Poemas, frases e mensagens de FernandoPitada

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de FernandoPitada

A noite...

 
A noite está tormentosa.
O vento fustiga e espaçosa
A chuva cai copiosa.

Como ela eu me sinto,
Pois quem amo e por quem minto,
Nada por mim sente, pressinto.
 
A noite...

PENA DE MORTE - ensaio (parte 2)

 
(CONTINUAÇÃO)

- Claro, e porque não são cumpridas?
- Porque há pessoas que não as querem cumprir.
- Não é resposta, e dou-te um exemplo: um indivíduo mete-se num automóvel, entra na auto-estrada em contra-mão, por vontade própria e consciente do erro que está a cometer, provoca um grave acidente, morrem pessoas, só porque o indivíduo resolveu não cumprir a lei?
- É.
- E tu aceitas isso com naturalidade?!
- Claro que não! Ele vai ser castigado.
- Vai?! E qual vai ser o castigo?
- Sei lá... 25 anos talvez.
- Certo... e com bom comportamento está cá fora em metade do tempo!
- Talvez.
- E se quando ele sair voltar a fazer o mesmo?
- Aí, talvez lhe desse mais anos de cadeia.
- E ele a rir-se, a comer e a beber à custa da sociedade.
- Que queres Anastácio? É a lei.
- Está mal Alexandre! Mal! E o que está mal tem de ser corrigido!
- Tretas... e queres tu mudar o mundo...
- Claro! Quero morrer de consciência tranquila. Muitos me chamam de radical, mas são esses que depois querem fazer justiça pelas próprias mãos nos casos de filhos seus barbaramente violentados. Tornam-se depois, defensores acérrimos da pena de morte, nesses casos.

(CONTINUA)
 
PENA DE MORTE - ensaio (parte 2)

PENA DE MORTE - ensaio - 4ª parte

 
(CONTINUAÇÃO)

- E, se ele, quando sair, perder a cabeça novamente, e matar outra pessoa por motivos fúteis?
- Estamos a "bater na ceguinha".... – acenou para o taberneiro.
- Responde! Mais anos de cadeia? Não achas que esse indivíduo é louco? Um individuo que mata por motivos fúteis duas vezes?
- Só pode ser louco.
- Mas se matar uma só vez não é louco...
- Não! Cometeu um erro e paga por isso.
- Só é considerado louco o que mata mais de uma vez?
- Estás a confundir-me!
- Pois te digo! Todo o individuo que mata por questões fúteis ou não, que mata uma ou mais vezes, por loucura ou não, não deve viver! Loucos vivos, só os pacíficos, os não violentos.
- És mesmo radical!
- Ser radical por defender o direito à vida, é para mim um elogio!
- Quer dizer, defendes o direito à vida com a morte.
- No mundo de loucos em vivemos, assim tem de ser!
- Não concordo!

(CONTINUA)
 
PENA DE MORTE - ensaio - 4ª parte

PENA DE MORTE - ensaio

 
- É assim. Não existe meio-termo. Na vivência entre os povos não deve haver mais do que uma forma de estar. Toda a forma de pensar e de agir deve estar sempre imbuída de bondade e nada mais. - Bebeu um gole pousando o copo levemente.
Alexandre olhava-o com uma indisfarçável desconfiança.
- Acho que estás a tentar amordaçar as pessoas, a tirar-lhes a liberdade de optar.
Anastácio levantou o sobrolho.
- De optar?
- Sim. – Respondeu Alexandre, secamente, apertando o copo com as duas mãos. - As pessoas são todas diferentes. Aquilo que eu acho bem tu podes achar mal.
Anastácio fitou-o com provocação
- Achas?
- Acho!
Refastelando-se para trás, Anastácio cruzou os braços.
- Então, pensa bem e dá-me um exemplo. Alexandre sabia da experiencia de vida de Anastácio, mesmo assim jogou ao ataque - Sei lá... – rodopiou o copo - Olha, tu achares que se deve condenar à morte e eu não.Anastácio coçou o queixo, esfregou o buço.
- Repara que a condenação à morte não tem de ser uma imposição. Tem de ser uma opção. Uma opção que a sociedade entenda como castigo mais adequado para alguém que fez mal. Na sociedade injusta, imperfeita e violenta em que vivemos, as leis não são cumpridas, pois não?
- Muitas vezes não! – concordou Alexandre.
(CONTINUA)
 
PENA DE MORTE - ensaio

TODOS OS SENTIDOS FARTOS

 
Nota do autor:
Este pequeno livro de fácil e rápida leitura foi escrito alguns anos atrás e serviu entre outras coisas para me libertar.
Dedico-o, é claro, a todos que me conhecem e gostam de mim.

Abril. 1995

EXALTAÇÃO

Ó forças ocultas do mundo!
Vós, poderosos seres do infinito!
Vós, que traçais os destinos!
Olhai-me! A mim! Vede-me!
Ficai sabendo que contesto essa vossa prepotência,
Em atribuir a este mundo, não destinos mas sentenças!

Vim perdido e tentei me encontrar.
Continuo perdido sem me encontrar, sem me conhecer...
Oh! Raiva que me esgana, ódio que ferro!
Ah! Porquê? Para quê? Quando?

Viver, viver...
Idealismo utópico!
Nascer, pensar, lutar e morrer...
Dói-me o cérebro de pensar, a consciência de lutar;
Quanto à morte, mistérios? Pouco me assombra.
Não sou poeta nem quero ser.
Nem romântico nem modernista nem sequer futurista.
Nem arte eu quero fazer.
Ah! Selva do salve-se quem puder!
É a isto que tu me levas -
À apatia perante um mundo cheio de hipocrisia.
Quanto mais quero menos consigo.
Quanto mais penso mais me revolto,
Contra mim por ser como sou
De não ser como não sou.

Vivo na incerteza e na dúvida
Que o destino me deixou.
Mas o destino não morre, quem morre é o homem.
E quem mata o homem é o destino.
Já se viu tão grande crueldade?
É preciso acabar com o destino!
Abaixo e fora com o destino que amargura a vida!
Abaixo o meu destino!
Só devia haver destino para quem o quisesse...
Para quem o fizesse.

«»

Olhos! Olhos!
Olhos que não vivem.
Olhos que apenas olham.
Odeio-os!
Humanidade imbecil que deveria estar enterrada.
Provoca-me náuseas de raiva o tempo.
Busco no meu íntimo a força que me falta no momento e escrevo.
Procura dolorosa dum olhar vivo.
Olhares venenosos, cínicos, vítimas duma doença a que eu me imunizei,
Porque nunca tive medo de ser quem sou,
Porque a perfeição é objectivo a atingir,
Porque só assim vivo...
Sofro...

«»

Para todo o homem
Que conhecendo o mal,
A mentira, a injustiça e o ódio,
E nesta vida sentir o mais estúpido prazer em viver,
Para ele o meu mais repelente
Vómito de nojo!

«»

Ó artificialismo (como te desprezo)
Que como consequência directa da estupidez humana emergistes,
Para tornares o meu mundo num pote de merda,
Em que desde o mais chorudo porco ao mais escanzelado rato,
Todos erram numa tentativa frustrada de querer lamber a entranha do próximo!
Ó estupidez humana que em ti a tua hipócrita mentalidade te domina.
Ó estupidez humana que decais, que envelheces... Mata-te!
Dá-me consciência da verdade e o mundo não se tornará num pote de sangue.
Recuso o pesadelo social!
Quero consciência humana!

CONSCIÊNCIA

Só consigo ser aquilo que detesto ser.
Só tenho o que nunca desejei e, lentamente,
Vou desejando o que nunca quis,
Vou sendo simplesmente.
Tenho conseguido pelo menos,
Com uma introspecção profunda,
Manter dentro de mim o facto da incerteza do futuro
Me lembrar um pouco de esperança.
Por vezes... Ah!
Por vezes contraem-se-me os músculos!

«»

Sinto em mim um desejo estúpido de não sentir,
Uma vontade enorme de não morrer.
Estonteia-me a mente e enfraqueço - momentos
Que se escondem em volta de mim.

«»

Horas que nunca mais passam.
Ansiedade que me enlaça.
Longe de todos, dentro de tudo.
Este constante querer desde sempre obscurecido.

«»

Falta-me o ar. O pensamento hesita.
O corpo treme. Suo.
A desconexão do mundo reflecte-se no meu corpo,
E a inércia domina-me.

«»

É este caminho sem saída que sempre se me tem deparado.
É neste caminho que penso com raiva,
O porquê de a mim me enfraquecer,
O porquê de a mim me desesperançar,
O porquê dos puzzles a construir que nunca mais acabam,
O porquê deste pensar em evasão impossível,
O porquê desta minha raiva que não me deixa.
Ó humana consciência que finalmente me aprisionaste!

LOUCURA

Gradualmente...
A raiva morre;
(esperança moribunda).
O presente finda;
(esgota-se o alento).
Perco o ideal;
(descubro o descalabro).
Domínio angustiante;
(futuro decidido).
Desespero crescente;
(a solidão nasce).
Gradualmente...

«»

Vejo toda a encosta virada a poente.
Duas barreiras de vidro me separam dela e não a ouço.
Apenas as sinto geladas, intransponíveis.
Em mente passo para o lado de lá e aí as barreiras de vidro já não existem.
Subo a encosta, quero ver o anoitecer com o desaparecer do sol.
Oh! Vontade louca de subir ao cume - corro!
Oh! Nevoeiro denso que não me deixa ver.
Oh! Névoa fria que me adormece o desejo.
Perdi a noção do querer.
A escuridão envolveu-me.
Novamente as duas barreiras de vidro se me deparam.

«»

Noite drogada.
Frio...
Noite esquecida - mais uma.
Raiva!
Aperta-se-me o cerco que me irá destruir.
Perco o medo à morte.
Tenho a consciência dos extremos, conheço-os, possuo-os!
Dentro de mim eles dominam-me e levam-me a desejá-los e a senti-los
Ainda com mais fervor, levam-me a tornar-me eu um extremo,
Um extremo de loucura.
Estou farto de impurezas!
Quem me dera ser uma nascente.

FIM
 
TODOS OS SENTIDOS FARTOS

mensagem ao suicida

 
Aquilo que fazemos melhor é o que devemos partilhar.
Este “dever” apesar de nunca dever ser imoral, é-o quando nos cansamos.
A conquista de bondade faz-se dia-a-dia através do pensamento partilhado.
Mudamos o mundo para melhor primeiro na nossa pequena esfera.
O impacto que provocamos, notório ou não, é primeiro em nós próprios – “ sentirmo-nos vivos e activos à nossa medida”.
 
mensagem ao suicida

PENA DE MORTE - ensaio - 3ª Parte

 
(CONTINUAÇÃO)

- Eu entendo... mas muitos perdoariam esse crime.
- Mesmo feito com requintes mórbidos e paranóicos?
- Nesse caso não é responsável pelos seus actos, pois é um louco.
- Pois é. É um louco que estava livre e não diagnosticado. E depois do crime? Era condenado?
- Não. Era tratado num hospital apropriado.
- Óptimo! Se tivesse cura sairia em liberdade, senão, ficaria para sempre nessa clínica.
- Mas, tirar-lhe a vida, não!
- Compreendo... mas então, responde-me a isto: um indivíduo que comete esse tipo de crime é sempre um louco?
- Não estou a ver onde queres chegar...
- Serão todos os criminosos loucos?
- Depende do crime.
- Uma discussão entre conhecidos que acaba a tiro com mortes, por exemplo?
- Nesse caso pode ter sido somente um caso isolado de quem perdeu o controlo e mais tarde se arrependeu e aceita o castigo.
- Pois, só que a vitima foi desta para melhor...
-...E o culpado será punido...
-...Com os tais 25 anos, que são 12 por bom comportamento...
-...Pode ser suficiente para pagar pelo que fez.

(CONTINUA)
 
PENA DE MORTE - ensaio - 3ª Parte

PENA DE MORTE - ensaio - 5º parte

 
(CONTINUAÇÃO)

- Lá voltamos nós ao mesmo... vê se entendes. Imagina, numa festa, um indivíduo "bebeu mais do que a conta", mete-se no carro e despistou-se matando uma família que esperava o autocarro. O que dizes?
- O mesmo. O indivíduo é condenado e o seguro paga tudo.
- Quê?! - Anastácio lançou-lhe um olhar incrédulo.
Saíram ambos e desceram pela ladeira que levava à estreita ponte de ferro. O fim da tarde estava claro e o ar tinha arrefecido.
- Estava a brincar... – sorriu - o indivíduo vai preso e a família lixou-se.
- Achas bem?
- Claro que não, - retorquiu Alexandre, num último esforço de argumentação - mas o homem também não o fez conscientemente, estava bêbado. –
- Pois aí é que tu erraste! O homem bêbado nunca conduziria carro algum. Todos nós sabemos quando estamos com o "grão na asa". – Sem se deter - O que nos faz conduzir bêbados é saber que se tivermos um acidente, o máximo que apanhamos são alguns anos de "chilindró", a comer, a beber, a ler, a ver televisão, etc., etc. Mas se a lei condenasse à morte neste caso, já este homem não conduziria e tinha chamado um táxi.
- És capaz de ter razão... – disse Alexandre, enquanto atirava uma joga sobre as águas do rio.

FIM
 
PENA DE MORTE - ensaio - 5º parte