A Minha Carne É Feita De Livros
A Minha Carne É Feita De Livros
A minha carne é feita de livros...
de histórias da carochinha
vividas no vapor da boca
que no adeus da aurora
cobriam de magia
o tormento do meu travesseiro
A minha carne é feita de livros...
encaixados à força da régua e do carimbo
do "tens que aprender a lição!"
enquanto lá fora...
a saia primaveril que vestia os meus sonhos
me inundava de interjeições...
A minha carne é feita de livros...
e rogo a quem os abriu
o milagre de jamais os fechar...
Luiz Sommerville Junior, 2010
In a Madrugada Das Flores, Edição Waf-Corpos Editora.
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Despertam rios nos teus olhos
Toca o clarim da vida…
Ao longe debanda a passarada
Já a aurora se insurge
Nos céus, um sol de alvoradas
Há vozes feitas de cânticos
No ar, um latir safado
Há lírios nos meus encantos
Crianças às gargalhadas
Despertam rios nos teus olhos
Azuis, de água marejada
É benta feita de luz
Remanso da minha alma
Maria Fernanda Reis Esteves
50 anos
natural: Setúbal
Barquinhos De Papel
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Barquinhos De Papel
Quero que os meus versos
sejam humildes
como humilde foi o meu nascer:
cinco letras gritando
na boca da minha mãe
cinco letras sorrindo
nos olhos do meu pai
Quero que os meus versos
sejam humildes:
cinco letras entranhadas
no corpo da minha amada
Cinco letras vivendo
no meu filho eternizadas
Sim!
Quero que os meus versos
sejam humildes :
cinco letras apagadas
pela terra que as guardará
E... a chuva impertinente
a levar os barquinhos de papel
no tempo
de quem (não) me viu
Luíz Sommerville Junior , 060220142245 , Eu Canto O Poema Mudo
* cinco letras ou o meu nome - Jorge.
Leia também ... Original
Como uma rosa Azul
Queria ser como a rosa azul
Viver meramente um dia
Ser a tua primavera, o teu Verão
O teu Outono, o teu Inverno
Sentir a fragrância da tua pele,
Tuas mãos docemente no meu rosto
Com a macieza das pétalas azuis.
Sentir o prazer de ser especial
Somente um dia, que importa
Como a rosa azul
Afogar a saudade no sabor do teu odor
Saciar o sonho perdido num olhar ardente
Mergulhar na limpidez orvalhada
Que afaga as tuas pétalas imortais
Diluir–me na imensurabilidade de ti
Um dia, uma vida, uma eternidade.
Morrer e renascer como a rosa azul
Escrito a 2/11/08
Deus das Palavras
O escritor é um Deus das palavras.
No princípio sua imaginação transcende
as imagens que surgem em sua mente
e atravessam o firmamento do que ele entende.
Ele imagina céus em cada texto,
ele conhece terras em cada interrogação,
sente sensações em cada exclamação.
Nas trevas, ele mostra a segunda face do abismo,
nas águas, ele batiza sua criação e alivia sua sede,
diante da luz, ele faz da Lua a eterna musa do Sol.
Sua poesia une as noites frias com o calor dos dias,
as tardes chuvosas com os desertos das madrugadas,
os passados saudosos com os desejos nos futuros
e o agora vívido com as preguiçosas manhãs.
Suas composições ouvem a voz dos oceanos,
suas canções navegam com o perfume da maresia,
enquanto sonha com sua criação deitado numa rede,
naquela praia onde seus olhos conheceram o mar.
O Poeta é um Deus criador de versos.
Se ele finge, sonha ou sente, somente ele pode dizer.
Seus livros nascem iguais estações do ano,
no outono ele une as folhas escritas com seus poemas,
no inverno ele permanece entorpecido, em gestação,
na primavera ele lança as sementes nos corações
e no verão ele colhe a luz da sua manifestação.
A obra do escritor transcende sua existência,
transforma-se num legado indelével, intemporal
e permanece insigne na lembrança do seu leitor.
Saber de ti
Há cousas que não vejo e não são poucas
As outras sendo vistas só por outros
As poucas que me acendem vão-se aos poucos
Se apagam para dar a vez a outras
A pouco e pouco vou desaprendendo
Para aprender além, algo de novo
Mas sempre esqueço alguém quando me movo
E doi saber de quem me vai esquecendo
O que eu queria desta vida era saber
Escolher o que lembrar e o que esquecer
E não ter nem que perder nem que ganhar
Queria voltar atrás no tabuleiro
Deixar o jogo a meio o tempo inteiro
E saber da tua peça o teu lugar
A Fogueira
Como uma árvore, que acariciada pelo vento, balança suas folhas em chamados.
Como a chuva, que escorrega maliciosa, nas paredes dos prédios, trajetória seguida por um ponto.
Como a música, que inflama a alma e eleva a matéria.
Como o doce, que lambe-se.
Como pelos, que aquecem, fogem presos e flutuam até pousarem entre nossos lábios.
Como segredos, que aproximam os lábios da pele em sussurros.
Navegar sobre, entre, para, além.
Oceano dos céus. Entre vidas.
Para sempre. Além do bem e mau.
Trago Gôndolas Venezianas
A vida
que nunca me quis
nessa viagem que ninguém pegou
é daninha de raíz
no todo do nada que sobrou!
Fossem ventos
seriam facas que cortam o ar
fossem chuvas
seriam martelos que despregam cavernas
fossem terramotos
seriam torpedos estilhaçando o adn
fossem o que fossem
seriam esse foram que não foi
Lá longe, num canto perdido de nós
gasto, velho, enferrujado, puído
um trem repousa seus restos...
entretanto no meu olhar
perpassa como um avião
o *TGV do coração ...
LSJ, 2908201018:46 in Távola De Estrelas
* TGV (Train À Grande Vitesse)
Náufrago, deste (a)mar
No rio obscuro da vida
existe um barco á deriva
nas aguas paradas no tempo
deste tempo que se perde
na sombra das tuas brumas
O barco desliza inquieto, ávido
espera a luz do amanhecer,
onde o sol seque a humidade
que goteja perene de querer.
São tantas as gotas gotejadas
e tantas as fragrâncias exaladas
que em arrojado ondular desliza,
nas pacatas águas da vida
o barco náufrago, deste (a)mar
(E lá… )
Onde se funde o rio e o mar
na meiguice de um raio de luar
tu barco, deixarás de te perder,
descobrirás os teus velhos remos
e nos braços de um renovado ser
permanecerás firme, pungente,
neste rio que o destino
não quer ainda destruir
Escrito a 23/11/09
“ A verdade do tempo “
“ A verdade do tempo “
Sede... fome, é tudo o que tenho
da fogosidade da minha juventude
Poderia seguir por uma estrada
em horas urgentes de velocidade
e de adrenalina tão saborosa e
viciante mas que faz o coração
pulsar bem em qualquer idade
Adrenalina é a palavra para mim
por vezes este meu velho coração
suplica por uma explosão de adrenalina
e o sangue forte que tenho lhe agradece
Poder voltar a dedicar várias horas a
dançar embriagada com o som
de uma das minhas músicas favoritas,
Correr toda uma pista de 400 metros
acelerando nas curvas a me sentir plena
com aquela minha força interior selvagem
que me torna genuinamente feliz e
que me faz sentir indestrutível,
Voar alto num trapézio de correntes altas
provocando a ausência de peso lá em cima
Ah pois, ninguém imagina a necessidade
que habita este pobre coração em amar
em dançar, em voar, em correr, em montar a mota
e acelerar rumo a uma autoestrada cruzando
a cidade num ritmo selvagem sem querer saber de nada
e passar cada cruzamento sem parar,
escapando a mais um possível destroço...
E tudo mais que me importa é voltar a sentir-me brava
e viver cada momento, como se a vida dependesse disso.
Peço desculpa a quem desapontei, mas não sei ser diferente.
Tentei muito ser normal, mas não consegui!
Sesimbra, 22 Julho de 2017
Maria