SE
SE, ao menos,
puder imaginar
e encontrar-me
e encontrar-te
e, talvez... (quem sabe?)...SER
Se ao menos puder imaginar,
tudo poderá, talvez, ser... outra vez!
talvez:
imaginar – posso?
Sonhando acordado
Tarde perdida
nos dias, sem dia:
incerto algarismo na conta
incontável,dos dias
perdidos,
sem tardes...
Gesto sumido
no vago, num dia
incerto,
dos dias, sem tardes
perdidas...
oh, dias ausentes, de presença!
- um dia?!
O mundo é belo
A chuva que cai
e bate, forte, na minha janela,
o vento que passa
e abana as cortinas do meu quarto,
as negras nuvens
que escondem o azul do céu,
mentem!
Querem dizer-me que é triste este mundo,
tão triste e sombrio tornam este dia!
Querem dizer-me que é feia a paisagem,
monótona e fria no inverno que corre!
Querem dizer-me que é má esta terra
onde tudo morre e quase não há vida!
Mentem!
Mentem porque vem,
já perto, a Primavera!
Mentem porque o Sol
já brilha sobre os campos!
Mentem porque as aves
já cantam em seus ninhos!
Mentem!
Por isso, revivo, não posso ficar:
vou cantar com as aves,
esquecer a tristeza!
Vou viver com as flores,
esquecer dias sós!
Vou dizer bem alto
à chuva,
ao vento,
às nuvens:
é belo, o mundo, é belo!
Primavera
Era um recanto de jardim florido, como se espera, em manhã de primavera! A sinfonia de cores anunciava momentos felizes, encantos de perene jovialidade, gritos de renovada esperança e coragem - ali não havia espaço para tristezas: era um novo dia e cada flor, mais e mais viva, pujante no gozo da luz renascida, era um convite à alegria!
Chegava-se de mansinho e, mergulhando naquela quietude, desafio de promessas por cumprir, ficava-se com desejos de eternidade,
(e como isso de eternidade, por vezes, incomoda!...)
capazes de tudo e do nada, do melhor e do pior, mesmo do sem sentido - consentido, contrariado até mais não poder ser - a doer se parados, a magoar quando agitados, inquietos na curiosidade do devir, esse que sempre e só foi e será na possibilidade de ser, já incapazes de querer mais do que o "quero", calados, quietos, repletos!
será isso que esperam de nós as flores numa manhã de primavera?
será para isto que se perturba o silêncio de um recanto de jardim numa manhã de primavera?
será possível ter-se algo a ver com as flores no recanto do jardim?
Cada gesto, cada grito, cada silêncio, tudo ecoa nessa nesga de eternidade - ou será finitude? - que arrebata, que toca e foge, qual arrepio no âmago do instável, frágil, pequenino! Se ainda é possível sentir algo, talvez só isso, mais nada além ou aqui, mais o quê, ou quem, ou até como, só isso, esse arrepio a fustigar, a desafiar a inércia, a clamar por solidariedade:
ninguém pode ficar nesse recanto assim, sem mais!
ninguém pode ficar impune se incerto!
ninguém!
Quase sem se dar conta, a manhã passou, a tarde escondeu-se com a luz por detrás do horizonte e a noite veio devolver o silêncio perdido ao recanto assustado do jardim. Já não haveria mais espaço para a inquietação nessa experiência de plenitude!
já não haverá mais amanhãs de silêncio nas "primaveras" de cada vida?
já não se voltará a escrever sobre as flores nos recantos de jardins?
já se deixará florir os jardins em cada manhã de primavera?
já ninguém se vai incomodar com os desafios nas manhãs que florescem?
A sinfonia de cores anunciava momentos felizes, encantos de perene jovialidade, gritos de renovada esperança e coragem... ainda é manhã de primavera!
Se tu soubesses, meu amor...
embalado nas ondas do mar,
calmo e silencioso,
em noite calma de verão,
cantei à lua,
pensando em ti:
se tu soubesses
como te amo!...
se tu soubesses,
meu amor,
ah, eu não teria de te dizer:
eu seria noite,
tu serias lua!…
se tu soubesses
do meu amor!...
se tu soubesses,
meu amor,
bastaria amar-te assim,
como a noite à lua,
todas as noites!...
se tu soubesses,
meu amor, minha vida!...
se tu soubesses,
meu amor,
eu seria… o que tu quisesses,
todos os dias da minha vida:
teu eterno amor!...
Volta amor
Doce amor que, em sonhos beijo,
que será feito de ti?
Eu te amo: como, então,
quase creio te perdi!
Há tanto que te não vejo,
não te falo há mais ainda!
Amor, vem, volta depressa
que esta saudade não finda!
Aqui tão longe, querida,
Sentido não tem a vida,
não posso viver sem ti:
dos teus olhos e sorriso,
para ser feliz, preciso,
amor vem, volta daí!
Retrato
Pensamentos que se cruzam:
encontro, talvez!
silêncio,
ausência presente,
convergência:
um ponto (negação da abstracção)
rubro,
vivo,
no peito!
Mensagem ao meu amor
Meus olhos, voando, andaram
com o Sol, para poente,
apagado, mas contente
da luz, que os teus lhe roubaram.
No céu, com as aves cantaram!
Na terra, foram semente!
Só não cuidaram de gente
que só, de te ver, cuidaram!
Foram dizer-te o que sente
meu coração e voltaram,
sem o sol: foi meu presente!
Com ele o calor, deixaram,
do meu peito; e, novamente,
ausentes, tristes ficaram!
Hino à minha amada
Que importam as lindas flores,
as aves voando ao céu,
que importa o sol, as estrelas,
se tudo o que é belo, é teu?
Que importam rios ou fontes,
tudo o que a terra nos deu,
frutos ou peixes dos mares,
se és tu, só, o encanto meu?
Tu és mais que flor ou ave,
que o sol, a lua, as estrelas,
mais que o próprio azul do céu!
Mais do que em palavras cabe,
por mais que digam e belas,
és dona, Amor, do amor meu!
Vidas primaveris
amanheceu
crivado de andorinhas,
o céu azul do meu jardim:
voo picado sobre
as árvores, quietas,
de calma e paciente esperança!
as viajantes tardaram,
mas cá estão,
de novo, à disputa
da melhor estalagem,
o melhor ramo,
mais folhado e recatado,
para a materna missão!
e o meu jardim,
florido, embora,
dividiu as atenções do dia:
de flores se enfeita o céu mas,
de vida transbordam os ninhos!