A Minha Carne É Feita De Livros
A Minha Carne É Feita De Livros
A minha carne é feita de livros...
de histórias da carochinha
vividas no vapor da boca
que no adeus da aurora
cobriam de magia
o tormento do meu travesseiro
A minha carne é feita de livros...
encaixados à força da régua e do carimbo
do "tens que aprender a lição!"
enquanto lá fora...
a saia primaveril que vestia os meus sonhos
me inundava de interjeições...
A minha carne é feita de livros...
e rogo a quem os abriu
o milagre de jamais os fechar...
Luiz Sommerville Junior, 2010
In a Madrugada Das Flores, Edição Waf-Corpos Editora.
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Despertam rios nos teus olhos
Toca o clarim da vida…
Ao longe debanda a passarada
Já a aurora se insurge
Nos céus, um sol de alvoradas
Há vozes feitas de cânticos
No ar, um latir safado
Há lírios nos meus encantos
Crianças às gargalhadas
Despertam rios nos teus olhos
Azuis, de água marejada
É benta feita de luz
Remanso da minha alma
Maria Fernanda Reis Esteves
50 anos
natural: Setúbal
ecos vazios
vagueia a memória numa rajada de vento
até ao último suspiro, até ao esquecimento,
restam as palavras que invento.
foi a vida ora tranquila
ora triste e incerta
rotineira, e ainda assim tão fugaz
como vento que me desperta
me atira para parte incerta
de onde fugir, não sou capaz.
final tortuoso, onde deixei de ser
para apenas parecer.
e o vento murmura para si
«lamento mas esta estrada abrupta é para ti»
ecos vazios ao relento
e cá dentro, um perfume de ansiedade
e a bater, um coração de saudade.
nnuno
A VELHA
O que é a Vida?
A Vida, é uma velha muito velha,
que nos acompanha
Em todas as Eras
e tem o registro
de tudo o que somos,
tudo o que sonhamos...
o que perdemos,
e o que ganhamos.
A velha costuma
se intrometer
em nossas Vidas
sem avisar.
Ora quer nossa alegria,
Ora quer a nossa tristeza.
Diante desta velha,
temos de ter o cuidado
para não deixar ficar
o que ela tem de ruim,
mas cultivar
o Bem que ela registra.
Essa VELHA – a Vida! –
Nos ensina
a ler nas entrelinhas
o quão efêmeros são
os nossos Caminhos...
O quão amável
é deixarmos ficar
somente a Luz,
o otimismo,
e a Esperança
que o Amor vença
e a escuridão
jamais se instale
em nossos corações e Mentes...
E nossos registros
na memória desta Velha
São apenas segundos de Tempo
que irão se aninhar
na História Humana...
Como um Sonho
do qual não queremos acordar.
Saleti Hartmann
Poetisa
Cândido Godói-RS
Como uma rosa Azul
Queria ser como a rosa azul
Viver meramente um dia
Ser a tua primavera, o teu Verão
O teu Outono, o teu Inverno
Sentir a fragrância da tua pele,
Tuas mãos docemente no meu rosto
Com a macieza das pétalas azuis.
Sentir o prazer de ser especial
Somente um dia, que importa
Como a rosa azul
Afogar a saudade no sabor do teu odor
Saciar o sonho perdido num olhar ardente
Mergulhar na limpidez orvalhada
Que afaga as tuas pétalas imortais
Diluir–me na imensurabilidade de ti
Um dia, uma vida, uma eternidade.
Morrer e renascer como a rosa azul
Escrito a 2/11/08
Deus das Palavras
O escritor é um Deus das palavras.
No princípio sua imaginação transcende
as imagens que surgem em sua mente
e atravessam o firmamento do que ele entende.
Ele imagina céus em cada texto,
ele conhece terras em cada interrogação,
sente sensações em cada exclamação.
Nas trevas, ele mostra a segunda face do abismo,
nas águas, ele batiza sua criação e alivia sua sede,
diante da luz, ele faz da Lua a eterna musa do Sol.
Sua poesia une as noites frias com o calor dos dias,
as tardes chuvosas com os desertos das madrugadas,
os passados saudosos com os desejos nos futuros
e o agora vívido com as preguiçosas manhãs.
Suas composições ouvem a voz dos oceanos,
suas canções navegam com o perfume da maresia,
enquanto sonha com sua criação deitado numa rede,
naquela praia onde seus olhos conheceram o mar.
O Poeta é um Deus criador de versos.
Se ele finge, sonha ou sente, somente ele pode dizer.
Seus livros nascem iguais estações do ano,
no outono ele une as folhas escritas com seus poemas,
no inverno ele permanece entorpecido, em gestação,
na primavera ele lança as sementes nos corações
e no verão ele colhe a luz da sua manifestação.
A obra do escritor transcende sua existência,
transforma-se num legado indelével, intemporal
e permanece insigne na lembrança do seu leitor.
Saber de ti
Há cousas que não vejo e não são poucas
As outras sendo vistas só por outros
As poucas que me acendem vão-se aos poucos
Se apagam para dar a vez a outras
A pouco e pouco vou desaprendendo
Para aprender além, algo de novo
Mas sempre esqueço alguém quando me movo
E doi saber de quem me vai esquecendo
O que eu queria desta vida era saber
Escolher o que lembrar e o que esquecer
E não ter nem que perder nem que ganhar
Queria voltar atrás no tabuleiro
Deixar o jogo a meio o tempo inteiro
E saber da tua peça o teu lugar
pelo poema que és
tentei dizer de ti o ébano que voa sobre os travesseiros
de tuas mãos duas asas se oferecendo pra voar-me
tentei dizer dos teus olhos verde-cana adoçando mar
e mais do teu andar, plumas tranquilizando-me o olhar.
quis dizer-te do raiar da aurora, tua voz macia, senhora
fazendo ponte tua boca à outra margem do oceano
e do teu colo, o território pra tuas crias beberem da fonte
e do teu canto, toque de brisa a enxugar os prantos
quis dizer-te em poucas ou muitas linhas
do alvorecer às varandas de muitas tardes
nos tapetes, nas leituras sob teus olhos flor docilidade...
quis dizer das sombras do pomar
sossego de tuas mãos tão férteis
(ainda) agora
quis escrever de ti um poema, que para
meus olhos te sentirem sempre perto
mas, palavras não superam tua presença, amor e sorriso...
minha mãe, meu apoio, minha estância, meu abrigo
Trago Gôndolas Venezianas
A vida
que nunca me quis
nessa viagem que ninguém pegou
é daninha de raíz
no todo do nada que sobrou!
Fossem ventos
seriam facas que cortam o ar
fossem chuvas
seriam martelos que despregam cavernas
fossem terramotos
seriam torpedos estilhaçando o adn
fossem o que fossem
seriam esse foram que não foi
Lá longe, num canto perdido de nós
gasto, velho, enferrujado, puído
um trem repousa seus restos...
entretanto no meu olhar
perpassa como um avião
o *TGV do coração ...
LSJ, 2908201018:46 in Távola De Estrelas
* TGV (Train À Grande Vitesse)
Náufrago, deste (a)mar
No rio obscuro da vida
existe um barco á deriva
nas aguas paradas no tempo
deste tempo que se perde
na sombra das tuas brumas
O barco desliza inquieto, ávido
espera a luz do amanhecer,
onde o sol seque a humidade
que goteja perene de querer.
São tantas as gotas gotejadas
e tantas as fragrâncias exaladas
que em arrojado ondular desliza,
nas pacatas águas da vida
o barco náufrago, deste (a)mar
(E lá… )
Onde se funde o rio e o mar
na meiguice de um raio de luar
tu barco, deixarás de te perder,
descobrirás os teus velhos remos
e nos braços de um renovado ser
permanecerás firme, pungente,
neste rio que o destino
não quer ainda destruir
Escrito a 23/11/09