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Travestido

 
A procura tortuosa
Da parte afastada de mim,
Da metade fugaz da minha alma
Promovida a porto-seguro
Pela empírica noção deturpada
De felicidade,
Guiava-me em campos coloridos
Numa busca por algo
Tão distante de mim
Quanto à espessura que separa
A Terra e o Firmamento.

E diante de um bosque,
No emaranhado de cores e perfumes,
Encontrei o que procurava
Justamente na ausência...
Na única rosa branca,
Que destilava sua indiferença
Na opacidade da sua figura.

Tomado de um júbilo tenaz
Agarrei-a em minhas mãos.
Embriagado da sobriedade dos amantes
Sentia a eternidade transcendental do efêmero,
Vendia a liberdade das minhas mãos
A suavidade do seu toque.

Ignorava o corte dos espinhos
Que penetravam a carne impiedosamente,
E sorria ao gotejar de sangue entre os dedos.

Caminhava sobre a linha tênue
Da dor e do espasmo.

Sufocava-a com a delicadeza
Característica da obsessão
Até esgotar a última gota de vida
E soltá-la ao chão
Com marcas profundas em mim,
E repudiando a existência insignificante
Da rosa...


"A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito." Manoel de Barros

Poema republicado com outro título.
 
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Cleber
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Enviado por Tópico
Egéria
Publicado: 04/11/2009 14:08  Atualizado: 04/11/2009 14:08
Usuário desde: 28/09/2009
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 Re: Travestido
FAVORITO.
BELO POEMA...PARABÉNS!!
BJS