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AS VOZES ROUCAS DAS RUAS

 
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O direito a externar opiniões é uma das mais importantes conquistas da constituição de 1988, mas de algum modo, as manifestações havidas ultimamente, patrocinadas por policiais civis e militares, nos mais diversos Estados da federação tem sido consideradas pelo poder público, de modo geral, como expressão de uma minoria de baderneiros infiltradas nas fileiras de corporações antes ordeiras e seguidoras dos rígidos padrões oferecidos pelas suas estruturas militarizadas, trazendo à memória velhos e batidos jargões utilizados nos anos setenta. E colide essa opinião deturpada com a realidade dos salários percebidos pela maioria dos integrantes das policias estaduais, pagos com atraso e insuficientes para suprirem as necessidades primárias e garantirem direitos básicos quais sejam: a moradia, a alimentação e educação. A partir daí, começou a imperar a incompetência política dos governos que inadmissivelmente, numa demonstração de ignorância e insensibilidade, deixaram que falassem mais alto seus tecnocratas de plantão, munidos de planilhas e diretrizes orçamentárias que priorizando uma austeridade e economia dos gastos públicos elegem as despesas do custeio dos salários do funcionalismo em geral como o único fator desequilibrante do fiel da balança e causador dos rombos no orçamento. Dando ouvidos a seus tecnocratas, recusam-se os governos a admitir uma realidade inconteste: existem por este Brasil policiais civis e militares na miséria, assolados pela fome e sem condição de prover o sustento dos seus familiares.
Aliados aos nossos governantes, como satélites dos ocupantes do poder, surgem alguns parlamentares, outros, arautos de organizações não governamentais, algumas com orientação e subvenções externas que tentam radicalizar as regras do jogo, pressionando a opinião pública na tentativa de retaliação contra um aparato político-policial que somente existe nas mentes dos revanchistas de plantão. A acusação das elites intelectuais, nutridas do neoliberalismo que campeia, é que a reivindicação das polícias constitui-se numa quebra de hierarquia e está infiltrada por indivíduos estranhos as corporações; que não há uma movimentação reivindicando direitos por não estar previsto na constituição e trata-se tudo de baderna de bandos armados tentando apenas pressionar os governos, como se a hierarquia e a disciplina pudessem encher panelas vazias. Na realidade, fugindo dessa distorcida ótica, reivindicar salários e melhores de condições de vida que permitam que muitos saiam das condições miseráveis em que estão, é em última análise, senão uma legítima forma de exercer o direito democrático de expressar opiniões e em alguns casos isolados, se o exercício desse direito pode ser entendido como pressões, numa tentativa de desequilibrar o jogo das forças envolvidas, deve-se apenas ao fato de que, reprimidos por quase trinta anos, impedidos de organizarem-se, de manifestarem-se, de terem lideranças, os policiais ainda não tem toda a experiência e a vivência dos movimentos para fazer com que o jogo das pressões seja transcrito em negociações de gabinete.
E enquanto isso não acontece, como a segurança é artigo de primeira necessidade, principalmente das elites que temem uma imaginária sublevação da ordem pública, nossos governantes, e entre eles muitos dos que há quarenta anos denunciavam a repressão, eram acusados de ser uma minoria infiltrada entre estudantes e trabalhadores promovendo badernas, atiram-no no rosto que não existe na constituição o direito de greve para as polícias, sugerindo que fiquemos pacificamente aguardando a regulamentação de dispositivos constitucionais para que possamos expressar opiniões. E, diga-se de passagem, a regulamentação desses dispositivos vem sendo preterida diante das chamadas reformas urgentes do estado, ocasiões em que toda a imprensa nos mostra como se fazem as negociações de gabinete, as mesmas que desejam que aprendamos a fazer. Diante disso, preferem as polícias que as vozes roucas das ruas continuem aumentando e aprendendo cada vez mais a gritar suas necessidades e a reivindicar direitos.




Artigo escrito e veiculado na imprensa local no início dos anos 2000, quando presidente da APOL- Associação dos Policiais Civis de Piracicaba )
 
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LM.remora
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Enviado por Tópico
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Publicado: 10/07/2014 11:36  Atualizado: 10/07/2014 11:36
 Re: AS VOZES ROUCAS DAS RUAS
Um relato de uma veracidade que esta em nossa sociedade. O nosso governo se faz de um sistema que os politicos são agregados a seus interesses prórpios. Um sitema de democrácia que é govenado para os aristocratas. Um governo que é financiado pela milicias, pelas paredes de uma politica que somente os grandes empresarios tem se beneficiam