palavras em desalinho
a metamorfose do eu
sobreviverá a ventos e tempestades?
o toque da seda ou a suavidade do algodão? a magia dos sentidos ou a eternidade do sentir? a flor que desabrocha ou as pétalas que caiem? onde detenho o meu olhar? em mim ou em ti? no eu que se impõe ou no que aceitei? antes de... tudo era tão simples, tão aparentemente no lugar certo...! vidas que se organizam em torno de nada e que se desarrumam por coisa nenhuma... ou nem por isso?
quero a seda, os sentidos, o desabrochar... o eu! a imagem que o espelho reflecte e o outro lado de mim, o chocolate e as rosas com espinhos, o champanhe e a brisa nocturna, a embriaguez dos sentidos e a acutilância do olhar. quero(-me) êxtase, inebriamento, espelho mágico???
e voo!
"porque eu sou feita p'ro amor
da cabeça aos pés..."
imparável e frágil
insegura mas determinada
a deixar que seja a brisa
a escolher a flor que beijo
(e o acolhimento das pétalas
a decidir onde fico...)
palavras em desalinho
sentimentos em fuga
entrelinhas mudas
i l u s ã o
e uma lágrima!
agosto 08
amigo colorido
tens as cores vibrantes do dia que começa: rosa, laranja e azul céu; o branco das nuvens que contamos juntos e da neve fofa onde escorrego entre gargalhadas soltas e leves; nos lábios carmim guardo os melhores sorrisos para ti, sorrisos aos pares e vermelhos como as cerejas; o verde dos meus olhos reflecte-se nos teus e permites-me mergulhar no mel do teu olhar enquanto partilhamos sonhos e desejos; as lágrimas não têm cor porque as bebes na fonte, mas as palavras desenham um arco-íris só pra mim quanto suspiras: - minha querida! e me afagas os cabelos que eu entrelaço no dedo enquanto te ouço embevecida.
dez 08
(soul?)mate
o vento embala
almas e sentimentos
dependentes de horas
e marés, agitando véus
e levantando nevoeiros
vozes (recicláveis)
revelam a cor das palavras
férteis de sentidos
duplos e dúbios, múltiplos
e multiplicáveis por olhares
maldosos de homens
que nada temem
é bom ter sono e fome e frio;
temer, respeitar, honrar,
poupar, mulheres frágeis
de cabelos finos, aureola
em riste e máscara no olhar
impensável borrar o retrato
embaciado, desenhado sem rigor
mas com preci(o)sos traços
de irascível jogador de xadrez
que sacrifica torres, bispos,
cavalos e peões, mas salva
sempre, sempre a rainha... ou não???
Boleyn girls
cansa-me a solidão
cansa-me a solidão,
a cama vazia
e a brancura do meu corpo.
maça-me
a ladainha estafada
contada pela almofada
molhada de lágrimas
que não tenho.
soltei os sonhos
gastos, amarrotados
pela sede de saudade
- linho dos dias
em que teci
o pesado edredão
de penas e ilusões
que me protegem do frio
gela-me a dor,
a ausência consentida,
e o silêncio aterrador
quebrado aqui e ali
pelo ranger da madeira
sequiosa de sol e paixão.
delicados
os pés descalços,
que, com passos leves
percorrem o corredor
nos dois sentidos,
sem nunca chegarem
a mim...
não dês o que
não posso receber
não prometas
o que nunca foi.
experimenta o sorriso,
se não vence barreiras,
aquece o dia!
stylus fantasticus
a pele queima os dedos
que a tocam em acordes subtis
tocata sem fuga
a exigir a improvisação
das tuas mãos abertas
nos meus seios redondos
pianíssimo...
sublimas impurezas
e crias uma "dolcissima"
melodia de paixão
tocada no meu corpo nu
ansioso e vibrante,
enlouquecido de desejo
possuis-me com vagar
envolves-me com mestria
invades-me e inundas-me
movimentos e variações
rapsódias de prazer
ousado, intenso, fantástico
aroma a maresia
[preciso de ti para ser quem SOU]
é o teu sorriso que me ilumina
e o teu olhar que me transforma
em ti, o que é pequeno e vulgar
passa a grande e único,
a vida tantas vezes rotineira
toma contornos de aventura e de prazer.
pelos teus olhos vejo a beleza,
a certeza de que tudo é possível
de que todos os sonhos se podem e devem realizar.
por ti, cresce o desejo...
e a coragem de acreditar que quero.
o aroma a maresia,
os gritos das gaivotas,
o ritmo alegre das ondas
e a liberdade do vento
por ti, a paixão...
em ti... e no olhar que me transforma!
[do tempo em que fui gaivota]
cafe del mar
entrelinhas e silêncios
rios de sorrisos
mares de lágrimas
e dor sem fim...
atracções (quase) fatais
eternos (des)amores
o amor e a paixão
o prazer e querer
leio e leio e leio e leio
convulsivamente
leio na tentativa de me saber
procurando-me em cada linha
reconstruindo-me em cada silaba
iludindo a vontade
e o desejo de me encontrar
porque SOU
o que escrevo e o que leio,
o que sinto e o que calo
sou eu na alegria e nas gargalhadas
ou na melancolia solitária que me induz à reflexào
flor em botão ou camélia desfolhada (?)
selos numa carta perdida
o sono das noites calmas
fora do alcance
quando a neve reflecte
a luz da lua que teima
em não minguar
as desavenças da vida,
e a duplicidade dos sentimentos
pessoas, lugares, objectos,
tudo parece falar,
ninguém disposto a ouvir...
a polpa do sumo de laranja
e as tiras frias do bacon,
quarto com pequeno almoço
e uma ilusão
um selo
numa carta sem destino...
conchas vazias
numa praia perdida
- sal na ferida;
um cão que ladra
para chamar a atenção:
som da fidelidade,
símbolo de incondicionalidade
a cada relance
um abanar de cauda,
a cada encolher de ombros
um rasgo de imaginação,
e a consciência
de que o medo
nunca me abandonou!
uma lágrima
transparente
mancha o endereço
por escrever
[etiquetas e alcunhas são selos
esfarrapados em cartas que nunca recebi]
uma carta por um dia?
um selo por uma carta?
sem reciprocidade o amor
as lembranças
que se desvanecerão
à mesa do café
- expresso curto
com pouco açúcar;
em colisão de emoções breves.
emoções
que nunca permaneceram,
sentimentos
inconstantes,
lógica que nunca ofereceu
palavras de conselho,
e a esperança obstinada
que nunca ajudou
selos numa carta perdida
que nunca se encontrou...
é o telefone que não pára,
ou fui eu que emudeci?
dez 08
mãos cheias de céu azul
abandono a cama fria
ao primeiro raio de Sol,
pés descalços no
chão de madeira
cabelo em desalinho
cortinas de luz
invadem-me os aromas
típicos do despertar
café, pão quente,
laranja e o mel...
dos olhos que visto.
trazes-me farrapos
de mar revolto
para amarrar à cintura fina
acima das sete saias
das sete cores
que és
das sete letras
que sou
conto as nuvens
canto ao vento
atrevo passos de dança
e gestos indolentes,
saltos no ar,
palavras mudas
e ainda nua, despida,
(quase transparente)
desenho-te no peito
um arco-íris de saudade
em jeito de
bom dia!
deguste
moscatel nos lábios,
beijo doce,
corpos enlaçados,
um floco de neve
que se derrete
no colo e me transforma
em gota de água
que sorves
pacientemente
pele escaldante,
brilho nos olhos
e a paixão
que dá alento
para caminhar na noite
onde colho dúvidas
em árvores de medo
cobertas de folhas
caducas e sem aroma
prende-me com o olhar
solta-me a imaginação
beija-me as mãos
- que desatas,
para que te acaricie
livre de tabus
degusta-me assim:
vulnerável, macia e
complexa...
Dez 08