Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 056

 
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501

É madrugada fria, estou sozinho,
Sonhando com amor que já partiu.
Revoltos travesseiros neste ninho
Demonstram quanto amor me repartiu.

Amigo me perdoe, companheiro
Se telefono a ti, em altas horas,
Escuta este meu verso derradeiro
Perdi minha esperança, essas escoras

Que tanto me ajudaram a viver,
Agora nada resta senão pranto,
Um corpo que se move sem saber
Sequer se inda tem forças, desencanto.

As estrelas do céu já se apagaram,
Apenas os teus braços me apoiaram...


502

É lúdico brincar com a vontade
Da pobre criatura que agoniza
Fingindo ser suave e mansa brisa
O que sei ser temível tempestade?

Mostrar em face escusa, a liberdade,
Fatídica mortalha que, precisa,
Estampa a realidade em que se avisa
Ao fim da noite o gosto da verdade.

As chagas se aprofundam, corte extenso.
A cicatriz jamais conhecerei.
O ar que se espalhando sempre denso

Nas névoas agrisalham nosso céu
Enquanto a falsidade for a lei,
Justiça nunca passa do papel...


503

É líquido o que falta neste embate
Batalhas entre atalhos e retalhos
Se a vida não permite este combate
Rebotes são momentos e atos falhos.

Pirulito batendo tanto bate
Afasto os teus desejos, dentes d’alhos
Depois a gente inventa um novo engate
Bulindo com prazer, penduricalhos.

Abates com delírios minhas asas
Roçando com furor, divinas brasas
Entraves esquecidos, nova algema.

Os anos que se passam, horas tolas,
Enquanto penetrada mais rebolas
Dos espermatozóides: piracema...
Marcos Loures


504

É lastro que me traz elevação,
O velho sentimento em base forte.
O que seria enfim, sem tal suporte
Apenas o vazio. Negação...

Ao permitir total transformação,
Que a solidão agora, amor aborte
Tramando em mansidão um calmo Norte
Supremo benefício do perdão...

A sólida presença faz com que
Tudo seja mais fácil e a cada dia
Enquanto humanidade rodopia

Minha alma no futuro ainda crê;
Sabendo com firmeza deste arranjo
Quem traz em pleno solo o amor de um anjo...


505

E impede a caminhada pelas ruas
Mais floridas. Os olhos lacrimejam
Distantes desses sonhos que desejam,
Flores despetaladas, quase nuas.

As mãos cevam daninhas e espinhentas
Abrolhos onde eu quis ter meu provento.
Inútil prosseguir, porém eu tento,
Imerso em aridez. Não me apascentas.

E segues cada rastro feito em lava,
A tez que em falsa luz, infâmia grava,
Demonstra, tatuados, pesadelos.

Dos tantos pedregulhos recolhidos,
As farpas invadindo os meus sentidos,
Fantasmas vão rondando; posso vê-los...


506

É hoje que começa a propaganda
Aonde os tais palhaços pedem votos.
Quizumba sem igual, tudo desanda
Enquanto os pensamentos vão remotos.

Ouvindo mais distante a velha banda
Remonto ao meu passado, vejo as fotos
Quem marcha com firmeza já não anda
Jogando uma esperança nos esgotos.

Sorriso sempre falso diz promessas,
Depois vem o poder e tudo muda.
Agora num otário a peste gruda

Depois? Foram somente engodo e peças
No conto do vigário, eu não mais caio,
Ouvindo na tevê tal papagaio...


507


É minha amada, sei o quanto sofres
As tristezas que causam te maltratam,
A vida nos encerra em tantos cofres
Parecendo que nunca mais desatam...

Mas saiba que estarei sempre ao teu lado
Em todos os momentos dolorosos
A mão que nos afaga, manso prado
Perfuma-se nos cardos olorosos,

Ferindo com espinhos, nossos sonhos
Trazendo essas procelas mais terríveis
Não quero que tu tenhas mais medonhos
Pesadelos noturnos tão horríveis...

E saiba que te quero, sou abrigo...
Sou teu, com muito amor, somente amigo...


508

É meu princípio, trama, rumo e fim
O muito que transportas num olhar,
O quanto te desejo, sempre assim,
Divina transparência a nos tocar.

Artemísias, gerânios, meu jardim
Na febre que transtorna a se entregar
Bailando uma esperança sobre mim
Em ondas gigantescas, belo mar.

Navego tua pele, solto as velas,
Desenho o paraíso em aquarelas
E traço a fantasia com meus versos,

Jogado em tempestade o meu saveiro,
Percebe o sonho livre e derradeiro,
Em vagas ilusões, cantos dispersos.
Marcos Loures


509

E Mesmo tão distantes de teu porto,
Meus barcos vão buscando ancoradouro,
Aos dias em que fomos, já reporto,
E sei que em tua pele, o meu tesouro,

Renasce um sentimento outrora morto
Abrir do peito a porta onde me douro
Amor que se transforma em triste aborto
Morrendo mal se fez, no nascedouro.

Da luz do amor imenso, fantasia,
Refém desta emoção, aguardo o dia
Em plena madrugada vou sem rumo.

Eu quero ter ainda uma esperança,
Porém a solidão feroz me alcança
E aos poucos me sugando todo o sumo.
Marcos Loures


510


E mesmo que isso seja uma ilusão
Transporta o pensamento e nos liberta
Amor não reconhece uma hora certa,
Causando em nosso céu transformação.

A seca se espalhando no sertão
Caminhos da esperança; desconcerta,
Servindo tantas vezes como alerta
Adentra em sofrimento, a plantação.

Viola sertaneja canta à lua
Polvilha uma esperança. A madrugada
Ganhando em lusco fusco cada rua

Casais enamorados na calçada,
A fantasia volta e continua
Ponteios da viola enluarada...


511

E mesmo que eu não tenha o privilégio
De ter a suavidade de teus lábios.
Eu não conceberei qual sortilégio
O rumo sem saber dos astrolábios...

Existo e se persisto neste intento,
Mantendo acesa a chama da esperança,
E mesmo com pavio exposto ao vento,
Meu passo destemido não se cansa...

Viajo por ermidas dentro da alma
Colhendo as fantasias e ilusões.
Até mesmo o silêncio já me acalma
Exposto sem temores às paixões

Não me importando, um velho sonhador
Aguarda tenazmente, o seu amor....
Marcos Loures


512

E mesmo quando ausente, esta presença
Que faz da minha vida, um rito nobre
A sombra deste amor que me recobre
Já traz, decerto paz e recompensa.

Não quero mais saber de desavença,
Se a lua enamorada nos descobre
Com raios mais audazes vem e cobre
Deixando a noite mansa, menos tensa.

Aguardo que tu chegues de repente
Mudando o meu destino totalmente,
Portando em teu olhar o alvorecer.

Numa explosão de cores e matizes
Ao superar assim as nossas crises
Colhemos cada gota de prazer...
Marcos Loures



513

E mesmo consumido pelo fogo
Do incêndio que devora o coração
Pensava que teria desde logo
A chama inesgotável da paixão.

Travando nas fogueiras este jogo
Que é feito de loucura e sedução,
Ardia nos infernos, sem ter rogo,
Morrendo, renascia em explosão.

A morte provisória não temia,
Enquanto em fogaréu se desfazia
Nas brasas de seus sonhos, qual lareira

a vida como fátua labareda,
Por mais que algumas vezes nos conceda,
Extingue ao fim de tudo, uma fogueira...
Marcos Loures


514


É me perdendo em ti que mais conheço
Os passos necessários desta vida.
Querer saber se amor, de ti, mereço,
Imagem delicada e mais querida...
Sabendo, o coração; teu endereço,
A sorte que eu queria, decidida...

Revelo; amor, assim, os meus segredos
Desvendo em teus carinhos, meu futuro.
Não quero mais que a vida traga os medos
Nem quero meu caminho mais escuro.
Misturo nossas tramas, meus enredos,
E sonho ter em ti, porto seguro...

Por seres a razão do meu sorriso,
A paz que procurei, meu paraíso....


515


É feita em cicatrizes, descaminhos,
A noite em solidão. Nos temporais
Bebendo avinagrado e amargo vinho
Encontro das tristezas, catedrais.

Ouvindo o antigo blues, peço carinhos,
Apenas dos acordes musicais,
Imagens percebidas, sensuais,
Perdidas entre os velhos burburinhos...

Meu corpo anda distante de minha alma,
Nem mesmo um beijo audaz, agora acalma,
Jogado nas calçadas, cão vadio.

Tantas vicissitudes recolhidas,
Esperanças revoam, vão perdidas,
Deixando em seu lugar, o medo e o frio...
Marcos Loures


516

É feita da verdade deste amor
A luz em que mergulho a cada dia,
Recebo deste imenso refletor
O brilho em que esperança se irradia.

Fazendo do meu verso este louvor,
Um hino em que permito-me alegria
Um templo em que o desejo vem propor
Além de simplesmente fantasia.

Vestindo estas estrelas que me deste,
O amor que tantas vezes nos reveste
Esplendorosamente toma a cena.

Viver esta ventura de ser teu
Aonde luz suprema se verteu
Na fonte inesgotável, clara e plena...
Marcos Loures


517


É feio soltar peido ou arrotar,
A gente aprende desde a tenra infância.
É falta de respeito e de elegância
Melhor sair bem manso do lugar.

Segure esta vontade de cagar,
Se ela vier bem forte, tente e canse-a.
Eu vejo nisto tudo, discrepância
A pança não tem hora pra roncar.

Não venha me dizer: civilidade,
Depois vem defendendo a liberdade
Até chegar quem sabe, no Congresso.

Aí é que uma porca torce o rabo,
Aquilo que era calmo fica brabo
Roubando e até de Deus cobrando ingresso...
Marcos Loures


518

É fato que amizade verdadeira
Derrama farta luz por sobre quem
Sabendo desde sempre deste alguém
Que aplaca ou mesmo acende uma fogueira.

Não quero uma palavra lisonjeira,
A dura realidade, quando vem
Descarrila depressa o nosso trem.
Amizade não se compra nem faz feira.

É como um vinho antigo e valoroso,
O tempo vai tornando mais gostoso
E traz raro buquê a quem persiste.

Rompendo qualquer grade, traz o brilho
Dourando este caminho no qual trilho.
Por mais que a marcha seja amarga e triste

519

E em meio a tantas ondas de prazer
Declino o meu olhar agradecido
Por vezes tão distante, vão, perdido,
Agora recomeço a perceber

Que toda a sapiência do viver
Expressa o tempo em paz amanhecido
No braço sempre calmo e concebido
Em momentos sublimes do querer...

As lágrimas deixadas para trás
Goteja tão somente em placidez
O lago aonde eu possa descansar

Meus olhos bem distantes da voraz
Paixão que se entornando vez em vez
Impede que o ribeiro chegue ao mar...
Marcos Loures


5520

É hoje nesta data especial
Que venho com meus versos te dizer.
Tu és; minha querida, sem igual,
Tua presença sempre a enobrecer

Doçura assim, sem par, fenomenal,
Tão rara de encontrar e de saber.
Tua meiguice sempre natural
Trazendo no sorriso o bem viver.

As tuas homenagens são tão belas
Levando tanto amor a todo mundo.
Agora ao acendermos nossas velas

Na comemoração por este dia,
Desta ternura imensa já me inundo,
Desejando-te amor, paz e alegria.

521

E grito ao mundo inteiro: eu sou feliz!
Outrora vislumbrara a paz suprema.
Pensando ter comigo o que mais quis
Rompendo com passado cada algema.

Correntes e grilhões já esquecidos
Deixados para trás... Pura ilusão
Miragens embelezam os tecidos?
Aos poucos a ruína toma o chão.

Quem dera se eu pudesse. Quem me dera...
Não tenho outro caminho, sigo só.
O vento que trazia a primavera
Estorna a fantasia e deixa o pó.

A vida preparando esta surpresa:
À noite a solidão, trama a tristeza
Marcos Loures


522

E foste me inundando totalmente
Qual fora um maremoto, um furacão,
Incontida vontade em explosão
Tomando minha vida num repente.

Andando pelas ruas qual demente
Sem ter sequer nem rumo ou direção
Perdendo, num momento, todo o chão,
Não tendo ancoradouro que se invente.

Apenas a colheita prometida
Fartura feita em safra, ganha a vida
Causando no final, doce torpor.

Meu ópio ensandecendo enquanto cura,
Na fonte prometida em paz, ternura,
Há tempos conquistaste meu amor.
Marcos Loures


523

É força que em si mesma o bem explica,
Uma amizade feita em plena luz.
Ao sonho realizado nos conduz
Trazendo a senda clara, amável, rica.

Amiga verdadeira não complica,
Um ouro soberano que reluz
A amada liberdade reproduz
E ao mesmo tempo do meu lado fica.

Por mais que à tempestade ela resista
Jamais permitirá ser egoísta
Aquela que se mostra companheira.

Em destemor permite cada passo,
Estreita cada vez mais forte o laço
Tornando uma alegria corriqueira...
Marcos Loures


524



É fim de caso, eu sei; fazer o que?
Se apenas restará uma lembrança
O quanto o coração se fez criança
Uma alma ensandecida não mais crê.

Procuro os seus sinais –Amor, cadê?
A noite tenebrosa vai e avança
Asfixiando assim esta esperança
Que morre a cada dia, sem você.

Sobreviver num tal malabarismo,
À beira deste vão, cruel abismo,
Cismando pelas ruas, solitário...

Quem sabe noutro tempo, noutra vida...
Só sei que minha sina está cumprida,
O amor foi aliado e adversário...


525

É festa que teremos, com certeza,
Com bolo, tantos doces e salgados,
Refrigerantes, risos sem tristeza
Em fogos de artifício demarcados.

Num canto de louvor eu agradeço
A Deus por ter me dado esta amizade.
Que ajuda e nos ampara no tropeço
E traz à nossa vida a claridade.

Por mais um ano, amiga, desfrutamos
De toda esta alegria de poder
Contarmos com carinho que encontramos
Nos braços de quem sei, um bem querer.

No teu aniversário, novamente,
Meu coração se apraz, fica contente...


526

É festa que se faz
A quem queremos tanto,
Que a vida siga em paz,
Tramando seu encanto,
No sonho que se apraz,
Secando todo o pranto.

Quem aniversaria
Merece uma homenagem,
Não só por este dia,
Por toda esta viagem
Que é feita em alegria,
Sem dar pra dor, a margem.

Enfim comemorar,
À vida, sem parar...

527

E deste teu amor, com liberdade,
Bem sei que nada disso foi segredo;
Quem sabe te encontrei, felicidade,
A vida não mais cabe tanto medo...

Eu quero desfrutar de ti,querida,
E conhecer teu corpo, sem pecados.
Eu vejo uma esperança dividida
De ser feliz em meio a tantos fardos...

Recebo teus carinhos, como um vento
Que sopra em meus cabelos, mansamente.
Amor que não me sai do pensamento
Amor que me domina totalmente...

Eu quero dedicar meu canto a ti,
O sonho mais bonito que vivi...


528

E depois, descansar o meu cansaço
É coisa que jamais pretenderei.
Se tanta vez, estúpido eu errei
O resto se perdendo sem cadarço.

O mar que se lotando de sargaço
Impede o que em sonhos naveguei,
O velho desdentado sabe a lei
Mordendo com total desembaraço.

As rotas navegáveis da ilusão
Sofrendo com a vil má digestão
Mudando o meu humor, faz bilioso

Caminho que pensara ser formoso,
Agora se tornando caprichoso
Aderna a minha antiga embarcação...


529

E depois deste muito caminhar
Vagando sem ter rumo, estrelas tantas
Constelo a tua andança e venço o mar
Aonde tu enterras sacripantas.

Gerindo este puteiro feito em lar,
Não quero mais as poses, falsas, santas.
Discórdia que costumas cultivar
Apodrecendo o grão sonegam plantas.

Se a mesa desta sala virou bar,
A sorte há tanto tempo já quebrantas,
Os gozos delicados sempre espantas

Deixaste esta mortalha no lugar
Se a cada novo dia desencantas,
Não tenho mais motivos pra sonhar....

5530

E em luas tão distintas naufragar
Investido de sonhos e de gozos.
Vencendo uma procela ganho o mar
E dias sempre belos, prazerosos.

Correndo no infinito sem parar
Montado em carrosséis voluptuosos
Nos cavalos marinhos galopar
Deitando mil delírios olorosos,

Misturo fantasia e realidade
Embarco num cometa sem destino.
Bebendo de tua boca, na verdade

Varanda dos meus sonhos de menino,
A lua me mostrou felicidade
No corpo da morena, eu desatino...
Marcos Loures


531

É duro perceber cada lamento
Que invade e desentoa a minha voz.
Os dias se passando tristes, sós.
Não tenho mais sequer discernimento

A morte se aproxima e com o vento
Resulta num tormento tão atroz,
Amor que já se foi, feito em algoz
Não deixa mais florir meu pensamento.

E tudo se transforma em triste vaga,
A luz de uma esperança já se paga,
Deixando a solidão, feroz herança.

O frio transtornando a noite imensa,
No bafio da fera esta descrença
Somente insensatez plena me alcança...

532

É duro despedir-me de quem amo,
Parece que metade sai de mim.
De novo a solidão. Mas não reclamo
O dia nascerá de novo, sim.
Amor que em versos, cantos eu proclamo
Trazendo toda a glória eu tenho, enfim.

Vivera tanto tempo em que uma noite
Morria simplesmente sem aurora,
A vida se mostrava duro açoite
Cortando minha pele, mas, agora
Sabendo que depois deste pernoite
Jardim feito alegria, manso, aflora

Em rosas multicores e trará
Outra alvorada; em luzes, chegará...
Marcos Loures


533

É dom que Deus me deu e nada além.
Brincando com o barro das palavras.
Se às vezes descarrilo o velho trem,
A seca não domina minhas lavras.

Antigo coração é sempre o mesmo
Que come da esperança a se fartar,
Mineiro viciado num torresmo
Não vê nem quer saber que irá faltar.

Pacato cidadão, pago os impostos,
E compro falsidades no antiquário.
Não quero ser teu peixe neste aquário

De risos tão canalhas, decompostos.
Resido aonde a luz tem endereço,
E sei cada desprezo que mereço...


534

É cíclica a vontade de beber
Uma aguardente feita em ilusão.
Ao menos me dará qualquer prazer
Embora nunca seja a solução.

Nos olhos da morena eu pude ver,
O rio se perdendo em turbilhão,
A sorte de ganhar ou de perder,
Vagando pelo espaço encontra o chão.

A faca com certeza tem dois gumes,
Assim como são vários os perfumes
Que a moça prometeu em primavera.

Coleto os pedaços do que fomos,
Comendo vez em quando fartos gomos,
Sabendo quão gulosa esta pantera...
Marcos Loures


535

É certo que pequei, eu não discuto.
Errei ao perseguir teus mansos passos.
Tantas vezes, perdido, fui tão bruto.
Outras tantas, busquei-te, vãos abraços...

Ao longe, transtornado, então me enluto;
Por ter, assim, entrado em teus espaços;
Tens razão: destruir um podre fruto,
Rebentará, decerto, falsos laços.

Mas peço, por favor, por caridade,
Não deixes este sonho se acabar!
Em vão, já procurei pela verdade,

A luta se mostrou leda, temprana...
A noite, meu amor, trouxe o luar,
Te espero, minha amada Cassiana!



536

E calço uma esperança
Assanho o pensamento,
Convido para a dança
Não deixo um só momento
Minha alma já se lança,
Em fogo e sentimento.

Amor é ter prazer
E ser felicidade.
Não tendo o que temer,
Aguardo, ansiedade,
Vontade de poder
Amar-te de verdade.

Vem logo, sem temor,
Entregue-se ao amor!
Marcos Loures


537


E cada vez mais tenho essa certeza
De que valeu a pena te esperar,
Por mais que seja forte a correnteza
Eu sinto o vento vindo devagar

Trazendo o teu perfume, e com destreza
Eu sei cada momento desfrutar.
Quem tem amor sincero sempre preza
Colhendo as perlas raras deste mar...

Eu sei que tua estrada foi vazia,
Depois que tu partiste num cometa
Um anjo anunciando em alegria

Ecoa aqui bem perto esta trombeta
Dizendo que voltaste após a espera
Na fúria delicada de uma fera..


538

E busco em cada frase uma maneira
De dizer a quem tanto assim me encanta
Que a estrada mais feliz e derradeira
Se faz nesta emoção que se agiganta.

Eu quero esta paixão tão verdadeira
Que entorna em minha vida, a luz que é tanta
De todas as vontades, a primeira,
O poder me entregar. Minha alma canta;

Mil versos te farei se for preciso,
Apenas pra dizer o quanto eu te amo.
Saudades deste amor, meu paraíso,

Eu quero me entregar de novo a ti.
Amada, esta presença que reclamo,
No coração que chora, eu me perdi!
Marcos Loures

539

“E deles vem surgindo um claro manto!”
Assim pensei um dia, em vão tormento,
Recebo como herança o desencanto
Toando este estribilho em desalento.

Coleto do que fomos; farto pranto,
Um resto de ilusão traz sofrimento,
O quanto se perdeu m frágil vento,
A noite vai restando em negro manto.

Há tempos eu sorria pelas ruas,
Tentando disfarçar antigos medos.
Imagens que carrego, amor são tuas,

Tentando relembrar tanta beleza,
Porém um amargura impõe seus dedos
Rasgando a minha pele esta tristeza...
Marcos Loures


5540

E dela num mergulho alvissareiro;
Estrelas que dominam céu e mar,
O canto de promessa é verdadeiro
O derradeiro gesto diz amar.

Empresto o coração ao sonho leve
De quem em tantas vezes foi sutil,
A mão que te acarinha, que te enleve
E leve o que se mostre mais gentil.

Nas tílias e verbenas, o jardim,
Forrando os nossos sonhos em mil cores,
Vicejam; sobretudo, dentro em mim
As mais divinas belas, raras flores

Espalham tal aroma que inebria
Espelha o nosso amor, plena alegria...
Marcos Loures


541

E de novo, quem sabe, caminhar
Galgando assim espaços mais diversos
Quem planta e só deseja cultivar
Não vê outros tormentos, vãos, perversos.

Meus olhos nos teus olhos quando imersos
Permitem cada sonho a se espelhar
Cevando os infinitos universos
Aonde tantas vezes mergulhar...

As marcas do passado são apenas
Detalhes que em verdade sempre encenas
Tentando algum nuance mais amargo.

Veredas que caminhas, amplidão,
Torrente desejosa da paixão
Vislumbra o Paraíso, sem embargo...


542

É de manhã, o sol brilha no orvalho
Dançando em mil gotículas, cristal...
No quarto refletindo qual retalho
Decora o belo corpo magistral...

Ao ver este convite para a vida,
Levanto o meu olhar para te ver,
E sinto que encontrei a paz perdida
Nesta mulher vestida de prazer.

A chuva que caíra em meu passado,
Dando lugar ao sol maravilhoso,
No amor que pressenti ter encontrado,

Vontade de sair e passear,
Neste calor sereno e tão gostoso,
Certeza de poder de novo amar...

Marcos Loures


543

É como se eu soubesse que virias
Mudando a direção de minha vida,
Em raras filigranas sintonias
Harmonizada luz já percebida.

Além de simplesmente fantasias
Reflexos de uma história não vivida
Retendo em suas mãos, antigos dias
Imagem nalgum canto concebida.

Eu lembro ter te visto, não sei onde,
Tu eras a princesa e eu visconde
Ou quem sabe fugiste de um convento...

Só sei que tanto amei quem amo agora,
Passado novamente já se aflora
Na armadilha sutil do pensamento...
Marcos Loures



544


É claro que eu senti minha querida
Morena tão cheirosa e mais gostosa,
A noite ia ficando sem saída
Sozinho, sei que a vida é caprichosa

Não tendo o teu perfume, minha rosa,
Minha alma vai sem rumo e tão perdida.
Vem logo moreninha tão cheirosa,
Não quero mais sentir a despedida.

Meu verso sem juízo te provoca
E assim vamos brincando em gozo e riso.
Tatu não esquecendo a doce toca

Procura então portal do paraíso.
Sentindo o teu gostinho em minha boca,
Eu tenho, meu amor o que preciso...
Marcos Loures


545

É cíclico o caminho que perfaço
Num carrossel imenso, a minha vida,
Por vezes me tomando este cansaço
Não dando nem mais crédito ou saída.

Arrasto os meus chinelos quando traço
Circunavegação que não me agrida,
Usando a fantasia por compasso,
No fundo não desejo a despedida.

Mas tenho que ir embora, amanhã
Quem sabe voltarei feito um cometa,
Minha alma é suicida, um talibã

Armando uma tocaia para o Tio,
Embora reconheça esta falseta,
Mergulho há tanto tempo no vazio

546

E agora está comigo em harmonia
A dona dos meus sonhos, minha musa.
A vida do teu lado, em alegria,
Distante ela se torna mais confusa.

Nos olhos da pantera eu me vicio
Embora o bote seja assim fatal
Sorvendo do prazer em cada cio,
Amor que sei sem fim, descomunal.

Vencido pelos olhos desta fera,
Eu sinto que encontrei felicidade.
Amor que em amor vida tempera
Permite à vida sempre qualidade.

Eu sou o que tu queres, sabes disso.
Contigo a vida ganha novo viço...
Marcos Loures



547

E a turba seguirá rumo ao descaso
Depois de ter plantado tempestade
Se eu faço o que quiser, não vem ao caso,
Nem bebo este aguardente. Pois me aguarde

Sem guarda preparada, o meu ocaso
Se molda quando a lua teima e invade
Barraco da ilusão, mas findo o prazo
Eu sigo sem juízo, a liberdade...

Imagem de mulher, se a vista turva
Balança desejosa e mostra a curva
Aonde derrapei durante séculos.

Especulando assim o meu destino,
Abrindo este portal já descortino
Beleza que adivinho nos espéculos...



548


É bom viver
No amor intenso
Mas quando penso
No tal sofrer

Sem teu querer
Seguindo tenso,
Num ar tão denso
Penso em morrer...

Seco jardim
Matando em mim
Ternura e flor.

Sozinho eu sigo,
Sonho contigo
Jazigo: amor...


549

É bom sentir o gosto desta festa
Em que nós poderemos ser felizes.
O tempo vai passando e o que me resta
Esconde o que eu já trouxe em cicatrizes.

Versando sobre o canto em que se empresta
A fantasia imersa sem deslizes
Nas sendas tropicais de uma floresta
Belezas se ocultando em mil matizes.

Em sedas e organdi desfilas nua,
Passeias pelo quarto, sedutora;
Reflexos sombreados sob a lua

Em ímpar sensação, a festa feita.
Por sobre alvos lençóis amor se deita
E a noite em raro brilho, enfim se doura...


5550

É bom sentir aqui tua presença
Que me acalenta tanto e me traz paz.
Dotada de ternura tão imensa
Teu canto sempre acalma e satisfaz.

O dia a dia mostra em desavença
Do quanto o ser humano é bem capaz.
Porém tendo o carinho, a recompensa
Em manso amparo – amada, já se faz.

Ao me aninhar contigo nos teus braços,
Percebo uma esperança duradoura.
Se a vida noutra vida assim se doura

Mais fortes, com certeza nossos passos
Na senda tão difícil desta vida,
É bom te ter aqui, minha querida...
Marcos Loures


551


É bom saber querida
Porém o que me importa
Estar em tua vida,
Abrindo sempre a porta

Sem crer na despedida
Meu barco em ti se aporta
Por Deus, palavra ungida
Aos sonhos sempre exorta.

Saudade do carinho
Nas noites de luar,
Chegando de mansinho

Teus lábios oscular,
Percorro este caminho
E volto a te encontrar...
Marcos Loures


552

É bom poder voltar ao teu regaço
Depois de tanto tempo em perdição,
Saber como é difícil a sensação
Da vida sem carinho e sem abraço.

Voltando para a casa, aperto o passo,
Pois sei de uma alegria, a direção,
Durante a vida inteira andei em vão,
Agora a redenção, conheço e traço.

Rasgando os velhos mapas do desejo,
Apenas o tesouro que ora vejo
Valeu pelos milhares que eu buscara.

De diamantes falsos me cansei,
Vassalo dos anseios; cri-me rei
Julgando ser a treva, lua clara...



553

E assim, felicidade bate à porta
Daquela moça amarga que me morde,
Sem ter uma alegria que inda aborde
A vida se mostrou cambeta e torta.

Surtando todo dia, sem vacina,
Veneno de lacraia dói demais.
Pensando que nós somos tão iguais
Enquanto mostra a língua, desafina

A velha caninana não sabia
Falando com sobeja galhardia
Rasteja balançando seu chocalho.

Agora eu aprendi: quem me despreza,
Um crucifixo serve de defesa
Além deste punhal, cabeças de alho.


554

E assim sou vencedor, mesmo vencido
Jogado contra a lona saio rindo.
Amor que me pegara distraído
Agora se tornando audaz e lindo.

Abrindo estes caminhos vida afora
Cercando de loucura estes beirais
Delícia que esfaimada me devora
Deixando este sabor de quero mais.

Convites para festa de hoje à noite
Entrada permitida pra quem quer
Sentindo a tua língua em doce açoite
Penetro os teus desejos, se vier.

Assim nós vamos juntos, não se esqueça
Mergulhe em bel prazer e compareça...


555

E assim nós viajamos loucas sebes
Mudando a direção de nossas vidas
O quanto em maravilhas tu concebes
Permitem afinal, belas saídas.

Eu tenho uma alegria que não cessa
Nem mesmo o tempo irá nos afastar.
Amor que muito além de uma promessa
Tomou a nossa história, devagar.

Amor que se vislumbra, um manso rito
Alvoroçando assim meu coração.
Do quanto nosso amor é mais bonito
Entendo nele glória e perfeição.

Deste cenário feito em claros traços
Ascendo ao infinito nos teus braços.
Marcos Loures


556


E assim eu cantarei a noite inteira
Pensando nesta flor maravilhosa
Que é feita de uma luz mais verdadeira
Beleza em meu jardim, divina rosa.

A sorte em minha vida, costumeira,
Se faz em cada canto gloriosa,
Mostrando que a paixão mais feiticeira
É feita de uma noite tão formosa.

A lua na janela, em pleno amor,
Brilhando no teu rosto divinal,
Esplêndida rainha a recompor

A vida que pensara no final.
Meu verso te agradece em serenata,
Reflexos do luar, da cor de prata...
Marcos Loures


5557

E a sorte de te amar se faz tamanha
Depois dos temporais que eu enfrentei,
As nuvens agrisalham minha grei,
A sorte que buscara ora me entranha

E mesmo que pareça tão estranha,
A treva que cerzira me fez rei.
Tecendo alegoria eu te busquei
O gozo da alegria então me banha.

Qual ninfa desnudada em calmo lago,
Dos olhos prazerosos cada afago
Trazendo a luz suprema me permite

Que tudo seja além de um mero sonho,
E quando a fantasia enfim componho,
O amor não reconhece mais limite.


5558

E a dose sem limites, tu repetes
Pedindo novamente, sempre mais.
Nas camas, nas esteiras, nos tapetes
Meu corpo do teu corpo faz seu cais.

Gemidos e sussurros não poupamos,
Apenas deciframos mais enigmas
Nos poros e nos olhos nós sangramos
Marcando em cicatriz mansos estigmas.

A lua ejaculando raro brilho
Por sobre a imensidão desse oceano,
Aventureiro, estrelas quando trilho,
Enquadro cada imagem: sonho insano.

Enquanto a noite segue em fúria plena
Eu trago esta moldura em rara cena.
Marcos Loures


5559


E a chuva que parara recomeça,
Meus olhos gotejando vida afora.
A lua enegrecida me decora
E a estrela dos meus sonhos vãos, tropeça...

O sol que imaginara não regressa,
A sorte tão distante se demora,
Meu barco num naufrágio não ancora.
Felicidade? Tola e vil promessa...

A morte se aproxima sorrateira
A chama desenhando na lareira
Os espectros macabros de nós dois...

O corte se aprofunda e me incendeia,
Imagem terrifica e bruxuleia
Traduzindo o vazio do depois...


5560



Em plena sexta feira, noite cheia...
As horas devorando, o tempo passa;
Caminho pelas ruas, sinto a farsa
De todos pesadelos... Incendeia

O luar, tudo claro. Vem, passeia
Pelas vielas, u’a triste carcaça...
A noite clareando não disfarça
A criatura. Peço que não creia,

Mas seus pelos, as garras os gemidos...
As presas procurando presa, ativas...
Quem me dera jamais tivesse ouvidos!

A noite, transformada em infortúnio,
Traz a dor dessa fera que cativas,
Agonizando a cada plenilúnio!


61


Em plena obscuridade em nossa vida,
Assim quando esperança se afastou.
Quando estrada parece mais perdida,
Quando em nossa alma, tudo já nevou.

Quando a luz, se apagando, vai embora,
Quando o tempo demora a transcorrer;
Quando em plena tristeza, tudo chora,
Quando temos vontade de morrer...

A lua se escondendo, negritude...
A vida se perdendo, impaciência...
E quando a solidão, tanta e amiúde.
Surge neste negror, fosforescência...

E resplandece nesta obscuridade,
O brilho verdadeiro da amizade!


62

Em plena madrugada flóreas ramas
Expostas em vestais pressentimentos.
As torres que tivemos, pensamentos,
Nas horas mais silentes tecem tramas.

Se penas e por isso pensas, amas,
Que saiba que não sabes dos tormentos.
Vivendo desfraldados sentimentos,
Refazem nos teus olhos fogo e chamas.

Nos pavilhões das dores que proclamas,
O rumo se transtorna por momentos.
Mergulho meus sentidos tantas lamas.

E salvo sem saber os mansos ventos.
Nas ramas que sentindo não proclamas,
Aguardo esses dilúvios, sofrimentos...


63

Em plena cordilheira um condor alça vôo.
Andina claridade o vento forte e frio.
Meu coração gelado outrora tão vadio,
Olhando lá de cima, amores sobrevôo.

As dores que causaste eu bem que te perdôo,
Do alto da montanha espero um novo cio...
A moça que reparo à beira deste rio,
Corpo delicioso, eu sempre me atordôo.

Nesta pele morena, a boca deslizar!
Amor sempre alucina o meu peito, o luar...
Quem não amou, na vida, embalde teve nada!

Mergulho sobre a moça um vôo magistral,
Nos meus braços, retenho, o sonho genial,
De ter teu corpo aqui promessa de alvorada...
Marcos Loures
]



64


Em plena calmaria, a trovoada
Depois da tempestade, calmaria
A gente sem amor não vale nada
A noite sem você prossegue fria.

Estampo no meu rosto esta vontade
De ter a companhia de quem amo,
Depressa vem querida que a saudade
Não deixa no arvoredo qualquer ramo.

Aroma delicado da morena
Chegando bem juntinho das narinas,
Enquanto a lua tenta roubar cena
Seus olhos iluminam as cortinas

Calando dentro em mim qualquer tristeza
Amor faz o banquete e a sobremesa...



65


Em plácidos caminhos encontrei
Mulher que feita rosa me inebria,
Carrega o bom perfume que busquei
Em noite tão escura, leda e fria.
Imagem soberana que tracei
Uma escultura viva, em fantasia...

Vivendo a cada dia mais feliz,
Vislumbro depois disso, em novo mundo,
Aquilo que sonhara e que assim fiz
Bandeira em que mergulho, enfim me inundo
Neste oceano imenso. Eu sempre quis
Beijá-la nem que seja num segundo

Por isto te convido para a festa
Uma última esperança que me resta...
Marcos Loures


66

Em poses tão gentis e sensuais
A doce transparência traz aos olhos
Os seios que decerto magistrais
Recebem silicone em flor, aos molhos...

Milagres da informática, eu bem sei,
Transformam qualquer forma em perfeição.
Qualquer pilantra agora vira rei
Safadeza virando o ganha pão.

A boçal que bigbroda em belas pernas
Paparozeada num estúdio
Escondendo sutis suas cavernas
Expressa sem temor e sem repúdio

O que nas falsas cenas se recria
Gerando tão somente a fantasia...
Marcos Loures


67

Em pleno paraíso me encontrei
Ao ver tua nudez por sobre a cama.
Sentindo a maravilha de ser rei,
Voltando a reviver perdida chama.

Tocando levemente cada ponto
Do corpo escultural que estava ali.
Sem senso, me inebrio, fico tonto,
E sinto como é bom tudo o que vi.

Não pude me esquecer deste momento
Guardado nas paredes da memória.
O tempo vai passando como o vento,
Mas tenho essa divina, imensa glória.

Depois de tanto tempo se passando,
Tua nudez persiste iluminando...



68

Em pleno azul do mar perdi meus sonhos,
Barcos que em um naufrágio se perderam.
Os dias- solidão- ficam medonhos,
Os lábios da tristeza me lamberam.

Quem teve em sua vida, olhos risonhos,
Mordazes sensações que reviveram
Fazendo dos meus cantos mais bisonhos,
E os passos libertários não imperam.

Vagante, vou sem nexo e sem destino,
Melancolia enorme se acercando.
A fonte dos meus versos vai secando,

E aos poucos – sem ninguém- eu me extermino
E morro pouco a pouco, gotejando,
Sangrando aqui sozinho, eu me alucino...


69


Em plena simbiose, nos unimos
E vamos pelas noites, dois insanos.
Vivendo sem temores, soberanos,
Os nossos passos vencem velhos limos.

Os olhos se perdendo em altos cimos,
Arcando em infinitos sobre-humanos,
Mergulhos em estrelas, noutros planos
Decifras em delírio o que sentimos.

Por mais que a vida trague seus problemas,
Amar e ser feliz, antigos lemas
Que fazem deste encanto, um ritual.

Vencendo as mais temíveis tempestades,
Alçando nos teus braços, liberdades,
O amor que a gente sente, triunfal...
Marcos Loures


5570

Em nome da amizade que nos une
Eu peço mil perdões pelos enganos
A vida, na verdade já nos pune
E impede que sigamos velhos planos

Na fúnebre saudade que hoje trago
De um tempo mais sincero e mais feliz
Amiga, necessito o teu afago,
Não quero mais a morte que prediz

Quem sabe desfiar tantos segredos
Na astróloga vontade de saber
Aonde se encontraram nossos medos
Por onde salvarei meu bem querer.

Eu peço, encarecido, então, querida,
Que salves com perdão a amarga vida...
Marcos Loures

571

Em noites provocantes, vaporosas,
Na pele nívea forma delicada.
Olores penetrantes, flóreas rosas,
Moldando uma beleza imaginada.

As mãos que se procuram, mais fogosas,
Encontram fonte rara disfarçada
Debaixo dos espinhos nas formosas
Flores, já despidas e sem nada.

Pairando pelo quarto, bruxuleia
A luz que em transparências traz o dom
De dar um sedutor tom sobre tom

Na perla que se mostra e que incendeia
Aberta a camisola, sem receios,
Explodem pequeninos, duros seios...


572

Em noites mais perfeitas, estreladas
Percebo a direção de mansos ventos.
Vontades e palavras demonstradas
Além de simples e ermos pensamentos.

Na dança que se faz em glória e riso,
Amiga, irei contigo aonde fores.
Por mais que a chuva chegue sem aviso
Em ti eu já concebo belas flores.

Sementes que plantamos e cevamos
Garantem a colheita que virá,
No quanto desejando respeitamos
A sorte sem limites brilhará.

Que a luz desta amizade nos persiga,
Podendo assim dizer: tenho uma amiga!
Marcos Loures



573

Em minhas mãos contendo a maravilha
De um dia mais feliz que procurara
Deixando bem distante a senda amara,
Adentro o puro amor, e sigo a trilha

Da luz que tantas vezes, andarilha
A minha redenção desamparara.
Cortando bem mais fundo, em dura escara,
Fechando dos meus sonhos a escotilha.

Em cântaros meus olhos se verteram,
Até que finalmente perceberam
Estrela matutina que se alcança

Apenas num segundo, em pensamento,
E o brilho desta estrela num momento,
Entorna sobre nós rara esperança
Marcos Loures



574

Em minha timidez, o medo aflora.
E vagando a minha alma na moldura,
Qual tela que me deste, uma escora
Que possa me ajudar na mata escura

Enfrentando fantasmas. Sou agora;
Do verbo original, a criatura
Que em mar tempestuoso não se ancora
E morre simplesmente, sem candura.

Teus pés já foram bases deste sonho,
Amada sensação de fonte e ponte.
Oriundo dum dia mais medonho

Fantasia proposta não me cabe,
Vislumbro uma esperança no horizonte,
E vou antes que o amor, em ti, se acabe...


575

Em minha alma, velórios e varizes
Recebe tantas gotas de veneno.
Teus lábios; dois sedentos infelizes
Bebendo todo o sangue num aceno.

Mas peço, se vieres logo avises
Num tiro ou explosão, ou algo ameno.
Carinhos penetrantes, lutas, crises,
Em todos, estou certo, eu me enveneno.

Coberto por mentiras, t’as mantilhas,
Não restam deste amor sequer mobílias.
Apenas tanta dor em procissão.

Remendos não resolvem o fiasco,
Tu sabes, não preciso de sermão.
Se a boca que me beija é meu carrasco...


576


Em pétalas divinas, meu jardim
Floresce com perfeita sintonia
Mostrando o que melhor existe em mim,
Forjando com paixão a poesia.

No dia que virá em luz e flama,
O tempo não permite outro final.
O quanto a gente quer e já se inflama
No jogo que não cessa, sensual;

Consensos encontrados, vamos nessa
Que o tempo nunca deixa de passar.
Assim que esta vontade recomeça
O jogo nunca pode terminar.

Refaço este caminho e não me canso,
Deitando nos teus braços meu remanso.



577


Em perfumes e cores misturadas
Mostrando suas faces bem mais belas.
Distantes ilusões foram aquelas
Que a vida nos tomou, suas guinadas.

Por certo são mais finas, delicadas,
As múltiplas facetas das estrelas.
Das rosas, que vermelhas, amarelas,
Rainhas dentre as outras nas floradas.

Assim, uma amizade nos decora,
Deixando nossos passos bem mais fortes.
Curando calmamente tantos cortes,

Apóia meu caminho mundo afora
Não há nada mais rica, alvissareira,
Que uma amizade plena e verdadeira...

578


Em ondas, peixes, mares e marés,
Reféns da fria noite que não vinha,
Atando estes grilhões, cortando os pés,
O corte mais profundo sei que tinha.

Olhando tantas vezes de viés,
Mordazes os sorrisos da avezinha
Pousada no meu barco, no convés,
Migrantes esperanças de andorinha...

O tempo vai passando e nada muda,
Apenas a vontade sempre ajuda,
Porém se resumindo sempre em nada.

O barco tremulando em tempestade,
Nos olhos da andorinha, a claridade
Imita em perfeição uma alvorada...
Marcos Loures


579


Em ondas tão convulsas, explosivas,
Fomentando a fornalha desejosa
As bocas tatuando, corrosivas
Deixando a cicatriz maravilhosa...

Da eternidade túrgida, insensata
Sem ter nem nevoeiros, só trovões,
Embrenhar-me na densa e pura mata
Na busca do prazer, escavações.

Nas incursões sedentas e famintas
Ouvindo tua voz quase gemente,
No corpo que esculpi, as tantas tintas
Vontade de saber-te, isso é urgente!

Em ondas me transtorno, em ti mergulho,
Singrando neste mar, forma um marulho...


5580

Em nossas tardes febres e rompantes
Nos arvoredos viva primavera,
Da sílfide os desejos transbordantes
Vasculho diamantes. Quem me dera!

Esplendorosamente em cada toque,
Aos poucos vou bebendo desta fonte,
Antes que o céu de lumes já se troque
Teus olhos iluminam horizonte.

Eu quero a formosura tão gentil
Que trazes nos sorrisos envolventes,
Neste roçar divino e tão sutil
Felicidades vivem mais urgentes.

No céu em perolado desta lua,
A sílfide em meu colo bela e nua...



581
Em nossa noite, a lua se apaixona
E trama no luar, seu forte brilho.
Trazendo nosso amor, enfim, à tona,
Nos rastros deste lume, maravilho.

Me esperanço de ter um novo dia,
Escapando por fim, deste marasmo.
Ao sentir essa doce melodia,
Mirando teu olhar, fico mais pasmo...

Eu quero nos meus versos, veros mares,
Furtivos, meus desejos são insanos.
Colhendo, nestes céus, os teus olhares,
Vencendo toda forma de abandonos...

Reflexos irisados sobre os rios;
Em meio a tantas luzes, olhos, fios...



582

Em meio à tempestade violenta
Toda dor dentro d’alma se arrebenta.
E invade o velho cais, tomando a praia
Impedindo que o barco tente e saia.

Nem mesmo a fantasia mais me alenta,
Poeira no infinito não se assenta,
A lua que distante já desmaia,
Tornando uma alma tênue por lacaia,

Encontra na neblina, brônzea manta,
Ao léu a poesia desencanta
Inebriante mar da solidão.

Nas tramas tão inglórias da paixão
O verso que buscara; agora inútil
Espelha a melodia amarga e fútil...



583



Em meio à tempestade tanto amei,
Vagando noite e dia pude ver
O quanto neste amor me dediquei
E nada recebi. Quero saber:

Onde foi, meu amigo, que eu errei?
Talvez por ser enorme o bem-querer.
A vida nos mostrando a dura lei:
O fim de quem adora é o sofrer!

Vagando pelas ruas, pelos bares
Buscando em qualquer boca uma ventura,
Nas ânsias tenebrosas tão vulgares

Vivendo tão somente; sem paixão...
Fazendo amor sem gestos de ternura,
Amigo; o que restou do coração?
Marcos Loures


584


Em meio a tantos vates, eu sou mero
Aprendiz de versos tolos e banais,
Viver a poesia é mais que eu quero,
Pois nela encontro bardos imortais.

Mas sei que ao escrever procuro esmero,
E ao lado destes vários magistrais
Usando da palavra, sou sincero,
Expresso ora o que sinto e nada mais.

E quando me aprofundo, enfim concebo
Que aquém do que pretendo, sempre bebo
Das águas cristalinas que porejas

Com teu raro talento e maestria;
Entre as belezas todas que alma cria
As minhas fantasias vãs e andejas...


585

Em meio a tantas chamas nossas tramas
Deitando em mil prazeres, o desejo,
O quanto que te quero num lampejo
Percebo que também já me reclamas.

Delírios sem limites e sem dramas
Um tempo mais feliz ora prevejo.
Do amor que se entregando sem ter pejo,
Atendo ao teu chamado, mal me chamas.

Não quero ser apenas um retrato
Guardado na gaveta do criado.
O amor pra ser sublime e bom de fato

Além da calmaria de um regato,
Precisa deste fogo anunciado,
Com fúria e com carinho deflagrado...
Marcos Loures



586

Em meio a tal nobreza divinal.
M’abriria então, Deus, o seu portal,
Guardaria essa imagem na retina...
À noite tanto amor que me alucina

Morrer de tanto amor, eu sou capaz;
Olhares que te vêm deusa menina;
Em tal momento orgástico de paz,
Te emolduram, amor, luz cristalina!

Adentrando os sonhos mais audazes
Encontro esta presença sensual,
Bebendo em tua pele sol e sal,

Vivendo esta loucura que me trazes
Prazer insaciável me domina,
E o verso sem paragem, desatina...
Marcos Loures


587

Em meio a tais promessas, peço paz.
Percebo que virás ao fim do dia,
Vivendo e revivendo a fantasia
Do todo que se mostra mais capaz

A gota que caindo, satisfaz
E molda uma esperança em poesia.
Do amor que a cada verso me dizia
O sonho que alegria, enfim, me traz.

Girando pelas noites, um cometa
Riscando o céu, trazendo a claridade
Deixando no meu peito, cicatrizes.

Ao quanto em brilho intenso se arremeta
Permitem reviver a mocidade,
Lembranças destes tempos mais felizes
Marcos Loures


588


Em meio a tais festejos na cidade
Percebo uma morena sedutora
Trazendo ao meu olhar, felicidade
Decerto a rua em glória já decora.

No olhar desta menina, a mocidade
Quem sabe faz bem feito e faz agora
Um riso em que se dá sinceridade
Tumultuando tudo não demora

Um corpo tão divino andando nu,
Fazendo este terrível sururu
Não deixa ficar pedra sobre pedra

Meu coração batendo em desvario
Ao ver a moça tenta um assobio,
Porém em timidez, decerto medra.


589


Em meio a mundos tristes vou gelado,
Recebo uma mensagem dolorida.
Dos olhos que tivera imaginado
Serem a solução de minha vida,

De tudo o que sonhara, estou calado,
No gosto tão amargo, despedida
Vivera certo tempo apaixonado,
A força de vontade combalida...

Sou quase inexpressivo, morro breve,
Em busca do infinito, estou vazio.
Nos olhos embotados, pura neve.

O coração sozinho vai sombrio.
Amar como eu amei? Ninguém se atreve,
Inverno devorando todo o estio...



5590

Em meio a meu desejo temo enchente
Embora se secarem os meus olhos,
Alegrias vertendo, como em molhos
Talvez do triste rio, vire gente.

E abrace tão formosa criatura
Fazendo destas luas novos trilhos,
Das lágrimas nascendo nossos filhos,
Minha alma verterá uma água pura.

Amor minha perfeita experiência
De ser feliz ao menos por um dia
Em seus braços meu risco de alegria

Nas suas asas próspera excelência,
Porém neste dilúvio a sensação
De ter enfim, pro amor, a solução...
Marcos Loures


591


Em mil canções te clamo, apaixonado,
Embora isto provoque algum ciúme.
Tem gente que talvez sem ter perfume,
Fica bisbilhotando do outro lado.

Teu corpo divinal emoldurado
Reflete a maravilha feita em lume,
Além do que o desejo de costume
Havia em cada sonho declarado.

Mas fale bem baixinho. A vizinhança
Tá cheia de voyeur mal sucedido,
Ouvindo em plena noite algum gemido,

Binóculos a postos, não se cansa
De tentar perceber como se faz
O amor que em tempestades traz a paz...
Marcos Loures



592

Em meu jardim as flores representam
Amigos que colhi, jóias perfeitas.
Enquanto em fantasias tu te deitas
Palavras tão suaves me apascentam.

Enquanto os descaminhos se apresentam,
As tramas da amizade, tão estreitas
Dizendo da alegria em que me aceitas,
Tristezas e lamúrias afugentam.

Perfumando minha alma solitária,
A voz desta pessoa solidária
Encanta e me permite prosseguir.

Dizendo quanto é belo alvorecer,
Ditando em plena glória este prazer
Que mostra mais tranqüilo o meu porvir...
Marcos Loures


593

Em meio a teus desejos e carícias,
A noite que se passa é benfazeja,
Tocado pelos gozos e malícias,
A pele ronda a pele e assim deseja.

Fartura que se mostra sem cessar,
Reféns desta loucura; vamos juntos,
Deitando nosso amor sob o luar,
Nas bocas que se buscam, mil assuntos.

Trazendo esta alegria, raro dom,
Anunciando assim, a clara aurora,
Debaixo dos lençóis, deste edredom,
Prazer interminável já se aflora.

Rondando pelas noites vaga-lumes,
Encontram no teu corpo estes perfumes...
Marcos Loures


594

Em mágica alegria se refez
A vida num momento de prazer;
Tocados por total insensatez
Dois corpos num só corpo eu posso ver.

Sentindo a morenice dessa tez
Roçando a minha pele, passo a crer
Num Deus enamorado que te fez
Mostrando em farta glória o Seu poder.

Viajo por caminhos deslumbrantes,
Sorrisos em malícia provocantes
Sussurros delicados, mas audazes.

Fronteiras; desconheço, e num momento
Eu creio que entornando o sentimento,
A um tempo satisfaz e satisfazes...
Marcos Loures


595

Em luzes mais dispersas já floria
O corpo que sonhara, raro brilho.
Em mágicas delícias, harmonia;
De todos os prazeres, vivo trilho...

A pele que me toca, em alegria,
Mandando a solidão para um exílio,
Tal qual, em poesia eu pressentia,
Sem ter jamais sequer um empecilho...

Envolto em vibrações extasiantes,
Meus dias são mais doces, cristalinos.
Tomados pelos límpidos velinos,

Satélite que cerca tal planeta,
Vislumbro novos mundos radiantes,
Seguindo as tuas sendas, sou cometa


596

Em meio a furacões,
Tempestas violentas,
Esbaldam-se emoções
As noites passam lentas.

As horas alucinam
Adentram belo cais,
Carinhos me dominam
E peço sempre mais.

Delírios tresloucados,
Saber de mel e fruta.
Nós dois apaixonados,
Amor que se desfruta

E trama em festa imensa
A nossa recompensa...

597

Em meio a fogos fátuos tu surgiste
Fosforescência imersa em negras trevas
Eros com sua seta, sempre em riste
Das glebas mais agrestes, finas cevas.

Insólitos folguedos, no olhar levas,
Nas névoas frias úmidas, o ar triste,
Trouxeste as fantasias, bandos, levas
Provando que o amor ainda insiste

Ascendendo às vertentes, raras fontes,
Os sóis que emolduraste em horizontes
Fascínios que se emergem das neblinas.

Dormir languidamente no teu colo,
Legando à vida um rito que sem dolo
Expõe a claridade nas campinas...
Marcos Loures


598


Em meio a dissabores procurei
Razão para viver e assim sonhar,
Depois de tanto tempo procurar
Apenas desencantos; encontrei.

Vagando sem destino, noutra grei,
Tendo por companheiro este luar
Que chega de mansinho, devagar
Fazendo da beleza norma e lei.

Amor bate na porta, atinge a aorta
E toma o coração; invade tudo...
Divinas peripécias do moleque

Que abrindo as suas asas, vem e aporta;
O rumo ao mesmo instante; logo mudo,
Abrindo da esperança todo o leque...


599

Em magnitude plena, os universos
Desenham raras telas no meu céu
Beleza que se doura em raro véu
Cantando esta emoção, faço meus versos.

Outrora duros passos tão dispersos,
Buscando a cada noite um carrossel
Adentra por Saturno em cada anel
E vence os ventos duros e perversos.

De todos os meus sonhos, o mais puro,
O porto tão seguro que procuro
Depois deste oceano revoltoso.

Acima tão somente esta amplidão
Mostrando com intensa sedução,
Amor assim faminto e desejoso.
Marcos Loures


5600

Em lágrimas meu peito, assim goteja
Ao ver-te tão distante dos meus braços
O gozo mais sublime se deseja
Marcando a nossa noite em bons compassos.

Ouvindo uma guarânia que dizia
Saudades do primeiro amor que tive
Em Ypacarai, a poesia
Nos braços da emoção já sobrevive.

Minha Cunhataí escute o canto
Do amor em labaredas nos tomando.
Numa harpa delicada, tanto encanto
Uma expressiva lua nos banhando.

Beijando a tua boca, amor quiçá
O dia em farta luz renascerá...
 
Autor
MARCOSLOURES
 
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