Poemas, frases e mensagens de Alexis

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Alexis

quem quer um docinho?

 
no meu beijo pus carinho
(todo o que sentes por mim)
e nas mãos mais um miminho
e afaguei meu bem assim

depois disse: dorme bem
e falei voz de doçura
não fosse acordar o medo
antes de vir a ternura

no calor desse teu corpo
aconcheguei meu coração
dormiste tu teu soninho
fiquei com teus sonhos então

meu anjinho tão bonito
a mãe está perto de ti
não vou deixar nenhum grito
abafar meu canto aqui

vi teus olhos tão sinceros
cheios de amor para ler
e li todos os mistérios
que só uma mãe sabe ver

descansa meu amor santo
no meu colinho deitado
enquanto eu acalanto
o amor em ti plantado
 
quem quer um docinho?

tais vezes

 
 tais vezes
 
Talvez me afogue em alcool
e nade nas nuvens
por uns segundos quentes.

Talvez me evapore depois
e me chova este corpo

ao frio do passante rio.

Talvez me precipite,

talvez caia cinzenta,
nesse chão maduro.

talvez chore um pouco

este estado escuro.

Talvez guarde o sal,
branco,
puro.

Talvez regue de verde
as plantas
com aquela doçura
das águas tantas

transparentes.

Talvez lhes sinta a frescura.

Talvez viaje depois
num raio de sol que brilha

amarelo
presente

nesse outro lado

do meu mundo azul.

fotografia de paulo s:"plural"
http://olhares.aeiou.pt/plural_foto3812674.html
 
 tais vezes

requisição 2

 
.morreu hoje
na cela 9
a prisioneira nº 8.
sobrou o pão
que não quis
duro
e bolorento
como o tempo.
requisita-se um lençol
branco de vento
soprado que seja
pela janela estreita
que a enrole
num abraço
e menos lágrimas
a inundar
o já perturbado espaço.
convém que tudo esteja seco
e seja claro e entendível
como uma mera parede lógica
onde um pássaro se esborrache.
 
requisição 2

manifesto contra a hipocrisia/ "O Sofrimento do Hipócrita"

 
atenção! níveis de hipocrisia acima do normal,podem matar.este "veneno",deve ser consumido com prudência,apenas na medida de uma sã convivência social.é claro que nunca nenhum de nós é completamente franco,o que constituiria uma desgraça em termos relacionais.às vezes convém ser algo moderado na expressão das nossas opiniões,pois não conseguiriamos obter com elas nada de verdadeiramente importante e apenas causariamos muitos estragos vãos.outras vezes porém,impõe-se a necessidade da verdade nua e crua,sendo que a verdade é sempre subjectiva.direi então, impõe-se revelar o outro lado das questões.aquele que nunca vê a luz por conta da hipocrisia.saber distinguir esses momentos é porventura uma questão de sensibilidade ,como outra qualquer.ou poderá ter a ver com a noção dos limites do perigo aliados a uma grande falta de pachorra.para que todos façam uso da sua própria dose de hipocrisia em doses adequadas à sua própria sanidade mental,aconselho a leitura deste texto de vitor hugo que nos fala do "sofrimento do hipócrita":

"Ter mentido é ter sofrido. 0 hipócrita é um paciente na dupla acepção da palavra; calcula um triunfo e sofre um suplício. A premeditação indefinida de uma ação ruim, acompanhada por doses de austeridade, a infâmia interior temperada de excelente reputação, enganar continuadamente, não ser jamais quem é, fazer ilusão, é uma fadiga. Compor a candura com todos os elementos negros que trabalham no cérebro, querer devorar os que o veneram, acariciar, reter-se, reprimir-se, estar sempre alerta, espiar constantemente, compor o rosto do crime latente, fazer da disformidade uma beleza, fabricar uma perfeição com a perversidade, fazer cócegas com o punhal, por açúcar no veneno, velar na franqueza do gesto e na música da voz, não ter o próprio olhar, nada mais difícil, nada mais doloroso. 0 odioso da hipocrisia começa obscuramente no hipócrita. Causa náuseas beber perpétuamente a impostura. A meiguice com que a astúcia disfarça a malvadez repugna ao malvado, continuamente obrigado a trazer essa mistura na boca, e há momentos de enjôo em que o hipócrita vomita quase o seu pensamento. Engolir essa saliva é coisa horrível. Ajuntai a isto o profundo orgulho. Existem horas estranhas em que o hipócrita se estima. Há um eu desmedido no impostor. 0 verme resvala como o dragão e como ele retesa-se e levanta-se. 0 traidor não é mais que um déspota tolhido que não pode fazer a sua vontade senão resignando-se ao segundo papel. É a mesquinhez capaz da enormidade. 0 hipócrita é um titã-anão."

Victor Hugo, in "Os Trabalhadores do Mar"

...que pena tenho dos hipócritas aqui retratados...
 
manifesto contra a hipocrisia/ "O Sofrimento do Hipócrita"

Sociedade,prostituição,sexualidade e mentalidades

 
Mergulho numa profunda estranheza sempre que ouço falar e penso um pouco mais demoradamente no fenómeno da prostituição e da sexualidade nos tempos modernos.passo a (tentar!) explicar.o assunto é complexo e vou deixar de fora muitos factores que seriam importantes,porque apenas pretendo escrever um texto que abra caminhos de reflexão e não discutir o assunto até à exaustão. Isso implicaria um estudo aprofundado ao nível sociológico,por exemplo, não só.
prostituição sempre existiu e para mim era como que uma consequência (algo tétrica ,mas fácilmente entendível) das estruturas sociais tal como funcionavam,reflexo que eram de uma mentalidade específica.a mulher,mãe e ou companheira,estava limitada no exercício da sua sexualidade e era alguém a quem se devia votar “respeito “e “consideração”,o que excluía a possibilidade,devido a uma série de tabus machistas ,uma vivência livre da sexualidade.para isso existiam as prostitutas que dariam azo às fantasias sexuais dos homens e eram olhadas como fonte de prazer.as prostitutas não eram olhadas como mulheres respeitáveis,mas como fornecedoras de um serviço reribuído monetáriamente.um espécie de “mal necessário” que era olhado ora com tolerância,pelos detentores desta visão do mundo machista ,ora com hipócrita recriminação pelos (muitas vezes falsos) moralistas.prostituição era também e ainda é,sintoma de dificuldades e miséria social.associada ao consumo de droga,à fome e à sobrevivência desesperada de muitos seres humanos.hoje em dia existe também a de luxo,em que pessoas se vendem para satisfazer necessidades consumistas consideradas prioritárias,reflexo de uma mentalidade igualmente bastante actual.enfim,a realidade inclui diversas nuances,algumas delas bastante desiguais,como desigual é este mundo em que vivemos.
De qualquer modo,e continuando o meu raciocínio anterior,gradualmente as mentalidades foram mudando e as mulheres foram assumindo o seu direito à vivência de uma sexualidade menos restritiva o que veio de certa forma mudar as regras do jogo.os homens aceitando na sua companheira comportamentos mais livres e vivendo isso como parte natural do seu relacionamento com elas, já não teriam,supostamente, de recorrer à prostituição para obtenção de prazer.
mas eis que o que sucede actualmente é algo bem mais complexo do que tudo isto.independentemente de ser remunerado ou não, a obtenção do prazer apenas pelo prazer,excluíndo a obrigatoriedade de relações mais íntimas ao nível emocional ou relacional passou a ser uma justificação para continuar a existir uma espécie de sub-mundo igualmente oculto ou semi-oculto, onde essas transações acontecem.nem sempre a remuneração é necessária ou acontece porque existem homens e mulheres a comungar desta nova visão das coisas que é de algum modo o reflexo de uma sociedadade imediatista,egoísta e impaciente que procura sexo e prazer sem os “inconvenientes” de outras “complicações” de cariz emocional e que rejeita qualquer tipo de compromisso ou obrigação para com o outro.
ainda enleivado de um teor machista persistente continuam-se a ouvir discursos que denominam como “putas” estas mulheres também,embora a parte monetária esteja arredada do sistema e quando o que elas fazem é exactamente o mesmo que eles fazem:procuram prazer,sexo ,no sentido mais restrito do termo.
quanto às outras (as que recebem dinheiro)continuam ainda também a existir. talvez porque assim seja para alguns homens mais clara a situação ou porque é ,ainda assim,mais simples. a mulher é ainda mais “coisificada” e mais preparada para dar prazer,sem quaisquer tipo de restrições ou limites morais e não há a “chatice” de se ter que conviver com ela noutras situações sociais o que pode causar constrangimentos e desconforto a alguns homens.mas também há as que são usadas precisamente para serem acompanhantes em eventos sociais,suprindo assim uma outra necessidade momentânea,sempre sem necessidade do estabelecimento de laços mais profundos entre os envolvidos.note-se que esta mentalidade é partilhada por algumas mulheres que agem de igual modo em relação aos homens,evidenciando o mesmíssimo tipo de comportamento.compram-nos,usam-nos,procuram apenas obter prazer,ou usar para um determinado fim. há ainda a questão dos fetiches que com umas e com outras e com uns e com outros se procuram vivenciar e o próprio acto de pagar pode ser parte de um desses fetiches.o fenómeno do swing , das experiências sádico-masoquistas,do sexo com vários parceiros etc.,encaixa perfeitamente nesta busca desenfreada pelo prazer,alheada de outros circunstancialismos humanos.
e no entanto...parece haver sobretudo uma profunda solidão que se procura manter a todo o custo,(ou da qual se pretende fugir algo artificialmente?)pela incapacidade ou falta de vontade de se estabelecer laços e de se relacionar a um nível mais profundo e global.o ser humano tem cada vez mais dificuldades em lidar com os outros e consigo mesmo ao nível emocional...mas talvez seja a minha percepção apenas.estarei a ver mal as coisas?há quem me confunda com uma moralista,com uma feminista,com uma romântica,como uma bota-de -elástico ou até com uma ingénua.digo não a tudo isso.sou um ser humano que pretendo olhar para as coisas de uma forma livre,consciente que estou de todas as visões condicionadas por esquemas mentais rígidos e assentes em teorias condicionadoras da análise dos temas em questão.sou um ser humano e gostaria de ver seres humanos a viver vidas mais felizes.procuro entender.
certo é que , não criticando ou condenando no sentido moralista do termo, apenas reflicto sobre tudo isto como observadora e participante que sou,algo atenta,do comportamento humano.volto a repetir.sinto uma enorme estranheza e alguma tristeza em relação ao modo como se vive a sexualidade em pleno século XXI.porque numa época em que cada vez mais temos consciência que o Homem é um ser que deve ser visto de forma holística,em que sabemos que físico /emocional /mental/espiritual não são elementos que trabalham separadamente,em que compreendemos que o equilibrio, depende da conjugação harmoniosa de todas estas dimensões,continuamos ,ao mesmo tempo, a separar artificialmente as coisas por compartimentos estanques no que respeita aos nossos comportamentos sociais e no que respeita à sexualidade,muito especificamente,quando esta é uma dimensão importante que deveria contribuir decisivamente para o sentimento de bem estar global do ser humano. O que observo infelizmente hoje em dia, é mais um sentimento de vazio generalizado,derivado da procura rápida do prazer e da preguiça e egoísmo que observo no estabelecimento de relações mais “inteiras”,que incluam todo o ser e não apenas as suas necessidades básicas mais imediatas ou a busca de fantasias ,fugas e compensações de algo que não é senão uma cada vez maior frustração ,insatisfação profunda e permanente solidão.
a minha também persiste.a solidão.mas talvez por me sentir como ave rara,no meio de tanto circo montado e discurso “bárbaro”.
talvez eu seja uma estrangeira no meu próprio mundo.e não pertença a nenhum país.
 
Sociedade,prostituição,sexualidade e mentalidades

do verbo haver

 
do verbo haver
 
há uma primavera sentada naquele banco de jardim.pronta para ser olhada.e gela um inverno em mim.há uma casa com hera e portadas nas janelas
abertas de par em par. e em mim um vento frio
teima sempre em me soprar.há árvores tão bonitas,
frondosas de verdes e luz.e a mim a escuridão
verga-me o peito em cruz. será este o meu rosário (ou será mais ao contrário? ),se sombra e luz ,sem defeito,brincam juntas no meu peito.
 
do verbo haver

longo movimento dos olhos

 
cálida esta mão de nada
ora aberta, ora fechada,
perpétuo movimento em vão.

olho-te pelas ruas de ontem
como se olhasse um amanhã desviado
e penso,com ironia,

não estou aqui,
não sou de agora.

não me atinges com as tuas imagens
de pedras falsas,polidas
tuas palavras doentes,
tão trémulas e combalidas
tuas encantadas serpentes,olhos de sedução.

tuas dúvidas,tristes certezas,
minhas quase
constatações,
meus pedaços de nada,em sorrisos,
sensações que vejo
(ou então não).

sento-me numa escada e páro.
cada degrau uma aresta
tão perfeita,tão honesta
e sinto meu corpo rolar.

não é frio o que vejo ou sonho
é uma arquitectura no espaço
desenhos em mim rabiscados
traços ,esboços pintados

são perspectivas tão raras
colagens de coisas em caras

e sim,confesso,
algum cansaço,
em que tropeço.

se me lanço
e não saio do sítio
que acção,então,
dirás,
me desmotiva?

eu só sei do livre arbítrio
o desejo de mais vida.

e golpeio essa ferida
em risadas
que da dor me rio só,
calada sempre.

cravo-lhe fundas facadas
e em segredo :
não estás morta,
nem dor mente

e nem que a vida me tente
ou a morte,sua amada,
não serei para elas nada
a não ser um par de olhos

vagueando
pela estrada.
 
longo movimento dos olhos

luso-poema

 
É isso aí...
eu sou a máfia
a puta
o cão

“intelectual” até mais não

ou se quiserem :

a loura,
a burra
que urra

a toura
na arena
sem perdão
a que não doura
a pílula
seja inverno,ou verão

mas vai pintando flores pelo chão

a que está pronta p’rás farpas
e para os anjos com harpas

a que faz parte da cena

a que querem ver comentar
mas não querem ver comentar

a que lêem
ou talvez não

a que vêem
no céu,lá do céu
ou no chão,cá do chão

ou sequer olham

mas tanto faz

porque a esperteza
é da saloia
servida à mesa
da língua portuguesa
e do que com ela se faz

a que se diz pensar
e se ousa até partilhar
( ai, a estúpida da mulher...)

mania que é fina,
a menina .

ou a velha,
que é até feia
(quem disse que era bonita?!)
dizem que é boa...pessoa
é má como as cobras
Oh,é só uma parva ,armada em artista!
se calhar
até é da C.I.A, a vigarista...
aquela que é como um gato,
e espia e mia à vez.

a que deus fez
a que faz fita
a que está frita

a que é hipócrita
uma fingida
(toda caótica)

ditadora!

ou até,
só paranóia...

toda eu

manipuladora
sim, senhora
está na cara
que o que quer é atenção

egocêntrica!

e o que mais lhe quiserem chamar
olha,excêntrica:
porque não?

e o avião?
não o viste agora mesmo
a passar?
(sou dele o rasto.)

sou o pasto
a vaca
o medo

o segredo
que imaginas

a inveja
a ignorância

a ganância
o ciúme
o cume

o cúmulo

o poder
o querer

a podridão
a tentativa

a vaidade
a insegurança
a criança
cativa
a cair de madura

ah, coisa dura
ah, coisa pura

oh, objectivo a alcançar

o problema
e a solução
a preserverança
a quantidade
o tamanho
o tempo
o espaço
a hora
o senão
o limite
da capacidade
que se acredita ter
o saber
o não saber
o querer lá saber
o tesão,
o emblema

o Luso-Pu...ema!

a cereja
em cima do bolo

o grande-pequeno tolo

o pu-dor

com ou sem
cheiro e suor

e o despudor
de te falar
sem papas na língua
seja lá o que for
mesmo que seja um horror
fingido ou achado
espantoso
espantado
mal escrito
ou não

é meu todo o ridículo
minha toda a vergonha

do testículo
e da langonha
do versículo

e do erro ortográfico

...é grave?

e o palavrão?

e a palavrinha?

e a imagem que trazes na tola?

que não te trave ela
o riso
ou o ódio
a lamechice
a ideia-chave
a construção

a sintaxe
da intenção

a insensatez,

obsessão,
descaradez,

a idiotice
e a mesmice

a invenção
ou a caretice
a união calculada
na intervenção

e a petulância?
a arrogância
a estupidez

na guerra,
na paz

tanto faz.

e a regra?
a que se quebra
e a que se faz
e se renega

ó meu deus,
o satanás...

a fala-barato

palavras caras
ninguém as percebe

o exagero,
a manha
o erro

a sedução!

e as simples?
também não.

a cega
a cabra
com olhos
que agora vive,
agora jaz

a façanha

a experiência
o amor
o negócio
o ócio
a cadência
da dor

a publicidade!

equinócio
e solestício
da mentira e da verdade

as luzes a piscar?
são reclames
não te alarmes...

o relativo
absoluto
da certeza

o puzzle
a convicção
acesa

a fé
a paixão

ah,pois é...
a pobreza

a morte
a ambição
o slogan
a carência
a solidão
o estrangeirismo
visto de lado
e mais de machismo
ou feminismo

besta ao quadrado
surrealismo
ultrapassado

o “salve-se quem puder”
ou o “prefiro morrer.”

a linguagem
a imagem
o que comunicamos

o desencontro total
a moral
o veneno
o ser assim tão pequeno
e mesmo assim
querer voar

ou o tanto que nos amamos

a teia
a trama

o que é “normal”

a fama
a chama
a lama

sofreguidão

o prémio
o castigo
que persigo

a minha luta interior

a lua
a serpente
a palavra
latente
misteriosa
e o que
quando rebenta
parece trazer
em emoção

a aparência
a surpresa

o enorme tédio
o remédio
o entardecer

a gaja nua

a vida crua
e o modo como a vestes
a ética
e a estética
o absurdo
de tudo

o castigo
e a semente

as preces

a demente
humana

evocação

a que sim
também sente

mas agora não

ou a humana,

simples?
mente.

a que escreve,
mas não,
não diz nada

e muitos pintam
na sua verdade

é natural,
fazem desenhos
desde criança
os olhos mudam,
e muda o aspecto
do que eles vêem

mas tudo é tão recto:
o sentimento
determinante
não é constante.
nada mais certo.
e a razão só atrapalha
mas o pensamento não

pensa amor
a que vos olha
a que se olha
a que se encontra
a que se perde
vezes sem conta

a que muda
sem qualquer medo
e se entristece
e se alegra

sem sequer se entristecer

a que escreve da distância
depois do perto conhecer,
mas que está sempre a rever

a que não para.

e a que às vezes,insensata,
até dispara.
dispara palavras
e escreve, escreve...
coisas em vão
mas depois ,fica cansada,
para alívio de todos,
e também para.
ou talvez não.

só que ninguém
lê aqui mais

nada!
 
luso-poema

rio calmo e quente

 
sangue quente que corre em mim
como um rio calmo
como calmas são as tuas palavras
como calmo e quente é o nosso amor
como calma me sinto
como tão quente fico
sem arder
só de te pensar.
 
rio calmo e quente

a porta importa

 
é importante
que hoje chegue
àquela casa com porta

nao menos
nem mais

nem cedo
nem tarde
demais.

sempre cedo perante a vontade
da verdade do que importa.

sempre cedo para que nao tarde em tardar
o abrir e fechar da porta.

e o que importa afinal
dessa tal verdade torta?

o que importa é a porta

que,por sinal,

porventura temporal,

nem se vive,
nem está morta

e entrar e sair dela,
gesto belo e natural,
parece-nos ser verdadeiro
de tal maneira é fatal.
 
a porta  importa

ode aos poetas

 
ser poeta é ter no peito
um só vento de magia
transformando o sentimento
no pão nosso dia a dia

ser poeta é ter a dor
amá-la como a saudade
é ter da vida a cor
que nos prende à liberdade

ser poeta é amar tanto
o tudo que nos sacode
é o deslumbre,o espanto
musicado numa ode.
 
ode aos poetas

olhos

 
olhos tão magoados
o medo
duros
os tornou
parecendo abertos
estão fechados
quando falam
estão zangados
são cegos
para ver o que sou.
 
olhos

tudo em mim por ora se esquece

 
do braço longitudinal
se estende o espaço
num prolongamento do ar
respirado em matéria
dura, aparente.

ultrapasso o sofrer
pelos corredores da história
alheando-me do sentido das coisas.

e respiro
em compasso
com um vento abstracto
do tudo o que ignoro.

sinto um cansaço
do tudo,do nada, que me sinto ser.

encho-me do vazio e vejo.
peão aleatório de uma ordem absurda.
caos
que se tenta cumprir
cego.

toda a razão se desvanece
nesta dimensão invisível
que pressinto.

um passo.

palavras que são gaiolas.

alucinação.

e

tudo em mim por ora se esquece.
 
tudo em mim por ora se esquece

era um poema

 
era um pequeno barco.e nesta simples palavra barco,balançava uma mulher sem rumo.era uma ainda mais pequena palavra:onda.duas sílabas musicais,por onde se estendiam cabelos,em movimentos de luz e de saudade.e na última palavra,mar,feita de sal,de areia e de vento,todo um país se estendia em azul,em distância,e em segredo.era simples aquele poema.pequeno.parecia não dizer nada.mas como uma tecla num piano tocada,fazia-se ouvir no céu e ecoava em mistérios perdidos na terra,só entendidos por anjos, ou crianças não corrompidas por experiências más ,que a vida lhes soube ensinar.

"um barco
mulher
onda
no mar
salgado"
 
era um poema

eu dispo meu coração

 
por todos os que amaram

-muito,pouco
ou quase nada-

e um malmequer
desfolharam

até se sentirem sós

num jardim qualquer da vida:

eu dispo meu coração.

por todos os que sofreram

amor, ausência e frieza,

aos que em vida já morreram

mas são feitos de beleza:

eu dispo meu coração.

por todos os que padecem

não recordam,
nem esquecem,

perdidos em choro
por dentro

mas por fora
sem lamento:

eu dispo meu coração.
 
eu dispo meu coração

tempo eterno

 
 
em cada afago profundo
uma dor sempre adiada
mas tão certa,
tão calada.

olho esse objecto moderno
e vejo-o antigo e terno
aos olhos de cada neto
que talvez eu tenha um dia

e em cada afago de hoje
uma dor de amanhã certa

em cada colo dado
uma saudade futura
traçado por mão poeta

ontem,hoje e amanhã
dão as mãos na roda triste
olham-se ,tocam-se,amam-se
no tempo eterno que existe.
 
tempo eterno

um corpo na janela ao vento

 
da janela se estende um braço
branco e fino
pernas no parapeito de aço
em equilíbrio
e um ventre
esguio
se sacode ao vento
emoldurado por
cabelos num embaraço
de delírio em movimento.

no azul claro
ao longe,uma gaivota voa.
 
um corpo na janela ao vento

A FORÇA DAS PALAVRAS ou: poema refluxo e reflexo da observação de parte da natureza humana

 
(nota:qualquer coincidência entre ficção e realidade é mera,e triste,coincidência)

No dia que ouvir acusarem-te de triste e pobre BÊBADO,Poeta,
eu espeto a tua poesia na boca dessa gente imunda
e faço-os vomitar calada palavra enjoada,
de falso paternalismo e moralismo feita.

No dia que de raiva te chamarem ARROGANTE,Poeta,
eu pego na inveja mesquinha dessa gente descabida
e faço-os engolir a seco cada auto- elogio
que algum dia ousaram proferir a si próprios
acompanhado de toda a sua enorme mediocridade.

No dia em que ousarem gabar-se que te leram,
conheceram bem,grande Poeta,
e que de ti eram grandes,íntimos amigos até
eu vou e lembro cada uma dessas cabecinhas doentes
de todo o mal que te provocaram
a ti e a quem tanto amavas
e de como NADA sabiam sobre ti

No dia em que te chamarem de LOUCO ,Poeta,
eu corro a buscar garrotes à medida
capazes de lhes estrangular as línguas rançosas
e lembro-lhes as suas vidinhas reles,sem assunto,
e de como a morte já aí está para os vir buscar
e por isso é tarde agora.

No dia em que te homenagearem,Poeta,
eu marcarei com uma cruz todos os hipócritas de serviço
e cuspirei fogo nos discursos pensados
como quem lança chamas em lixo nauseabundo.

No dia em que se disserem grandes admiradores do teu humanismo,Poeta,
da tua história de vida,
da tua profunda sensibilidade
eu vou lembrar-lhes cada atrocidade
que um dia cometeram contra outro ser humano
enquanto a seguir se gabavam,descaradamente
de estarem a participar,caridosamente,
numa qualquer quermesse ensaiada.

No dia em que te acusarem de dizer impropérios , Poeta,
esse mesmo dia passa a ser o dia em que a palavra “impropério”
passa oficial e solenemente para o dicionário de calão mais baixo
que algum dia alguém ousou imaginar.

No dia que te enviarem doces beijos,Poeta ,
e te mandarem lindas rosas,
eu grito as ameaças veladas que foram antes capazes de cometer,
da invasão tentada à tua privacidade
das chalaças,das manobras,
dos covardes e maldosos desvarios,
dos julgamentos,das vãs chacotas.

E como no exercício da minha plena de LIBERDADE
e no uso da minha imaculada educação,
para a qual a minha mãezinha contribuiu humildemente,
posso fazer deste escrito um poema de verso absolutamente LIVRE
não há, métrica,rima e outras regras - pragas
que me encolham agora a FORÇA destas PALAVRAS.

(qualquer coincidência entre ficção e realidade é mera ,e triste,coincidência)
 
A FORÇA DAS PALAVRAS ou: poema refluxo e reflexo da observação de parte da natureza humana

força

 
a poderosa força
esconde-se
ágil
no corpo frágil
de uma corsa

não no rugido voraz

esse é medo
em segredo
e caça a paz
 
força

meu mar de ninguém

 
olhei o mar
até ao Infinito

até
ao
infinito

como se o pudesse abarcar.

é de ninguém este mar:

olhos incógnitos
nele postos
e anónimos navios

meu mar de ninguém

olhei esse Mar
até o sentir
e engoli-lhe o sal
de um trago só

como se o pudesse engolir

e num sopro marítimo
num virar de asas,
páginas e pestanas
voaram apenas
breves semanas.

e tudo isto
por pouco que seja
demorou tão só
uma hora e tal

e um breve poema
uma coisa pequena

e uma Gaivota
a quem nada importa.

o Meu mar
é o Mar
de ninguém:

não há Derrota
para quem não quer
vencer alguém.
 
meu mar de ninguém

cruz mendes