Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 006

 
Tags:  Marcos Loures Sonetos  
 
501


A noite é nossa e nada impedirá
Que seja sempre assim a vida inteira,
Eu quero o teu desejo, venha cá
No amor que é trilegal, nossa bandeira.

Deixando estas invejas pra lá. Bah!
A gente sabe a força verdadeira
Que todos os problemas vencerá
Sem bala nem fuzil, sequer peixeira.

Os gomos; vou comer da bergamota
Até matar a sede, além da cota,
Delícias em delírios, todo dia.

Vem logo que uma noite não é nada
A rosa deve ser despetalada,
O templo do prazer? Em ti, guria...


502

A noite em esperança tênue e pálida
Transporta um sentimento amargo e vário,
Embora uma emoção às vezes cálida
Demonstra quanto o amor é necessário

A mão que tantas vezes foi inválida
Regendo o coração, velho templário
Permite uma ilusão feito crisálida
Cristalizando um sonho solitário.

Vagando qual noctâmbulo nos bares
Esquinas, ruas becos, sem destino.
Bebendo os raios claros dos luares

Melancolia chega e toma forma,
Olhando o rosto amargo eu já me inclino
E esta esperança, agora se deforma...


503


A noite em mil estrelas decorada
Formando uma tiara em belo céu,
Cobrindo tua pele bronzeada
Adoça com vontades pão de mel,

A boca tão gulosa apaixonada
Sorvendo em fantasia rasga o véu
E deixa na beleza desnudada
Desejo de galopes. Sou corcel.

Vencendo a timidez bebo o perfume
Que nesta insensatez exala a rosa.
Entregue a tal prazer, voluptuosa

Mulher que me conquista em cada dia,
Acende em meu caminho um raro lume
Entorna de passagem, poesia...


504


A noite em plena festa, uma criança
Brincando de ciranda com a lua,
Meu verso, no infinito já se lança
Trazendo tanto brilho para a rua.

Infância que carrego na lembrança
Enquanto a brincadeira continua,
No peito, uma zoeira, uma festança
Minha alma delicada assim flutua.

Convite pra folia, com prazer,
É tempo- fui feliz- de reviver
O gosto açucarado da alegria.

Venha logo que a gente quer sonhar,
Girando o carrossel irei chegar
Ao encantado reino: fantasia!


505

A noite em plenilúnio, mansa e pálida,
Deleita-se contigo, deusa nua.
Lúbrica fantasia de crisálida
Que em sonhos se entregando, já flutua.
Deitando num remanso, doce e cálida,
Temerosa pressente e enfim recua.

Amar é se entregar, louco sacrário,
Fazendo de outro corpo o seu altar.
No beijo que procura, senso vário,
Derrama-se em deleites ao luar.
Na cama ensangüentada, seu sudário,
A fome e saciedade a se buscar.

Refém deste desejo que a domina,
Mulher incandescendo uma menina...

506

A noite em que comigo saciar-te
De beijos e carinhos, insensatos...
Vontade de cobrir-te e de tocar-te
Nossos lençóis à beira dos regatos,
Cenários multicores, e com arte
Servirmos nosso amor em finos atos.

Neste aconchego doce de teus seios,
No infinito imenso de nós dois,
Descer os rios, braças, leitos, veios,
Sem perguntar sequer se talvez, pois,
Falando pelos beijos, outros meios,
E descansarmos juntos bem depois...

Eu te amo, minha cara companheira,
Te quero do meu lado a vida inteira...


507

A noite em que comigo tanto faz
Potente maravilha em sol e canto
E neste delirar o que garanto
Deveras dita um passo mais audaz,
E nisto cada ponto satisfaz
O todo mais além e assim me espanto
Do mundo se mostrara em novo encanto
E o caos já se deixara para trás.
Esbanjo fantasia aonde eu pude
Não devo relutar, porquanto a luta
Esvai a cada instante em glória plena
E a vida de tal forma agora acena
Que o coração decerto não reluta


508

A noite em serenata e violão,
Preparo para amada meus segredos,
E tento demonstrar numa canção
Embora o desajeito dos meus dedos...

O som que sempre tento transportar
Na letra, estonteante, meu desejo.
Deixando minha mente me levar
Mandando a melodia como um beijo...

Eu quero te encontrar ó minha amada
Vivendo essa repleta tentação,
Sentindo em tal vigor noite inflamada,
Inteira madrugada de emoção.

Eu quero teu amor, lua de prata,
Nos olhos de quem amo, em serenata!


509


À noite em terrível algazarra
Dois cães que se procuram e se lambam.
Amor unindo forte numa agarra,
Em grunhidos prazeres se descambam.

A lua é testemunha desta cena
Apenas o luar inda passeia
Na noite que em desejos já se acena,
Deitados sob a lua, bela e cheia;

Dois párias que se irmanam num só gozo,
Causando inveja à turba de infelizes
Que pensam ter poder, mas caprichoso
O amor não sabe cores nem matizes.

É bicho desgrenhado e sem pudores,
Dá-se a quem se esquece dos temores...



510


A noite emoldurada na janela
Tecendo com estrelas um tapete.
Nas franjas maviosas desta tela
O olhar de minha amada se reflete.

Com estrelas, cometas, branca lua,
Num sonho tão incrível, mergulhei.
Espalham claridade pela rua
No quadro mais bonito que sonhei.

Em fogos de artifício amor doideja
Invade cada canto desta casa.
Amor que tão dileto se deseja;
Acende neste quadro intensa brasa.

Sem medo da tristeza que me ronda,
Sou nauta que, em teu corpo, lança sonda...


511

A noite enamorada perde vinco...
O mundo se restou no velho eclipse,
A morte transportada num elipse
Quem fora despertada fisga finco...

Agindo na defesa contra-ataca,
Não merece desprezo nem merenda.
Dos valores convertes em pataca
A perda não contrai a reprimenda...

A noite enamorada nada agüenta
Falaz me desprezando faz a fala.
Ardida se delira qual pimenta,

A noite enamorada foi mentira.
A queda transbordando nova escala.
Na colcha de retalhos cada tira...


512


A noite engole as horas, guerra e paz.
Adormecendo em berços de crianças
Devolve em nossos sonhos, esperanças
Tornando-me decerto mais falaz.

A sorte em pirilampo já se faz,
Amanhecendo importo outras lembranças
De festas, fogos, risos, gozos, danças
Aonde com certeza, fui audaz...

Beijando tantas bocas, loucas fúrias
Bacantes e delícias, mil luxúrias
Sem medo do sofrer e até da morte.

Distante dos meus medos e fracassos
No gosto de teu gozo, teus abraços
Que a noite sempre venha e me transporte...



513

À noite entre as estrelas e os cometas
Os grilos estrilando no jardim,
Eu peço encarecido que prometas
Amor que tanto quero. Pois sem fim.

Em cores variadas, nossas flores
Regadas com carinho e com afeto,
Crisântemos e lírios, monsenhores,
Porém amor perfeito, o predileto

Não nasce tão somente no canteiro,
Está decerto aqui, junto comigo.
É feito em sentimento verdadeiro

Cuidado com esmero todo dia,
Da flor iluminada um manso abrigo
Na perfeição que é feita de alegria...


514

À noite entre gemidos e torturas
Delitos cometidos dor e gozo.
Vadia qual cadela tu procuras
Caminho ensandecido e mavioso.

Suplicas por carinho em tuas juras,
Rastejas entre açoites. Belicoso
Delírio em que mostram tais loucuras,
O fogo derramado, prazeroso.

Tu lambes os meus pés, escrava e serva,
Bebendo do meu leite em sal profano.
Meus dedos te penetram sem reserva

E sangras gotejando o teu rocio,
Deitada sob os pés do soberano
Que insano te maltrato e acaricio...


515

À noite entre guitarras, melodias,
Dançamos nossos corpos, busca intensa.
A lua sobre a areia, plena, imensa,
Permite que voamos fantasias...

Nós dois, entranhados de magias
Nesta deliciosa recompensa
Da noite que se vai e em nada pensa,
Deixando bem distantes, agonias...

As marcas desenhadas nesta areia,
Por certo as ondas levam, as marés...
Depois nada encontrando, quem rastreia

Não verá mais vestígios. Nada mais...
Mas a marca das pegadas , nossos pés
Testemunhas do amor que sei demais...


516

A Noite entre magias e delícias
Deitado sobre os sonhos, minha vida.
Se não vierem horas, em carícias,
Eu Quero te sentir, em mim, perdida...

Eu Quero uma surpresa a cada canto,
Um pensamento assim, mais libertário.
Entre tantos os quais sempre me encanto,
O sonho de viver neste cenário...

As Íntimas lembranças, cruzam sonhos,
Os Sonhos que não mais poderei ter.
Relembro mais detalhes, são medonhos,
Mas sangram nosso amor, nosso viver.

Na viuvez em vida que restou,
Certeza desta lua, que brilhou...



517

À noite entre poltronas, almofadas,
Convites ao prazer em cada gesto.
Delírio que ao desejo sempre empresto,
Mulheres são somente deusas, fadas...

No velho palacete, demonstradas
Belezas que em vontades eu atesto,
Deixando para trás um ar funesto
Das noites solitárias, nas calçadas..

Ao fundo desta cena eu já te vejo,
Olhando nos teus olhos, sem ter pejo,
Mergulho no horizonte deste sonho.

Um único momento bastaria
E então ao me render à fantasia
Um quadro fascinante, enfim, componho...


518

À noite esta pantera tão gulosa,
Não cansa de querer já se fartar,
Delícia que se faz voluptuosa,
Chegando sorrateira. Devagar.

O vestidinho curto, cor de rosa,
O vento faz questão de levantar.
Desfruto do prazer enquanto goza
A deusa tão safada a se mostrar.

De todas as maneiras que se prove,
A moça quer a festa assim completa,
Começamos com esse meia nova

Conosco, meu amor não há quem pode,
Comida saborosa e predileta,
Quer barba, quer cabelo e quer bigode..


519


A noite está propícia para a festa
Que toma meus sentidos e permite
Loucura que não sabe mais limite
E tudo o que se quer é irmos nesta

Enquanto a poesia tudo gesta,
No bem que a gente sonha se acredite,
Desnuda do meu lado, uma Afrodite,
O coração em chamas desembesta...

Atento aos teus desejos; obedeço,
E não pergunto nada, vou inteiro.
O paladar, o tato, a voz e o cheiro,

Mirando tal beleza (não mereço)
Estrelas derramadas sobre o chão,
Forrando com teu brilho, o barracão..



520


A noite está tão fria sem te ter...
A chuva vai caindo lentamente,
Quem sabe meu amor pudesse ver
A dor que me transtorna, totalmente...

Se a chuva perceber o bem querer
Trazia a minha amada novamente.
As águas alagando vêm dizer
Que nada me fará bem mais contente...

Meu sofrimento aumenta com a chuva
Que não respeita nada nem ninguém,
A porta escancarada... A visão turva...

Saudades deste bem, que foi enfim,
Razão da minha vida. E sem ninguém,
A chuva não termina. Chove em mim...


521

A noite está tão fria... A chuva cai...
Saudade toma conta e não me deixa.
A vida num segundo já se esvai,
Não resta nem sequer a simples queixa.

Não consigo entender por que partiste
Deixando este vazio dentro em mim...
Meu coração tão frio, está mais triste,
Por que terá, Meu Deus, de ser assim?

A chuva continua bem mais forte,
Trazendo tal angústia, que é infinda.
O frio me tomando lembra a morte.
E a dúvida terrível não deslinda.

Daria tudo, amor, para saber,
Onde e com quem desfrutas teu prazer...

HOMENAGEM A TITO MADI


522


A noite iluminada te trazia
Aos braços que esperavam, tão ardentes.
A vida num momento reluzia
Meus olhos explodiam, mais contentes.

A graça de te ter junto comigo,
O verso que cantava meu amor.
Durante todo o tempo que persigo,
Encontro em meu caminho, bela flor...

Eu quero me entregar tão cedo e tanto,
Sentir dos teus carinhos, os favores,
Tramar nas madrugadas, os cantos
E mergulhar nas águas dos amores.

Que louvam esperanças, e ventura,
Amor que me clareia em noite escura!


523

A noite inteira; estou ao teu dispor,
Inesquecíveis sonhos realizados,
Vagando por divinos, belos prados,
Enlouquecidos, plenos. Tanto amor...

Eu tenho tanta coisa a te propor,
Iremos em conjunto, pareados,
Na busca por carinhos, nossos fados,
Até que em bel prazer, venha o torpor.

Lençóis, puro cetim, colcha em retalhos,
Nada nos importa senão saber
De toda uma alegria a desfrutar

E conhecer, decerto os teus atalhos,
Rumando sempre célere ao prazer
Que apenas no teu corpo, irei achar...


524

A noite já se avança, o frio vem
E traz esta vontade de te ver.
Distante dos teus olhos, sem ninguém,
Espero o teu carinho em meu querer.

Nossos desejos morrem sem prazer
Saudade vem tomando todo o bem
Preciso mais depressa te rever
Como é difícil a noite sem alguém.

Eu quero, estes desejos, partilhar
Contigo, minha amada, meu abrigo...
É duro tanto tempo a te esperar,

Por isso, volte logo para mim...
Pois todo o bem da vida está contigo,
Espero que a saudade chegue ao fim...


525

A noite me tomara por refém
Em bares, cabarés, sangue, solidão...
Vivendo sem ter nada, sem ninguém,
Amigo de uma negra escuridão...

Cansado desta vida sem um bem,
Ouvindo sempre o mesmo e triste não,
Somente este vazio, nada vem
As portas se fechando... O mundo em vão...

Vieste em calmaria, quieta e mansa,
Imagem redentora deste amor.
Trazendo num sorriso esta esperança

De vida que renova em cada instante.
Teu braço companheiro e salvador,
Descortina um futuro radiante...


526

À noite meu amor, darei plantão
Mas antes que isso ocorra, por favor
Escute um derradeiro cantochão
Falando como sempre de um amor

Que morre sem defesas no porão.
Porém se porem luzes, farta cor
Coragem pra corar o coração
Decoração diversa vou supor

Que possa tirar poças desta estrada
Estratos no meu céu não viram nimbos
Nem quero freqüentar os frágeis limbos

Cachimbos dizem paz tão esperada.
Arada esta paisagem se revela
Na sela que traduz visagem bela...


527

À noite na penumbra de meu quarto,
Percebo estrelas claras, florescentes,
De tal beleza eu nunca mais me aparto,
Entregue às fantasias envolventes.

Desta visão decerto eu não me farto,
Momentos deste amor que sinto e sentes,
Nos quais um navegante em sonhos, parto.

Os astros/pirilampos num cortejo,
Refletem todo amor que assim desejo,
Fazendo desta noite um nobre altar

Aonde em oração, ternura e prece,
Um mundo mavioso já se tece,
Nos braços tão sublimes deste amar...


528

A noite na penumbra vem chegando
Trazendo meus fantasmas, ilusões...
Pergunto pras estrelas até quando
Somente irei viver recordações...

O negro desta noite me tomando
Refaz voracidade das paixões;
Os medos se aproximam vêm em bandos
Marcando os meus olhares, emoções..

De toda a sensação que trago aqui,
Apenas meu cigarro foi constante.
Sentindo amargamente que perdi;

A noite é companheira mais dileta.
E bebo esta penumbra neste instante
Minha alma em teu fantasma se completa..


529

A noite não demora a me chamar
E tenho que partir, que fazer?
Ficar sem teu carinho e teu querer?
Difícil, meu amor, me controlar.

Eu sei que logo chega este luar
Eu tenho que sair. Sem teu prazer
A vida num momento a se perder
Distante de teus braços. Viajar...

Porém uma esperança traz o sol,
Refaz nossos desejos na manhã;
Por certo voltarei quando amanhã

Chegar de novo aqui a claridade.
Amor que é feito assim, um girassol
Que busca no arrebol, a liberdade..


530

A noite nos cobrindo
Com toda a sensação
Do mar que foi se abrindo
Da rosa que em botão

De mansinho florindo,
Jardim do coração,
Amor se fez tão lindo,
Em louca sedução..

Na dança em que brincamos,
Prazeres multiplico,
Assim nos entregamos,

Em sentimento rico,
Aonde nos amamos,
Querida, ali eu fico...


531

A noite nos convida a namorar,
O frio tão gostoso já nos chama,
Na chama que queremos no queimar,
Amar... Enveredar por louca trama.

Quem ama não pergunta, e já mergulha
Nas sombras vaporosas, mais ardentes.
Acende novamente esta fagulha,
Rumores delicados e vibrantes.

Os beijos que tocamos; doces, quentes,
Os seios em meu peito, descansando.
Turbilhões cada vez mais envolventes,
No frio desta noite, nos cortamos...

Encharcam-se de rosas meu jardim,
Perfumes dominando tudo, enfim...


532


A noite nos convida, praia e mar...
Deitarmos nesta areia, sob a lua.
As ondas nos molhando, devagar...
Perder-me em tua pele, clara... nua...
Em teus ouvidos logo murmurar
Que a noite mensageira, continua...

A lua, o mar, teu corpo... esta nudez...
Meus beijos, nossos beijos sensuais...
Lembrar de tanto amor que a gente fez
Vontade de fazer de novo, e mais...
Nos toma uma sincera insensatez...
Ah! Não irei deixar-te, amor, jamais...

Teus olhos, minhas mãos... tudo a contento.
Nas ondas te lambendo... o gozo... o vento....


533


A noite nos tomando, verão pleno,
Na cama em que dormimos, sempre alertas.
Depois de termos tido amor ameno,
Sonhamos bem debaixo das cobertas...

Talvez eu não perceba um novo aceno
Que mostre tuas pernas mais abertas.
Prazer que se transborda no veneno
No fogo em que te escondes não despertas....

Mas sinto que preciso de teus seios
E quero o recomeço mais audaz.
Perdido nestes velhos devaneios

Te busco por instantes, mas não vejo.
O frio que esta noite sempre traz
Adormecido, inerte, sem desejo...



534

A noite nos trará tal recompensa
Depois de um dia imenso em solidão,
Tu sabes quanto amar sempre compensa
Ainda mais se é feito com paixão.

Na nossa cama, em chama tão intensa
Fogueira das vontades, do tesão,
Deixando para trás a vida tensa
Nas tesas sensações, pura emoção...

No vale em que aprofundo expedições
Na busca de um tesouro, diamantes.
Dois corpos que se encontram, dois amantes

Promessa de loucura e tentações.
Fazendo desta cama a catedral
Na prece redentora e sensual...


535

À noite num hotel a solidão
Batendo como um vento na janela.
Repenso a minha vida e chego à ela,
Mulher que foi problema e solução.

Os carros, avenidas, multidão
Encanto multicor, estranha tela
Que toda esta balbúrdia me revela
Cidade que se embebe em turbilhão.

Luz artificial cegando a lua
Enquanto em mim a luta continua
Os falsos brilhos trazem teu olhar

Olhando da janela deste hotel
Eu vejo os rastros teus ganhando o céu,
Néon a confundir, a transtornar...


536

A noite preparou a sua rede,
Espera que me caces sem perdão.
Vingança consumindo tua sede,
Minhas tormentas nunca são em vão...

Jogaste meu cadáver na parede,
Brincando vou fazer revolução.
Nos muros que caíste já me enrede,
Nas horas mortas sigo a solidão...

Não posso examinar tuas mordaças,
As bocas já me mordem, são carcaças.
Teus torpes sentimentos geram asco...

Não me permita sequer ser o carrasco,
Bem cedo te arremeto pois madrugo.
Pois sei que tu serás o meu verdugo!



537

A noite quando chega constelar
Dançando lamparinas pelo céu.
De toda a via láctea, raro véu
Eu vejo um raio imenso a deslumbrar

Deitando meus olhares sobre o mar
Eu sinto imensidão, vagando ao léu,
Tua presença invade em fogaréu
Raiando a minha vida devagar.

Enquanto o pensamento não descansa
O vento vai trazendo esta esperança
De um dia ser além de um simples sonho.

Barcaças invadindo a madrugada
Nas mãos de meus desejos, ancorada
Falando deste amor que eu te proponho...



538

À noite quando vem a solidão
Em vão eu te procuro, e nada tendo
Meus olhos, o vazio percorrendo
Da morte sinto a fria sensação.

Ouvindo alguém batendo no portão,
O coração palpita e vou correndo,
Porém, leda ilusão, e sem adendo
Retorno à dolorosa sensação

De ter somente o sonho como abrigo.
Eu tento te esquecer, mas não consigo,
Tua lembrança vem depressa à tona

Gélida madrugada e eu sozinho,
Sem ter sequer um resto de carinho,
Até a solidão, já me abandona...


539


A noite que caindo em mão ardente
Promete redenção a quem se faz,
Em flóreas tentações e docemente
Persiste em procurar o que lhe apraz.

Os corpos se entregando, sensuais,
Nas ruas, nas favelas, nos motéis,
Nas belas prostitutas, portos, cais,
Ou nas embocaduras dos bordéis.

As castas se misturam, se equalizam,
Profana sensação de uma igualdade,
As bocas desejosas se deslizam,
Recebem sem limites saciedades

Amores e punhais, rosas e sangue,
Perfumes se misturam, Dior no Mangue...



540

A noite que em raríssimo luar,
Argêntea vestimenta cobre a flor.
A brisa como um leve soluçar,
Chamando por teu nome, diz amor.

Vontade de talvez poder tocar
O corpo assim desnudo, encantador,
No âmago do infinito navegar,
Sublime fantasia a se compor....

Perfume que minha alma respirava,
O amor seguindo livre, rompe a trava
E vai pelos espaços, sem fronteiras...

Palavras de ternura em poesia,
Na remissão dos erros já se cria
Constelações em luzes derradeiras...


541

A noite que maltrata,sempre a mesma,
As frases mentirosas, um refrão,
As mãos que percorri uma abantesma
Guardas tantos rancores, coração...

Nos espectros noturnos, melancolia...
Me mostras meus remorsos, um miasma,
A cama que dormimos, fantasia...
No medo que me trazes, um fantasma...

A noite que maltrata, traz saudade...
As frases que repetes estribilho...
As mãos que percorri, a liberdade,

Não posso retornar desta viagem...
Carregas dentro em mim, o nosso filho,
A noite necessita de coragem..



542

A noite que me trouxe teu olhar,
Já partiu sem sequer dizer adeus,
Saudade fez adeus dos olhos meus,
Não quero enfim morrer de tanto amar

Cansado de esperanças esperar
Jogado sob as trevas, negros breus
Quem não acreditava, olhos ateus;
Pudesse um dia; cego, procurar,

Pelas vielas; luzes mais audazes,
Quem sempre deparou-se com mordazes
Pesadelos, buscando pela paz;

E agora, quando achava-me capaz,
De saber finalmente amor sereno,
A vida me inocula o seu veneno...


543

A noite que mendigo é tão aflita,
Perdido nesta mata, neste bosque...
No peito silencioso a alma se agita,
Nas noites tanta perna que se enrosque

Rondando os botequins, a noite imensa,
Espreito uma morena que não vem,
Sem ter sequer sorriso que convença
Procuro insanamente por alguém

Que nunca mais virá, tenho certeza,
A lua se escondendo na neblina,
O amor que a gente quer já nos despreza,
Deixando nestas sombras, a menina,

Que um dia soberana foi rainha,
E tolo até pensei que fosse minha...


544


A noite que nos traga um manso lago,
Depois das corredeiras deste dia.
Que ao vento se entregando em doce afago
O mundo nos conquiste com magia.

Tu sabes deste sonho que hoje trago,
Além de todo amor que se queria,
Somente o grande amor, eterno mago,
Trará toda esperança que eu dizia.

Não deixe-me faltar tua presença
Que é sempre redentora e tanto acalma.
Que a noite sempre venha e nos convença

Da eternidade santa deste amor.
Trazendo para nós; perfeita calma,
Nos braços deste sonho redentor...


545

A noite que passamos mais felizes,
Roubando da alegria este sorriso,
Tão delicadamente, sem deslizes,
Depois de visitarmos paraíso...

Do céu onde estivemos; os matizes,
Num toque sensual e tão preciso
Pedimos com olhares mil reprises
Sem medo de perdermos o juízo...

Durante tanto tempo, mil perguntas
Em vão, não precisamos responder
As nossas tatuagens feitas juntas

Reflexos de nós mesmos entranhados
Nesta tortura mansa do prazer
Por toda essa emoção, teleguiados...

546

A noite que passamos sem marasmo,
As bênçãos desejadas que não vêm,
Olhando mais de perto, vejo bem
Que tudo se condena ao mesmo espasmo.

E ainda que me mostre tenso ou pasmo,
No fundo não seria de ninguém
O deserto que colhi, nele também
O gozo da alegria é vil sarcasmo.

Aonde pretendia níveas garças,
Apenas as etéreas, vãs fumaças
E um gesto costumeiro de quem vai

Distante dos seus sonhos, risos, graças,
Puídas ilusões decifram traças
E tudo se traduz num simples bye.


547

A noite que pretendo, a mais bonita
De todas as que tive em minha vida,
Teus olhos qual fantástica pepita
Encontram na emoção uma saída...

A sorte que suplanta uma desdita
Tornando a nossa senda mais querida,
Minha alma o Paraíso, agora fita
A cada novo dia convencida

Do quanto é necessário ser feliz,
Eterno sonhador, um aprendiz
Sabendo de teus brilhos chega a ti,

Estrela que me guia, num segundo,
Alcanço em esperanças novo mundo
Distante do que outrora eu conheci...



548

A noite que te trouxe, amargurada
Em fantasia imensa e vaporosa,
Deixando minha vida abandonada
Matando em meu jardim jasmim e rosa.

Depois de certo tempo, um quase nada
Traçando uma esperança dadivosa,
A noite se mostrou mais constelada,
Já menos sofredora e dolorosa...

Dormências em meus sonhos mais secretos,
Aos poucos emoções me dominando.
A chuva mansamente em meu deserto,

Encharca uma alegria em seus espaços.
A vida para mim abrindo os braços,
O sol em alvorada vem raiando...


549

A noite que te trouxe, passageira
Dos sonhos tão perfeitos, delicados
Os beijos num momento são roubados
E a vida se entregando, vem inteira.

Por mais que a gente sonhe e sempre queira
Viver estes carinhos mais ousados
Os olhos do desejo debruçados
Fazendo da emoção nossa bandeira.

Eu quero estar contigo e desde agora
Jamais esquecerei um só segundo
Do quanto em nosso amor eu me aprofundo

Paisagem tão sublime que decora
A vida deste pobre caminheiro
Decerto teu amante e companheiro...


550



À noite quero o gozo mais gostoso
Molhando minha boca, dedos, língua.
Deitando do teu lado, é prazeroso,
Amor que não me deixa mais à míngua,

Desejo que tu sejas, puta e santa,
Vadia e refinada, em pura entrega,
A sede de poder te ter é tanta
Meu sexo em tua rota já se esfrega

E os dedos encharcados acarinham,
Teu corpo que endurece pouco a pouco,
Prazer já vem tomando de mansinho,
Até que chega e explode, imenso e louco...

Depois de tanto amor vem o cansaço,
E eu adormeço manso em teu abraço...


551


A noite recomeça em nova dança
Nos toques mais audazes e precisos,
A vida em nossas mãos logo se avança
E mostra na alegria dos sorrisos

O gosto tão divino da esperança
Que vem e não prescinde dos avisos
Fazendo da volúpia esta aliança
Nos lábios que se entranham mais concisos...

Fogosos, flamejantes labaredas
Que encharcam nossos corpos de tesão,
Invado tuas matas, alamedas

E busco o nosso amor com tanto apuro,
Imerso em teus desejos. Sedução...
Na eternidade sempre te procuro...



552

A noite rememora estes momentos
Trazidos pelo sol em dia claro.
Nos sonhos, nas lembranças, pensamentos,
Sabor de um sentimento calmo e raro;

Tua presença aqui, pressentimentos,
De um novo dia a dia em que o amparo
Já deixe bem distantes os lamentos,
E o gosto do viver não mais amaro.

Sorrisos e carinhos conquistados,
Beijos sorrateiros são roubados
E fazem do sorriso um estribilho.

Os sonhos que se sonham acordados,
Redimem sofrimentos já passados
E mudam, nesta vida, rumo e trilho...


553

A noite se aproxima e morre o dia.
A lua companheira traz saudade
De quem viveu comigo a poesia
E morre na longínqua tempestade.

A noite polvilhando fantasia,
Esconde no seu breu a falsidade.
Sem luas no sertão a noite esfria.
Distante já ficou nossa amizade...

Quem teve lamparina tem neon
As luzes apagaram o luar
Viola se perdeu em outro tom.

Nos quartos dos motéis tantos casais,
Companheiros, encontro em cada bar
Amizades? Partiram... Nunca mais...


554

A noite se aproxima e nela eu vejo
Aquela que se fez maravilhosa,
Tomada pela força do desejo
A lua se entregando assim, sestrosa.

Com pedras cristalinas eu cravejo
A cena que se mostra fabulosa,
Enquanto com carinhos eu tracejo
A pele mais sublime, majestosa.

Assim imerso em raros esplendores
Sentindo o teu perfume que das flores
Decerto não teria um mais perfeito,

O peito enamorado se extasia
Tocado por tão rara fantasia
Que encontro toda noite quando deito.



555

A noite se aproxima. Note bem
Quantos pirilampos numa espreita
Enquanto a lua reina e se deleita
Bebendo a poesia que amor tem.

Escute a mansa voz que agora vem
Enquanto a natureza não se deita,
Imagem tão sublime em luzes feita
Vasculha uma esperança, e pede alguém

Que venha calmamente me mostrar
O quanto é bela a noite de luar
Ao lado de quem sempre desejei.

Vivendo a plenitude deste amor,
Encontro nos teus olhos, refletor
Mudando em mil matizes, toda a grei...



556


A noite se esgarçando em podridão
Deixando o meu esgoto sempre às claras
Inverno desbotando este verão,
Enquanto de outros sonhos me declaras.

Escaras que acumulo pela vida,
Feridas que se fazem mais presentes.
Não vejo mais sequer uma saída,
A faca segurando entre meus dentes.

Mostrando minhas garras, meus farrapos
Vivendas que ontem foram doces lares,
Nos pêndulos do tempo velhos trapos
Estendem suas cores nos altares.

Solares do passado tão distante,
Cenário desta insânia deslumbrante...



557


A noite se mostrando em lua pálida,
Vestindo de ilusões, falsas promessas,
Por mais que inda tentasse vê-la cálida,
Encontro os desencontros que confessas.

Na fronte uma esperança de crisálida,
Nas tramas que entranhaste já tropeças,
A sorte que busquei, agora inválida,
Esquálida manhã. E recomeças.

As peças preparadas pela sorte,
Noctâmbulo, dos bares, minha herança.
Sem ter a fantasia que suporte,

Derramo-me entre frágeis hastes, toscas;
E a morte sorrateira, já me alcança,
Em meio a trevas fartas, luzes foscas...


558

A noite se passando agalopada
Viajo nas estrelas, corto o céu,
Vibrando em teu desejo minha amada,
Montada em seu cavalo, sou corcel.

A pele luzidia tão suada,
Jorrando em nossa cama tanto mel,
Depois, quase que exausta, extasiada
Deitada, na cabeça um carrossel

Girando devagar, o quarto roda.
Arfantes os teus seios alvos, mansos...
De novo este desejo nos açoda

Convida de repente a nova marcha
E vamos viajar nossos remansos,
Acesa a tocha, o fogo nos encaixa...



559

A noite se passando em tal pavor
Refém do que vivemos não consigo
Dormir. Envolto em trevas, desamor,
Encontro tão somente o desabrigo.

Quem dera se pudesse num torpor
Voltar o tempo. Insano, inda persigo
Um dia que inda trague em esplendor
O abraço que se mostre mais amigo...

A mão de Deus tocando a minha face
Permite que entranhado em desalento,
Ainda encontre assim, um lenitivo.

Quem dera se alegria retornasse,
Apascentando enfim, este tormento,
Talvez não fosse assim, frágil e esquivo...



560

A noite se passando neste idílio
Que adentra a madrugada em riso franco
Meu coração que há tempos num exílio
Tentara imaginar um sonho branco

Durante a minha andança um empecilho
E nele uma esperança eu já estanco.
Depois de conhecer-te, um novo trilho
Permite um passo altivo e não mais manco.

Deslumbre de desejos e ternuras,
Sem medos ou temores, vida afora...
Eu quero o teu carinho e desde agora

Olvido estas antigas desventuras
Na sede de te amar, felicidade,
Trazendo para a vida, a liberdade!


561


A noite se passando sem ter pressa,
Deitando junto a ti, meu verso leve.
Que a dor que nos tomou, bem sei, tão breve
Não venha nunca mais, que vá depressa.

Paixão mais ardorosa se confessa
Tristeza que se foi, já não se atreve,
Um canto em tua cama, me reserve
Que eu quero tanto amor, contigo, à beça!

Vem logo, não espere um só segundo,
Eu necessito, amor, de teus carinhos.
Contigo, no universo me aprofundo

E bebo as tempestades, destemido.
Mais fortes quando unidos, faz sentido
Jamais ficarmos outra vez sozinhos...



562

A noite se passando tão distante
De quem sonhara sempre, a vida inteira.
Quem dera deste barco comandante
Tocasse tua boca feiticeira,

Roubando da magia num instante
Razão de ser mais justa e verdadeira.
Minha alma te procura, debutante,
Querendo para sempre companheira...

Mas nada do que faça te arrebata,
E nada do que eu diga mais importa.
Só sinto que se adentra em densa mata

A noite que eu queria ser tão nossa.
Apenas este vento bate à porta
Espero este momento em que se possa...


563

A noite se passara em diluências
De luzes que se foram sem a lua.
As almas se perdendo em penitências
Apenas a tristeza se cultua.
Na fria madrugada, sem clemência
Parece que somente a dor atua.

O rio vai correndo para o mar,
Assim como a alvorada vem chegando.
E o mundo num minuto a se mostrar
Mais belo com o sol iluminando.
Na glória de poder já te encontrar
O dia em plenitude vem chegando...

E sinto em teu calor o renascer
Da vida num eterno amanhecer...



564

A noite se prepara em bela prata
Tocada pelos raios do luar
Beleza sem igual nos arrebata
Convite para encantos desfrutar,

O rio se derrama na cascata
O tempo vai passando devagar,
Reflexos vão tomando toda a mata
Beijando num instante, areia e mar

Em meio à profusão de imensidade
Voando pelos céus com liberdade,
Cometas passeando num lampejo

Demonstram quão volúvel nossa vida
Por isso venha logo aqui querida
Trazendo essa alegria que eu almejo...



565


A noite se promete em bandolins
Em danças, em chorinho, em festa pura,
A lua se enamora nos jardins
Espalha tanta luz, sua ternura...

Rodando sem parar dançando leves,
A nossa alma nos pés solta, flutua,
Que pena que os momentos sejam breves,
A transparência sob a luz da lua...

Meu pensamento voa e vai ao céu,
Deleita-se contigo e já se deita.
Bebendo desta boca tanto mel,
A lua na janela, quieta, espreita...

E brilha nos seus raios como um sol,
Iluminando o sonho, qual farol...



566


A noite se promete em gozo pleno,
Rondando nossa cama, um fogo ardente,
Do gosto inebriante do veneno
Que desce em nossos corpos, lava quente

Em tua fenda aberta, a catedral
Aonde amor perfaz uma oração
Lasciva, enlanguescente e sensual,
Um mundo em fantasia, um turbilhão.

Recebo tua orgástica loucura,
Pecado na verdade é não saber
De toda esta delícia que nos cura,
Abençoando em gozos e prazer

Altar ao qual penetro em redenção
Em chamas mais profanas, oração...


567


A noite se promete em alegria
E traça além de tudo o quanto pude
Vivendo com ternura a plenitude
Aonde toda a sorte se veria

Audaciosamente vejo o dia
E nele me entregando além do rude
Momento atroz em leda juventude
E nisto se desenha esta utopia

Pudesse acreditar num novo instante,
Mas sei que nada mais pode e garante
Vicejo em tom feliz, primaveril,

Alçando a poesia em cada dito,
O amor se aproximando do infinito
Aonde todo o sonho construiu

568



À noite se sentires arrepio,
Um vento tão suave em teu pescoço.
Um misto de calor em pleno frio,
O corpo ser tomado em alvoroço,
Um lábio te roçando tão macio,
Um cheiro de jasmim... Quase um colosso

Tocando tuas costas, teus cabelos;
A sensação de mãos te percorrendo,
As pernas tão confusas quais novelos,
Os braços calmamente te envolvendo...
Não tema nem permita que atropelos
Impeçam o desejo num crescendo...

Perceba que estarei bem do teu lado,
Sereno, calmo, manso, extasiado....


569


A noite sedutora emoldurava
Cenário deste sonho alvissareiro.
A lua tão lasciva decorava
Todo o céu transformado num tinteiro.

O rastro das estrelas transportava
Amor em gozo intenso e feiticeiro
Desejo em nossa cama anunciava,
Nos braços deste amor, mar derradeiro.

As algas fosforescem no oceano
Testemunhas reais deste romance.
A noite em louca orgia, em cada lance

Refaz toda luxúria e todo gozo.
Pena que o sol surgiu cedo, temprano...
O mar derrama as ondas, caprichoso...


570

A noite sem ninguém é dolorida,
Oráculo em tristeza concebido,
Intérprete fiel da descabida
Paixão que vem tomando o meu sentido.

Meu mundo se transforma, a minha vida
Se perde sem ter prumo. Vou vencido.
Nas artimanhas vãs, corte e ferida,
Aprofundando amor mal resolvido...

Na pompa que exacerba uma saudade
Funeral e mortalha não se nega
A noite vem tolhendo a liberdade

Trazendo em pesadelo, duro vício.
Se todo amor se faz em pura entrega,
A noite sem amor é precipício!


571

À noite sem te ter, sonho e loucura,
Tua nudez caminha pelo quarto,
Angustiante sempre esta procura,
Dos desejos, querida, eu não me aparto.

Meus lábios viciados nesta boca,
Delírios que vivemos... Quero mais.
De tanto te chamar, alma vai rouca,
Bebendo os teus requebros sensuais...

Sorver o teu prazer, doce rocio,
Esplêndidas manhãs sobre os lençóis,
Seguir a correnteza deste rio
Tocado pelo brilho de mil sóis...

Teus seios, tuas coxas... meu prazer...
No encanto de teus braços me perder...


572

A noite sem teus braços esfriava
E vinha em pesadelos, tal tortura.
Sozinho pelas ruas, eu cismava
Na insanidade imensa da procura.
A sombra da saudade me rondava
E nada prometia uma ternura...

O vento que batia na janela
Do quarto onde não tinha mais sossego.
Mentia ao coração: Deve ser ela!
Somente o vento vinha. Peço arrego,
E nesta poesia se revela
Perdão que assim te imploro. Quase cego

Sem as luzes divinas deste olhar,
Querida... Por favor, vem me buscar...



573

A noite sempre trouxe uma verdade
Em meio a multidões tão delirantes.
Nas danças, nos salões mais deslumbrantes,
O sonho transformado em realidade!

A lua simboliza liberdade,
Explode em tantos brilhos radiantes
Nos faz sentirmos deuses por instantes.
Transporta do infinito a claridade!

Pois quando estou amando é como a lua
Minha alma dançarina já flutua
Nos salões e nos bailes dos meus sonhos...

Meus olhos são dois lumes, são faróis,
No peito a violência de mil sóis.
Meus dias vão passando mais risonhos!



574

A noite sempre trouxe uma verdade
Em meio a multidões tão delirantes.
Nas danças, nos salões mais deslumbrantes,
O sonho transformado em realidade!

A lua simboliza liberdade,
Explode em tantos brilhos radiantes
Nos faz sentirmos deuses por instantes.
Transporta do infinito a claridade!

Pois quando estou amando é como a lua
Minha alma dançarina já flutua
Nos salões e nos bailes dos meus sonhos...

Meus olhos são dois lumes, são faróis,
No peito a violência de mil sóis.
Meus dias vão passando mais risonhos!



575


A noite silenciosa vem trazendo
Um vento tão tranqüilo que apascenta
Aos poucos nos teus braços eu desvendo
Desejo soberano que arrebenta

Do corpo no meu corpo se envolvendo
Paixão que arregaçando; violenta.
Do quanto bem te quero vou bebendo
Até que a noite passe, mansa e lenta.

Beijando tua boca, quero mais,
Pescoço se oferece em arrepio.
Quando invadir depois o lago em cais,

Em alvoroço e festa, meu deleite.
No gozo que me dás, logo vicio,
Nas nossas convulsões, salgado leite...



576

A noite sufocante, amargurada,
Celebramos tristezas e saudades,
De resto, sobraria quase nada.
Sabemos tantos campos e cidades...

No rumo que perdemos, sem estrada,
Os bares visitamos, das verdades,
Bebendo, vitimamos nossa fada...
Amantes que perderam qualidades...

Não suporto mais tal abafamento,
Meu ar desperdiçado, sem retorno...
Amar não pode ser só sofrimento...

Dispneico na procura do oxigênio,
Eu tento, transtornado, neste forno,
A lâmpada quebrada nega o gênio!


577

À noite te sentindo do meu lado
Por certo, estou mais forte e mais sereno.
Teu rosto tão bonito e delicado
Deixando este ambiente mais ameno.

Depois de tantas dores do passado,
Bebido sem sentir, tanto veneno,
Encontro no teu braço enveredado
Um mundo que sonhara, vivo e pleno.

Enrosco minhas pernas entre as tuas
Aninho-me contigo num só ser.
As pernas bronzeadas, quentes, nuas

Na languidez parece que me diz,
Que em toda esta delícia, teu prazer;
Até que enfim, querida, eu sou feliz...



578



A noite tem mistérios e delícias;
No fogo das paixões, corpos ardentes...
A lua nos envolve em mil sevícias
Premissas de momentos envolventes.

Suave brisa traz suas carícias
As bocas se procuram, domam mentes,
Os sonhos dominados por malícias
As pernas se misturam quais serpentes...

E tudo me trazendo esta lembrança
De um tempo que se foi pra nunca mais.
Meu barco se perdendo sem um cais,

O olhar sem horizontes não descansa
E busca novamente te encontrar.
Porém a noite segue sem luar...



579


A noite traz mistérios e segredos
Envoltos em tristezas, dissabores.
Na noite que se faz em tantos medos,
A morte de alguns sonhos, dos amores.

Meus olhos te procuram, e os meus dedos
Espetam-se em espinhos, ganham flores.
Embora estás distante, meus enredos
Te buscam onde vais, por onde fores.

Que faço nesta noite sem te ter?
Sem lume, minha vida: escuridão!
Sem ti, não há caminho e nem razão.

Adormeço minha vida sem prazer.
Por isso volte logo, minha amada,
Saudades de uma noite iluminada!



580



A noite vai caindo dura, espessa,
Distante de meus sonhos e delírios.
Assim que, de repente, eu adormeça,
Recomeçarão todos os martírios.

Marcado por terríveis desenganos,
Meu tempo de viver vai se esgotando,
Embalde se fiz outros novos planos,
Pergunto sem respostas até quando?

As mãos vão prosseguindo mais vazias,
Apenas com meus medos tatuadas.
Encarceradas sempre as alegrias,
Distante da saída, sem estradas.

Apenas uma força, na verdade,
Conduz a minha vida: uma amizade...



581


A noite vai caindo e toma a cena
Mudando a direção dos pensamentos.
Enquanto a lua chega, mansa e plena
Os olhos se tornando vãos, sangrentos.

O amor entre estas trevas me envenena
E paulatinamente traz os ventos
Dama da noite, aroma que me acena
Ensimesmado, entranho os sentimentos

E deles pulverizo esta querência
Que traz a mais suprema transparência
Da qual, mesmo que eu tente, não me esgueiro.

Sentir o teu perfume, mesmo ausente
Permite que eu resista bravamente
Domado pelo sonho... Verdadeiro.



582

A noite vai descendo em plenilúnio
E vejo quanto Deus foi bom comigo,
Depois de tanto tempo em infortúnio
Agora encontro enfim, o meu abrigo

Nos braços da morena mais brejeira
Que um dia pude enfim, reconhecer
A mais perfeita e bela companheira
Sinônimo perfeito: bem querer...

Janela sem tramela sempre aberta
Na espera da morena tão sestrosa,
Em cada novo beijo, a descoberta

Divina e esteja certa, mais gostosa.
Vagando em cada lume do luar
Encontro esta morena, que é sem par...


583

A noite vai esguia
Deitando no luar
Desejo que se urdia
Tocando devagar,

Moldando uma alegria
Gostosa de sonhar,
Quem sabe a fantasia
Chegando devagar,

Mostrando que também
Amor a mim se deu,
Eu vivo por teu bem,

Somente agora meu,
Por isso, amada vem,
Na luz que me aqueceu



584

A noite vai passando, doce e quente;
Num tórrido desejo que nos guia
Envolta por suores, fantasia
Se mostra mais voraz, impertinente.

Vontade de te ter, fogosa, ardente;
No jogo que me encanta e me vicia,
Torpores de prazeres e magia,
No amor que a gente faz amor se sente.

Meus braços te enlaçando na cintura,
As pernas que se tocam se entrelaçam
Num beijo tão suave com brandura

Loucuras que traçamos mal disfarçam
A sede delicada, uma tortura,
Dois corpos que se querem e se abraçam...


585

A noite vai passando amargurada
Distante da mulher doce, formosa
Na beleza noturna constelada
Tua imagem divina, maviosa

Na lembrança restando imaculada
Teu perfume emprestado à bela rosa
Reclama, mas não vejo aqui mais nada.
A noite então se faz tempestuosa...

Partiste por caminhos mais secretos
Deixando esse vazio em meus espaços.
Os verdes campos morrem tão desertos

Vasculho pelas ruas, nada vejo.
Procuro minha cura noutros braços.
Matar a minha sede em outro beijo...



586


A noite vai passando e não te vejo
Apenas adivinho o teu perfume.
Amor além de tudo o que eu almejo
Decerto me guiando, forte lume.

O dia me trará pleno desejo
Apenas madrugada já se esfume
Terei o teu carinho, assim prevejo,
E a vida voltará ao seu costume.

Sentir a tua pele me tocando,
Sentir a tua boca junto à minha
Delícias deste sonho enamorado.

O dia do teu lado vai passando
Mas quando a noite negra se avizinha
O sofrimento vem se aproximando...


587

A noite se anuncia de tal forma
Gerando dentro da alma esta esperança
E quando o meu caminho ao vão se lança
O passo em direção tosca deforma

E nada mais pudesse e já se informa
O caos onde tentara esta fiança
A vida se perdendo na lembrança
A solidão transforma azar em norma

De todos os meus dias se eu pudera
Gerar a cada instante a primavera
Ferrenho sonhador, eu bastaria

Ao todo quando anseio noutro enredo
E sei dos meus momentos se concedo
Apenas algo mais que a fantasia.


588


A noite vai sombria e violenta,
Expondo o coração à tempestade,
Olhar angustiado ainda tenta
Buscar em plena treva, a claridade.

Sarcástico luar já se escondeu,
Felicidade? Apenas qual miragem,
Em falso testemunho me escolheu
Irônica e terrível fria pajem.

As páginas viradas? Quem me dera!
Talvez inda pudesse ser feliz.
Não tendo mais sementes, primavera
Não deixa nem ao menos cicatriz.

De todos os meus sonhos, nada resta
A vida, sem ninguém, segue funesta...


589

A noite vem caindo devagar
Trazendo para a Terra um manto escuro.
Meu coração deveras inseguro
Pergunta por teus rastros ao luar.

Difícil, realmente acompanhar
Um passo que se deu em chão tão duro.
Escondido, por certo atrás de um muro,
Não faço nada além do que esperar.

Não quero conceber um mundo triste,
Eu creio neste amor que sei, resiste;
Por isso toda noite aqui eu venho.

Embora sem respostas, quero alguém
Que um dia, há tanto tempo foi meu bem
Uma esperança tola; enfim, contenho...

590

A noite vem chegando devagar,
Trazendo tão somente esta amargura,
Imagem transparente que tortura,
Estrela sem destinos a vagar...

Revejo, num momento este lugar
Que há tempos foi meu pátio de ternura
Paisagem que saudade inda emoldura
Fazendo do meu sonho, triste altar.

Percebo que este amor, cruel persiste,
Por toda parte vejo teus resquícios...
Mergulho nos mais vagos precipícios

Enquanto esta lembrança vã resiste,
E a dor de nada ter, teimosa insiste
Tornando as ilusões, terríveis vícios...


591


A noite vem chegando e te trazendo
Em raios de luar, delícia plena.
A sorte benfazeja então se acena,
E o amor, incandescente me envolvendo.

A vida não permite mais adendo
A quem já se entregou a cada cena.
A saudade cruel que me envenena,
Ao ver tua chegada vai morrendo.

Renascem esperanças no meu peito
Bem sei o quanto amar é meu direito
Por isso lutarei sem ter descanso.

A lua soberana que nos guia,
Demonstra em fortes raios a alegria
Que ao ver tua presença enfim, alcanço...


592


A noite vem chegando e traz mistérios,
Os sonhos envolvendo enamorados,
Atingem os viventes, sem critérios,
E mudam, num momento, tantos Fados.

Sentir a tua mão me acarinhando,
Sentir o teu perfume junto a mim.
A noite em ilusões já vai passando
Quem dera se ela fosse – amor – sem fim...

O riso se esboçando no meu rosto,
Deixando esta distância para trás.
Sentindo do teu lábio o doce gosto.
Vontade de sonhar e dormir mais.

Quando a manhã ressurge ainda vejo
A tua face em forma de lampejo...


593

Ainda posso além do que imagino
E sigo sem temer qualquer tempesta
A vida noutro rumo agora atesta
Do sonho mais audaz e cristalino,

E quando um novo passo eu determino
Ousando penetrar na imensa fresta
Apenas desenhando a vida em festa
Cenário sem igual em paz atino.

Vestindo a fantasia da esperança
Ainda quando a sorte em paz me amansa
Na dança dos meus sonhos mais gentis,

A sorte se traduz felicidade
E o quanto da ilusão agora invade
Fazendo de minha alma o que bem quis.


594

A noite vem pousando seus carinhos,
Pendida no meu peito a bela flor...
Bem sei como escondeste teus espinhos,
Tua defesa simples, meu amor...

Eu ouço a noite em sinos a tocar
Mostrando como é bom te ter aqui,
Não quero mais dormir; prá que sonhar;
Se tudo o que desejo eu consegui?

Eu já nem sei quem sou, mas não me importo,
Nas bênçãos do luar eu te encontrei.
Aos dias mais difíceis não reporto;
Tua beleza plena emoldurei.

E sinto-me decerto apaixonado,
Por essa flor tão bela, do cerrado...


595


A noite vem surgindo alvissareira
Depois da tempestade que passou,
O quanto se deseja o que inda sou
Demonstra a sorte feita uma bandeira.

A luz que se mostrou ser derradeira
Tomando cada casa se afastou,
Amor que é muito mais do que se queira
Em novo alvorecer me dominou.,

Agora vou liberto sem ter medos,
Conhecendo estes jogos e segredos
Enfrento a qualquer hora uma batalha

Sabendo decifrar os seus sinais,
Eu quero o nosso amor e muito mais,
Felicidade imensa assim se espalha...


596

A noite vem surgindo deslumbrante
Trazendo para nós imensa lua
Por trás desta montanha verdejante.
Desejo e sedução; bóia e flutua

Vontade de te ter a cada instante
Deitando sob luar, argêntea e nua.
Vagando sem destino, um louco amante
Fazendo serenata em plena rua...

Debaixo da janela, um triste pinho
Aguarda uma resposta, com receio.
Atrás do cortinado eu adivinho

Em transparência bela, o lindo seio...
E a noite se entregando à madrugada,
Um sonhador te chama, na calçada...



597

A noite vem surgindo no horizonte
Trazendo bela lua cor de prata.
Um reflexo argentino em tua fronte,
A rara maravilha me arrebata
E mostra que esse amor é minha fonte
De toda uma alegria que nos ata.

Assim, quando a teu lado adormecer
Depois de tanto amor que a gente fez,
Sorrindo venturoso, perceber
Que enfim, em minha vida a sensatez
Tomando com meiguice o meu querer
Acalma e vê chegar a minha vez

Após as longas horas em espera,
De ver nascer em mim, a primavera...


598


A noite vem trazendo no sereno
Um frio tão gostoso de sentir.
Um coração batendo mais ameno
Mais um motivo tem para sorrir.
Amor que a gente faz decerto pleno
Traz sempre uma alegria a refulgir.

Sentindo o teu perfume em minha cama,
Qual fosses um rosal em meu canteiro,
Jardim que toda vez quando se inflama
Demonstra quanto é meigo e feiticeiro.
A gente é tão feliz e quando se ama
Se entrega neste sonho por inteiro.

Ansiosamente espero tua vinda,
Beleza que inebria e se deslinda...


599

A noite vem trazendo uma esperança
De ter aqui comigo, a minha amada.
A noite, todos sabem, é criança;
E mostra-se completa, enluarada.

Chega e nos convida para a dança
Depois de tanto tempo, mais cansada
Deitada do meu lado, a noite avança
Até se deslindar na madrugada...

Confesso quanto amor tenho por ti,
Nos versos que sonhei e agora faço.
Belezas que em teu rosto sempre li

Traduzem os poemas que dedico,
Teus braços me convidam, e o cansaço
Chamando ao teu regaço. E amor; eu fico...


600


À noite, caminhando tão segura,
Passando pelas ruas sem temor.
Embora carregando a desventura
De tanto tempo em busca de um amor.

Que jamais retornara; triste bem,
Que se fora nas ondas deste mar.
À noite no silêncio do ninguém,
Em meio à tantas pedras, divagar...

Procura por notícias; mas, nenhuma.
Nem mesmo novas más, só um vazio.
As pedras já conhece, de uma a uma.
De tanto perguntou para este rio;

Que sabe desemboca em pleno mar...
Rio entretanto leva, sem buscar...
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
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