E a resposta continua a ser...
Destreza bela, arte empreendedora.
Melodioso alento entre árduo empenho.
Em dança jubilosa, embriagadora!
Audaz sedução, nela, me detenho!
Voz cativante e amplificadora!
Sentimento que brada em desempenho!
Enlaça-se em música inquietadora,
do espírito estado ardente, um engenho!
Cume, extensão, puro caudal de sons!
Luminosidade, ritmo, vigor!
Impressões constantes em vários tons!
Metro arado cintilando rubor!
Na sedução, na métrica, seus dons…
Clama-se no brado do trovador!
Meu olhar
Estão meus olhos cativos
de tudo aquilo que sinto.
São o reflexo incontido,
germinam sentimento!
Revelam o que penso,
utópico seu falsear.
Percepcionam e se entregam,
refulgem no comunicar.
Não encobrem o parecer,
simpatia ou aversão.
Evidenciam alegria,
dor ou comoção.
Captam, emitem,
albergam, conquistam!
Incitam, permitem,
interagem, anunciam!
De soslaio ou frente a frente,
recatado ou altivo,
meu olhar é afluente,
à sensação, sempre rendido!
Serra da Peneda
Majestosa e imponente, de índole rebelde – assim se apresenta a Serra da Peneda.
Graciosa dama de delicada casta, desnudando-se embriaga-nos com todo o seu esplendor hipnotizando-nos com sua tez de traços medievais.
Estremecem os sentidos, ávidos de seu âmago enlear.
Ergue-se manso sussurro enraizado na essência suculenta da Terra-mãe.
Nos cabelos, soltos ao vento, emaranham-se estonteantes crinas onde selvagens manadas de cavalos Garranos desbravam triunfantes! Adornam-nos uma coroa de exímias plantas em cujo entrelaçar se ressuscita não só as tradicionais tisanas como também toda a sapiência de cariz medicinal.
Seus doces e brandos olhos são favos de onde se extrai o tão precioso néctar – o mel.
Desde o pescoço até seu regaço entrecruzam-se trilhos do Lobo Ibérico que em noites de lua cheia resgatam as mais fantásticas estórias repletas de misticismo.
Uma túnica, magnificamente urdida por penedos, motiva a fantasia aguçando a imaginação de quem os contempla.
A vegetação traja seu corpo brindando-o de alvor no Inverno, áureo no Outono e distinto matiz esverdeado no Estio e Primavera.
Debruam suas amplas vestes a cultura Dolménica e Celta, pespontam-na pontes românicas, santuários e casas de recolhimento.
Cobrem seus singelos pés a pastorícia e de porte aprumado, acautelam seus caminhos, os cães de Castro Laboreiro.
De sua mão direita oferta-nos cabras bravias e vacas Barrosãs; em sua mão esquerda pendem-se fumeiros e espigueiros. Por seus hábeis dedos, semi-abertos, esgueira-se o aroma a pão dos fornos comunitários e o bálsamo do vinho de Alvarinho.
De seus rubros lábios jorram em cascata narrativas de encantar, tradições Castrejas que se elevam em límpido e cristalino brotar. Das nascentes que nos aprazem revigora-se um fluir que se incendeia dentro e fora de nós. Recortes panorâmicos que desabrocham na aventura de cada redescoberta…
Agosto 2006
Meditação
Anda o pensamento num rebuliço
à procura de um labutar intenso
Por que andará ele assim tão omisso?
Estará na dormência ainda imerso?
Andará por ventura irritadiço?
Será a densa inacção seu adverso?
Reflexão, anelo! Sem compromisso…
Resgatá-la desse estado recesso!
Anelo descobri-la prodigiosa…
qual dama delicada … Defendê-la!
Urdi-la em fina trama, preciosa.
Do torpor, da apatia socorrê-la!
Eis que surge inocente, receosa…
Desnudando-se começo a tecê-la…
E a resposta é...
Precisão caprichosa no rigor
Vigorosa e inflexível submissão
Sonâncias dilatadas no primor
Quadras e tercetos numa junção
Toques elogiados com louvor
Rejubilo, revolta ou comoção
Torrente em feitiço conquistador
Enlevos condensados em fusão!
Intenso engenho e arte em seu correr
Êxtase cativante e musical
Duelo estilístico no viver
Interpolado, rima intencional,
Cruzado, emparelhado no tecer
Que oficio literal trato afinal?
A-cor-dás-me
Desvia-se o dia da alvura
embebe-se no anoitecer.
No cintilar dilata sua voz
gorjeando saudades!
Transborda o sentir-te!
Incendeias-me a noite,
estimulas-me o amanhecer.
Acordas-me a vida
preenchendo-me de ti!