Soneto do viúvo
Pulsa em meu peito um coração perjuro
Sem encontrar nenhuma paz ou cura.
Habitam meu seio infeliz, escuro,
Pesares, perda e profunda amargura.
Mas, mesmo sendo um infiel impuro,
Desafiando meu destino e selo,
À mulher mais pura me uni seguro
Por seu intenso amor e manso zelo.
Hoje não zombo de quem se perdeu,
Pois também não gozo de um himeneu
E me tornei este ser ressentido.
Vivo sozinho, descuidado e triste
E apenas sei que o que em minha alma existe
É a dor imensa de tê-la perdido.
longo caminho
esta minha vida inteira
é agora um céu de sóis furtivos
sem constelações alegres
nem sonhos vivos.
trago os sentidos sobressaltados
numa inquietude que me arrasta
para uma obscura solidão,
turva a minha visão
e leva-me p'la mão.
faz-se sentir o peso dos dias
não é fácil deter o tempo fugitivo
nem o desassossego que ferve
em meu coração,
e assim vivo
com labareda que me cega
e o esquecimento já me pega.
já não sei, se é o tempo que me ensombra
ou a mente que não quer recordar,
ou os anos sombrios que descendem
sobre a minha orfandade
em momentos de saudade.
natalia nuno
Terra queimada
Fugitivo da terra queimada
Preso no seu próprio domínio
Sozinho no meio de nada
sob o luar vermelho sombrio
Num arrepio que sente
Sobre a sombra que o assombra
Neste sentido de morte
Entre as cinzas desta terra
Luta contra os pesadelos
Com coração carregado de dor
Mas esconde-se entre os rochedos
Com sangue fervendo de rancor
Uiva da morte anunciada
Com a saudade sentida
Mas que na mente, mente tanto
Que esquece a dor que o coração sente
Isabel Morais Ribeiro Fonseca
José Coimbra
Alinhando as estrelas
Saiu da sala de jantar. Ninguém reparou.
Desceu alguns degraus e baixou-se para tirar os sapatos de salto alto. Então, desceu o último degrau e sentiu a areia seca tomando-lhe os pés.
Deu alguns passos seguindo o chamamento das ondas.
Sentou-se, pousou os sapatos e abraçou os joelhos.
A noite estava quente e húmida. O vestido branco agarrava-se à pele, do mesmo modo que, a espuma branca das pequenas ondas, se vinha agarrar à areia.
Ainda conseguia ouvir a música tropical vinda da sala e as vozes sem palavras definidas. Tinha sido um jantar muito agradável. Tudo era bom e bonito. Perfeito, se não fosse a sua fome de silêncio e de solidão.
Sentia-se bonita naquela noite, Sentia-se em paz. Mais ainda, ali sentada sozinha. Num ímpeto deixou-se cair para trás e ficou deitada. Olhou o céu azul escuro e viu milhões de estrelas. Definiu algumas constelações.
Tentou definir caminhos de estelas. Complexos caminhos que lhe fizeram lembrar as estradas da vida. Viu as estrelas desalinhadas e iniciou um árduo trabalho de tentar alinhá-las. Pareceu-lhe possível. Mas, nessa noite sentia-se cheia de força. Uma força interior que nem sempre conseguia ter. Com a ajuda do mar, conseguiu mesmo alinhar alguns caminhos. Caminhos seus. Caminhos irreais.
Talvez tenha adormecido. Decerto que sonhou e, só acordou, quando sentiu a presença de alguém perguntando o que fazia ali, tão só.
Não era uma voz conhecida. Não era alguém que a procurava mas sim, alguém que a encontrou. Simplesmente respondeu que estava a alinhar estrelas. Ele sorriu e sentou-se ao seu lado. E só perguntou se podia ajudar…
Por vezes, também gosto de escrever em prosa.
Os vazios que enchem a virgindade dos lugares
A solidão se sente em casa,
no triste peito
na felicidade de um coração cheio
no aperto
mais incomum
de um abraço…
É como o negro puro
que sustenta as estrelas no espaço
desmentido céu azul que Deus vê,
depois de acender
o lume do sol
em cada raio …
o esquecimento abre passagem
Corre o dia,
e uma luz coada entra pelas cortinas
antigas, a solidão me faz
companhia,
adensa a noite
e desarruma a minha mente
e assim a flor desfolha até às
pétalas finais, como o sol
que se apagou, derramando
um vazio que a destrói.
Transporto sonhos ante um inverno
que me espera, a solidão dói,
o esquecimento abre passagem
e cada lembrança é já indelével
imagem,
como casa desabitada, mofenta
arrasada, onde já ninguém responde
minha alma, anda não sei por onde!
Minha vontade, ainda
inventa versos como comida suculenta
que me faz bater o peito, e a saudade
traz-me de volta a menina
dizendo-me que sou a mesma d'outro tempo.
o tempo que vai e nada o pode deter
fica a palavra feita nada,
a vida voando para o poente
como a água, que não volta à nascente
natalia nuno
rosafogo
quase sem dar conta
recolho em meus olhos
a grandeza deste dia ensolarado
contemplo a liberdade das aves
e penso no meu passo já aquietado
sabes?!
quase sem dar conta
meu afã ficou à deriva
assegurou-me apenas a solidão
que é o que sobra da vida.
murchou meu tempo de qualidade
o tempo o tirou
com alguma maldade,
mas, hoje o dia está ensolarado
e meu pensamento ocupado,
vou olhando o horizonte
reclamo apenas dignidade.
da janela da minha vida
esqueço o sentido do tempo
rememoro-me menina,
com saudade.
natália nuno
rosafogo
Jardim Secreto
Jardim Secreto
by Betha Mendonça
Fico sentada aqui na varanda
Olhos de ver a grama crescer
Parada diante da vida que anda
Lágrimas regam o entardecer
A noite chega nublada e branda
Ventos e chuvas de bem-querer
À terra que mui molhada manda
Ao Jardim Secreto florescer
As folhas e galhos em demanda
Pedem às flores tudo esquecer
E unidas se abracem em guirlanda
Para perfumar o anoitecer
*Imagem Google
Uma lágrima cai...
Uma lágrima cai…
Na noite silenciosa
Criada pela dor
Dessa força poderosa
Que lhe dão o nome de amor.
Uma lágrima cai…
Na fria escuridão,
Longe do teu olhar
Ela cai na solidão
Sem ninguém para a secar.
Uma lágrima cai…
Em pleno sofrimento,
Com a tua partida
Só ficou o lamento
E uma profunda ferida…
José Coimbra
Poetas que choram e amam
Parti meu pensamento em mil pedaços...
Ouvindo o som que vinha dos espaços
Eu olhava incansavelmente a Lua cheia
Tremia e o sangue fervia em minha veia...
Ah, tornavam-se par de asas os meus braços:
Sentia desenlaçar em mim os nós e os laços.
Quantas horas fiquei assim eu nem me lembro,
Uma..., duas...., três..., melhor parar não vou lembrar.
Era mês de Junho? Julho? Agosto? Ou Setembro?
Chamava ininterruptamente pelo seu nome.
Hoje, somente hoje fui voltando a realidade
Ontem eu estava transformada do amor que me consome:
Relembro que tudo que vivi ontem foi verdade...
Ah, devaneios de amor sempre deixam saudade!
Mas, a noite morre, o dia nasce e desperta a cidade...
E pouco a pouco a rotina de todos os viventes recomeça.
Assim foi. Assim é. E, assim sempre será.
Muitos vivem e contam as coisas que viveram;
Alguns se lembram, mas fingem que esqueceram
Mas, pela mão de Poeta o verso se eternizará!