~Metamorfose~
Ó meu senhor:
essas pétalas exuberantes
essas pétalas singelas
mães do brilho sedutor
donas do crepúsculo,
donas do hálito matinal,
- são hienas
que te podem comer a vida
num segundo.
Nem tudo que brilha é ouro!
~5~
antes
que a chuva
beba os rios
antes
que polvos
lavrem nuvens
no útero de deus
antes
que o sol renuncie
o pêndulo da sua caligrafia
antes de tudo:
- matar-te-ei
para que a vida te habite.
~8~
no delírio azul
das madrugadas
bebo o sangue último
das estrelas
e vejo o teu nome
renascer
nas partituras
do tempo futuro
- aurora
~6~
o poema
nasce das mãos
das formigas
da gramática dos ciclones
da linguagem do fogo
e
das lágrimas
de deus
~16~
palavra
em riste
dentro dos ossos
o fogo
azul
como os dentes
de deus
beg forgiveness
.
~14~
atira-me ao lume
tua voz acesa
habito o verão
enclausurado nas tuas veias
teu fogo
alimento meu de cada dia
teu nome
vagalume
~2~
o invisível
espelha-se na via láctea
espalha-se na voz
da mão volátil
que lacrimeja
fonemas rebolam
no peito das nuvens
ouve-se a noite
a levitar no vazio
sombras
entreolham-se pela retina
de HUBBLE
porque
o Karma
que internamente se observa
vê-se nos outros
quando por fora vê-se a si
~7~
eis a concha
da insónia
destilando o cansaço
das ruas
uma mão
cheia de vozes
e muralhas de água
despertando o orgasmo das pedras
eis o tempo
bebendo-se no frontispício do inverno
- carpe diem
~13~
fúlgido
hasteado
no plácido
asfalto
e nas áridas veias
deste idioma sideral
- o sol
a primitiva lauda
do cosmos