Já são só corpos.
Se quereis ser feliz, sê ignorante...e inútil. Sê espectador, como todos os profanos. Assiste, então, feliz!
Caro Darwin, sabemos ser produto de evolução, mas não seremos nós os antepassados dos símios?!
Insanos rompem a brusquidão da paz. Todas as partes constróem, moldam, prestadores de vassalagem à pátria. Pelo aperto de mãos se acorda o sofrimento de um povo. Os seus nomes assinados são os juizes da pena das gentes.
Direitos humanos proferidos, muito defendidos, espezinhados pelos tanques. Pena do vivo penar é a morte da honestidade, nesta animalesca humanidade. Salvaguardados só por quem sois, mobilizam forças inderrubáveis pelo poder do povo. Engavetaram-lhes o poder inato de questionar, de refutar.
Vai-se desfolhando o dia-a-dia, sempre agarrado a um sonho tricotando a esperança. Fuga é a possível escapatória.
Terror impele mãos à cabeça e impede que estas peguem na mala das suas vidas. Estremece pelo silêncio das armas. Tremelica! Desfere o medo no gatilho. Ensurdece pelo seu estrondo. Morte amortecida pelo milagre negado de podridão. Já são só corpos esculpidos pela dor.
Lembrança caridosa dos que sabiam que cá ficavam sobre os que não sabiam que partiam. E, já são só corpos! Passado vai sendo sepultado, varrido pelo tempo, retido nas lágrimas dos filhos da guerra. Vidas esquecidas, esvanecidas no olhar do tempo.
Já são só corpos.
O silêncio de ontem não adivinhava o silêncio de hoje
O silêncio, para muitos o vazio acústico, para nós sempre fora significativo de divagações ruidosas para o sossego e motivo para outras muitas que nos retiraram o sono e nos levantaram da cama.
Ontem
Gritavas: cala o silêncio com a tua voz!!
Ontem
Meu companheiro nos infortúnios e entre lençóis
Querias calar o silêncio que te acordava as emoções e te trazia incomodo ao teu saber estar. O teu corpo denunciava o constrangimento que te trazia o silêncio. O silêncio era para ti inoportuno e fazia-te lembrar que estávamos calados. Estar calado era sinónimo de assunto esgotado. Parecia-te assustador e levantavas várias indagações desperdiçadas que te ocupavam o tempo útil de vida: que tradução dou ao seu silêncio? não terá interesse em mim? ou será precisamente o contrário? será revelador do seu interesse por mim? em me querer, em me ter? o silêncio trazia-te a dúvida, que em relação imatura é perturbadora da serenidade. Com o silêncio sentiste observados os teus movimentos, os teus pequenos trejeitos. O silêncio, pensavas, era a minha leitura de ti. Com o silêncio explorava-te. Darmo-nos a conhecer traz muitas vezes a insegurança, que todos carregamos, manifesta da incerteza de não gostarem de quem conheceram – todos tendemos gostar que todos gostem de nós (gregos e troianos).
Hoje
Gritas: cala-te! Deixa falar o silêncio calando a tua voz.
Hoje
Meu companheiro nos infortúnios e entre os lençóis
Já perdi as palpitações só de pensar que pensas em mim. Já perdi a inquietude sentida no estômago quando me surges. Já perdi o corar quando me tocas. Mas apanhei a tua verdade, que parte ainda tanto me seduz. Anseio perder as mudanças da tua verdade, no trilho que vais escolhendo para a tua vida. Trazes poucas caricias, mas conheces as delicias que me fazem semicerrar o olhar e soltar sons gemidos, arrastados no silêncio e outros que rasgam o próprio silêncio. O silencio, hoje, representa o aperto das nossas mãos, já não suadas, e o nosso olhar dirigido na mesma direcção para o amanhã, com uns breves desvios de olhar, meio de soslaio...para ganhar as palpitações, as inquietações transmitidas no estômago, o corar no facies...sentires que nos lembram que ainda desejamos e nos desejam.
Sintomatologia da liberdade
Os utopistas criaram o mundo. (E não Deus!) É uma verdade da humanidade, mas uma mentira para os condenados à renúncia da liberdade.
Nos primórdios os utopistas deixaram, na prateleira mais próxima do céu, um manual para os seus discípulos. O manual seria um legado para os homens que se entregassem a si. Manual da liberdade, ainda se lê. Mas este foi queimado desde há muito - desde que surgiu a civilização. Restam umas páginas, pouco legíveis, mas só inteligíveis para os que se elevam até aos céus.
Das páginas que lemos (eu e tu, meu companheiro de denúncia às renúncias dos que se encontram confortáveis sentados à espera da liberdade), sublinhámos trechos para plagiar e divulgar aos outros companheiros. Ainda me lembro: e, aqui deixo nota do que lemos, para ti, que te queres juntar a nós.
Só somos livres quando nos deixamos flutuar entre estados inebriantes, que nos afundam na loucura. Há uma linha muito ténue entre loucura e liberdade e a fórmula para a felicidade é andar sempre com a borracha na algibeira.
Temos que partir para bem longe do servilismo da tirania moral colectiva, da consciência colectiva que nos atrela aos seus pés. Temos que partir para bem longe para não nos condenarem a sermos um não-ser. Sempre muito lutámos pela liberdade das massas, mas nunca abolimos a prisão que há em cada um de nós.
Temos que deixar de ir para bem longe e deixarmo-nos dormir. Livres são os que ao sonho se entregam e deixam acordar o que de si os outros não deixam conhecer. Quando muito se entrega, de forma exclusiva, ao pensamento, sem deixar uma réstia para o sonho, estica-se, intuitivamente, os membros superiores, não para os outros lhe colocarem as algemas mas, para ele próprio se algemar. Fugir dos sonhos é nos entregarmos aos julgares dos outros.
Ser-se livre é fugir dos outros. E, sonhar!! E amigo!, como diagnosticar a sintomatologia da liberdade: depois de te dares a permissão de sonhar, dá-te a permissão de te rires do que sonhaste!
Depois de nus adivinhar cenários críveis
Lá fora: o silêncio sai das folhas caídas no soalhado do pátio. Lá fora: o desconhecido por agora.
Cá dentro: o relógio da sala acusa o pouco tempo que resta. É uma pressa a entrega.
Baloiço o olhar frente aos espelhos depostos de esguelha na tua sala de tudo receber...titubeio sobre o tapete num fruste tentar em me estatelar de fronte a ti... a vontade é mesmo quedar sobre ti.
Já rendida num abraço, solto o que há de nu em mim. Em postura frágil e inerte encontro-me deitada entre cetins a acariciarem-me os corpúsculos. Tocas à campainha dos meus sentidos: adormecem-me o domínio e acordam-me a lascívia. Sem eles nada fazia sentido neste pouco resto de pessoa que ambiciona a rendição do que há de devasso na concupiscência. Ofereço o meu corpo em troca de vãs caricias, de suspiros que seduzem o momento, de arrepios carregados de calor que visitam o prazer. Ofereço o meu corpo por uma vaidade da alma, que arranca a nitidez da sensatez e entrega como dádiva à estupidez.
Tudo muda depois dos tempos de quimera. Segue-se a acidez que sempre hiberna, sequiosa por explodir na facies do par. Vejo malignidade nos teus olhos, espelho dos olhos de todos nós. Não te quero mais, e não querer é poder. Há um mergulhar da tua dignidade no lodaçal do orgulho imódico que despersonalizou quem julgava conhecer. Vociferas que te resta dignidade quando o que cospes é um ciclone de estilhas pontiagudas residuais de um orgulho traído e deixas sufocar o digno que havia em ti. Tudo acaba, quando me entreguei a outros lábios, tapando os olhos à inocência. Em ânsias de tudo tornar a repetir e sentir, não sabendo que tornarei a ver os olhos de todos nós.
Deito-me no sofá
5 da tarde ... deito-me no sofá. abro as pernas. ergo-as. sinto-as edemaciadas, mas não o estão. coloco uma almofada sob elas. sinto os olhos indecisos em fechar, mas não me apetece dormitar- perda de tempo. mas ao estar acordada também não estou vigil. olho para o tecto falso - como muitos tectos que construímos na vida. desnorteio-me de tanto pensar que deveria em nada pensar. muitas vezes a construção em falso é tão rectificada em falso, e sempre em falso, que já não sabemos a veracidade escondida na falsidade construída. enfim!!... sinto lipotimias sucessivas estando deitada ... parece que estou etilizada em corpo letárgico. oiço ruído ... não descodifico o sentido da sonoridade. é um som- isso eu sei. parece que o oiço bem ao longe em espaço e tão perto do que fui, enquanto gente fardada. fixo o olhar até ganhar nuvens na visão. lanço o braço. quero agarrar o indefinido- sempre é mais nítido e coerente do que a realidade que defini em falso. continuo a escutar o som. assume volume, parece. o sentido de curiosidade vai-me acordando para descortinar o código que foi segredado aos viventes para saberem ler todos os sons. tento ouvir. o sentido do dever obriga-me a abrir os olhos que sempre se encontraram abertos. o coma, a que me forcei a confiar, fez-me o divórcio da realidade- a qual me queria ausentar. não queria ouvir, mas como oiço um sonido sinto que tenho que ouvir, nem que um grito. somos tão carregados de deveres, como trelas se tratassem, balizando a nossa necessidade de ausência para catarse e nos aproximarmos da liberdade. o som volve à audição incessantemente. é uma chamada. chamam por mim. oiço meu nome acompanhado por outra palavra- qual não sei. oiço sumidamente. longinquamente. o sentido soberano do dever parece que me obriga o pavilhão auricular a abrir, e descodificar o som antes sumido agora vociferado.
(...)
ah, sim estou no trabalho. oiço a chamarem por mim. precisam de mim. é uma doente que chama. e eu que me imaginava já em casa, de pernas estendidas, esticadas no sofá, a olhar para tecto, a partilhar um repouso... com os pensamentos...
nunca mais os vi...nunca mais os vi...
sentem-se na mesa! sim, também me sento, obrigado. estão confortáveis? sim, também estou, obrigado. inquieta. sempre inquieta, mas confortável. o ar condicionado já está desligado. deixemos a conversa banal para depois. oiçam o que vos digo: por vezes deixo de desejar-te. não sei porquê. a ti, sim! mas assim que fantasio deixar de te ter, enquanto meu objecto de desejo, passo novamente a desejar-te... e a ti ... também te desejo, mas receio que por vezes vá deixar de te desejar. também. sei-o. a ti também, sim. e logo passo a desejar-te mais a ti. sou assim. e, prontos. entendem?! por vezes quero entregar-me à descoberta dos outros, quando entregues ao seu desejo. já sabem que tento fugir deste espaço não conquistado mas pago. já sabem que gosto de sair para onde não me vejam, mas sempre com receio que me espreitem. porque estás a olhar para o tecto? não me estás a ouvir ou não me queres ouvir? doi o que te digo? preferes a mentira ou a omissão por te anestesiar? administra-se doses de mentira por cobardia de quem mente ou por pena de quem a vai escutar. não quero uma situação nem outra. a surdez não é fuga, porque a verdade acabará por cair sempre estatelada à nossa frente. a cegueira não é fuga, porque a verdade acabará sempre por entrar pelos pavilhões auriculares. portanto, ouve-me e vê-me. olha-me bem nos olhos. não desvies o olhar, por favor. a mim também me doi, porque sei que te doi. a mim doi-me porque eu nunca serei eu. não serei eu, não por ti, nem por ti. também ,talvez, mas não principalmente. eu nunca serei eu porque nunca serei feliz. se o for será sempre longe deste espaço não conquistado mas pago.
(olharam-se. levantaram-se. e nunca mais os vi. continuei sempre com o mesmo discurso para muitos. sempre findou do mesmo modo: olharam-se. levantaram-se. e nunca mais os vi).
Quem tu és?!: és a nossa imagem
Sente o mundo girar!!
Há sequelas que perfuraram o ventre do mundo.
Na tua cegueira
Pensas colher o que te plantaram.
Ergues a mão
Dando mostras de que está vazia. Se os outros estão na miséria
É porque tu e os outros são a miséria humana.
Foste tu que te pariste.
E não te entregues ao doce engano.
Extremina o que fazem
Para que não sintas aquilo que és.
Palavras do silêncio
Serão as palavras o meu refúgio?
Será a plurisignificação das palavras o brinquedo que tenho entre os dedos?
Será que o pensar em ti me dá desalento aos ânimos, mas a loucura que preciso para soltar as palavras? Quero pensar que sim. Não penso em ti por ti, nem por mim. Penso em ti, porque me lança para o caos fraseológico, que tanto me apraz. Apraz-me conviver com a loucura que deixo viver - dá-me liberdade.
Prefiro que sejam as letras do silêncio.
Prefiro que estejam longe dos julgares que tentam calcar o juízo que quero perder.
Quero calar a palavra que ouvem.
Mas, quero exprimi-la.
É um brinde! Um brinde à vida.
Sinto-me...
Sinto as pálpebras cada vez mais a pesarem-me. Forço por as manter abertas. A força de gravidade contraria-me a pouca vitalidade aliada à meia vontade. Pestanejo para despertar-me os sentidos e não dispersar as sensações. Desisto. Fecho o olhar. Sinto-me.
De mãos atadas sinto a pele, parecendo que tacteio a epiderme e não sendo ela que me permite sentir o mundo com os seus receptores de merckel. Sinto as rugas periorbitais, como se de repente tivesse deixado fugir todo o colagénio e elastina de ontem para hoje. Franzo a testa. Sinto a pele endurecida nesse espaço do meu rosto, coberto com uns folículos pilosebaceos compridos, caídos, leves, negros que não me passam despercebidos ao entender o meu rosto. Sinto o ar a invadir-me entrando pelas narinas, lembrando-me que o respiro. Ar profundamente inspirável, vida acrescida, parece. Esboço um esgar, a que chamam de sorriso. Sinto-me.
o meio para a serenidade é o esquecimento
O meio para a serenidade é o esquecimento.Esquecimento do que fui, contigo, enquanto a serenidade residia em mim. Mais certa estou, pois mais certo é, de não queres fazer parte de escândalos. Não queres ser emblema em tema. Sabido é que, os escândalos dos outros soam a novidade que ocupa mentes e traz tema sem lema e com emblema. Sabido é que, os nossos escândalos nunca nos entrelaçam no encanto e espanto. Eu desejo-te ou desejo tanto este desejo (nunca soube a diferença, como sabeis!) que me disponho a escândalos. Quando junto a ti, tudo passa a pormenor. Tudo passa a resto. Nunca vos pedi a opinião, mas vocês dão-na. Não vos censuro! - também, vos ofereci em forma de opinião os meus juízos de valor. E mais injuriosa sou, pois os meus juízos repudiavam nos outros o que penso hoje em cometer. Em rol de maldizeres, nunca perguntaram pela minha versão da minha verdade. E sei o porquê. Porque a verdade, - verdade seja dita! -, é o que cada um quer que ela seja. Subjugamos a verdade ao que queremos da sua essência na nossa essência. A verdade pode ser útil. A verdade pode ser mais interessante. A verdade pode ser um bálsamo. Cada um escolhe e crê na verdade que mais se aproxima ao que deseja que ela seja e não ao que é. A verdade é que, escolhemos os geradores de verdade como os nossos mais apreciáveis verazes, mas, nem sempre verdadeiramente confiáveis. Contrassenso? - Não! É sabido da invariância da verdade, dependendo, até, de quem se quer sentenciar à injuria. Uma verdade vos digo: não sou honesta para mim, porque não sei como se faz. Serei um ser não verdadeiro, porque não o posso ser, e criei um ser postiço, longe da minha própria natureza ditosa, copiosa, e …. odiosa. Odiosa por mim própria. Mas não sei ser este meu ser de outra forma.