Terra queimada
Fugitivo da terra queimada
Preso no seu próprio domínio
Sozinho no meio de nada
sob o luar vermelho sombrio
Num arrepio que sente
Sobre a sombra que o assombra
Neste sentido de morte
Entre as cinzas desta terra
Luta contra os pesadelos
Com coração carregado de dor
Mas esconde-se entre os rochedos
Com sangue fervendo de rancor
Uiva da morte anunciada
Com a saudade sentida
Mas que na mente, mente tanto
Que esquece a dor que o coração sente
Isabel Morais Ribeiro Fonseca
José Coimbra
Alinhando as estrelas
Saiu da sala de jantar. Ninguém reparou.
Desceu alguns degraus e baixou-se para tirar os sapatos de salto alto. Então, desceu o último degrau e sentiu a areia seca tomando-lhe os pés.
Deu alguns passos seguindo o chamamento das ondas.
Sentou-se, pousou os sapatos e abraçou os joelhos.
A noite estava quente e húmida. O vestido branco agarrava-se à pele, do mesmo modo que, a espuma branca das pequenas ondas, se vinha agarrar à areia.
Ainda conseguia ouvir a música tropical vinda da sala e as vozes sem palavras definidas. Tinha sido um jantar muito agradável. Tudo era bom e bonito. Perfeito, se não fosse a sua fome de silêncio e de solidão.
Sentia-se bonita naquela noite, Sentia-se em paz. Mais ainda, ali sentada sozinha. Num ímpeto deixou-se cair para trás e ficou deitada. Olhou o céu azul escuro e viu milhões de estrelas. Definiu algumas constelações.
Tentou definir caminhos de estelas. Complexos caminhos que lhe fizeram lembrar as estradas da vida. Viu as estrelas desalinhadas e iniciou um árduo trabalho de tentar alinhá-las. Pareceu-lhe possível. Mas, nessa noite sentia-se cheia de força. Uma força interior que nem sempre conseguia ter. Com a ajuda do mar, conseguiu mesmo alinhar alguns caminhos. Caminhos seus. Caminhos irreais.
Talvez tenha adormecido. Decerto que sonhou e, só acordou, quando sentiu a presença de alguém perguntando o que fazia ali, tão só.
Não era uma voz conhecida. Não era alguém que a procurava mas sim, alguém que a encontrou. Simplesmente respondeu que estava a alinhar estrelas. Ele sorriu e sentou-se ao seu lado. E só perguntou se podia ajudar…
Por vezes, também gosto de escrever em prosa.
Os vazios que enchem a virgindade dos lugares
A solidão se sente em casa,
no triste peito
na felicidade de um coração cheio
no aperto
mais incomum
de um abraço…
É como o negro puro
que sustenta as estrelas no espaço
desmentido céu azul que Deus vê,
depois de acender
o lume do sol
em cada raio …
o esquecimento abre passagem
Corre o dia,
e uma luz coada entra pelas cortinas
antigas, a solidão me faz
companhia,
adensa a noite
e desarruma a minha mente
e assim a flor desfolha até às
pétalas finais, como o sol
que se apagou, derramando
um vazio que a destrói.
Transporto sonhos ante um inverno
que me espera, a solidão dói,
o esquecimento abre passagem
e cada lembrança é já indelével
imagem,
como casa desabitada, mofenta
arrasada, onde já ninguém responde
minha alma, anda não sei por onde!
Minha vontade, ainda
inventa versos como comida suculenta
que me faz bater o peito, e a saudade
traz-me de volta a menina
dizendo-me que sou a mesma d'outro tempo.
o tempo que vai e nada o pode deter
fica a palavra feita nada,
a vida voando para o poente
como a água, que não volta à nascente
natalia nuno
rosafogo
eu estou lá fora
sinto-te perdida nesta vida
viras as costas à tua alegria
e ao amor não sentido ainda
sinto o teu corpo em lamento
uma solidão presa num gemido
no grito que me traz o vento
qual dor qual sofrimento
de um olhar já tão dolorido
de tão sagrado sentimento
recorda - amor - este momento
deste sentir a te sentir agora
num suave e breve fragmento
é hora - tenho que ir embora
eu nunca quisera ser violento
com a tristeza que em ti mora
a alegria de mim é o teu alento
abre a porta - eu estou lá fora
"Minhas lembranças."
"Minhas lembranças"
Na lua que brilha da solidão
Escutei a voz do meu amor
A sinfonia de sua linda canção
Silenciou a minha grande dor.
Sua voz tão alegre e terna
Melodia que entrou na alma
Lembrança que será eterna
Momentos de paz e calma.
Seus versos são linda sintonia
Inspira meus sonhos e fantasia
Com eles sinto a luz que irradia
Iluminando e me dando alegria.
Acordes repletos de desejos
Com ritmo que me faz tremer
Sonhando sinto teus beijos
Loucuras que me faz renascer.
Na tua ausência tudo é triste
A noite é escura e de agonia
Sem você felicidade não existe
Sua canção é tudo que queria.
Careless Whisper - WHAM
A VIDA FEZ RASGÃO
A VIDA FEZ RASGÃO
Trago rugas no rosto
Rugas duma vida inteira
Dia a dia me é proposto
Assumir mais uma mensageira.
Mensageira de dor e ausência
Põe meu pensamento em desalinho
Feita de lágrimas e insistência
Que a Vida pôs no meu caminho.
Insistência de permanecer aqui
Sem vida, como nuvem descendo ao chão
Faz tempo que a ternura escondi
Num recanto escondido do coração.
Minha palavra trago esfarrapada
E o vento já não me acaricia
Sinto minha carne pisada
Por ver passar mais um dia.
Carne pisada dos anos donde venho
Prestes a desfazer-se em pó
Nem a solidão por compaheira já tenho
Por me sentir tão só.
Companhia nenhuma, sufoco na escuridão
A Vida fez rasgão após rasgão
Há séculos se repete esta Primavera
E eu a mesma ave a esvoaçar
Talvez haja outra ainda à minha espera
E eu terei, na boca um pássaro para cantar.
Se o resto de esperança
de mim não abalar...
rosafogo
Absoluto Silêncio
Sozinho e embriagado,
sou apenas mais um viciado.
longe do caminho da verdade,
um uma bruta fatalidade!
com o coração pregado,
aos poucos me deparo enganado.
numa distante realidade,
em uma pura enfermidade.
talvez um ponto final,
todos os dias se tonam igual!
com uma certa ausência,
entro em pura abstinência.
nada disso é diferente ,
pois novamente estou carente.
numa fértil depressão,
que em lagrimas se torna em vão.
em outra dimensão,
longe do meu coração,
não por ter te amado!
mais sim por estar completamente apaixonado !
*Descampada*
Solidão que és parte da minha vida,
Que até tu largas-me nesta caminhada,
Onde caiu no chão por mim vencida,
Nestas lutas incessantes da minha parada,
Solto apenas um suspiro, não sobrando mais nada…
E choro, por ti minha amiga,
Que após tantos anos me seres tão querida,
Soltas a minha mão e não me sussurras mais a tua cantiga,
E sinto-me tão só, tão perdida!
Onde só sobram lágrimas na nossa despedida.
E abraço agora o corpo que tanto amaste,
Até à hora da tua partida,
Em que nem amor, nem paz, nem luz me deixaste,
Para acariciar o vazio que fica com a tua ida,
Que me sufoca com o ar, deixando sem forças e torcida!
E vais minha Velha amiga,
Correndo nos ventos quase de fugida,
Para longe do alento da pobre rapariga,
Que te chora em sangue por mais um momento da sua vida,
Caiando a sua morte, com a alma dividida.
Marlene
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SEQUIDÃO
SEQUIDÃO
olhos a dobrarem arestas
olhos ásperos e irresolvidos
ávidos por afeição...
fui onde a vista não alcança
muito além da saudade
bem para lá da esperança
não se debateu um ai
em nada cedeu a catividade
sigo morto de infância
orfão de avós, mãe e pai
jardineiro das lembranças
que não desabrocham mais
(Gê Muniz)