …
Semeando a flor na terra adubada de pólvora
a alma nua
[maquilhada de ternura ]
regressa a esta casa
em ruinas
com a esperança
de ver nascer
a tal flor
nos destroços
de uma guerra
impura
traz a lágrima na cortina
de um sorriso
a beleza de amar
na retina das letras
contudo
o tempo surdo
não para de distanciar
a luz das estrelas
…e tudo se esquece
num parágrafo
…e tudo foge dos braços
…e tudo o silêncio sossega
nos atrasos
das horas
mas a tal flor
mostrará ao mundo
a beleza das suas folhas
sagrando por dentro
as raízes da sua dor
...e no fim de tudo.
o que vai sobejar
ao inverno e ao outono,
são as raízes e o tronco …
As palavras que não deixam marcas… não tem linhas do coração
não foi só as palavras que te chegaram
e tu sabes bem disso …
sabes da ternura do nosso olhar
quando os nossos rostos
se tornara íntimos
quando nossos íntimos
se tornaram elos
de um mundo
só nosso
os cortejos poéticos
enviados
foram
rasgos de carne
com alma
que tinham a missão de te tocaram
por serem sinceros
chorados com mel
pelos lábios
hoje
observando a indiferença
crua
da tua parte
entristece-me
alma
ficando com a sensação
que as sementes
semeadas
no teu coração
foram em vão...
só a flor
da mágoa
cresceu
e se tornou
árvore
já a tua sementeira
no solo do meu imo
brotou um lindo jardim
enricando
o deserto do sonho
com oásis de amor
neste lugar teu
permanece a contemplação do teu ser
e não há flor
que não tenha o teu cheiro
e não há recanto
que não tenha um letreiro
a dizer
"Amo-te "
Pintar amor
a fúria das pálpebras
as glândulas exacerbadas
o fogo em água
o corpo salivando
a falta
da pele
enleada
entre as
mãos
e alma
a saudade
á solta
sussurrando
no dérmico
rumorejo
do tronco
a traqueia
chamando
o suspiro
de um raspançar
de beijo
o arrepio
riscado
pelos dedos
nos teus seios
clivosos
a vontade
de ser
branco
sangue
no
teu
ventre
prenda
o desejo de ser anjo
entre o suor dos membros
e no final
a cedência mortal
de um gemido
a dois
num inexplicável
avolumar de paz
e delicadeza
Serás sempre o ponto de luz mais bonito … na partida e no regresso ao ninho
vou mudar as estrelas de lugar
estão tão afastadas quando não sorris
quero bordar com elas
as bermas da estrada
para não te sentires sozinha
quando regressas a casa
Depois de tudo
O sentimento acogulado no peito
Fala o tempo todo de um amor autêntico
Feito para durar um século e meio
Na procura incurável do teu abraço
È neste labirinto de ecos
Que o coração soletra o teu nome
Com uma claridade sonora
Que adocica o pensamento em voz alta
Meu Deus
Relembrar-te com este desprendimento de dor
Cala de forma doce
O reboliço das incertezas
Criadas
Pelas ausências
Oh! meu anjo
Meu doce anjo
Serei amor
Para ti amor
Mesmo que estejas longe
Mesmo que um dia esqueças o meu nome
Mesmo que percas contornos do meu rosto
Serei sempre amor
Porque vivi no lugar mais bonito de todos
O berçário dos teus sonhos
P.S.:
Não será pelas palavras bonitas
Que o amor se transforma em realidade
Mas por ser verdade este amor que te escreve
Tornando a poesia aqui tricotada
Um salpico de ternura
No teu encalce
O desraizar dos passos pode bem ser o prelúdio dos afetos
o tempo não vai perdoar
a mudez do coração
que abala teu peito
nos dias de enternecimento
onde os sentimentos do avesso
seguem em contramão
poucos sabem como és
crente na bondade humana
geradora das emoções espelhadas
és dona dessas gigantescas assas
empoeiradas
trancadas na saudade
mesmo assim serás capaz
de proteger as asas de tantos nós
dos salpicos das estações
aljofarar nossos corações
com a beleza das tuas penas …
o que esperas…
para baloiçar ferrolho da porta
e caminhares
sem pedires permissão á solidão?
há tanto de ti para somar ternura
vem ...
a doçura do silêncio só se constrói a dois …
vem ...
meus braços não sabem voar sem os teus
vem …
Asas por ensinar
anjos
pequenos
alteiam
a luz
nas
nossas
retinas
se desprende
das mãos
das mães galinhas
e lá vão
com olhos
rotos
de meiguice
repisando
os passos
nos dias
os nossos pequenos heróis
tornam especiais
os pais e toda a família
às vezes basta
uma careta
mais felina…
pena é...
... quando a sua estadia
é encurtada
nesta vida
as estrelas ganham seus nomes
e o firmamento vira a coleção
mais bonita
de luzes púrpuras
entre os escuros
dos olhos
quando isso acontece
os corações viram órfãos
e a vida se torna num cais encerrado
para obras
adiadas até à morte