Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 033

 
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3201

Arrasto o que inda resta dentro em mim
Deixando pela casa velhas marcas.
Pegadas do que fomos; de onde eu vim,
Distante de teu mar, sigo sem barcas.

O quanto de desejos sempre abarcas,
Saudade inesgotável chega assim,
Revive; num momento, antigas Parcas
Amanhecendo ao som deste clarim

Procuro um lenitivo num sorriso
Guardado como forma de um aviso
Tomando toda a cena, visionário...

Assim como mostrasse em relicário
O quanto que eu perdi e não sabia,
Refaz do desencanto, a fantasia...


2


Arrasto-me nas ruas, qual molambo,
Um verme que se deu ao limbo eterno,
A sorte que meus sonhos fez escambo
Lambendo minhas pernas cria o inferno.

Partícipe da orgástica folia,
Entregue a mais completa insensatez,
Gritando tantas vezes a alforria
Os olhos em temível languidez

Atrelo o meu futuro ao meu passado
E leio este capitulo final,
Deitando o meu olhar aliviado
Percebo que restei sem bem nem mal.

Correntes carregas vida afora,
A sombra do que fui já me devora...



3


Arrebentando a boca do balão
O amor faz o que quer e sem defesa
Entregue à perfeição feita em beleza
Eu dou por encerrada esta questão.

Se eu bebo e me embriago, a tentação
É como um vinho doce sobre a mesa,
Por isso meu amor, com gentileza,
Eu sei que sou deveras um glutão.

Embaralhando imagens, eu te vejo,
Descendo das estrelas num lampejo,
Alucinado eu perco o meu juízo.

Se a vida pode ser maravilhosa,
No amor que a gente, uma alma posa
Pensando desde já no paraíso...



4


Arregaçando as mangas pra batalha
Que sabemos feroz em mansidão,
Na mão que te estendendo já agasalha
A força bem mais forte da união.

Um canto mais sublime que se espalha
Tramando para o mundo, a solução,
Não deixo que isso seja fogo em palha,
Partimos para a luta com paixão.

Um sonho que se faz mais necessário,
Um hino, como um brado se revela,
Que jamais se permita ser sectário.

Um pensamento duro e temerário
Destruindo esta fruta doce e bela,
Do amor tão profundo e solidário...



5


Arrisco algum palpite, vou à luta
E mesmo que não venha, não desisto,
Querida, eu não estou aqui pra Cristo,
Porém jamais fugi de uma disputa.

Enquanto a minha voz ninguém escuta,
Eu cismo de teimoso, inda resisto,
Se o Monte da esperança agora avisto
Na Páscoa dos meus sonhos, sou labuta.

Quem sabe possa ter um bom final?
Capítulos que assisto, outra novela,
Embora pouca coisa se revela

Não vejo calmaria ou temporal.
Pegando este cometa pela cauda
Apenas solidão amor desfralda...


6

Arrisco ser arisco e risco um traço
Façanha sem vergonhas ou pudores.
A moça se entregando num abraço
Promete doações de bons licores.

Depois é só deitar em teu cansaço
Sem medo sem vergonha e sem temores.
Orgasmos recolhidos quase em maço
Fecundam cada noite em mil alvores.

Finesse, pra que tanto se não vejo
Além do cometido num desejo
Fazendo o que se quer e de veneta.

A boca da morena faz biquinho
Meus lábios vão descendo de mansinho
Até chegar, enfim, na bela greta...



7


Arrisco uma braçada neste mar
Amar demais se torna uma obsessão
Cruzando um oceano quero estar
Ao lado dessa imensa sensação.

Casar amor com tanta rebeldia
Que a cada dia mostra sua face
Não deixo de viver esta alegria
Não cabe novo medo que te embace...

Se manás me ofereces, nunca nego,
Se trago nas semanas, meses, anos.
Saudades deste amor; tanto carrego,
Que não conheço mais os abandonos...

Sou carta tão marcada neste jogo,
Amores que incendeiam, brasa e fogo!



8

Arvoras a ser deus querido amigo,
Não sabes da potência deste canto.
Não vives puramente por perigo
Não tramas da esperança seu encanto...

Não sabes entender esta explosão
De cores e de formas mais sutis,
Que chamam simplesmente de paixão,
Que mata e que me faz triste e feliz...

Emprestas tal desejo ao nada sabes
Não cabes nem no gosto e nem no gozo.
Amigo, eu já te peço, não acabes,
Nas ruas como fosse um andrajoso...

Amor, se tu resistes; nada sobra,
Da forma que te dá, também te cobra...


9

As águas cristalinas deste rio
Descendo em cachoeiras, em cascatas,
Vertendo o coração que fora frio
Em múltiplas cantigas, novas matas,
Eu quero te encontrar, viver estio;
Na lua que nos toca, luzes, pratas...

Nos sons que nos embalam, alma e canto,
Nos tons tão verdejantes da esperança,
Nos dons que nos fizeram amar tanto,
Nos passos de mãos dadas, uma aliança,
Uma alegria intensa, teu encanto,
A vida do teu lado, calma, avança...

Tu és minha menina tão querida,
Meu verso nos teus braços ganha vida...


10


As águas desabando sobre nós
Promessas de colheitas, boa aragem.
O ressurgir da vida em novos pós
Moldando este caminho, uma viagem

Que preconiza um mundo logo após
Formado por amor. Talvez miragem,
Mas sinto ser possível que estes nós
Que atamos com carinho em cada margem

Do rio que nos leva à redenção
Frutificando sempre em paz e glória
Reverta todo o rumo desta história

E mostre no final a salvação.
Assim com a vontade com que cevas
A noite num luar, longe das trevas...


11


As águas deste rio vão ao mar
E voltam feitas chuva novamente,
Regando o ribeirão que faltamente
Ao mar irá num átimo chegar.

Refaço cada passo devagar,
Vagando pelo espaço que pressente
O fim de minha história. Se demente,
Invento com certeza outro pomar...

Afásico se trágico, me entrego,
Ao tétrico poema que não fiz.
Um lúdico idiota, um aprendiz

Não sabe ter sequer querência, apego.
E quase que capoto no barreiro
Que a chuva traz por mote corriqueiro...


12


As águas destes rios, transparentes,
São gotas de cristal ao sol feroz..
Nas mansas corredeiras, nas correntes
Que levam calmamente para a foz.

Amada, nos teus olhos, mesmo brilho
Do rio que se entrega ao quente sol.
Amor que tanto tenho segue o trilho
Dos teus olhos, sou qual um girassol...

Nas águas, nas salivas, nos teus beijos
Mergulho tantos sonhos, tanta luz...
Envolto nas delícias dos desejos,
Amor de tanto amor que reproduz

O brilho das estrelas, lua e rio...
De noite se explodindo em louco cio...


13


As águas escorrendo, beijam margens
E levam sem cessar, fertilidade.
Dos sonhos convertidos em miragens
De plácidas lagoas. Na verdade

Ao percorrer contigo, mil viagens
Enfim eu encontrei felicidade.
Sentindo, do Nordeste nas aragens
A brisa deste amor, sinceridade...

Tesouro incalculável sempre tem
Quem sabe da alegria que se deve
Ao fato de estar junto com alguém

O tempo vai passando bem mais leve.
Eu quero o teu amor, querido bem,
Pois sei o quanto a vida se faz breve...



14


As águas inundando estas canoas...
Em plásticos remendos, alagados,
O quanto que tu pecas não perdoas
Usando de má-fé com afogados.

No fogo que se espalha nos cinemas,
As mãos feitas em imãs buscam seios.
Decerto ao procurarem as algemas
Não guardam sem noção calam receios.

Depois de certo tempo, anel e festa
Em juras sem tortura ou agonia.
Por noves meses ganha cada gesta
Repete desde então tal melodia.

Nascendo do nascido outro rebento,
Já se condena à paz feita em tormento..



15


As águas mansas dizem do degelo,
Trazendo a primavera ao coração.
O encanto deste sonho que revelo
Permite que se entenda uma ilusão.

Por vezes não consigo descrevê-lo,
Mas sinto no meu peito a floração
E a placidez do amor que em tanto zelo
Entranha em meus sentidos, mansidão.

Vislumbro no horizonte a cordilheira
Que iremos, com certeza, superar,
Sabendo que o inverno vai chegar

Atravessando o lago manso e terno
Minha alma se entregando alvissareira
Não teme mais nem frio nem inverno...


16


As águas que desceram para o mar,
Lambendo ambas as margens deste rio.
Num sonho transbordante de tocar
As pedras, cachoeiras, fontes... Cio

Nas barrancas... As águas vão chegar
Tomando neste encontro-desafio
A gravidez que faz assorear
Fazendo do seu leito quase um fio.

Depois desta descida, no cansaço
Entrega-se ao mar em larga foz
Num derradeiro canto, num abraço...

Misturam-se distintas fantasias
De lutas, de prazer e gozo atroz
Num regozijo que explode em alegrias...


17

As águias dos amores desfalecem,
Nas asas das falenas delicadas.
Os olhos dos meus sonhos já padecem
De amaurose cruel. As tolas fadas

Esquecidas num canto nada tecem,
Persistindo desejam ser amadas,
Mas as noites vazias escurecem
Não lhes restam sequer as madrugadas...

Nostalgias e cantos . Quem em dera!
A verdade entorpece quem amou.
Este inverno impedindo a primavera,

Mansa aurora essa vida me negou.
No meu peito mordisca dura fera
Apenas amizade o que restou...


18


As águias espalhando a negação
Expandem suas asas, cortam fundo.
Deixando para trás a redenção,
Matando toda a vida num segundo.
O quanto que se fez revelação
Permite que o amor invada o mundo

E faça deste eterno pesadelo
Um sonho tão gostoso de viver.
Pressinto no poder de assim sabê-lo
Que a vida possa dar tanto prazer.
Quem tem amor já sabe que ao contê-lo
Espalha novamente o bem querer.

A deusa deste sonho iluminado,
Agora vem comigo lado a lado.


19

As alegrias tornam-se obsoletas,
Os tempos se detonam sem critérios...
As marcas dos teus dentes são cometas,
Nas noites que vivemos, sem mistérios...

Noites sem luar, noites vãs são pretas,
Amores se revezam, hemisférios...
Prefiro me aleitar em tuas tetas,
Futuro me destina cemitérios...

Me diga, vou viver esses contrastes?
Não posso permitir carnificina...
Me mordes, me deixaste, somos trastes...

Nascemos derivantes, ser abjeto...
A boca a nos beijar, nos extermina...
Derivamos, diversos, mesmo objeto...


20



As almas gemelares vão atadas
Procuram pelas fontes mais profanas
Nas loucas heresias, madrugadas,
Aguardam tresloucadas, mais sacanas...

Rolando a mesma cama, sem temor,
Vivendo cada toque com prazer,
Porejam as delícias de um amor
Que sabe tanto dar e receber...

Na claridão das luas que se encontram
As nuas maciezes já se tocam,
Depois de desatadas desencontram
Em tantas alegrias se retocam

E voltam destemidas à batalha
Amor com fanatismo já se espalha...


21




As almas se procuram e se tocam,
Enroscam-se desejos, coxas, pernas,
As horas que passamos; calmas, ternas,
Rios que noutros rios desembocam.

As doces fantasias se deslocam
E buscam soluções reais e eternas,
Vagando noite afora, com lanternas
Que o gozo prometido tanto focam

Sagacidade expressa no delírio,
O corpo ali desnudo é um colírio
E o tempo vai passando devagar.

Pudesse congelá-lo e então teria
Perpetuado o fogo em ardentia
Que extasiado sinto nos queimar...


22


As ânsias de viver eternamente,
Nas danças e promessas mais felizes,
Sabendo que te amei tão docemente,
A vida se esqueceu das cicatrizes.

Eu quero em cada canto maciez,
Encantos de perfumes e de flores.
Amando vou perdendo a lucidez
Mergulho sem temer sequer as dores.

Nas ânsias deste amor tão infinito,
Eu vejo meu retrato refletido
No rosto do desejo que acredito,
No tempo de viver sem ser sofrido.

Eu quero as concessões do nosso amor,
Que invade, sem temer, por onde for...



23

As ânsias e os desejos dominando,
Tomando os meus sentidos, nada deixam
Senão as alegrias que não queixam
Nem sabem nem procuram desde quando

Recebo os teus prazeres que tocando
Invadem meu sorriso e não desleixam,
Os sonhos mais airosos se desfecham
Em gozos, maravilhas, flutuando.

Percebo na nudez que tu desfilas
As honras procuradas em loucuras
Da mesma forma o fogo em que destilas

As tuas seduções, beleza e chama,
Embalde ainda perceba as amarguras
A vida nos teus braços, bela trama...


24


As asas da barata batem fundo
Nos trâmites da tal burocracia
Enquanto inoperância já vicia
Meu coração deveras vagabundo.

Não perco nesta fila um só segundo,
Voando pelo espaço, fantasia.
Vestido de palhaço, alegoria
Em forma de sorriso, eu me aprofundo.

Não quero amar sem ter sequer um ócio.
Nem bossas de boçal, nem arremedos.
Vivendo a certidão destes segredos

Marcando em meu pescoço, um grosso bócio
Vencer nem que recorra ao tapetão
Colhendo os resultados da paixão...



25


As asas deste amor sacro, imortal;
Em busca de momentos flamejantes
Domando o sentimento sensual
Promessas resolvidas por instantes

Não deixe que esta angústia tão venal
Impeça que ressurjam deslumbrantes
Os brilhos desta aurora matinal
Deixando para trás os delirantes

Temores entre farsas e mentiras.
No canto que mais longe já desfiras
Louvando com magia uma amizade

Alçando os espetáculos mais perfeitos,
Navegue pelos mares, singre os leitos
Dos rios que transitam liberdade...


26



As asas deste sonho, amor não corte.
Por mais que o tempo chegue e triste roa
Não deixe que este sonho morra à toa.
Meu canto necessita ser mais forte.

Embora sem temor sequer da morte,
Prefiro a placidez de uma lagoa.
Não basta que emoção já nos conforte
Preciso deste sonho que ressoa

Trazendo para mim, felicidade,
Que fora a companheira procurada,
Amada não destrua esta amizade

Depois que o amor passar, não sobra nada
Senão o que mais vale, na verdade,
Fazendo nossa senda iluminada...


27


As asas libertárias do meu sonho
Invadem infinitos, solto a voz.
E quando a vida mostra ser atroz
Um novo alvorecer; sinto e componho.

Nos braços da ilusão quando me enfronho,
O pensamento voa mais veloz,
Ganhando um mar imenso como foz,
Nos rios da emoção, enfim me ponho.

Uma ave sem gaiola, arribação,
Voando pelos ares, sem fronteiras.
Alçando no horizonte esta amplidão,

Dos astros mais distantes, mensageiras,
As asas companheiras do poeta
Aonde a fantasia se completa...


28


As asas quando abertas pedem vôos
Em plena liberdade rasgam ar
Permitem nossos sonhos sobrevôos
Por terras tão distantes, céu e mar...

Erros que cometer; Amor; perdôo-os;
Bem sei que amar demais é perdoar.
Baixinho, passarinhos, seus revôos,
Beijando esta gaiola, nosso amar...

Lambendo em tua boca, mil delícias,
Tocando nos teus seios, mansamente.
Vibrando no desejo das carícias

Sentindo esta gaiola alucinante
Que vem como alçapão. Mas de repente,
Amor vai se escapando num rasante...



29


As aves tão distantes desta aurora
Alçando em migração livres espaços
Nos cantos e nas ruas, amor deflora
O rosto adolescente, sexos lassos,

Nos sarros e nas manhas já se aflora
Os dedos que procuram seus pedaços.
Nos carros, nas esquinas, sem ter hora
As roupas vão descendo nos abraços.

Os seios entre dentes e lambidas,
As coxas entreabertas desejosas,
As mãos vão percorrendo desabridas

Os rumos inerentes, sensuais,
Estrelas adormecem caprichosas,
O sol ao renascer quererá mais.



30


As barbas; deixarei logo de molho,
Não quero ter surpresas, te garanto.
Durante a tempestade eu me recolho,
Sucumbo aos teus propósitos. Espanto.

A vida não será olho por olho,
Por mais que me procures, canto a canto,
Trancando o coração com um ferrolho,
Jamais suportarei sequer quebranto

Apenas quero ter tranqüilidade,
Andando sem destino na cidade,
Bebendo em tantos bares que nem sei.

Cervejas e aguardentes, refrigérios,
Derrubas com sarcasmo meus impérios,
Em terra de caolho, eu emigrei...



31


As bênçãos que eu procuro, encontro aqui
Depois de tanta andança pela vida,
Areias tão distantes, mares vi,
A lua dos meus sonhos, já perdida

Estende em seus tapetes, a saudade.
Vagando em versos tantos, vim,
Buscando no jardim, felicidade
Guardando a rosa mansa dentro em mim.

Vestida de cetim, eu sou teu rei
Por tantas aventuras que tivemos,
Descanso o caminhar onde encontrei
O mar em barcos leves, fortes remos.

Eu quero ser teu par por onde eu for,
Meu verso predileto, o nosso amor...

fantasia sobre ANDANÇA



32



As bocas que não beijo, eu beijarei.
Promessas aquecidas pelo vinho...
Não quero nem permito triste lei,
Amar jamais será viver sozinho...

Amarras esquecidas, te encontrei,
No peito de quem ama, já me aninho.
Não minto nem omito o que não sei,
Canto qual solitário passarinho.

O tempo que perdi, jamais retorna.
O vinho que bebi, o copo entorna.
As bocas que beijei podres delícias,

Nas noites encontrei tuas carícias.
Não me negaste nada, mas se cala,
A boca que hoje beijo, nada fala...



33

As bocas, duas mágicas mocambas.
Sem eira seguem beiras descem rios,
O quanto se procuram; querem ambas
Beberem destas águas em rocios.

Nos cios, ócios, vícios, recomeçam
Na caça que não cansa mansa fera.
Às vezes as palavras se tropeçam
Das línguas todo o gozo já se espera.

Silêncio vale mais que mil palavras,
Porém nesta linguagem se confundem
Cevando com vontade mesmas lavras
Serpentes mal se tocam numa fundem.

No jogo, esconde-esconde sensual,
Palavreado usado, universal...

34


As bombas explodindo aos borbotões,
Reféns da estupidez, meninos mortos,
Caminhos desvalidos, loucos, tortos
Futuros que se perdem, erupções

Devastando. Miséria em plantações
O nada se aproxima em frágeis portos,
Mulheres trucidadas, mil abortos;
Do sangue que se escoa, podridões...

Refaz-se numa flor uma esperança
Criada sobre o podre de uma guerra.
Tão bela e maviosa, uma criança

Se faz da podridão, adversidade...
Por que será preciso que esta terra
Ensangüentada adube a liberdade?


35

As brumas do caminho já se foram,
Minha alma não se esfuma em sofrimento.
Nem mais tantas saudades já me agouram,
A vida se refaz neste momento.

Alagado pela alegria deste amor,
Eu bebo, a cada dia, uma esperança.
Seguindo cada passo, sem temor,
Tão terno meu olhar sempre te alcança.

Todos os maus presságios se calaram
Não ouço nem sequer mais os oráculos.
Aos poucos teus carinhos me domaram,
Invadem a minha alma, são tentáculos...

Eu quero erguer-te a taça da emoção,
Num brinde que proponho ao coração!


36

As brumas nos tomando os sentimentos
Fazendo da esperança algo distante.
As tempestades surgem por momentos
Nublando o nosso céu mais radiante
Porém quando, enfim cessam os tormentos
Uma esperança surge num rompante...

Ouvindo o belo som de violinos
Em meio à sinfonias divinais,
Ressurgem velhos sonhos de meninos
Dos tempos mais antigos, ancestrais
Mostrando novos rumos nos destinos
Com formas e contornos magistrais.

Assim como promessa em esplendor,
A vida renasceu em nosso amor...


37

As cartas que mandaste para mim,
Guardadas na gaveta da memória.
São flores que cultivo em meu jardim.
Trazendo tanto lume em minha história...

Nossas fotografias, amareladas,
Lembranças desse tempo mais feliz.
Cadeiras debruçadas nas calçadas.
Conversa que se vai e que se diz...

Tantas saudades carrego em minha alma.
Desse tempo esquecido, do passado.
O vento da lembrança já me acalma.
Vivendo do seu lado, ser amado...

Amores que vivemos, fino trato...
Em teu amor por certo, me retrato...


38


As cartas sobre a mesa. Jogo feito.
Despisto os meus fantasmas neste absinto
Enquanto o gran finale não pressinto,
O vento soçobrando, abala o peito.

Um tempo mais feliz ainda espreito,
Embora em vagas cores já me tinto,
Mesmo que saiba o verso agora extinto
Na fonte dos desejos me deleito.

Um inerente espectro que o poeta
Afaga como imagem predileta,
A válvula de escape, fantasia...

A parte que me cabe se esvaindo,
Enquanto vejo a lua ressurgindo
Negando este improvável claro dia...


39


As cinzas apagadas, quero o fogo!
Nas chamas destes braços, meus confeitos
Te peço, te repeço, tanto rogo!
Amores que plantei, eram perfeitos...

Nas sendas dos meus sonhos, teu olhar...
No mundo que encontrei, és um vulcão!
Por tantos universos, vou te amar!
Explodes em delírios, coração.

Na brasa que trouxeste, meu desejo.
Quimeras esquecidas, não as tenho...
Embora tantas vezes feche o cenho.

Na noite que rolamos, prazerosos,
Sentidos e carícias, relampejo.
Bárbaro, o nosso amor que é feito em gozos...


40


As cinzas que emanavam dos meus dias,
Criando tempestades sem descanso.
As rondas que traziam fantasias
Meu rio procurando o seu remanso...

Nas farpas que me deste, ventanias
Os píncaros sublimes não alcanço.
Não quero mais Renatas nem Marias...
Apenas restos sobram, então danço!

As minhas diamantinas alvoradas
Mentiram semelhanças e defeitos.
Carruagens divinas são levadas

Pelos corcéis velozes... Seus feitos
Espelharam nas lendas reis e fadas...
Amores pareciam ser perfeitos...


41


As coisas que inda trago desta terra
Coladas como grude no sapato,
O amor que não conheço e que retrato
Na boca do vazio que me encerra.

Mal pude conhecer a paz, e a guerra
Recomeçando às custas deste fato,
Enquanto a juventude esmago e mato
Rosa dos ventos tola, já se emperra.

Cabrito quando berra afasta o lobo,
Não sou jamais magnânimo, ser probo
É tudo o que disfarce minha gana.

As garças poluídas, óleo e piche,
Futuro se pintando em azeviche,
Nas rédeas poderosas, sexo e grana!


42


As cores deste céu que sempre quis
Formando este mosaico mais fantástico
Soprando nos meus olhos sacro giz
Um sonho que me entorna, assim bombástico

Mergulho neste mar que outrora estático
Agora é feito em brilho, intensa luz,
Vivendo este porvir tão enigmático
Ao eldorado vivo me conduz.

Saltando o muro imenso dos problemas
Alçando em ilusão tal patamar,
Diviso neste amor, divinos lemas

Que fazem da alegria o meu pomar,
Não temo nem pretendo que tu temas,
Pois temos já conosco o santo amar...


43

As cores do desejo
Caleidoscopiamente
Reluzem qual lampejo
Tomando a minha mente,
Em teu corpo tracejo
Um verso mais contente

Que é feito da vontade
De ter o teu prazer
Em tal felicidade
Eu quero me perder,
Mostrando na verdade,
O nosso bem querer...

Amar em plena glória,
Certeza de vitória....

44


As cores verdadeiras já traduzem
Diversas sensações que nos afloram.
Origem, com certeza destas luzes
Que em sempre transitam, não demoram.

Num prismático sonho me conduzes
Aos arco-íris fantásticos que moram
Nos sonhos de quem leva suas cruzes
Sabendo que mil flores as adornam

Guardando seus perfumes no bornal,
Mostrando uma esperança, em esmeraldas,
Tu tens uma alegria que desfraldas

E trama noite e dia, em bom astral,
Com risos delicados e gentis,
Um mundo mais brilhante, enfim, feliz...



45


As crianças dormidas como o pão
Jogados pelo esgoto da cidade,
Bebendo da tortura em podridão,
Vasculham cada resto da amizade

Que brote de algum louco coração
Distante deste mundo, da verdade.
Mistura de temor e compaixão,
Negando para outrem saciedade.

A sociedade passa e fecha o cenho,
Vergonhas espalhadas pelas ruas.
No fundo até demonstra algum empenho

Matando ou destruindo esta paisagem.
Escondam suas almas, que estão nuas
Diante deste quadro sem bandagem



46


As danças que não danço dançarei
Amores que perdi não mais esqueço.
Nas festas que promessas fui um rei,
Os beijos que te dei, nem os mereço!

Vestidos transparentes que sonhei,
Mentiras tempestades meu tropeço.
Nas camas as esperas que terei,
Não somos simplesmente um adereço...

As fantasias tolas que vestimos,
Amores que se mudam, velhos limos,
Não faço apologia da saudade,

Meus versos são pedaços de promessa.
Amor que sempre esconde não começa,
Na porta descrevi felicidade...


47


As delicadas folhas da esperança,
Revoam sobre rudes pensamentos.
Qual fossem resquícios da criança
A nos acompanhar, tantos momentos...

A fímbria de minha alma já se avança!
Os torpes vendavais, veros tormentos...
Os rumos desprendidos da lembrança
Me levam a ferozes sentimentos...

Aspérrimos declives de minha alma,
Mergulho precipícios do desejo.
Nem versos, nem carinhos, nada acalma...

Tropeço meus delírios nestas nuvens...
Artífice, emolduro pobres bens
A solidão, enfim, trará teu beijo...


48


As dores contemplaram-me sorrindo
Tão logo tu partiste amada minha,
A morte que solene se avizinha
Aos poucos vem chegando e decidindo

O rumo que não quero perceber,
Na batalha que travo todo dia,
Lutando por amor e fantasia
Buscando, sem descanso, o meu prazer.

Hedônica vontade de seguir
Alçando cada passo nos carinhos,
Traçando com desejo os meus caminhos

Aonde inda pretendo descobrir
Amor que sei deveras benfazejo,
No novo amanhecer que assim, prevejo....



49


As dores da saudade já pressinto
Valentes sentimentos não suportam
Enquanto as esperanças sempre cortam
Em cores tão diversas quero e pinto.

Alheio ao que se fala pelas ruas,
Dos bares já não tenho mais notícia.
Usando meu carinho com malícia
Eu teimo em ver as deusas semi-nuas.

Pecado é nunca ter porque sonhar,
Sereia se despede do meu mar
E morre quando pisa na alva areia.

Repito o velho mote adormecido
No colo do passado e não duvido
Que a lua se vier, agora é cheia...


50


As dores me entranhando são vorazes
Inoculando, amargas, as peçonhas.
Cortantes, vigorosas, tais tenazes,
Traçando minhas noites tão medonhas.
Algozes dos meus sonhos, bem mordazes,
Garatujas irônicas, risonhas.

Por mais que seja um rígido rochedo,
Meu peito se demonstra destroçado.
No gosto de teus lábios acre, azedo,
Resumo de um destino malfadado.
Em hediondos ritos, os enredos;
Se perdem neste céu negro, nublado...

A sorte abandonada num cassino,
Derrotas que acumulo. Meu destino...




51


As dores que carrego, são imensas
Trazendo a cada passo as casamatas
Que trago dentro em mim de priscas datas
Matando pouco a pouco minhas crenças.

Outrora me perdi nas serenatas
Que tinham nos sorrisos, recompensas,
As nuvens de meus sonhos vão suspensas
E morrem noutros rios, em cascatas.

Erguendo nos teus olhos, catedrais,
Refletem a magia dos vitrais
Dos templos da ilusão que assim perdi.

A vida que divide amor em castas,
Ao mesmo tempo sinto que te afastas
Deixando este vazio enorme, aqui...


52


As dores que formaram nebulosas
Nos sonhos imprecisos deste amor,
Agora se permitem novas rosas
Tão orgulhosas sabem como a flor

Perfuma um desejo tão sutil
De ter-me novamente redimido
De todo este meu mal, amor gentil
Faz-me da morte estar, ser renascido.

A força que me atrai também revela
Que posso ser feliz, talvez um dia,
Pintando um novo amor em nova tela
Nesta aquarela santa da alegria.

A solidão recolhe suas garras,
Rebento, com o amor, estas amarras!


53


As dores que insensatas já perduram
Crivadas pelos olhos feitos ódios,
São frutos que em tristezas se maturam
Distantes da alegria dada em pódios...

Nos óleos em que curas se perfilam,
O gesto do perdão vai se alongando
Venenos com certeza não destilam
Aqueles que recebem amor, quando

A dor ao invadir a casa aberta,
Recebendo no amor, contrapartida,
Deixando a solidão, erma e deserta,
Vagando ao derredor, não vê saída.

Por isso é que a tristeza vaga avulsa,
Ao receber do amor firme repulsa...


54


As dores que me tocam, seculares;
Por vezes me maltratam e desprezam
Nas costas, toneladas que já pesam
Depreciando sempre meus altares.

Às vezes esquecido em ledos bares,
Botecos da saudade onde não rezam
Aqueles companheiros que me prezam,
Bem poucos, pois se tanto, restam pares.

Malgrado em cada riso eu reconheço
O gargalhar insano e quase louco,
Promessa de outro porre e de um tropeço.

Em párias madrugadas, a verdade
Do que restou assim, deveras pouco,
Apenas nas carcaças, a amizade...


55

As dores vêm chegando, bando a bando,
Mas vejo no cortiço uma mansão
Vivendo o quanto quero desde quando
O tempo se mostrou em viração.

Carrego no meu peito o verso leve
Que molde num momento a liberdade.
A vida nos teus braços já se atreve
E ronda o tempo inteiro claridade.

Estúpida tristeza não mais quer
Saber do peito aberto que poreja
O gosto delicado da mulher,
Decerto o que se quer e se deseja.

As dores vêm chegando? Pobre delas...
Os barcos vão abrindo novas velas...


56


As emoções do amor, sonhos de glória
Povoem tua vida, companheira,
Mudando todo o rumo desta história,
Na sorte – ser feliz- que venha inteira

No dia em que completas mais um ano,
Eu quero que tu saibas que te adoro.
Distante da tristeza e desengano,
O teu aniversário, eu comemoro.

E trago o meu olhar mais radiante,
Por ter tua amizade tão sincera.
Que a vida te sorria doravante,
No eterno florescer da primavera.

Feliz aniversário minha amiga,
Que a luz que te guiou, sempre prossiga.


57


As emoções florescem no meu peito
E fazem de teus olhos, farol, guia
Em cada beijo teu, santa euforia,
Deixando o meu caminho satisfeito.

Outrora em dura vida, contrafeito,
Refém do sofrimento e da agonia,
Somente o vento triste que eu ouvia,
Servindo de mortalha no meu leito...

Agora que conheço o teu carinho,
Suaves lábios teus, meu porto e cais,
Não sigo mais vazio e nem sozinho,

Pois sei que tenho amor que satisfaz,
Chegando devagar, bem de mansinho,
Fazendo eu te adorar, amar demais...


58


As esparsas sentinelas
Não cuidavam da senzala
Escapavas nas jinelas
Saltavas espessa vala

Cortavas nas fivelas
Essa dor nunca me embala
Uma orada mil capelas
Suspendem meu sono e fala!

As sentinelas não viram
As horas que passei lá;
Velhos fuzis não atiram,

A morte nunca dirá
Tal ermo foi conquistado
O meu mar foi navegado!


59


As espumas do mar lambendo os pés
Nas ondas nas estrelas branca areia...
A vida que me deu barco e convés
Agora vem me dar bela sereia...

Amor sou tão feliz por que te quero,
Nas águas mais salgadas deste mar.
No ronco destas ondas, tanto espero
O canto da sereia... Quero amar!!!

Porém, nesta ternura algo assusta,
Amor, amar o mar maré e a praia,
Alegria demais, quanto me custa?
Talvez a solidão faça tocaia

E leve meu amor como me trouxe,
Matando essa ilusão em água doce...


60


As estrelas por tiaras
Nos cabelos da morena
As noites todas, tão claras,
Felicidade me acena...

Pressinto todo prazer
Que virá, noite primeira,
Aos poucos te conhecer
E te conceber inteira.

Beleza, morena rara,
Raro amor que quero em ti
Na vida que se prepara
Teu brilho tão belo vi.

Me enredar nos teus novelos,
Qual tiara nos cabelos...


61


As existências todas repartidas
Nas residências mortas em batalha,
Nessas crianças quietas desvalidas,
Nos gumes mais cortantes, na navalha.
Nas ilusões sem par e combalidas
Na forca que nos toca enquanto atalha.

Na velhice do jovem, do skinhead,
Na mentira do sonho de futuro
Além do que se ganha e que se perde,
O nada está guardado atrás do muro.
Meu filho, que outro filho não mais herde
O dia que se escorre e vai escuro...

Ao nada que voltamos, na verdade,
Só resta uma esperança, uma amizade...


62


Às expensas da verdade
Eu cantei com voz mais forte
O poder desta amizade
Que só trouxe muita sorte

E também felicidade
Cicatriza um fundo corte
E na solidariedade
Transformando todo o norte

De quem fora assim sozinho,
Meu querido e bom amigo,
Não permita que o caminho

Leve ao triste desabrigo.
Saiba, neste canto alinho
E o meu passo vai contigo...


63

Às expensas do corpo morto em vida
Decerto beberão gota após gota.
Estou depois de tudo, de saída
O tempo de viver enfim se esgota.

A sorte há tanto tempo decidida
Deixando uma esperança já remota,
Exponho com sarcasmo esta ferida
Lambida pela fera mais escrota.

Farrapos que desfilo pelas ruas
Na garatuja o riso em gargalhada;
Enquanto me cuspindo continuas

Sorrio do meu jeito mais gentil,
Usando a frase feita e decorada
Já mando para a puta que pariu!


64


As farpas que trocamos no passado
Não tão distante mostram quantas vezes
A vida se transforma em mil reveses
E muda sem saber de rumo e lado.

Quem dera se eu pudesse de bom grado
Fingir que jamais fomos simples reses
Atadas por enganos tão burgueses
Correndo atrás da sorte, velho gado.

Do velho socialista nada resta
Senão alguma luz que invade a fresta
E mostra este fantasma que hoje sou.

Um dia em tua boca eu mergulhei,
No beijo mais gostoso que troquei
Daí o velho trem descarrilou...




65

As fascinantes noites tentadoras
Produzem emoções tão fabulosas,
As coxas que se tocam redentoras,
Jardins que se procuram querem rosas.

As nossas carnes trazem tal perfume
Que vão embriagando em cada toque.
Vencida a tempestade do ciúme
Procuro em tuas formas meu enfoque.

Desejo destas doces, mornas fontes,
Neste mormaço intenso que me queima,
Observo neste sol meus horizontes
Na cama, me ofereces guloseima

Que quero desfrutar cada pedaço,
Sem me importar sequer com o cansaço...



66



Às favas já mandei a solidão,
Estúpida quimera, tola algoz,
Ouvindo da emoção a mansa voz
Encontro finalmente solução

E sigo sem temer constipação
Sequer uma águia imensa e mais veloz,
Os dentes que quebrando qualquer noz
Permitem delicada refeição.

Das tripas, coração, se for preciso,
Perdendo nos teus braços, meu juízo,
Invernos esquecidos na gaveta.

Olhando de soslaio vejo a fruta,
Já posso adivinhar úmida gruta
Mesmo que o verso saia assim, cambeta...


67


As fibras do meu peito espedaçadas
Por amor tão intenso que sagrei
Àquela doidivanas que encontrei
Andando assim sozinha nas calçadas.

Palavras sem sentido, maltratadas,
Em versos de loucura, eu dediquei,
Agora, mais distante, eu encontrei
Verdades nunca ditas, disfarçadas

Em todos os sorrisos que fingiste,
Deixando o coração deveras triste
Mas mesmo assim eu digo: vale à pena.

Amor nunca é demais, mesmo que venha
Em brasa que não queima, verde lenha
Uma esperança nova que se acena...

68


As flóreas sensações primaveris
Num multicolorido alvorecer
Deixando o coração bem mais feliz,
No amor em plenitude me faz crer.

Do inverno, o céu escuro, triste e gris
Um fascinante brilho passo a ver
E nele esta beleza que me diz
Da glória abençoada de viver.

Assim, também na vida, a primavera
Promete um novo tempo, uma florada.
Minha alma tanta vez amargurada,

Depois do que sofreu em fria espera,
Viceja em esperanças como a flor
Que entrega-se ao sublime beija-flor...


69



As flores da alegria semeadas
Em versos e desejos bem regados.
Prometem novas luzes, alvoradas,
De dias mais felizes, mais amados...

As mãos quando se tocam, união,
Tornando o nosso canto mais audaz,
Matando num segundo a solidão
Mostrando o quanto o amor se faz capaz.

Contigo ,minha amada companheira,
Certeza de um sorriso em cada esquina,
Da fonte do desejo, paz certeira,
Do jardim que esperança descortina

Amor quando se entorna em amizade,
Já faz polinizar felicidade...


70

As flores da esperança vão se abrindo
Espalhando este aroma benfazejo,
O quanto ser feliz ora prevejo
De cores mais suaves, céu tingindo.

As vozes do passado se perdendo
Em meio ao forte brado da esperança,
O coração sofrido enfim se amansa
Canteiros da alegria percorrendo.

Um passageiro amargo da ilusão,
Afasta com bravura a solidão
E invade a fonte clara do prazer.

Em ti a floração se mostra plena
Razão da minha vida mais serena
Jamais eu poderia te esquecer.


71


As flores de uma eterna primavera
Os frutos da amizade e do carinho.
Granando uma esperança; morta a fera
Libertam-se meus sonhos passarinhos...

Saber de cada corte. Quem me dera...
Não ser mais caminheiro tão sozinho.
O canto em liberdade, o que se espera;
Em toda a solidão há um caminho

Que traz esta sublime fantasia
De um dia, sermos todos como irmãos.
A terra cultivada em sintonia

Sem fome, sede; Justa, harmonizada,
Não deixe que estes sonhos sejam vãos,
A sorte em nossas mãos, está lançada...



72


As flores delicadas da luxúria
Nascidas no canteiro do desejo,
Num rito de loucura mais espúria
Despetalando em cada novo beijo.

Não quero em teu prazer, uma surdina,
Eu quero que tu grites sem vergonha,
Mostrando tão voraz quanto alucina
Mordendo o travesseiro, rasga a fronha...

Porejem os suores mais brilhosos
Como gotas de orvalho nesta flor,
Aberta aos raios quentes, vaporosos,
Entregue a tais mormaços deste amor.

Neste jardim divino, no canteiro,
Só quero ser, querida, o jardineiro!



73


As flores do jardim de nossa casa
Em plena primavera, tantas cores!
Calor dum sentimento que me abrasa,
Trazendo mais perfume para as flores;

O vento, calmamente, tanto apraza
Vestindo de esperanças minha dores.
Fogueira das paixões ardendo em brasa
Volúpias que me trazem meus amores...

Tenho culpa se quero ser feliz?
Em todas estas flores do jardim,
Algumas com raríssimo matiz.

São lumes duma tão pobre existência
Que teima feramente estar em mim.
Entre todas as flores, bela Hortênsia!



74


As flores do jardim já se murcharam
Não pude desfrutar qualquer perfume,
O amor que eu concebera, de costume,
Palavras sem sentido, deturparam.

Os laços que nos unem desamparam
Apagam no caminho fogo e lume.
Apenas posso ouvir o teu queixume,
Distantes, nossos sonhos se tocaram...

E pude perceber o quanto é vago
O mundo em desespero que hoje trago
Fazendo do silêncio um estribilho.

Querendo em desespero algum afago,
Debulho da tristeza cada bago,
O amor jamais será um empecilho...


75


Ás flores eu pergunto pelas novas
Que trazem para mim de ti querida.
Nos dias que se passam e renovas
As forças que me trazes para a vida.
Procuro em poesia, versos, trovas,
Não vejo, labirinto, outra saída.

Mas ouço por resposta alentadora,
Que estás a são e salvo, minha amiga.
Notícia que por certo é redentora
Para quem tanta dor, no peito, abriga.
A sorte benfazeja e condutora
Permite que o caminho, enfim prossiga.

Às flores, agradeço tais carícias
Contida em boas novas nas notícias...

76

As flores palpitando no jardim,
Asquerosas manhãs que assim vieram,
Rondando tempestades dentro em mim
Nas mãos que não me tocam, degeneram.

Vestindo a podridão que me deixaste,
Meus ásperos caminhos não têm volta.
Apenas conhecendo mais desgaste
O vento que acarinha se revolta

Mordazes gargalhadas; traz o vento,
Jocosas partituras musicais.
Arranjos de cantigas em lamento
Distâncias e tormentas magistrais.

Lembranças de teu corpo e a ansiedade
As flores vão murchando com saudade.


77



As flores que mataste sem pudores,
Abandonadas, restos num jardim,
Não permitem perfumes e nem cores,
Mas nada representam mais em mim...

De todos os caminhos e louvores
Refeitos em desejos, sendo assim,
Singelos e perfeitos esplendores
Unidos noutro lábio carmesim...

Mas tudo o que ensinaste, de bom tom.
Amor não se permite sonhos mansos.
O mundo se transmuda e mostra o dom

Duma amizade plena em novo dia
Uma certeza imensa de remansos
Mostrando finalmente esta alegria...


78


As flores que plantamos e colhemos
Com toda esta alegria que é sem par.
Amor que nos domina, oferecemos
Num ritual divino a se mostrar.

A cada novo dia que vivemos
Sabemos tantas flores semear,
Sempre mais neste amor nos envolvemos
Os frutos já começam madurar.

Entornam nas cantigas, melodias,
O bom da vida é sempre ser feliz.
Assim passamos todos nossos dias

Querendo nesse amor boa guarida,
Tu és o que sonhei e sempre quis,
O bem mais importante desta vida...


79


As flores traduzindo a nossa vida
Trazendo as mais diversas compleições
Espelham dissabores e paixões,
Encontro disfarçando-se em partida.

Na porta de chegada, eis a saída,
A chuva se anuncia em mil trovões
Problemas prenunciam soluções,
Em plena multidão, cruel ermida...

Não chores se ferir-te algum espinho
Não deixe que avinagre um doce vinho,
Matando em nascedouro, intenso lume.

A rosa que maltrata por defesa,
Prepara no final esta surpresa
Que é feita em maravilha, no perfume...


80


As folhas outonais de minha vida
Amarelando os sonhos que inda trago,
Quisera a placidez de um manso lago,
Porém na juventude já perdida

Estendo o meu olhar. Tarde cumprida
Na dura sensação de um falso afago
Da fera que se expõe. O tempo é mago,
Na alquímica loucura, a despedida...

Cinismos entre risos e carícias.
Sarcásticas estrelas, carrosséis...
Nas esquinas e nos bares, nos motéis

Irônicas paixões, tolas, fictícias
E o espelho me falando do abandono,
Agrisalhando o sonho em pleno outono...


81


As frias madrugadas não deixavam
Prever-se um claro sol, uma alvorada.
O quanto que meus olhos procuravam
Depois de certo tempo, o mesmo nada.

Retrato em preto e branco do passado,
Apenas focaliza eterno não.
Às vezes num olhar mal disfarçado
Ainda encontro luz neste porão.

Voando em lusco-fusco, um vaga-lume
Resiste e sobrevive dentro em mim,
E quem sabe por vício do costume
Lutando, solitário até o fim

Eu quero crer no amor, mau ladrilheiro,
Ladrão do diamante verdadeiro...


82


As galés e as cadeias que me tragam
Os restos do que fomos e perdi,
Enquanto os velhos rios, olhos dragam
Bebendo todo o sal que sei em ti

Apenas os temores inda afagam
O amor que imaginei decerto aqui,
As frutas do prazer, sonhos estragam,
E os ventos mais ferozes; concebi.

Viver é ter na força da esperança
A fonte inesgotável que nos lança
Ao mais sublime encanto: perfeição.

Porém depois da festa, este vazio,
E o coração se expondo ao medo, frio,
Olhando inutilmente, pra amplidão...


83


As gargalhadas torpes de um demente
Rondando a minha casa, noite afora.
Vontade de te ter ora premente
Transborda enquanto o medo já se aflora.

A barca dos meus sonhos, tenazmente
Procura algum remanso, mas ancora
Nos braços da tortura que pressente
O fim de uma esperança desde agora.

Aguardo uma resposta que não vem,
Amar e ser feliz? Pura tolice.
A solidão voraz tudo desdisse

E a vida assim sonega um outro alguém.
A porta escancarando o fim me aponta
Enquanto a fantasia morre, tonta...



84


As horas desfilando em minha frente,
Durante a madrugada vou insone.
Quem dera se tocasse o telefone,
Porém só solidão se faz presente.

A chuva desabando sobre o teto,
As lágrimas molhando o meu lençol,
Nuvens impedirão que venha o sol,
Apenas, na manhã, teu desafeto.

Seria muito bom poder sonhar,
Sentir o teu perfume junto a mim.
Não posso suportar a vida assim,

Sem ter sequer o apoio da esperança;
Mergulho no passado, imenso mar
Revolto em vendavais sem ter bonança.


85


As horas disparando, pendulares.
O coração, eterno perdulário,
Guardando como um raro relicário
Momentos entre estrelas, ruas, bares.

Encontro-te por todos os lugares,
O amor é um mal deveras necessário,
Matando pouco a pouco, cada otário,
Mergulhos de luar prateiam mares...

Gravada em minha pele, a tua face,
Por mais que o tempo lépido já passe
Jamais me livrarei de teu retrato.

Gavetas que carrego no meu peito,
Ao mesmo tempo, louco me deleito,
E quebro sem juízo nosso prato...


86


As horas não serão recuperadas,
A vida que se foi não se repete,
Vagando em solidão por madrugadas
Saudade faz do amor simples joguete.

Decerto que jamais eu merecia
Destino, duro algoz, sempre cruel,
Quem sabe... Na verdade a fantasia
Expressa-se em amargo, eterno fel.

No véu das nuvens vejo o teu reflexo,
Insano; eu bebo o riso que perdi,
O meu caminho segue sem ter nexo,
Eu nada sou, distante assim de ti.

O risco de viver, a dor fomenta,
A noite vai sombria e violenta...


87


As horas que se passam não se calam,
Espreitam tempestades, má resposta,
As mãos tão delicadas não embalam
Cortando minha carne talho e posta.

Os olhos que me miram sempre escalam
Mostrando na verdade, quem não gosta,
Verdade nos teus lábios vai exposta
No pobre que estes hálitos exalam.

Jogaste fora a sorte num momento,
O barco naufragaste, sem valia,
Da chama que acendeste, nada ardia,

Procuro te entender, mas não consigo,
Tomando em minha face o duro vento,
Distante de teus olhos, eu prossigo...


88


As horas que vivemos rodopiam
Não param nem que parem mais anseio,
As noites que tivemos já se fiam
Nos gozos deste corpo que incendeio...

Nos brindes que fazemos, meu segredo,
Brincando no teu corpo até morrer,
Embarco neste jogo e vou sem medo,
Embrenho tua mata em teu prazer.

Em tua companhia chama o gesto
E grito peço colo e vou te ver
Em tudo que te peço já me empresto
E deito junto a ti, até morrer...

Não roubo só minutos, com paixão,
Eu quero te tocar toda emoção...


89

As horas se passando sem proveito,
As víboras mordendo um imbecil;
Um verme que ambulando no meu leito,
Vai se mostrando ignaro, o ser tão vil.
Mostrando estupidez, nisto é perfeito,
Não sabe ser tampouco mais gentil...

Os dias se decorrem de outros dias,
Eterno carrossel do meu destino,
Deitando quase perco as fantasias
Mas sigo em meu porvir sendo o menino
Que sempre transbordava em alegrias,
Trazendo uma esperança quase a pino.

De ter amor sincero e mais feliz,
Curando do que fora, cicatriz...


90

As horas se passando tão nefastas
Distantes de quem amo, dor profana.
Cortando minhas costas, quais vergastas,
A morte, sem segredos, não me engana.

Pousando sobre mim, nuvens de insetos,
Provindo dos cadáveres; minha alma,
Devoram em repastos velhos fetos
De uma esperança frágil. Nada acalma.

Sentidos tetanizam quem maltrata,
Em trismos dolorosos, sem ter pena.
Pavor já me invadindo, já desata
Sangria violenta que se acena.

A solidão vagueia, e me desgasto,
Sabendo que serei, o seu repasto...


91




As horas se passando, vou sem norte.
Procuro minhas sombras, nada vejo...
Quem dera se encontrasse a minha morte
Na boca da pantera, escarro e beijo.

Vencido pelas noites de cansaço,
Só tendo a solidão p’ra repartir.
Em plena madrugada, sem abraço,
Eu não consigo nem sequer dormir...

Tristeza vai tomando tudo aos poucos ,
Não deixa nem espaços de esperança.
Os gritos lancinantes saem roucos.
A morte, mesmo lenta, já me alcança...

Também não quero a sorte de saber
Da solidão que segue o meu viver...


92


As horas vão passando em turbilhão
Meus olhos são distantes e dispersos,
Saudade maltratando o coração
Reflete mais intensa nos meus versos.

Inferno e paraíso? Redenção...
Refeito dos momentos mais perversos
Tomando o pensamento chego ao chão
E vago pelos restos meus, imersos...

A noite traz a dor em diademas
Tocando qual adaga o velho peito.
Fugir dos meus temores e problemas

Talvez a solução que precisasse.
Mas olho o teu retrato e, satisfeito
Encontro em teu reflexo, a minha face.


93

As horas vão passando... Sinto algum
Desejo no bater manso do vento.
Às vezes imagino, ser nenhum
Poderia entrar pelo pensamento...

Andando por esquinas sou mais um...
Distante de qualquer dor ou lamento
Eu me embriago em ti. És o meu rum,
Te bebo com ternura e sentimento....

Nunca mais poderia planejar
Outro mar. Preguiçoso coração
Encontrou esse cais e quer ficar.

Pelos teus mares, luas e sertão,
Meu rumo e nexo, o sexo a trafegar;
Te sinto em pensamento, me tocar..


94


As horas, na distância, tão compridas,
Os barcos em tempestas, soçobrados.
Porém se aqui te encontro, nossas vidas
Em modo benfazejo, sobraçados,

Seguimos pelas sendas mais floridas,
Nos corpos que se buscam, imantados.
Secando as tempestades desvalidas
Impregnam em clareza e paz os prados

Nos mares deste amor vou navegando,
E os olhos se procuram, se tocando.
Espalham nevoeiro que malsã

Há tempos ocultara o claro sol,
No amor tão verdadeiro, o meu farol,
Recebo o brilho manso da manhã


95

As hóstias escondidas, nestas matas,
Sanguinolentas marcas entranhadas.
Os olhos derramados em cascatas
Dos pães apodrecidos, mais fornadas.

O riso em tempestade, o gozo fútil
O amor que não se deixa mais flagrar
Arando em terra seca, árida, inútil
Apenas o vazio a encontrar

Deixando o gosto amargo em cada boca
Formando um turbilhão em desespero.
O medo vai tomando cada toca
Na ponta do fuzil, novo tempero.

No quanto pude crer em solução
Vi fogaréus sem dó nem compaixão...


96


As idéias com força de mudança
São luzes que irradiam e que guiam.
Em meio a tantas coisas que surgiam,
Renova-se, no mundo, essa esperança!

Quem traz, dentro do peito, uma aliança
Com tudo que virá sabe que haviam
Aqueles que com novo não se aliam,
E morrem atolados na lembrança.

O mundo se refaz a cada dia,
Nas órbitas, satélites, na fria
Decisão dessas máquinas sem brilho...

Porém, tenha certeza companheiro,
Que tudo se renova, o mundo inteiro,
Somente essas idéias traçam trilho...


97


As juras e perjuras que trocamos,
Na casa pequenina dos meus sonhos,
Momentos delicados e risonhos,
Que agora com carinho relembramos.

De uma árvore, distintos, outros ramos
Os dias se tornaram mais tristonhos,
Noctâmbulos fantasmas que medonhos
Durante vários anos encontramos.

Agora eu te encontrando, posso crer
Que a vida num eterno renascer,
Permite o apascentar da tempestade.

Das juras me recordo, com certeza,
O tempo preparando esta surpresa
De novo traz pra nós felicidade...


98


As juras que fizeste? Diamante
De rara falsidade em tosco brilho.
A senda prometida, fascinante
Nunca passou de apenas pobre trilho.

Por mais que a fantasia se agigante,
Encontra na verdade um empecilho,
Boné não se transforma num turbante,
As lendas que contaste; em vão empilho.

A foto que tiramos, na lixeira
Jogada sobre restos de comida,
Assim eu traduzi a nossa vida

Na medíocre ilusão, planta rasteira
Tomando o meu canteiro, vil, daninha,
Que um dia imaginei, fosse só minha...


99

As lágrimas celestes, gotejando,
Dessas nuvens escuras, tempestades...
Meus lábios em teus lábios, viajando.
A janela trancada, obscuridades...

O tempo resoluto, vai passando,
Os monstros que tivemos, das saudades,
Aos poucos vão morrendo, exterminando...
Das lágrimas do céu, serenidades...

As luzes embotadas, negros olhos...
O canto que decifra meu tormento...
As flores desencantos, colho em molhos.

As noites que vivemos, nebulosas...
Caindo, a chuva inunda o pensamento,
As lágrimas fecundam terra e rosas...


3300


As lágrimas d’outrora são tenazes
E forram todo o peito que te adora.
As dores que me invadem são vorazes
Saudade deste amor, já me devora.

Quem dera nos meus mares tão distantes
Nas praias nas areias, nos desertos...
Amores que se foram inconstantes
Agora no final, morrem despertos...

Mistérios desta vida que me ilude,
Amar nas brisas mansas, roseirais.
Amei bem mais talvez do que não pude
Ao fim de tantas luta, nunca mais...

Quem dera se me desse teu afago,
Teria a mansidão plena de um lago...
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
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