** Sinto-te a falta **
Esta tarde não sei o que sou
Talvez seja um barco sem remos
Ou quem sabe o vento que antepôs
O silencio, o muro onde estou
Está amarelecido pelo sol
Encosto-me a ele e sigo no rol
Do meu pensamento, leva-me a ti
Esta tarde sinto-te a falta
O dia escureceu mais cedo
Ainda tive tempo de dizer-lhe um segredo
Preciso de ti, meu amor tenho medo.
Júlia Soares ( pseudónimo )
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Aqui estou
Transporto no sangue um raio azulado
Uma esperança, uma dúvida, um grito calado
Transporto na alma, um energia fugaz
Que num silencio irrequieto, me diz tanto faz
Que corras, que grites, que digas que não
O sol está em brasa, não estendas a mão
Levanta-as aos céus, numa prece singela
Olha meu amor, entrou pl`a janela
O vento suão, transporta nas asas
Saudades tuas, são faúlhas em brasa
Olha meu amor, o tempo parou
À espera que voltes, meu amor aqui estou.
Júlia Soares
Olho a distância
Calo o grito amarelecido pelo tempo
Um laivo de infelicidade e nostalgia
Ai quem me dera que o dia não fosse lento
Quem me dera não ter que fingir que ria
Da distância que me desfaz o alento
O sonhar, o crer, estranha assimetria
Que assimila um ressentir sonolento
Meu amor perco o tino quem diria
Ao pensar na distância que separa
O portal da tua porta e da minha
Meu amor perco o tino, mas quem repara
Que quando acordo de manhãzinha
Corro p´rá janela e olho ao longe
Meu amor…vou esperar pela noitinha.
Júlia Soares
Meu amor o tempo urge
O amor na ausência deixa-nos irrequietos
Envolve-se de fissuras, de névoas cruas
Deixa-nos num marasmo, boquiabertos
Como se a ausência fosse folhas nuas
Que deslizam pelo tronco em nós
Corredios, e as saudades são faluas
Que deslizam em mares revoltos
Onde as águas se transformaram em lágrimas
Quase sempre a tua ausência me traz, dor
Aliada de uma visão conturbada e fria
Quase sempre a tua ausência carrega o pavor
Meu amor, o tempo urge é voraz e não fia
Os momentos que se perdem, na distância
Entre o ir e o vir, o tempo, é gorda agonia.
Júlia Soares.
«« Contigo falo de amor ««
Contigo falo de amor
Mesmo quando estou zangada
Contigo falo de dor
Outras vezes falo de nada
Palavras repito no vento
Meu amor, és vida minha
És meu sol o meu alento
Minha chuva miudinha
Meu amor, és guardador
Do acordar na madrugada
Das lágrimas de tudo e nada
Do rir, e do meu clamor.
Júlia Soares.(Pseudónimo)
Desculpa amor
Desculpa amor
Por hoje não me apetecer sorrir
Não repetir em frases banais
Está tudo bem
Desculpa amor
Por hoje ter visto um vazio cinzento
Em gestos rotineiros
Desculpa amor
Mas hoje olhei-me no espelho
Assustei-me com o que vi
Uma sombra difusa
Sabes amor
Há quanto tempo não passo daqui
Os filmes que nunca vi
Os lugares que não visitei
A palavras que nunca escutei
Desculpa amor
Mas hoje tive pena de mim.
Júlia Soares
Barco
Num remoinho que eleva a alma que chora
Cai-se em queda livre, sempre que a dor aperta
Sempre que uma nuvem cinzenta se acerca
E derrama sobre nós fria trovoada
Tantas dúvidas e tantas ilusões
Somos feitos de matéria incompleta
Vagueamos, mortos vivos na cauda de um cometa
Atracamos nosso barco num mar de queixumes
Meu amor, a vida é cor de rosa
Sempre que se acorda de manhã
É doce como o sumo da romã
Afinal a vida é airosa
Somos nós que a complicamos
Ajustamos o dia em nosso favor
Somos nós que tapamos o esplendor
Da manhã ensolarada, somos nós que a desfeamos
Meu amor
Somos nós que atracamos
Nosso barco num breve momento
E dizemos bom dia ao amor
Mas depois corremos, corremos,
Já cansados perdemos os remos
Afundamos,
Boa noite, finalmente adormecemos!
Júlia Soares
**Recados ( I )**
Se eu te pedir, não me olhes é porque os dias morreram e as searas perderam o verde viçoso, o Alentejo ficou inundado de flores azuis, são o reflexo do céu num deserto de areia, a miragem entre o limite estonteante da imaginação.
Se eu te pedir não me queiras, vira-me as costas e volta-te num repente, toma-me nos braços, tal como a terra toma o sobreiro, e a sua sombra magistral alberga as almas em fuga pela planície em chama.
Se eu te pedir não me beijes, aí, olha-me apenas, bem no fundo dos meus olhos verás um rio, é o Guadiana nas tarde calmas de verão, repara nas estrelas cintilantes que se vislumbram no céu rubro, pelo sol de Agosto, nesse instante meu amor, não digas nada, deixa que encoste a cabeça no teu ombro, à espera que seja beijada.
Se eu te disser estou cansada, é porque não dormi na noite anterior, abri a janela do quarto e contei as estrelas, pela via láctea vislumbrei o teu vulto, olhei, reparei então que me acenavas, num gesto desmedido, lançavas-me beijos, olhei de novo, eram estrelas cadentes, que traçavam o céu por cima da cidade, na sua cauda traziam os teus sonhos, dormias ali ao lado.
Se eu te disser que te amo, quero ser levada a sério, igual ao trigo loiro que em tempos cobriu o campo, quero que sintas ao tomares-me a mão, as raízes entranhadas da azinheira onde as cotovias fazem os ninhos, ao escutares o seu trinado escutas a minha voz num fado, bairrista e dolente onde te cantarei em versos estridentes, meu amor é para sempre.
Júlia Soares ( pseudónimo )
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«« Vejam Bem ««
Não foi à toa que o Zeca continua a ser um dos maiores de Portugal, é neste tipo de poesia é nesta raça de poetas que quem quer alcançar êxito na escrita se devia inspirar. Isto é o pensar de uma louca que de vez em quando sonha que o mundo poderia ser mais perfeito assim os homens fossem sensatos./watch?v=Io_RidA1mlI
_ Estrada_
Pergunto tantas vezes a mim mesma
Porque corres, a correr ninguém te apanha
Pergunto tantas vezes ao amor
Porque choras se a chorar perdes a cor
Assim vou passando pelo tempo
Nas duvidas e perguntas me arrebento
Mas, o tempo de cansado ficou mudo
Não responde e ainda é abelhudo
Aqui e ali vai deixando uma ruga
Mais ao lado aparece uma verruga
Nos sentidos que já não são o que eram
Ai Jesus cabelos brancos, já vieram
E o reumático que teima em ficar
O melhor é dormir e descansar
Que esta vida anda sempre adiante
Tal qual um vendedor ambulante
Vai-nos vendendo em sacola recheada
Risos e lágrimas, a vivência e uma estrada
Júlia Soares