Crónicas : 

A little pain in the ass

 
Para quem não entende o título eu traduzo: “uma dor fininha no cu”.


Já não sou muito novo nestas andanças de luso, já cá estou há quase 3 anos, lembro-me que quando entrei havia discussões acaloradas no fórum, nos espaços destinados aos comentários, discussões essas que extravasavam o próprio site e tinham continuação nos mails, telefonemas, etc. discutia-se por tudo e por nada, uns porque achavam a Espanca a melhor poetisa viva e outros que diziam que ela já tinha morrido, uns que diziam que a lua era a verdadeira inspiradora da poesia, outros que era o camelo do primeiro ministro, mas discutia-se, às vezes até acaloradamente com promessas de atravessar o país para deitar portas abaixo ao pontapé. Isto é próprio de sítios destes onde tantas vaidades se esbarram como os carrinhos de choque das feiras populares. O Orfeu, revista onde lídimos escritores hoje elevados à condição de (quase) santos escreveram, foi palco muitas vezes de poemas cuja subjectividade mais não era que ataques aos colegas de publicação. (aquilo era assim a modos que um luso da época) onde pontificavam Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, entre outros. Já para não falar das reportagens que o Camilo escrevia no antigo e extinto “1º de Janeiro” a atacar em jeito de critica os escritos do Eça.
Quer queiramos quer não esse surrealismo da crítica suez está sempre presente em realidades como esta, quer na escrita quer noutro género de arte. No nosso caso é de escrita que falamos e aí a porca torce o rabo porque para muitas basta escrever uns gatafunhos que já se pode chamar escrita, ainda que esses gatafunhos (algumas vezes) sejam copiados ou vá lá (como eles gostam de dizer) inspirados em gente que já não tem nada a provar a ninguém e há muito se libertaram das leis da morte pela sua genialidade. Não podemos ser todos génios, mas nem por isso vamos ser todos burros.
Honestamente eu ando a ficar petrificado com o caminho que este site está a levar, com as hordas de gente que está a chegar além e aquém mar sem qualquer tipo de virtuosismo ou sequer com vontade de aprender. Até pela aragem se vê quem vem na carruagem, ele é cada “nick name” de bradar aos céus autentica publicidade da imbecilidade pura que ostentam, uns que amam Jesus, outros com nomes místicos de divindades e até dos axés lá do sitio deles. Só vos digo que é preciso paciência de Job, (esta tirada é para os apreciadores de referencias religiosas). Só para dar um exemplo o dia da mãe aqui em Portugal foi no passado dia 02 deste mês, facto que se notou amplamente no luso e eu fiquei a saber ontem que esse dia se celebrou lá no Brasil…Ontem (até houve um que cometeu um de(s)lize). Fantástico não é? Assim sem perguntar a ninguém, mas foi tal a profusão de poemas à mãezinha deles que eu vi logo. Pois é, e é este tipo de coisas que me provoca as tais dorezinhas no dito cujo. Vejo este site prestes a entrar pelo ralo, neste momento está naquelas voltas tipo poço da morte que o urubu mal cheiroso costuma fazer antes de se precipitar no buraco com um “plop” arrastando a água do autoclismo (não sei como se diz em brasileiro!) atrás de si.
Eu não sou de embandeirar em arco e dizer que me vou embora, mas como muitos vou-me afastando aos poucos porque sinto que o espaço já não é meu. Não deixo de me admirar sempre que cá venho com a pobreza intelectual que grassa no site para não falar dos erros ortográficos que vieram para ficar e cada vez mais me interrogo se quero ter alguma coisa a ver com algumas pessoas que pululam por aqui e fazem disto a sala de estar sem qualquer tipo de respeito pelas conveniências e pelo decoro intelectual que deveriam ser apanágio de um sitio destes, se não se respeitam que respeitassem pelo menos os outros.
Não, não bato com a porta mas vou saindo…
 
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jaber
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Enviado por Tópico
Moreno
Publicado: 10/05/2010 20:59  Atualizado: 10/05/2010 20:59
Colaborador
Usuário desde: 09/01/2009
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Mensagens: 3482
 Re: A litle pane in the ass ao jaber
ontem houve poesia em guimarães, na praça da oliveira, dita pelo actor antónio durães. um evento inserido nas comemorações do dia da europa. aquando da passagem pela poesia lusa, disse este poema de jorge de sena.

A Portugal - Jorge de Sena

A Portugal

Esta é a ditosa pátria minha amada.
Não, nem é ditosa porque o não merece,
nem minha amada, porque é só madrasta
nem pátria minha, porque eu não mereço
a pouca sorte de ter nascido nela.
Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
Quanto esse arroto de passadas glórias.
Amigos meus mais caros tenho nela
Saudosamente nela,
Mas amigos são por serem meus amigos
e mais nada.
Torpe dejecto de romano império,
Babugem de invasões,
Salsujem porca de esgoto atlântico,
Irrisória face de lama, de cobiça e de vileza,
De mesquinhez, de fátua ignorância.
Terra de escravos, de cú para o ar,
Ouvindo ranger no nevoeiro a nau do Encoberto.
Terra de funcionários e de prostitutas,
Devotos todos do Milagre,
Castos nas horas vagas, de doença oculta.
Terra de heróis a peso de ouro e sangue,
E santos com balcão de secos e molhados,
No fundo da virtude.
Terra triste à luz do Sol caiada,
Arrebicada, pulha,
Cheia de afáveis para os estrangeiros,
Que deixam moedas e transportam pulgas
(Oh!, pulgas lusitanas!) pela Europa.
Terra de monumentos
em que o povo assina a merda
o seu anonimato.
Terra-museu em que se vive ainda
com porcos pela rua em casas celtiberas.
Terra de poetas tão sentimentais
Que o cheiro de um sovaco os põe em transe.
Terra de pedras esburgadas,
Secas como esses sentimentos
De oito séculos de roubos e patrões,
Barões ou condes.
Oh! Terra de ninguém, ninguém, ninguém!
Eu te pertenço.
És cabra! És badalhoca!
És mais que cachorra pelo cio!
És peste e fome, e guerra e dor de coração!
Eu te pertenço!
Mas seres minha, não!

Jorge de Sena - A Portugal, Quarenta Anos de Servidão, Lisboa 1979


"Terra de poetas tão sentimentais
Que o cheiro de um sovaco os põe em transe."

um abraço





Enviado por Tópico
JoséCorreia
Publicado: 10/05/2010 21:01  Atualizado: 10/05/2010 21:01
Usuário desde: 17/03/2009
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 Re: A litle pane in the ass
Jaber, não batas com a porta, assim não a preciso abrir.

Abraço


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 10/05/2010 21:08  Atualizado: 10/05/2010 21:08
 Re: A litle pane in the ass
Para além do texto ser de uma lucidez a toda a prova, mostra-me aquele que eu conheço e de quem sou amigo.
Não vás saindo, que vais ver, há já meia dúzia a fazer-se de vítima por este texto.
E é isso que não me faz sair daqui.
Como carraça, carraças! (1)

(1) do moreno...

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 10/05/2010 21:30  Atualizado: 10/05/2010 21:31
 Re: A litle pane in the ass
Meu caro amigo, que belo texto, uma escrita impecável. Contudo me senti um tando constrangida, pelo fato (aqui escrevemos FATO, não FACTO) de ser brasileira e estar num site direcionado ao público português! É verdade que em todo brasileiro há um resquício de sangue lusitano, como tenho verdadeira admiração pelos poetas portugueses (não poderia ser diferente) me inscrevi neste site e este texto, vindo de um dos meus primeiros favoritos, me deixou constrangida. Tão bem escrito, tão pungente! Continuarei a ler seu extraordinário trabalho, estarei a aprender como ele (aqui no Brasil, em "Brasileiro" seria apendendo com ele)
Abraços
Monica



Enviado por Tópico
HelenDeRose
Publicado: 10/05/2010 21:36  Atualizado: 10/05/2010 21:37
Usuário desde: 06/08/2009
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Mensagens: 2022
 Re: A litle pane in the ass
Olha, eu tenho até medo de comentar vc...rs. A última vez que fiz isso, meu perfil foi retirado do site...rs.

Será que o Trabis está de férias??? Cadê o moço?

Ainda bem que não se pode atirar de verdade aqui...rs...

Aqui no Brasil, dor fininha no cú é indício de hemorróidas....hahahahaha....varizes no esfincter....rs....



Enviado por Tópico
Maria Verde
Publicado: 10/05/2010 22:46  Atualizado: 10/05/2010 22:47
Colaborador
Usuário desde: 20/01/2008
Localidade: SP
Mensagens: 3489
 Re: A litle pane in the ass
Oi Jaber,

Eu cheguei no luso um pouco depois deste tempo áureo!
sempre achei que o luso é uma casa de aprendizado e é. Para quem quer, para quem enxerga frontalmente sua telinha branca e seu teclado com criticidade, muito embora a vaidade nos traia, o bom senso deve prevalecer, principalmente para quem põe a literatura em primeiro plano.
Há de tudo por aqui, acho que sempre vai haver. Assim como nos grupos de bairro, das igrejas, das associações... há realmente de tudo por aqui...!
Assim, na primeira pessoa: Creio que sei escrever e na verdade ando à léguas de distância, morrendo de sede. Creio que sei criticar, mas na verdade termino escrevendo porcaria também, morrendo de fome... são momentos “a ema gemeu no tronco do juremá” (não sei como se diz na língua lusófona).
há muita razão em sua dor... rs
achei legal o que a MGTCS falou.

abraço!



Enviado por Tópico
Vera Sousa Silva
Publicado: 10/05/2010 23:26  Atualizado: 10/05/2010 23:26
Membro de honra
Usuário desde: 04/10/2006
Localidade: Amadora
Mensagens: 4098
 Re: A litle pane in the ass
Eu estou aqui
Gosto, gosto e gosto do teu texto! Muito mesmo!
A verdade é que não bato com a porta, mas vou saindo. E o tempo que andei longe (nem sei quanto foi), não mudou nada por aqui...
Eu estou aqui... Mas vou saindo... Ou somos fortes e unimos-nos e vamos ficando e escrevendo umas coisas, ou vamos saindo...

(eu não ando a dizer coisa com coisa)


Beijo grande


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 10/05/2010 23:29  Atualizado: 10/05/2010 23:31
 Re: A litle pane in the ass
é por isso que quando estou feliz; eu bebo. e quando vejo cagadas no site ao invés de no 'vaso sanitário'; bebo mais ainda, de desgosto. nem dá pra notar, finjo sobriedade. afinal sou um fingidor. mas não finjo ao afirmar agora que concordo em pleno com o seu texto, principalmente com os parágrafos finais. também não costumo bater com as porta, saio de 'fininho' só que por motivo diferente; e sem ter nada a ver com dorzinha no esfincter. é que sempre esqueço a chave.rss
fraterno abraço, xará.

zésilveira


Enviado por Tópico
Paulo Moraes
Publicado: 10/05/2010 23:43  Atualizado: 10/05/2010 23:43
Muito Participativo
Usuário desde: 05/12/2007
Localidade: São Paulo
Mensagens: 55
 Re: A litle pane in the ass
Olá brilhante poeta...
Passando por aqui num rapido pit-stop não podia deixar de ler este texto. Interessante a parte onde se lê..."não podemos ser todos genios, mas nem por isso vamos ser todos burros".
Então para começar....Little se escreve com dois "tês" e dor em inglês é "pain" ,não "pane".
Acho que devo contribuir com o amigo poeta na erradicação da burrice no site.
Abraços