Corpo e Alma
Consegues ver os olhos que chamam por ti, mesmo quando as luzes se apagam e o meu coração pulsa na minha mão, ardendo como uma chama ensaguentada?
Consegues?
Sei que sim.Que consegues porque a tua alma rasga-se dentro de mim, ao sabor de mais um ardor, mais uma chama que nos derrete aos dois.
São os meus olhos, que penetram na tua carne como uma lamina fria, e assim meu amor, te trago para dentro de mim.
Corpo e Alma.
Chão
O Chão continua a magoar aqueles que se julgam inocentes. Continua a querer rasgar os que ainda conseguem andar, que ainda conseguem sorrir perante todos.
Quando a crueldade acabar, e todos deixaram de existir, algo ficará marcado. As pegadas daqueles que sempre tentaram, sempre se esforçaram, para não ser assim. Podre.
A Lua
A lua penetra no meu sangue
Fazendo de mim criatura da noite
Esvoaço sem o saber fazer
Toco a harpa do destino de morrer.
Ternas mãos passam no meu cabelo
Acariciam suavemente o meu corpo
Ouço a sua voz melodiosa
O meu corpo estremece de o ver.
Um sonho em mim acontece
E dormimos sob o manto das Fadas
Estranhamente unidos
Por esse laço mágico.
A Lua abençoa as nossas almas
Que se amam mutuamente
Neste sonho de outros tempos
Neste amor de outras vidas.
Rosas De Seda
Julguei,
Que eram de seda
As belas rosas que me deste,
Julguei,
Que era as mais raras
Que a mãe Terra nos pode dar.
Eram belas,
Ainda o são na minha memória,
Mas murcharam com a tua ausência,
Choraram com a minha solidão.
Rosas de seda,
Que o perfume se perdeu,
Nas entranhas da saudade,
Nos caminhos da verdade.
Perderam-se contigo,
No momento em que me deixas-te só,
Nos segundos em que me atormentei.
Rosas de seda,
As que eu julguei as mais raras,
As mais belas,
As mais trágicas.
Bruma
De olhos fechados
Sou levada
Para esse a Ilha de encantos,
Onde vagueio feliz,
Dentro da música natural
Que a Terra me canta.
Um sopro escondido
De vida,
Que nasce da bruma
E me torna mais fiel.
Nada para me amaldiçoar,
Apenas corpo e alma,
Que se juntam
Na mais pura harmonia.
Sinto o sangue a percorrer-me
Dentro de mim a Força
De ser assim
De conhecer este outro mundo,
Este outra realidade.
A música continua suavemente
A voz celestial mostra-me o caminho
A nudez de mim
Dispo-me de futilidade
Corro em direcção ao horizonte.
Alcanço o principio da eternidade
A voz celestial,
Dança ao meu lado.
Acaricia-me o corpo.
Desapareço na Bruma,
Onde nasci.
Joana Franco
Egoísmo
Um cemitério que se estende
No interior da consciencia
Aniquila a alma sonolenta
Mostra-lhe o terror de Ser.
Caminhei pelas lápides
Dos que nunca viveram
E esqueci-me de chorar por aqueles
Que nunca me conheceram.
Fui mera egoista de viver
Fixei em mim a razão de existir
O equilibrio perdeu-se
E assim a morte fez de mim alguém.
Mãos De Feiticeira
Olha as minhas mãos de feiticeira,
Quebradas pelo tempo injusto
Guardadas pelas arvores protectoras
Que ondulam na minha mente.
São estas mãos brancas
Sedentas do que já aprenderam
Em outra vida mais pura
Que te tocam a face lisa e bela
Te acariciam a alma limpa.
As minhas mãos de feiticeira
Sacrificam o próprio sangue
Pelos antigos que me lembram
Pelos novos que ainda não me conhecem,
Pela eternidade da verdade perdida,
Eu cicatrizo estas feridas,
Eu comando esta noite.
Deixa-me pensar
Deixa-me pensar
Na existência que se põe
Desassossego que floresce
Nos confins da mente.
Deixa-me pensar
Se não vale a pena chorar
Em mágoas me agoniar
No meu tempo de tentar pensar.
Mas o pensamento foge
Por entre portas e janelas
Lá se foi o meu pensar
A minha sanidade, que me estava a embalar.
Cristal
Sentia-me tão pura naquela noite
Que quase me tornei cristal.
Tanta paz me rodeava
E com toda a alma eu amava.
Sentia o coração a delirar
De saudade e de prazer
Era uma pureza sem igual
Que me consumiu toda a dor.
Cintilava sozinha no bosque
Sob a luz da mãe Lua
Tanto para descobrir
Tanto para amar.
Segui descalça o caminho da água
Tantas fadas me cantavam o destino
Tantas luzes me tornavam mágica.
Flutuei para a eternidade
Onde dancei sem nunca me cansar
Vi e provei as maravilhas
De mundos dos sonhos de crianças
De puros corações antigos.
Foi tão pura aquela noite
Quase me tornei cristal.
Joana Franco
Inocência
Hoje apetece-me ser uma menina pequena
Pegar nos meus lápis de cera
Pintar por horas a fio.
Rir dos imaginários coloridos
Chorar dos monstros debaixo da cama.
Apetece-me uma história bonita
De príncipes e princesas
Bruxas e dragões
Sonhar, sonhar, sonhar.
Apetece-me a inocência
A certeza do coração puro
Esquecer o mundo lá fora
E sozinha ser a mais feliz do mundo.
Quero que te deites no meu colo
Enquanto contamos as estrelas do céu
E se ouve uma canção bonita ao longe.
Apetece-me dar-te a mão no silencio
Perdida em sorrisos verdadeiros
Como uma menina pequena
Que não conhece o pecado
Apenas a felicidade pura do ser.
A menina que já fui um dia
Há muito tempo...
Joana Franco