Poemas : 

O presente dos deuses

 
Tags:  coração    religião    revolta    duvida  
 
Catequiza-me os sonhos,
Catequiza-me os desejos,
Rotula-me os sentidos
Mantém a fé atrelada em meus dedos.

Enforca-me de justiça,
Sufoca-me com o carinho da sua disciplina,
Retem a solidária preguiça
e crava minha alegria a essa infeliz rima.

Rouba-o de uma vez
Arranca-o do meu peito com a sua mão
Espreme-o até a última gota de sua acidez

Se ainda me tens por afeição.
Porém, se não toleraria minha insensatez,
Porque brindaste-me com um coração?


"A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito." Manoel de Barros

 
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Cleber
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Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 16/12/2009 18:47  Atualizado: 16/12/2009 18:47
Colaborador
Usuário desde: 29/10/2008
Localidade: guimarães
Mensagens: 7238
 Re: O presente dos deuses para cleber
boa pergunta.ainda bem que existem os pecados.alguns até livres de culpa.mas alguma disciplina até que é boa.olha aí esse poema...ficou lindo assim preso à rima.

beijo,
alex


Enviado por Tópico
vanriz
Publicado: 16/12/2009 19:21  Atualizado: 16/12/2009 19:21
Da casa!
Usuário desde: 19/10/2009
Localidade: São Paulo - SP
Mensagens: 437
 Re: O presente dos deuses
Cleber!
Me chamou muita atenção esse teu poema! Me parece robusto e sensível, com duvídas e com certezas!
Apreciei demais!
Sabes colega, esse presente que todos ganhamos, jamais será terra alcançada, mas será sempre descrita com belos poemas!

Abraço!


Enviado por Tópico
Margô_T
Publicado: 23/07/2016 16:30  Atualizado: 23/07/2016 19:58
Da casa!
Usuário desde: 27/06/2016
Localidade: Lisboa
Mensagens: 308
 Re: O presente dos deuses
catequizar, rotular– verbos de abrandamento e controlo;
versus enforcar, sufocar, cravar, roubar, arrancar, espremer – verbos que exprimem acções agressivas, movimentadas.
Começando com os primeiros, mais brandos, vai havendo um acréscimo de intensidade no poema à medida que este se aproxima do que, palpitando, nos faz viver. Porque, só “roubando-o”, “arrancando-o”, “espremendo-o até a última gota de sua acidez” se poderá obter o que acima se descreve.
Porém, de que nos servirá tudo isso se a “insensatez” é própria do Homem e da fonte de comoção que nos faz viver? Um presente destes quer-se pleno porque só com ele poderemos ter a doce ilusão de, por vezes, termos um não sei quê de divino, de intemporal.