Não sei
Não sei o que sei saber,
Mas sei que o saber
Se sabe sempre que se abre
A porta da boca
Com a mão da fechadura,
Chave nova que há
Na invenção de cérebro
Macabro marcado
Pela perfeição
Dum intuito destino furtivo
Da lipoaspiração
Quadrada do saber...
M.
Desato as sandalias
E perco-me na Musica
Do desacato imediato.
Recebo as dalias
E fico Mais rica
Porque o jardim esta em Mim.
Suspiro com o nenufar
E respiro a brisa Matinal
Para no fundo ser o Mundo.
Pego em Mais ar
E espero pelo Manancial
Plantado no Mesmo lado.
MESES PRIMAVERIS
Quando a estação
Dos pássaros e das flores
Nos enche o coração
Encontramos amores,
Nem sempre definitivos,
Mas que nos fazem crescer
E com dor perceber
Que não havia incentivos.
O sol brilha nessas tardes
E a chuva escasseia,
O operário muda de ares
E o agricultor semeia.
A vida se modifica
E tudo é mais brilhante,
Esta época é rica
Como um diamante.
Eu vejo borboletas
A esvoaçar por aí
E com as asas abertas
Elas vêm até aqui
Para me cumprimentar,
Não são pretas nem verdes,
Têm a bela cor do mar
E nas rosas matam a sede.
Perdas
Perdas são das piores
Coisas que podem acontecer...
Existem perdas
Mortais, definitivas,
Da visão e do corpo,
Existem perdas pequenas
E de pouca distância;
Existem perdas
De si próprio
E de consciência;
Existem perdas
Morais e materiais;
Existem perdas
Terríveis
E outras leves.
De todas elas
Sobra a saudade
E a recordação.
Todas são perdas,
Portanto, à partida,
Não são boas;
Umas fazem-nos crescer,
Outras sofrer,
Ou até, ambas as coisas,
Mas todas são perdas
E caem em nós,
De primeira mão,
Como pedras enormes,
Largas, infinitas...
Livros
Hoje em dia existem livros espirituais
Que sao guardados na memoria,
Sao parecidos com os virtuais
A que toda a gente tem acesso.
Eles contam historias de gloria,
Aventura, miseria, solidao,
Ruina, amor, loucura, progresso,
Desavenca, desgraca e compaixao.
Lemos vidas todos os dias
Nos jornais e na televisao,
Nada nas noites frias
Nos impressiona a feicao.
Ve-se de tudo um pouco
Ao passar por este mundo,
O tempo corre como louco
E ainda nao vimos tudo.
Sem Amor
Há tanto tempo
Que não saboreio um olhar teu...
Até me esqueci que transmitia amor.
Há muito tempo
Deixei de ver azul o meu céu
Que não o voltarei a ver dessa cor.
Ando triste e desolada
Por não estares aqui agora
Que até as pedras da calçada
Estão frias. O sol foi-se embora!...
Vou andando pela montanha fria
Porque acabou-se a madeira
E não posso fazer uma fogueira
Para me aquecer noite e dia.
Ando acompanhada por esta solidão,
Desde o dia em que o vento te levou...
Mas ainda sinto bater o meu coração.
Ando por aí de mãos dadas com o vento
Tentando trazer outra vez o amor
Que me tirou e levou todo o alento.
2004
Este poema faz parte do livro AMOR OCULTO, publicado em Maio de 2011.