Poemas, frases e mensagens de João Videira Santos

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de João Videira Santos

2015 / 2016 - Exposições no Brasil

mal me quer

 
meu bem, meu mal
meu mal me quer
de bem querer...

mal me quer,
bem me quer,
muito,
pouco,
nada...

muito quero,
pouco tenho
por bem querer
e mal haver...

mal me quer,
bem me quer,
muito,
pouco,
nada...
 
mal me quer

paredes (graffitis)

 
paredes  (graffitis)
 
paredes…

altares de gritos,
desordenados graffitis
de caracteres e letras...

memórias cravadas,
raivas pintadas,
cores dispersas,
diversas,
repúdios, apelos,
murmúrios…

paredes…

cansadas, magoadas,
com riscos, com traços,
grafias,
com imagens, fantasias…

paredes...

rostos urbanos,
danos,
onde o aviso é mensagem
e a arte tem cor
no canto da vida…
 
paredes  (graffitis)

numa lágrima de sangue...

 
numa lágrima de sangue

destilei a dor,

a mágoa e o sofrimento,

a palavra...amor!
 
numa lágrima de sangue...

existo!

 
no cansaço das mãos...desenho-me!

dou traço ao espirito,
desenho a revolta.

na fadiga da ideia,
ensaio o grito
e berro...

existo!

João Videira Santos

com registo na SPA
 
existo!

palavras, pensamentos...

 
palavras inteiras,
fragmentos do desejo...

pensamentos copulados
no espaço dum beijo...

nós, enfim!

libertos, acontecidos!

de amor feitos,
de amor feridos
em prosas do fim...

João Videira Santos
 
palavras, pensamentos...

raiva

 
a raiva
é um grito
que se guarda no fole.

um grito dito
sem que a verdade se esfole.

João Videira Santos

com registo na SPA
 
raiva

bebo, trago-te...

 
bebo de ti a excelência,

as palavras que cravas na insónia,

as noites que trazes perdidas,

os vazios sem história...

trago-te de um só gole,

na ânsia de querer,

do vazio em que te perdes,

do amor em que te acho.

João Videira Santos

com registo na SPA
 
bebo, trago-te...

paradigmático...

 
deslizas pelos patamares dos degraus como se nos confins da escada estivesse a porta aureolada da fantasia...

debicas com beijos a arquitectura do corpo como se fosse guloseima em dia de festa...

rezas na cruz do suplicio sabendo que a constelação de Maria Madalena, tem mais almas no anonimato do pecado...

calas a voz na descrição da transparência sabendo que o circulo da glória é restrito e nele não tens cabimento...

pensas, murmuras e por fim, calas, pois sabes que, na despedida dos adeuses, não há lenço que te acene no imaculado da cor...

(...quando escrevo parágrafos como estes, não há enigmas
que me iluminem, nem raios que me partam...)

João Videira Santos

com registo na SPA
 
paradigmático...

o que dói...

 
o que dói não é a ausência,
mas sim, a sombra da tua imagem...

a sensação da espera,
a angustia do vazio,
a complementação dos olhares,
a ilusão dos orgasmos...

o que dói não é a ausência,
mas sim, o saber-te longe
quando, tão perto, a sombra distorce
a linha do imaginário...

João Videira Santos

com registo na SPA
 
o que dói...

mensageiro

 
canta mensageiro
as trovas da tua terra.

rasga-me silêncios
e dá-me novas,
fére-me a carne
e dá-me provas,

de que teus cantos
não são demais,
de que teus prantos
não são punhais.

João Videira Santos

com registo na SPA
 
mensageiro

o protesto

 
amordaçaram
a verdade

calando
minha voz,

o rio
como protesto

já não desagua
na foz.

João Videira Santos
 
o protesto

é por ti (poesia)

 
é por ti que minhas mãos voam e os dedos doem...

...que na enganadora sensatez
sonho e escrevo
vivendo a alegria,
a tristeza.

é por ti que cruzo horizontes e chego além
onde o olhar curva
e a palavra se distancia...

é por ti que tiro mordaças,
que rasgo a carne,
que bebo o sofrimento,
que venço a mágoa,
que cruzo o mar
que no perfume da maresia
ultrapasso cinzentos
e escrevo...poesia.

João Videira Santos

com registo na SPA
 
é por ti (poesia)

uivam os medos

 
uivam os medos no insonoro medo que teatraliza o receio…

dante sorri por detrás das máscaras…

flácido, velho, o infinito aproxima-se na delinquência da distância…

quantos bálsamos de apelo curam a dor,
a ausência que glorifica os espaços…

é neles que as trevas alimentam o desespero,
os vazios indefinidos da forma,
os traços longuílíneos que distorcem a sombra…

uivam os medos no insonoro medo,
cai o pano na comédia divina do espanto…
 
uivam os medos

bebo...

 
bebo...

no verbo a luxuria,
a primeira pessoa.
o singular,
a nostalgia...

bebo...

mato a sede indecifrável,
a secura que cicatriza,
o encanto do silêncio...
a sombra que atravessa,
o plural que espiraliza...

bebo...

inundo o fictício, a realidade,
o descusturado, o inverso que escrevo...

bebo, afogo-me...

João Videira Santos

com registo na SPA
 
bebo...

na língua do silêncio...

 
na língua do silêncio,
duas palavras...

amor, desespero...

moribundas, sofridas,
ambas transmutam
a dor do poema,

a magia que torna real
o colapso do tempo,

a espera súbita,
a loucura desejada,
a solidão suicida,
a morte cadenciada...

João Videira Santos
 
na língua do silêncio...

és

 
és por inteira,

na alma desbravada,

verso de amor primeiro,

prosa lida por dentro,

vida do meu dedilhar...

João Videira Santos

com registo na SPA
 
és

entretanto...

 
a língua mordia o desejo,

a boca engolia a loucura,

o amor fantasiava.

o fim, pelo fim esperava.

João Videira Santos
 
entretanto...

deusa e deus

 
rasgarás o ciúme na pálpebra do olhar amassando a raiva na desconfiança;

comerás os fígados do fel e no desespero do azedume gritarás pelos luares extáticos;

serás deusa dos sombrios e nos medos serás estátua na luz movediça...

eu, qual solarengo deus, serei a trégua,

o recuo da guerra,

o amedrontado lacaio,

o assírio da regra,

a errância da semente,

o vento despedaçado na frágua...

João Videira Santos

registado na SPA
 
deusa e deus

no café de fernando pessoa

 
o vazio imenso...

...e ele ali, especado em memórias dum tempo que foi seu.

a floresta de mesas esperando que a artilharia de pratos, copos e talheres seja usada...

...o embaraço da escolha gulosa do menu diverso e convidativo...

...as lembranças penduradas esperando que os olhos as desvendem...

...o teu olhar absorvendo esse tempo, venturas e desventuras do poeta, interrompido pelo consecutivo "olha p'ra mim" que capto em cada flash...

... dir-se-ía que os relampejares instantaneos de cada foto perpetuam o momento que, fotografado, já pertence ao passado...

...a conversa diluída no tinto alentejano que fantasia e acaricia o baco de todos os paladares...

...o almoço deglutido em mais um guloso bacalhau, olhado de frente pelas lulas que para mim escolhi...

...a conversa amassada na mais completa satisfação pela permuta de ideias e de pensares dispersos na harmonia
de quem canta a mesma canção...

...e ele, o poeta, ali, afixado na parede, depois de tantas tardes trovadas no silêncio da inspiração...

...quantos aparos não desenharam as mais belas palavras e quanta tinta não as tingiu de dor e sofrimento...

...o poeta morreu, mas as palavras, essas renascem em cada livro em que se liberta...

...o almoço no fim, o tempo urge, o sol rompe a vidraça, o adeus apressa-se...

...o martinho da arcada, ali no terreiro do paço, em lisboa, despede-se de nós. o poeta, esse ficou. ele imortaliza os lugares por onde se sentou e os muitos cafés que ali bebericou, enquanto a sua escrita, dolorosamente, sofria...

...e nós, tu e eu, com tantas coisas ditas e tantas outras por dizer, deixamos que o baú do tempo as guarde para novas
memórias...

...o futuro é incerto, mas se estiver por aqui e o reencontro for possível, voltaremos ao passado trilhando caminhos, fazendo sementeira para novas colheitas...

...lembrarei as horas de nós como momentos eternos na rectrospectiva da amizade...

...então, sózinho, olharei a saudade e direi para mim:

-Helena, valeu!

...pelos risos escancarados,
pelos momentos descontraídos!

(...e aqui deixo a promessa de que vou escrever a "tal" peça para os teus amigos de Curitiba!)

João Videira Santos

para Helena
irmã de desditas,
companheira de ideias,
mulher e mãe de afectos.
 
no café de fernando pessoa

engrenagem...

 
somos máquina no gélido cobertor da sociedade,

engrenagem,

rotina duma azáfama desmedida...

somos tudo,

menos sombra da nossa identidade...

com registo na SPA
 
engrenagem...