NÃO
Quis escrever-te um poema,
Cantar-te sons de amor.
Nas letras, como espadas ...
Mostrar-te a minha dôr.
Quis continuar a sonhar-te
Fonte viva e intensa de prazer ...
Mas dói-me ...
Olhar-te entre os outros ...
Ver-te a partir sem voltar:
Como cigarro que queima,
Nos dedos do escritor a criar.
LIBERTA-TE PARA AMAR
Sinto o teu corpo e alma presa
Numa alta e forte prisão
Que por escura te oculta a beleza
Do corpo, da alma, do coração
Uma parede larga de cimento
Te cega, esconde e ofusca
Solta-te, vive o sentimento
Liberta-te para aquele que a ti busca
Não desistas não tenhas medo
Vem, procura uma janela
Põe fim a esse teu degredo
Que o Sol te ilumine através dela
Aquele que te ama assim há-de ver
Assim ele te irá encontrar
Tão depressa livre possas ser
Quão puro e doce o seu amar
E eu que te incito e anseio
Esse dia, que também sempre quis,
Em que tu a ele ames sem receio.
Aí, também por ti ficarei feliz
NOITE
É noite, os meus olhos ardem.
Entre as folhas de um arbusto
Atrás do vidro da janela do teu quarto
O teu corpo surge sublime
Eis finalmente o momento que esperava
O coração fica pequeno e no entanto
Bate cada vez mais forte.
O teu homem dorme.
Eu admiro-te, ali, tão perto e tão longe
Olha-lo, recostas-te na cama,
procuras o interruptor do candieiro,
olhas a janela,
sorris e apagas a luz.
Tu sabias, ...
FLAGELAÇÃO
Como poderei ter sido tão estúpido
Usar tais palavras e tanto mal te fazer
Foram estas como espadas e te feriram
Preferível era continuar perdido…
Desprezo me dás e que mais de ti posso ter?
Como posso ter ousado magoar,
Aquela que por mim chama há tanto tempo.
Explicar-te, por palavras não ter sabido,
A fraqueza, a loucura de um momento
Que agora sei, não dever nunca ter existido.
E agora que irremediavelmente te choro
Porque a perda que me trazes é tão maior
Que o gozo e luxúria que outra me deu,
Que jamais teu castigo será pior
Que aquele que a mim próprio imponho eu.
VOLTEI… PELO TEU OLHAR
Quando há tanto tempo parti
Abandonei tudo e fugi
Quis pôr tudo de lado
Abandonar o passado
Esquecer todas as pessoas
E até as coisas boas
Foi duro demais para mim
Não consegui até ao fim
Não resisti a esta vontade
De sonhar-te com verdade
Ouvir música com o coração
Não,… a mim mesmo disse não
Voltei para te encontrar
Para parar de sonhar
Para por fim te sentir
Pra te poder ver sorrir
Ver o brilho dos olhos teus
Quando se fixam nos meus
A TI MULHER, ESPOSA, MÃE...
Hoje cheguei a casa… cansado
Tu sorriste-me
Dei-te um beijo… sumido
Abraçaste-me
Sentei-me no sofá… estoirado
Ajudaste-me
Esperei o teu jantar… apurado
Serviste-mo
Nem os filhos quis ouvir… fatigado
Deitaste-los
Sujei a sala de estar… havia futebol
Arrumaste-a
Esperei-te na cama… impaciente
Atrasaste-te
Encostaste-te para fazer amor… era tarde
Dei-te um beijo
Virei-me… agora não faço
Ouvi ás escuras
Antes assim…
Estou morta de cansaço
SEI QUE HÁS-DE VOLTAR
Fugiste
Deixaste-me agarrado ás lembranças
Nem o teu cheiro comigo ficou
Para me ajudar a recordar.
Tenho a alma triste de sentir
A tua ausência e falta,
Já só me resta esperar…
Enquanto uma lágrima rola;
E como a tua recordação...
Que forte dói no meu peito,
Cai e se esmaga no chão
Como se de morte fosse o leito.
Não mais implorarei tua volta
Como mendigo uma esmola.
Se verdade tinha a jura,
Para quê esta revolta?
Este grito desabrido?
Se a paixão sempre perdura
Neste amante desvalido,
Mais vale esperar tua volta
Suportar a dor deste peito ferido
UMA BORBOLETA
Chegou o frio!
Já foi o tempo do calor
As folhas caem,
O Outono vai o Inverno chegou.
Não gosto desta paisagem sem cor.
A melancolia das noites frias
Vai-se apoderando de tudo.
As tristezas sentem-se mais,
A solidão apodera-se de mim
Em cada momento que paro.
Tudo fica cinzento,… desagradável
Procuro algo que me possa aquecer
Que de belo, me faça sorrir
Parece que tudo é inabalável
Nem um pássaro… que ao longe canta
Consegue quebrar esta frieza.
Vou sair!!...
Vou fechar os olhos e vou embora
Algures hei-de encontrar a cor,
Algo que me desperte o sorriso.
Vou por esse sonho fora…
Vou encontrar uma flor,
Tão longe quanto for preciso.
Rápido como um cometa
Lá de cima procurarei uma flor.
Ou talvez uma borboleta…
De cores garridas e brilhantes,
Que no meu sonho queira voar
E para a terra das flores me levar
Guiado pelo seu cheiro voarei.
Cheiro de rosas e amores-perfeitos,
Doce como o mel do paraíso,
Com ela sobre ele deslizarei.
Sobre mantos de pétalas feitos
Num sonho que o Sol aquece.
De sonhar não acabarei
Para não acordar enregelado
É bom ter quem não nos esquece
Que tenha connosco o mesmo sonho
Quem nele esteja ao nosso lado
Quem sempre no sonho aparece.
A VER O MAR
Sentei-me numa pedra a ver o mar,
A olhar toda aquela imensidão.
Um casal jovem a namorar
Nos seus sorrisos vi a ilusão.
Nos seus olhos via-os trocar,
Juras e promessas para uma vida,
Que sonham longa e de esplendor.
Mas há que saber viver…
Coleccionar os momentos especiais,
Outros menos bons com muito amor.
Viver todos eles intensamente,
Como se não houvesse mais.
E a cada dúvida que surgir…
Não deixar que seja semente,
Não esperar o que está para vir,
Mas esclarecê-la rapidamente.
Com sadia discussão…
E partindo com confiança,
O outro tem uma explicação.
Não mates nunca a esperança.
Que alimenta a vossa chama
E que sempre a vai mantendo
Pois todo aquele que ama
Por amor pode estar sofrendo.
AQUELE INSTANTE
De que vale a esperança
Em um momento tão esperado
Se logo que o tempo avança
Eu perco o desejado
Fica apenas a ilusão
Daquele momento passado
A curta satisfação
De um instante tão sonhado
Mas vale a pena mesmo assim
Ainda que curto o momento
Ter-te apertada a mim
Leva-me qualquer tormento
E se o fim não é festejo
Desse momento acabado
Nasce-me de novo o desejo
Do teu corpo apaixonado