sem título... simplesmente existe.
Frases soltas, cuspidas ao vento
Sem pudor nem arrependimento.
No passado prisioneiro,
Mas ainda agarrado à vida,
Sou um inconstante estrangeiro
Do meu próprio corpo!
Gostava de me ver livre
Das memórias que me atormentam,
Do saber que tive tudo o que quis…
As lembranças que alimentam
Um passado onde fui feliz.
Mas tudo isso acabou…
Restam… memórias…
Resta… o pouco que agora sou,
As vertigens ilusórias
De abismos insondáveis,
De actos perdidos no passar dos dias,
Fúnebres cânticos imagináveis,
Alegrias que se foram
E não mais voltam…
Mas ainda importam?
Até um deserto possui oásis…
Conseguirei encontrar o meu?
Tudo tira quem tudo deu,
Tudo perde quem tudo encontra…
Se bebo o néctar de um copo de cristal,
O saboroso néctar desta festa
Que a vida representa,
Sei que apenas o cristal resta…
E a vida nada ostenta.
Detesto este asterisco ao lado do titulo...
Estou caído no escuro,
Não vejo, mas sinto temor!
Rastejo um solo obscuro,
Inerte, vago, sem cheiro ou sabor…
Razões que ninguém me diz…
Dói, arde novamente
Os cortes abertos que eu fiz
No coração, na alma, na mente!
Eu sou apenas como tu…
Sinto mais, com mais intensidade?
Será que o meu corpo nu
Poderá ser, junto ao teu, realidade?
Não me amas, apenas sentes
Um corpo que também não ama…
As labaredas são beijos quentes
Que me beijam a cada chama!
As lágrimas não apagam este fogo!
Os sonhos são esperanças que perdi…
No mar ardente da decadência me afogo
Sem luta… não sofro, não amo, já morri!
Não gosto nada de "rotular" poemas com titulos...
Não tenho sentidos que me ajudem
A ultrapassar a insensibilidade dos dias!
Os anjos perdidos não me acudem,
As minhas mãos são pedras frias…
Não tenho paz que cubra a sede
Nem sonhos que abracem o sono!
O meu rumo esbarra numa parede
Cimentada pelas asas do abandono…
Encontra-me, olha para mim, saboreia!
Minha boca não conhece o sabor…
Descobre que o instinto não serpenteia
Por entre o sangue sem calor
Do meu corpo frio, vago, inerte…
Arranca de mim este estado depressivo!
Tudo o que o meu coração verte
É sóbria beleza do acto impulsivo…
A questão.
Porquê?
Perguntas tu... ou pergunto eu.
Porque não?
Respondes tu... ou respondo eu.
Porque quem escreve
O que sente no coração
Liberta de ânimo leve
O que outros chamariam de inspiração
Mas inspiração não é,
É apenas o que eu sou
Despido de corpo e de fé.
É assim que a ti me dou.
Porquê?
Perguntas tu...
Porque não?
Respondo eu.
Nos teus braços...
Numa noite prateada
Como a de hoje
É longa a estrada
Que a minha mente percorre
E absorve…
Aqui estou…
A fazer o quê?
Aqui estou…
Porquê?
A questão
Que tenho…
Quem sou…
De onde venho…
Quero morrer,
Partir,
Quero nascer
E sorrir…
Quero regressar
Ao passado,
Amar
E ser amado…
Aqui estou novamente…
Amarrado em cordas de dor,
Infectado,
Deprimente,
Sem calor
No corpo…
Vazio,
Absolutamente vazio…
Seco como um rio
Sem foz,
Triste e frio,
Sem voz
Incapaz de gritar o teu nome,
De chamar por ti…
Aqui estou…
Á tua espera…
Sozinho…
Quem me dera embriagar-me
No vinho
Do teu amor…
Ficar demente
No conforto suave
Do teu corpo quente…
O meu coração,
No seu aperto estreito,
Faz-me sonhar que possa ainda adormecer
Com a cabeça no teu peito,
Ouvindo o teu coração bater…
Depressão?
Talvez…
Mas não tenho defesa…
De cada vez
Que sinto um batimento cardíaco
Sinto dor,
Sinto mágoa,
Sinto um ardor,
Chagas…
Porque não pára ele de bater?
Não sentiria mais dor…
Aqui estou…
Sozinho…
Seria um recomeçar?
Como eu gostava que ele abrandasse,
Que batesse devagarinho,
Até parar…
Nos
teus braços...
Agreste...
Sonhando, em sonhos, pelo sonhar,
Que sonhos pode uma alma dilacerada
Ter? Que alegrias pode alcançar?
Alma triste, em meu corpo encarcerada…
Como podes ousar um voo gracioso
Quando incessantemente te cortam as asas?
E se o choro é grito lapidário e doloroso
Poderá ser ouvido em cada lar, todas as casas?
Ah, corajoso coração cheio de vida
E com muita vida em ti para oferecer…
Sonhas em devaneios e de seguida
Vertes amor e saudade até morrer…
Mas vives ainda em receio, sem cura…
Os meus olhos fecham, em vão,
A minha mente é foz de amargura,
O meu olhar escondido é solidão…
A alma treme, o coração aperta, aperta…
Se pudesse viver um sonho! Ou apenas viver…
Minha alma não é alma, é porta aberta
Para as intempéries agrestes do meu ser…