Cruz
Era a cruz, o sangue, a inanição
A causa, a consequência, a demência
Era a fenda funda o núcleo da fusão
A cria, o rebento, em mim, dolência
Espasmo sem cura, ai turbulência
O amor…
…penitência…
Beijo
Era o beijo, o sopro, a sede de alma
Duas pétalas coladas numa sombra
Era a sede, a chuva, a doce palma
Aberta em dádiva, o voar da pomba
Nas asas do olhar. No encalço
O amor…
…percalço?...
Lua
Era a lua, a maré, o lume brando
Nos socalcos do teu ser
Era o teu corpo vibrando
Em mim mulher
O fogo soprando
E o amor…
…quando?…
Estrela
Era a estrela polar da vela em desnorte
A corda do cais ao alcance do ser
Era o tempo a marinhar a desdita e a sorte
Um ir e voltar e sempre a perder
Nesta espera com corda, se colher
O amor
…pode ser?...
Opostos sobrepostos
Coexistem verdades absolutas incertas.
Coexistem verdades opostas sobrepostas.
Como um veneno que se prende liberto na caixa
e dentro o gato se expõe ao universo…
Sai de lá o gato, meio morto, meio vivo,
provavelmente, possível, o nunca chegou…
Será isto a prova da simetria dos opostos?
Será que me percebi?