Poemas, frases e mensagens de PauloCésar

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de PauloCésar

ANNA KARENINA, o bailado

 
O êxtase sobrevém...
Pairo no ar de olhos absortos,
coração em pulsações aceleradas,
espírito dominado em abandono,
plácido.
Vejo os corpos que não têm asas
mas voam
e sobem pairando no etéreo.

Movimentos imensos, coordenados,
dinâmicos, perfeitos,
gestos de amplitude surreal
de leveza quase impossível,
irradiações de beleza ímpar,
sons metálicos, sincopados, feéricos,
ambivalentes, grotescos,
personagens densas de filigrana e diamante,
místicas, quase transparentes.

Serão mariposas?
Esporos volantes que carregam a vida
e a transportam nas asas do vento
até aos inóspitos areais do deserto,
onde crescem os oásis?

E da insana submissão me liberto
para me manter devoto.
Anna, Anna
meu assombroso nirvana!

Em 27.Mai.2023
Adaptação da obra de Liev Tolstoi, segundo Jonh Neumeier
Coreografia: Alexei Ratmansky
Direção Musical: Valery Gergiev
Teatro Mariinski, em São Petersburbo
 
ANNA KARENINA, o bailado

Acreditar sempre

 
Nunca te deixes vergar,
mesmo quando o peso fôr
maior do que a força
que te possa impelir para continuar...

Depois da noite, vem o dia!
Depois da dor, floresce a alegria!
Depois da tempestade, chega a bonança!
Depois da vida, chegará a morte?
Ou a eternidade?

PC
 
Acreditar sempre

COMO SE BARCO FOSSE

 
As palavras grito-as eu, como se barco fosse,
e todas as marés são de feição.
Nos antípodas, uma estrela cintila
e à distância um rumor me chama.
Não há rotas a cruzar as veredas
onde me descrevo e me assumo
e todos os pontos da abóboda celeste
são marcas que deixei em cada poema,
em cada proclamação, em cada silêncio.

Barcos são andorinhas das águas
e, os remos, asas que nunca souberam voar.

Da serenidade do Olimpo desceu uma luz amena
e Orfeu veio dançar à chuva uma valsa sem onomatopeias.

Agora eu...
Agora eu!

Em 31.Mai.2023
 
COMO SE BARCO FOSSE

O sítio da acácia

 
No lugar onde aprendi a dizer o teu nome
Abri um buraco fundo e plantei uma acácia,
Que cresceu até o infinito.

Vieram as aves em sucessivas primaveras
E fizeram ninhos quentes e macios
E criaram os filhotes,
Como se do alto daquela acácia florida
Fosse possível alcançar o céu.

Hoje, que o céu ficou plúmbeo,
Duma angústia com lágrimas de chuva
Nos olhos,
Já não me lembro que nome era o teu...
Sei apenas que a acácia está velha,
Como eu!

Em 19.dez.2011, pelas 23h00
 
O sítio da acácia

Poema com sorrisos e outras coisas boas

 
Poema com sorrisos e outras coisas boas
 
* * * * * * * * * *

Se um dia me apetecer, e se a tanto a inspiração me ajudar,
vou escrever um poema para ti, que diga todas as coisas que eu não sei falar!

Vai ser um poema que fale apenas de sorrisos e flores e pássaros
e beijos e cantigas e olhares tão largos que cheguem daqui
ao infinito mais distante que com o coração conseguires alcançar.
Há-de ser um poema sem sombras, nem medos, nem barreiras,
encantado e encantador, para tu colocares à janela nas noites de luar,
seja ele qual for – lua cheia, lua nova, quarto crescente ou minguante –
e sentires que quando todos dormem e sonham, há palavras que nascem e crescem
na ponta de canetas, escorrendo das mãos trémulas de poetas semi-loucos,
que não têm sono e fazem por aprender a conjugar palavras tão importantes
como amor, ou amizade, ou carinho, ou alegria, ou ternura, ou felicidade.

Nesse dia, quando ele chegar e bater à minha porta, como se fosse o carteiro
que vem entregar uma carta de um amigo que mora longe, mas nunca está distante,
escreverei intencionalmente para ti, sem dizer o teu nome, pois é segredo nosso,
as coisas mais significantes que um homem pode dizer a outro igual, para que ele saiba,
de viva voz e olhando nos olhos aquele a quem se fala,
com sentido sentimento que envolve e aproxima,
que ser gente é coisa de homem,
como ser flor é coisa de planta,
e ser pássaro é coisa de ave,
e ser pedra é coisa da terra,
e ser água é coisa de mar e rio e chuva,
e ser vento é coisa do ar,
e ser calor é coisa do sol,
e ser único é coisa de cada um!
Tu és aquele ser único que eu jamais encontrarei fora de ti!
A tua diferença torna-te tão igual a cada um que eu não sei como explicar…
Sente, vive, sorri, resiste, acredita… E ensina-me a ser fiel ao teu olhar!
Ensina-me a ser a mão a que te agarras para caminhar e o colo que te mima
sempre que aquela sombra vier escurecer o teu sorriso encantador
de criança que será jovem e adulto e velho, e será sempre pessoa integral!

Sabes, sempre que as nuvens baixas cobrem os raios do sol, há uma sombra
que cresce ao redor do silêncio que o frio que se levanta traz consigo,
como se fosse uma espada pronta a decepar um braço ou uma perna,
ou a degolar a garganta de quem grita numa roda de brincadeira
buscando descobrir em cada toque de mãos, em cada afago de olhar,
em todos os gestos calados que gritam a ternura sem precisar de falar,
a profundidade e a imensidão das maravilhas que se espraiam na beleza das crianças
onde moram todos os afectos e carinhos, avessos a regras matemáticas
que dividem para reinar ou subtraem esperança ao futuro,
conjugando apenas verbos sinceros que afirmam coisas reais e sempre boas!

Não sei, amigo, quando escreverei um poema assim, para ti, somente para ti!
Mas se não o escrever, acredita, é porque há palavras que depois de ditas perdem o valor!
Por isso te abraço, agora, aqui, para te dizer, calando, que não te esquecerei, nunca!

08.out.2011
Paulo César

NOTA: Este foi o poema com que concorri ao Concurso da APPACDM, que obteve o 3º lugar.
 
Poema com sorrisos e outras coisas boas

Breve descrição do homem comum

 
Breve o sorriso
e a pétala cai..
Sopro de aragem
que leva a saudade...
Raio de luz
penetrando o silêncio...
Fundo na alma
derrama-se o sonho!

Mãos sobre o colo
à espera de Deus...
Flor na campina
aspergindo aroma...
Pássaro azul
inventando destinos...
E o olhar quedo
procurando o verso!

Arrancado a ferros
o corpo segrega
gritos tormentosos
na espera final
e as papoilas rubras
viram madrugada
quando o dia nasce
e acorda a paisagem.

Tudo se completa
na curva da tarde
e aos ninhos vazios
retornam as almas
para chamar a lua
em preces de medo
crentes pecadores
sem aura nem credo.

Quando o sono entra
escancarando a porta
as luzes das casas
já não têm cor
e os pirilampos
chegam de mansinho
rebanho de luz
sem cão nem pastor.

Uma e outra e outra
estrelas cadentes
caiem na vertigem
dum sonho maldito
quais anjos sem asas
que o abismo toma
a exorcizar fantasmas
ou a criar herois.

Teimando, teimando
faz-se curta a estrada
e tão longo o tempo
que a memória trai
e de olhos fechados
já só vemos negro
o arco-íris brilhante
suspenso no azul.

Rendo-me à fraqueza
de ser sonho apenas
de inventar a dor
quando a dor não é
de rir sem razão
quando o riso é mágoa
de manter a esperança
quando perco a fé.

Rendo-me...
Mas fico de pé!

PC
 
Breve descrição do homem comum

Não, não e não!

 
Não!
Não precisamos de urubus,
em pezinhos de lã,
que ronronando como mansos gatos,
mostram garras afiadas
e dentes de lobo esfaimado!

Não!
Não nos fazem falta moralistas
de palavras adocicadas
com lições de poesia e bem escrever
vomitando o desdém e a vaidade
em largos rasgos floreados!

Não!
Escusamos ser carneiros
dum rebanho com pastor e maioral
que a palavra nasce de cada um
com a força que a alma dispara
e sem pecado original!

E porque não vergo o dorso
à sátira nem à verrinosa
despeita de uns quantos
dou-me à liberdade de ser
livre nas palavras que escrevo
até que me sinta homem inteiro
e um pouco poeta
sem lantejoulas na voz
nem purpurinas na imagem!

E amar ou odiar
são faces duma moeda única...
Escolher a face é opção
de cada um!

Voto no amor!

d'Cd

Em 28.Fev.2010
 
Não, não e não!

Auto-retrato a preto e branco

 
Auto-retrato a preto e branco
 
Sabes porque me dói a voz
Quando grito o teu nome
Na fragilidade
Das horas vazias
E o tempo se esgueira
No sopro da corrente de ar?

Não questiones o meu olhar,
Nem tentes adivinhar
Os segredos guardados
Nas páginas soltas
Do livro da minha vida;
Por elas saberás apenas
Sílabas de hinos inacabados
E versos de poemas que iniciei…

São pedaços de projectos,
Sonhos desvanecidos
Caiados de branco e ocre,
Como as casas térreas da minha aldeia;
São viagens de magia
Num circo onde os palhaços
Coloridos e espalhafatosos
Me embalavam no riso solto
Da alegria sem regras;
São mãos que se fecham
Na concha de um abraço,
Beijos trepadeiras
Que crescem pelas paredes nuas
A atapetar a maciez das almas;
São raios de luz
Trespassando a sombria
Aura dos momentos azedos,
Ateando o fogo da loucura,
Da paixão e do encantamento.

São fios de água morna,
Quente, gelada, macia,
Acorrentados no caudal
Das lágrimas selvagens,
Felizes e magoadas,
Eruptivas e telúricas,
Paridas nos campos de pedras
E cardos,
Nas planícies vesgas
De mundanas labutas,
Mimadas de prosas e solilóquios,
De quadros a óleo e retratos
Fantasmagóricos,
Pardais e andorinhas,
Primaveras e fontes
De água com imagens
De ninfas e sereias virgens.

Se procurares por mim
Não fales do meu nome:
Ninguém te saberá dizer de mim
Mais do que um “não sei”!
Achar-me-ás nas marcas dos passos
Dos carreiros sem destino;
Nas sombras acolhedoras
Das copas das árvores
Dos campos em pousio;
Nos silvados bravios
Que bordejam os caminhos
Onde apanhei amoras silvestres;
Nas hortas sedentas
Onde encaminhei a água
Para os canteiros de alfaces;
Nas noras abandonadas
Em cujos alcatruzes corroídos
Pelo bicho da ferrugem
A água subiu límpida
No rodízio compassado
Do burro que suportava o esforço;
Nas noites de lua cheia,
Amenas de Abril ou Maio,
Espectador das estrelas cadentes
E ouvinte das estórias de encantar!

Saberás de mim se souberes ouvir
O silêncio dos tempos idos,
Traduzindo as cantigas intemporais
E o rumor das correrias e dos jogos
Das aventuras lavradas como os campos
Pelo arado puxado pela junta de bois,
Dos sonhos desajeitados de quem
Fazia do sonho a arte de estar vivo
E olhava o sol de frente
A conquistar o futuro!

Não entendas as palavras
Pelas palavras, apenas,
Mas sobretudo pelo que elas permitem
Adivinhar!
Em cada frase o lamento é falso
E o regozijo absurdo…
O silêncio vale pelo seu volume
E peso
Pela sua profundidade
E estridência!
Mantém-te atento à teimosia
E ao desalento,
Porque uma e outro decifrarão
O segredo que não existe
E que me consolida!

Não te deixes cativar pelo riso,
Pela aparência do optimismo
Pela agressividade do destemor…
Não olhes o corpo vertical,
Mas a sombra submissa, escrava,
Que se arrasta na peugada dos passos
Gradualmente mais lentos!

Se me encontrares verás que sou
Outro que não eu,
Outro diferente daquele que captaste
Na fotografia colorida
Que guardaste como prova!
Eu mesmo me sei outro
Quando me olho no espelho
A procurar na sombra das rugas
A minha real essência!

Deixa que te fale verdade
Uma última vez, a derradeira:
- Não procures na escuridão
O que só a luz evidencia,
Nem escondas da luz
O que a escuridão revela!

Há homens assim!
E esses são os poetas!

Em 17.Fev.2010
 
Auto-retrato a preto e branco

Recado

 
Natália,
Disse-te não há muito tempo, que as tuas palavras, espelhadas na tua poesia, eram belas, mas que precisavas cuidar da forma como as apresentavas, de modo que o ritmo fosse límpido, fluido, transparente, envolvente.
Continuo a pensar assim, em determinadas situações, mas devo acrescentar, com grande alegria e emoção, que a tua escrita está mais "adulta", mais "felina", mais "vibrante", mais "visceral".
Tenho lido coisas que nem me atrevo a comentar, porque não sei que dizer delas. É que para dizer alguma coisa de profundo, teria que usar palavras menores do que os sentimentos contidos na poesia que estás a escrever. E que é de facto BELA!
Afinal eu tinha razão e o valor do que escreves é muito. Não te apouques! Não te escondas!
Os comentários deixados por quem te lê são a maior prova de que o valor existe.
Parabéns, LAPENSE!
Parabéns, NATÁLIA!
Parabéns, AMIGA!
Parabéns, POETIZA!
 
Recado

Aos amigos, o obrigado que não sei dizer...

 
Aos amigos, o obrigado que não sei dizer...
 
Sei como se escreve e como se sente…

Sei que é bom saber que nos escutam
Mesmo quando não falamos;
Que nos esperam,
Mesmo quando não vamos;
Que nos aplaudem,
Mesmo quando falhamos;
Que nos incentivam,
Mesmo quando descremos;
Que nos estimam,
Mesmo quando nos perdemos;
Que nos acarinham,
Mesmo quando choramos;
Que nos amam,
Mesmo quando nem sonhamos!

Sei que é bênção,
Ainda que não acreditemos;
Que é prémio,
Mesmo antes de vencermos;
Que é calor e mansidão,
Nos momentos em que nos rendemos;
Que é vida que se soma à vida,
Algures na distância que não vencemos!

A amizade é por si mesma
A flor em botão que se agiganta
Entre os sulcos das pedras,
Onde a erva daninha se espraia
A querer tudo do todo,
Sem medo de mostrar a face,
Sem usar disfarce!

Sei como se escreve e como se sente…
Só não sei dizer sem tremor na voz,
A todos vós,
Que sois os membros do meu ser espartilhado:
Obrigado!

Em 14.nov.2011, pelas 16h15
PC

Imagem fonte: Google
 
Aos amigos, o obrigado que não sei dizer...

INUTILIDADES

 
INUTILIDADES

Escorre pelas minhas mãos o líquido
dos teus olhares vagarosos,
as dores do tempo das tuas regras,
o vazio das palavras que escreves em blocos de notas
à espera que alguém as leia.

Escorrem dos meus lábios beijos que não conheces,
sorrisos que não identificas,
gritos de silêncio que nunca ouvirás
ainda que te afadigues na escuta.

À noite, a liquidez coada das almas
transformam os encontros em inutilidades
e por cada gota de saliva que sorves da minha boca
dá-se a osmose da testosterona no teu corpo tenso
até que a humidade dos corpos unidos
alastra
a fecundar a conteúdo e a forma do teu ser por inteiro.

Em 18.Mar.2023
 
INUTILIDADES

Sopro de beijos

 
Se os meus beijos te doem como a chuva de verão,
Acorda-me ao raiar d’aurora e sopra para longe a doçura
Dos gestos de nácar e ambrósia,
Antes que as papoilas enxameiem os teus olhos
Do rubro do teu sangue e te dispas ante o silêncio
Das noites de lua cheia.

Quem te cantou uma canção de amor inesquecível não fui eu,
Foram os nossos corações que se uniram e a gravaram para si,
Como se as gotas de chuva, que caiem nas tardes estivais,
Fossem pedaços de núvem a buscar o paraíso
Ou lágrimas de saudade a lavar as nossas mágoas.

Não percas tempo a olhar o que não esquece!
Todo o futuro cabe na palma da tua mão que sopra o beijo
E me faz adeus!

Em 03.Jul.2012, pelas 00h15
 
Sopro de beijos

Caminhos

 
Vamos!
Há portos de abrigo a descobrir,
Cais de partida com lágrimas nos olhos
E lenços brancos a gritar adeus!
Há novelos de sonhos a despontar
Dos sagrados sítios onde nasceram
As palavras com que construímos o futuro!
Andam fadas de encantamento
A semear flores castas na orla dos carreiros
Por onde escorrem os vendavais
Do nosso querer ir além!

Vem daí!
Toma no teu o meu braço frágil
E, amparados, juntos, unidos,
Cavemos o espaço que teremos que calcorrear
Para plantar espirais de lantejoulas
E rododendros na alvura das auroras
Mansas e estivais!

De todos os lugares chegam as vozes
Dos que não sabem dizer ámen!
Ao fim chegarão somente
Os que souberem sentir-se gratos!

Em 21.mai.2011, pelas 18h00
PC
 
Caminhos

Lágrimas

 
Lágrimas
 
Pureza solta
regando a saudade!

Fagulha de arco-íris
na orla da dor!

Foguete silencioso
derramando sibilino
a seiva que fere!

Lágrimas...
Mergulho felino na luz
ou demência nas sombras!

Em 22.Fev.2010, pelas 18h15
Paulo César
 
Lágrimas

PAIRANDO ENTRE TERRA E CÉU

 
PAIRANDO ENTRE TERRA E CÉU
No topo da "Pedra Bela" e aos pés da "Cascata do Arado" - Gerês

Se o silêncio me for permitido
e eu puder e souber admirar a paz
do momento indefinido, indefinível,
subirei ao topo do monte
de onde se avista tudo o que nem sequer poderei tocar
e encher-me-ei de vagares
para saborear, em vagas sucessivas,
a luz que desce,
a aragem que corre,
os rumores que vagueiam,
os odores perfumados que se espraiam,
os horizontes carregados de êxtase que me envolvem,
as cores vivas que tingem de singulares matizes
a criação benigna que se acomoda sem alarde e sem vaidade
nestas águas cristalinas que escorregam de pedra em pedra,
a lavar as rugosidades informes da humanidade.

O que me faz bem
só pode ser bom!
Como se em cada pedra nascesse um rio,
em cada sombra crescesse o milagre da vida
e em cada chilreio desabrochasse uma flor singela de urze.

Sou pouco, quase nada,
ante esta grandiosidade tão humilde,
mas tão pujante,
e calo para sentir, mais autêntico e profundamente,
o sonho que se esconde
nesta realidade inebriante.

Em 10.Mai.2023
 
PAIRANDO ENTRE TERRA E CÉU

Asas

 
Sonho despojado de maquilhagem
que me leva onde o sol adormece
ou onde a lua se desnuda
para noites de sexo e prazer
ou onde o mar se acalma
esquecido das ondas e da praia
ou onde a fonte gorgoleja
a água fresca que me dessedenta
ou onde a terra se espreguiça
para se impregnar da chuva
ou onde eu me esqueço
a pensar que morri!

Asas...
Que rota tomarei
para chegar mais longe?

PC
 
Asas

LIMBO

 
LIMBO

Já não há tempo para te falar do sabor dos dias,
nem para te carregar nos braços e te levar aos confins do silêncio,
onde moram os anjos querubins, as fadas, os arlequins
e de onde irradiam, acutilantes, os raios de sol ardentes.

já não há tempo para te dizer num abraço
a estreita infinitude das memórias que galgam os diques
e alagam o horizonte das planuras onde me deito e medito,
chispando a febre do desejo nunca alcançado.

Delicado o meu olhar buscará o ponto de luz
que transformará a noite em dia nascido e vivo,
antes de sucumbir exangue na orla da sombra
que marcará o chão com o selo da tua presença indelével.

Casto me entrego e me surpreendo monotonamente absorto.
Se vivo sou, porque morro? E porque recordo, se me acho morto?

Em 17.Abr.2014
 
LIMBO

Pegadas

 
Levanta-se o pó no rasto
deixado ao longo do caminho
marcas na erupção dos silêncios
quebrados
imagens gravadas no rodizio
do tempo escorregadio
emoções vazadas nos escombros
da teimosia...

Decadentes buscamos a verdade
na sombra de mil mentiras
eliminando indícios
na incessante busca de provas
que suportem a razão
da nossa persistência.

Acordamos mortos de medo
ao raiar do sol de cada manhã
mascarando o destemor
com promessas e compromissos
fermentados na submissão
como animais vadios
que esperam a côdea
e rosnam o seu poder
encurralados no seu egoismo.

Habituámo-nos a ajoelhar
renegando a fé
e agitando o pendão, sob cujo peso
dobramos a coluna,
servis!

Deixamos as pegadas
do nosso adn conspurcado
aos vindouros
e sorrimos soezes
um orgulho sem história.

Seremos arautos submissos
da demissão colectiva?
 
Pegadas

Putrefação...

 
Doem-me os ossos das misérias
que vejo por aqui...
E tão grande é o fedor
que não me apetece ficar...

Vou de vez!
Aparecerei apenas para espreitar...
e rir dos malabaristas,
quais senhores do bem falar
e maldizer,
que respiram por guelras,
como os peixes,
e dormem de pé à espera de ver crescer
a sua própria sombra!

Que espectáculo!!!!

Em 20.Jan.2010
 
Putrefação...

O olhar dos poetas

 
O olhar dos poetas é frágil
como as pétalas das rosas bravas,
floridas em Janeiro.

Acerca-se o vento e soprando
destrona a beleza
que, desnuda e exposta,
atapetará o chão.

E quando Maio chegar
outro rosal se erguerá
dos caules nus
apesar do olhar frágil
dos poetas.

PC
 
O olhar dos poetas

Escrever é uma forma de estar vivo!
Paulo César