Contos : 

O Homem Descrente

 
O Homem Descrente



Ronaldo não entendia como podia estar bem , se os sintomas pelo corpo eram tão evidentes.
-Mas doutor, e essa mancha?
-Provavelmente ela é fruto de uma alergia a qual o senhor deverá fazer uns testes para descobrir a origem senhor Filgueiras, mas é possível que não seja grave...
-E a taxa de açúcar? Eu sinto que posso desmaiar de uma hora para outra.
-Algo que ainda pesquisaremos, mas seu açúcar está bem pelo resultado dos exames aqui.
-Neste caso tudo pode mudar não é mesmo, doutor?
-Vou me arriscar a dizer que a sua saúde vai bem!
-Pois é, apenas não entendo esses calafrios que sinto de vez em quando...
-Observe bem quando é que eles ocorrem e comente comigo da próxima vez.
-Ok, obrigado.
O homem não parecia feliz ao sair do consultório. No fundo achava que algum tipo de doença não diagnosticada, afetava sua saúde. Esquecia por um dia ou dois, porém depois tudo voltava à tona.
Voltou a casa leu os jornais e resolveu almoçar na rua, pelo menos amanhã pediria ao terapeuta que receitasse algum calmante - pensou- enquanto se dirigia ao elevador.
Na descida encontrou-se com o vizinho de baixo que era médico homeopata.
-Tudo bem Ronaldo? Sua aparência está ótima, tem caminhado na praia?
-Hoje não fui, tinha consulta logo cedo ... E a sua mulher está bem?
-Infelizmente não. O problema da diabetes requer cuidados especiais, estou indo agora lá no hospital visitá-la.
-Sim, dê lembranças!
-Pode deixar, obrigado. Até logo.
-Até logo.
Os dias de Ronaldo eram sempre sobressaltados pelo pensamento de que alguma doença iminente estaria prestes a derrotá-lo. Tinha sido assim desde a adolescência. Seu pai Everaldo sofria do mesmo pânico e viveu por noventa e dois anos, parecia que Ronaldo estava destinado a seguir os seus passos, mas naquele fim de tarde os vizinhos do prédio estavam todos muito comovidos quando souberam pela televisão da morte do metódico professor Ronaldo.
Conta-se que ele saía do consultório do terapeuta quando do quarto andar um morador desavisado deixou largado no parapeito da janela, um telescópio que acabara de polir, pois o objeto caiu e pegou em cheio a moleira do homem matado-o em seguida.
Quarenta anos tinha vivido aquele homem são...


Nina Araújo


O poeta Walmar Belarmino assim diz:
“CORAÇÃO DE POETA É TÃO SENSÍVEL,
TÃO SENSÍVEL DE UM JEITO IMENSURÁVEL
QUE CONSEGUE SENTIR O INAUDÍVEL
E BEIJAR COM LEVEZA O INTOCÁVEL
VER UM DEUS EM CADA MISERÁVEL
E CHORAR PELA DOR DE UM OPRIMIDO
MESMO ...

 
Autor
NinaAraújo
 
Texto
Data
Leituras
863
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
2 pontos
2
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
flavio silver
Publicado: 12/09/2008 09:34  Atualizado: 12/09/2008 09:34
Colaborador
Usuário desde: 24/09/2007
Localidade: barcelos
Mensagens: 1001
 Re: O Homem Descrente
isso é verdade nina, qd a gente se preocupa demasiado comuma coisa, acabapor acontecer outra mais grave.
gostei do conto. da ironia do destino.
bks