Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 124

 
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1

Passando tanto tempo sem te ter
Espero que não vejas meu caminho
Como fonte maior de teu prazer.
Senão em outros braços já me aninho.

As horas se passando sem se ver
Pressinto ser feliz, mas sou sozinho.
Como posso enfim te convencer
Se tudo o que me dizes, um espinho.

Soltando pela vida o meu gemido,
O pranto que causaste, viva fonte.
Amor que sempre esquece-se no olvido,

De toda essa saudade se alimenta.
Impede novo brilho no horizonte
E todas as defesas, arrebenta!
Marcos Loures


2

Partiste num cometa ao fim da noite,
Espaços procurando e não te vejo.
Saudade vergastando, duro açoite
Deixando um rastro amargo de desejo.

Ouvindo tão distante a mansa voz
Que um dia se perdeu em burburinho,
Lembrança que castiga, dura algoz,
Sombrio e solitário, o nosso ninho.

A porta permanece sempre aberta,
Passos na escadaria? Uma ilusão.
Uma esperança, aos poucos, me deserta,
Tomado por terrível aflição

Espero a cada instante a tua volta,
Porém sem ter ninguém, resta a revolta...
Marcos Loures


3


Pareces que enfeitiças quando danças
Me sinto assim cativo e seduzido,
Em cada gesto mais mil esperanças,
Sonhando, inebriado, estou perdido...

Meus olhos eu bem sei que não alcanças
Mas mesmo assim te espero em vão; vencido
Pela tua magia em belas tranças
Largadas sobre os ombros. Iludido

Não paro de pensar na dançarina
Que quase me tocando, me feriu
Na pele amorenada da menina

Adivinho um sorriso encantador,
Um sonho do passado, de vinil,
Tocando uma balada, traz amor...


4

Parece tantas vezes ser fatal
A dor que nos atinge e tão-somente
Uma amizade mostra-se ideal
Como aliada sempre e firmemente.

Por isso, companheira e camarada
Encontro em teu apoio esta firmeza
Para enfrentar o medo e a geada
Numa esperança clara, uma certeza

De que a vida será bem mais feliz
A quem já sofreu tanto no caminho.
Cevando no meu peito a flor de lis,
Cuidando deste afeto com carinho.

Meu verso te agradece tanto, tanto,
Amor: doce refrão em nosso canto...


5

Parece que não vês quanto eu te quero,
Meu verso se encantando vai contigo
Colado no teu corpo, meu abrigo,
Um sentimento nobre como espero.

Do mundo em que vivemos, ledo e fero,
Unidos tão distantes do perigo
Durante tanto tempo assim prossigo
Atado neste sonho que venero.

Estamos tatuados pele a pele
E vamos neste passo ao infinito.
Tu sabes o que penso e acredito

Um sonho de justiça em pleno amor.
Uníssono e bem forte nosso grito
Em cada novo passo a se compor


6





Parece que não sei de outra palavra
Que trague pelo menos um sorriso,
O amor que não permite qualquer lavra
Semeia em solo amargo sem aviso.

Dos vales que sonhei, a cordilheira
Tomando este cenário, deixa além
A paz que procurava, alma se inteira
E vê depois dos montes, velho trem

Que liga o meu destino ao vão deserto,
Marmóreas pedrarias não há mais.
E sendo o que não tive; já deserto.
Ausência do futuro engole o cais.

Campanhas e campinas, doces prados,
Os dias morrerão desesperados.


7

Parceiros que se foram no caminho
Deixando como herança a solidão,
Vagando pela vida, em negação
Expresso alguma forma de carinho.

O vento que invadira o velho ninho,
Promete em tempestade a viração.
Abrindo num momento todo o chão,
Agora em pleno inverno estou sozinho.

Meu barco se perdendo sem um cais,
Prosseguindo ao sabor dos vendavais
Promete ao fim da vida, sofrimentos.

Que faço? Sem sequer um companheiro,
Estúpido, imbecil, mau timoneiro,
Perdi, sem proteção, rosa dos ventos.
Marcos Loures


8


Parceiro inseparável de quem sonha,
Amigo de quem quer só aprender.
Levando à fantasia má, risonha,
Eterno companheiro em dor, prazer.

Por páginas e letras viajamos
E vamos para além, de tempo/espaço.
Liberta a sociedade, mata os amos,
Nos acompanha sempre passo a passo.

Em papiro, papel ou na internet
Ao conhecer e ser, já nos remete;
Sem ele como haver democracia?

Na sua companhia dia a dia,
Assim evoluiu a humanidade
Assim se concebeu a liberdade...


9

Parceira dos meus sonhos mais felizes,
A tua voz chegando aqui me diz
Que mais do que tristezas ou deslizes
O rumo que busquei nada desdiz.

De todas amarguras, cicatrizes,
Apenas encontrando o que mais quis
Meu céu revigorado por matizes
Dos olhos deste encanto vibra em bis.

O amor chegando manso em nossa vida
Depois de tantas chuvas, temporais
História desde agora decidida

Permite alvorecer em plena paz.
Felicidade sabe deste cais
E mostra-se sublime e mais capaz...

À MINHA MAIS COMPLETA PARCEIRA, E UMA DAS MAIORES POETISAS VIVAS DESTE PAÍS
HELENA LUNA
Marcos Loures


10

Parábolas diversas, carrossel,
Rondando enredos vários e profanos,
Celebro os meus complexos desumanos
E bebo teu amor grama e motel.

Egressos deste barco de papel,
Meus sonhos se condenam; desenganos,
As almas que se elevam são metanos,
E o gesto mais conciso beira a fel.

Risíveis melodias que funestas,
Abrindo os meus portões, arrombam frestas,
Amor quis atacado e eu varejo.

Parágrafos; pulei em pífios sonhos,
Cadarços que amarraste, tarsos vejo,
Quebrados em tropeços tão bisonhos...
Marcos Loures


11

Parábola ancestral verdade bíblica
Falando de quem ama e não pergunta,
A vida se refaz e sendo cíclica
Passado com futuro sempre ajunta.

Bem antes de buscar conhecimento,
Nós vemos o Senhor à nossa frente,
Porém quando o saber se mostra intento
Fugimos do que cremos claramente.

Depois de tanta busca nos vestimos
E nuas nossas almas seguem vãs,
Ao Deus original quando o sentimos

De novo ao Paraíso retornamos,
Milagre se refaz toda manhã,
Em cada ser vivente, árvores, ramos...


12

Para ter um amigo,
Querer tão só não basta,
Na casa em que me abrigo,
O tempo que desgasta
Às vezes não consigo
A vida nos afasta.

Mas sempre cultivando
A flor deste jardim,
Aos poucos conquistando
Entrego-me e sem fim,
Não sei sequer nem quando,
Contigo, irei assim...

Colhendo cada fruta,
Lapido a gema bruta...


13

Para quem vive neste mundo só,
Amigos são as pontes para a vida,
Um lobo solitário causa dó,
Uma esperança sempre cai perdida.

A solidão penetra como faca
Trazendo a sensação deste vazio,
Qual febre alucinante quando ataca,
Matando sem calor, portando o frio.

No exílio de minha alma, nada resta
Senão tua amizade, companheiro.
Sem ela vou ao caos e perco a festa
O mundo sem sentido, o tempo inteiro.

Mas sei que em tanta coisa eu não me iludo,
Uma amizade plena é quase tudo...


14


Para quem exilado pela sorte
Vivendo em solidão, triste quimera,
O vento da amizade bate forte
Trazendo uma esperança em primavera.

Para quem a vida nunca trouxe
A doce sensação de ser amado,
Para quem alegria como fosse
Um sonho tão distante, sem passado,

Para quem o sabor da vida, amargo,
Perdido num futuro que não vem,
Para esse solitário, vida ao largo,
Que passa a vida toda sem ninguém,

O mundo parecendo tão miúdo...
A amizade é na vida, quase tudo...


15


Para os meus passos tortos, desvalidos,
Encontro uma esperança benfazeja
Tomando meus segredos e sentidos,
Nos braços desta lua sertaneja.

Tocando em mansidão os meus ouvidos,
Seu canto é o que se quer e se deseja,
Matando tais tristezas, tempos idos,
Amor por minha pele, já poreja.

E faz de cada sonho a redenção.
Sabendo que viver não é só sonho.
Por isso minha amada eu te proponho.

Viver o que nos resta de emoção,
Num mundo mais bonito e mais risonho;
Falando deste amor que é solução
Marcos Loures


16

Para o bem de quem desejo parabéns
O tanto tempo esvai-se num segundo.
O quanto que te quero e o que tu tens
Na profusão sincera invade o mundo.

O quando nunca tive, vagabundo
Perdendo com certeza velhos trens
Palavra que te falo e que reténs
No mar desta amizade eu me aprofundo.

Aniversários, risos e festejos,
Depois de cada curva, uma esperança
Ateio uma alegria na aliança

Fornalha preferida dos desejos.
Bebendo cada gole irei contigo
Vencendo qualquer pânico ou perigo.


17

Para falar de Amor, existe a voz
Do velho sonhador que em seu inverno
Sabendo a solidão, cruel inferno,
Aguarda o que virá, decerto, após.

O medo de sonhar, um duro algoz
Impede este momento amável, terno.
Agora ao fim da vida, não me hiberno,
Pois vejo o meu final que vem veloz,

Percebo quantas vezes fui sem rumo,
À vida em desamor não me acostumo,
Usando da garganta, mesmo rouca,

Eu brado a maravilha de sonhar,
Por mais que a vida venha maltratar
E uma amargura seja surda, mouca...
Marcos Loures


18

Para amar é preciso ter ciência
Quem nunca faz decerto já não erra,
Cumprindo por cumprir a penitência
Vacância presumida nega a terra.

À sombra deste som, semeio ao vento
Bemóis e sustenidos, flor em flor.
Pressinto o vão e tento o sentimento
Na máscara gentil do estranho amor.

A mesma claridade que me cega
Às vezes já permite revelar-se
O gozo que previsto é chique ou brega,
Mas causa quase sempre a vã catarse.

Irmã, imã mulher verde esperança
No enredo deste abraço, a moça dança...
Marcos Loures


19

Para a glória do amor, canto meus versos;
Embora tantas vezes maltratado.
Em todos os caminhos mais adversos
De facas e navalhas, vou talhado.

A cega morbidez que me enlevara
Na neve forte e brusca deste inverno.
Em cântaros jamais sequer chorara,
Fazendo deste mundo um novo inferno.

Tratando sem querer qualquer afago
Vertendo em solidão, um sentimento.
Aos poucos o que resta, cedo apago.
Não deixo de pensar um só momento.

Como é duro saber do que preciso
Se quiser te levar ao paraíso...


20

"Papai é uma bomba, velho traste
Que entope a nossa casa, porcaria."
Enquanto esta verdade me dizia
A vida se condena a tal desgaste.

Por mais que noutras sendas tu andaste
Vestígios que deixei, sem poesia,
Morrendo pouco a pouco a cada dia,
A sorte não tem rumo, se a negaste.

Apenas barrigudo e desdentado,
Deitando suas mãos, inúteis garras
Ferrenho sacripanta, mal pintado.

Versões que em diversões disseste, filho,
Rompendo corajoso tais amarras
Repetes sem saber, outro estribilho...
Marcos Loures


21

Pantanoso destino me legaste...
Nascido na floresta mais selvagem,
Procurando viver neste contraste,
Vou buscando espelhar a minha imagem,

Nas matas e nos rios que deixaste
Como oásis, delírios e miragem...
Crescendo, tentarei fincar as hastes
Nesta maravilhosa paisagem...

Mas a charneca nunca me deixou...
Entranhada em plena alma não me larga...
Essencialmente é tudo o que restou...

As marcas deste pântano que trago,
Por tantas vezes meu olhar embarga.
Delas me livrarei num manso lago.
Marcos Loures


22


Panacéia dos novos engelhados
Poética banguela dos brasilis
Os ritos vanguardistas já mofados
Arcaicas velharias geram bílis.

Primitivista esboço do futuro,
Acasos entre ocasos e mansões.
Um salto delirante neste escuro
Perpetuando vagas direções.

Moleque sertanejo do Leblon,
Surfista em Mar de Espanha, em Mirai,
Madame furta-cor tom sobre tom,
Rachaduras nos templos que erigi,

Presidente operário, ópera prima
Neste caleidoscópio, pobre rima...


23


Palpitas em teu corpo esta vontade
De se entregar inteira, sexo audaz.
Porém tu temes tanto que és capaz
De morrer quase à mingua. A claridade

Querida, só se dá pra quem se der.
Espero já faz tempo, mas não vens,
Decerto em teus pudores de mulher
Deixaste bem distante tantos bens...

Nas coxas entreabertas hábeis dedos
Ouvindo num sussurro meus convites,
Mistura de tesão com bobos medos

Impedem que tu venhas, me perturba
Saber que esta menina. Oh! Acredites,
Sozinho no seu quarto, se masturba...


24

Palmeiras, ilhas mares, onda, areia...
Deitar no teu regaço, minha amada...
Delícia de teus olhos, qual sereia
Que dorme do meu lado, extasiada...
A lua que nos banha plena e cheia,
Espera tua volta, iluminada...

O nosso ninho aguarda teu encanto,
Os travesseiros soltos pela cama...
Ouvir tua alegria em cada canto,
Sentir a transparência, imensa chama.
Deitado do teu lado me agiganto,
E a vida sem pecado sempre inflama

Um coração deveras encantado,
Espera o teu retorno, apaixonado..


12325

Palidez mortal, lívida e sombria...
Sobre teu leito adormecida, linda...
Como fora um cadáver que dormia
A madrugada companheira ainda

Espreitava a chegada, novo dia...
A aurora que transforma se deslinda.
O mundo repetirá sua melodia...
Manhã ensolarada vem, bem vinda...

Amor palpita, terremoto, luta...
Olhos ebúrneos prateada vida...
Agonizante, força vera bruta,

Não posso te negar essa esperança.
A dor que se aproxima, mal contida,
Convida nosso braços pr’essa dança!
Marcos Loures


26


Palhaço de ilusões que trama em versos
Dispersas emoções, chamas diversas,
Imerso nos grotões, busca universos
Bebendo as sensações que agora versas.

Intensas fascinantes maravilhas,
Imensas faiscantes alegrias,
Nas densas tempestades em que trilhas,
Felicidades várias ora crias.

Sabendo ser audaz quando contigo,
Erguendo a minha voz chegando a ti
No amor que me transtorna vejo o abrigo
E encontro a luz que adorna e vão perdi.

Perfeita engenharia, sentimentos,
Palavras não se perdem como os ventos...



27

Palavras tão precisas que me dizes
Suavemente trazem as promessas
De dias com certeza mais felizes,
Vontades e desejos que confessas.

Perdoe tantos erros e deslizes,
A vida; neste instante, recomeças
Deixando para trás as cicatrizes,
Do amor vamos beber novas remessas.

E assim, em poucas frases eu traduzo,
O que já parecia estar confuso,
Amor simplificando a nossa história,

Garante em mansidão o amanhecer,
Trazendo a sensação do bem viver
E nela a perfeição de uma vitória.
-
Marcos Loures


28

Palavras tão fugazes se perdendo
Moldando uma alegria em versos nobres.
O tempo com magias se vertendo
Rondando as vestes mansas em que cobres

Os olhos de quem sabe percebendo
Deixando para trás sonhos e cobres,
E os dias com carinhos convertendo
Na mansa sensação em que recobres

Sentidos verdadeiros de um amor,
Marcando em alegria, teus encantos,
Vagando com desejo sonhador

De termos depois disso, nossos cantos,
Receba com carinho cada flor
Testemunhas fiéis de amores tantos...
Marcos Loures


29


Palavras sussurradas nos ouvidos
Chamando para a festa, nossa dança
Entremeando sonhos e gemidos
Nirvana num momento amor alcança.

Tocando em maciez nossos sentidos,
Olhar ao infinito, em gozos lança
Caminhos que julgávamos perdidos
Agora são estradas da esperança.

Não sendo necessária, explicação
O jogo que traçamos, sem vitórias.
Não quero e não preciso da Razão

Falando deste amor, corpos se entregam
Singrando pelos mares, as memórias
Oceanos dos prazeres se navegam...
Marcos Loures


30


Palavras são palavras, nada mais,
Mas tanto representam num instante,
Sorriso sem juízo e provocante
Provoca os mais diversos temporais.

Linguagem pode ser a dos sinais,
O gozo se promete triunfante
E enquanto a fantasia nos encante
Colhendo estes meneios sensuais.

Os meios são diversos. Não importa,
Apenas deixe aberta a tua porta
Que tudo se resolve sem problemas.

As bocas, dedos, mãos tão curiosas
Valendo muito além de versos, prosas
Decifram com certeza, vários temas...
Marcos Loures


31


Palavras são as lavras que prefiro
Atiro mas nem sempre sou feliz
Destino em desatino tanto quis
Que fere quem me fere e nunca firo

Nas termas e nas tremas tremo,atiro
Palavras aves soltas sou perdiz
Se dizes o que dizes não me diz
Este antro que desando morto estiro.

Meu braço no meu barco sem ter flecha
O zíper desta calça nunca fecha
E deixa meu prazer quem sabe agora

O canto que me espanta novo encanto
Meu manto minha manta tanto pranto
A calça estando aberta, vamo’ embora!
Marcos Loures


32


Palavras que soltamos, vento leve,
Em confissões dubladas sem sentido.
Se o tempo que passou, correu tão breve
O mundo não se mostra arrependido.

Por mais distante que isto não me leve
Sou farto das paixões e combalido
Não quero amor que nunca me releve
Nem revele o que fora preterido.

As horas se passando sem jamais
Tampouco sem verdades absolutas.
A sorte já saiu, não volta mais,

Tantas palavras soltas, versos soltos,
Em outras fantasias, velhas lutas,
Os rumos já perdemos, mais revoltos...


33

Palavras que disseste não refazem
As noites que perdi te procurando,
As luzes se ofuscando já não trazem
Amores que se foram, me marcando.

Por mais que noutros braços inda abrasem
As horas num carinho, desfrutando,
Angústias do passado inda desfazem
Momentos em que tento ser mais brando.

Meu barco sem antigos astrolábios
Crivado por herpéticos sorrisos
Doridos, magoados os meus lábios

Em beijos torturantes, imprecisos,
Quem dera se pudessem ser mais sábios,
Os sonhos de um palhaço com seus guizos.



34

Palavras que benditas vão inclusas
Nos versos de amizade que me trazes,
Tu moldas perfeição em poucas frases
Erguendo sempre um brinde às belas Musas.

Outras situações são tão confusas
Num misto de guerrilhas entre pazes,
Ditames quase sempre mais audazes
Em mentes que se mostram mais obtusas.

Esta energia move todo o mundo,
Fazendo um coração sentir profundo
O toque de um amor que sem receio

Perfaz uma esperança de um estio,
Trazendo tanta luz em céu sombrio
Levando uma pura alma a um santo veio...

Marcos Loures

35


Palavras quando soltas não denotam
Aquilo que se sente na verdade,
Os cantos quando encontram liberdade
Às vezes noutras curvas já capotam.

Mas saiba que meus versos quando notam
Desvios de caminho, insanidade,
Reféns de uma alegria, saciedade
Em portas mais tranqüilas já se anotam.

Eu tenho uma alma livre que já sonha
Com asas que me levem, com carinhos.
A vida pode ser cruel, medonha

Mas tem toda a certeza nos caminhos
Que fazem nossa sorte ser risonha
E canta a maravilha destes ninhos...
Marcos Loures


36

Palavras quando ao vento se perdendo,
Não deixam nem sequer um eco ao menos
Os dias em mil noites convertendo,
Saudades de outros tempos mais amenos.

O coração à dor obedecendo
Espera por momentos bons, serenos,
A solidão aos poucos se tecendo
Sangrantes ilusões em medos plenos.

Saudade de quem tive, mas perdi
Vasculho cada ponto lá e aqui
Não tendo solução sigo sozinho.

Farrapos dos meus sonhos pelo chão,
Vagando não encontro solução
E morro pouco a pouco sem carinho...
Marcos Loures


37

Palavras nebulosas, vento esparso
Em cinzas desprendendo o que foi belo.
Desamarra da sorte o seu cadarço
Rouba do lavrador, o seu rastelo,

Atira um sentimento em mar revolto,
Jogando uma alegria ao precipício
Atando um pensamento que, antes, solto,
Sabia deste amor, o seu ofício.

Que sabe se o silêncio te tomasse
A vida não teria esta mazela
Nem mesmo necessário tal disfarce
Que impede, nebuloso, ver estrela

Assim, invés da treva em noite fria,
O amor se transbordasse em poesia..


38

Palavras metralhando os sentimentos,
As balas são perdidas se vazias.
Não sei se ainda posso ou deverias
Viver felicidades em momentos.

Se os gozos são dos versos, meus rebentos,
Partilhas sem demora tu farias,
Matilhas de desejos quando crias
Os templos já nos servem como alentos.

Pedaços embutidos nos armários
Acervos em compêndios mais diversos,
Colhendo os meus retalhos, são perversos,

Além de tolamente temerários
Os versos das canções que ora recrio,
Usando como mote este ar sombrio...


39


Palavras entre flores, como espadas
Cortantes com perfumes de entremeio,
Em pétalas disformes decoradas
Das águas os penedos por recheio.

Em formas contrastantes decoradas,
Aguçam as tempestas por recreio,
Nos cais tempestuosos ancoradas
Aonde amor em paz, pretendo,anseio.

Fluindo por caminhos mais cortantes,
Envoltos pelas nuvens fascinantes,
Derrames de loucuras e carícias.

Os olhos tão profanos das paixões,
Ciganos eremitas, furacões,
Destilam dos espinhos tais delícias...
Marcos Loures


40



Palavras de carinho aos teus ouvidos,
Sussurro quando acordas de manhã;
Tocando levemente os teus sentidos
O amor vai desfilando o seu afã;

Os sonhos que tivemos, divididos,
São partes congruentes da maçã;
Caminhos desvendados, repartidos,
Uma alma busca noutra gêmea irmã;

Por mais que isto não seja a realidade,
Procuro a mais perfeita liberdade,
Cativo deste nobre sentimento.

Eu sei que um paradoxo, isto parece,
Nas teias que emoção cultiva e tece
Encontro da esperança um alimento...


41

Palavra traiçoeira e venenosa
Rondando agora os velhos pesadelos
Fantástica emoção, maravilhosa
Roçando como um vento, os meus cabelos.

A pele delicada e veludosa
As pernas enroscando, teus novelos,
De forma delirante e caprichosa
Teus dotes, tão gostoso recebê-los

O olhar que outrora fora flamejante
Na chama tão dispersa, d’ora em diante
Transborda insanamente em tal veneno,

As rondas de luares sobre a Terra
Matando uma esperança cedo encerra
O sonho que se fez, outrora pleno...
Marcos Loures


42


Palavra que traduza amor em amizade
Restando em alegria um gozo em plenitude.
Sabendo ser feliz em total liberdade,
Trazendo o quanto quero assim, mais amiúde.

Não vejo tal palavra espelho da verdade,
Apenas um desejo a mais da juventude
Que cisma em misturar, sonho e realidade
Buscando quem talvez, com pena ainda ajude.

Sabendo desta missa um pouco mais que terço
Encontro esta criança em pleno e belo berço
Brincando de esperança, um lúdico desejo...

Mas creio na amizade e creio em teu amor.
Amante tempestade, um velho sonhador,
Ainda crê talvez, num último lampejo....

Marcos Loures


43

Palavra que te disse, mansa e louca;
Trazendo teu desejo para mim.
A boca procurando tua boca,
No gozo dessas flores no jardim...

Amada, como é bom falar que eu te amo!
Palavras, sentimentos tão profundos...
Qual lobo solitário; tanto chamo,
Meus olhos viajando nos teus mundos.

Deitado sobre a grama e sob a lua,
Ao ver-te em transparências caminhando,
Teu corpo se define e semi-nua;
Aos poucos meu olhar te desnudando...

E sinto teu respiro junto ao meu,
Meu corpo, nosso corpo, se perdeu...


44

Palavra quando feita em ceva, arado,
Profícuas emoções já se preparam.
Pá, lavras são metades em que o bardo
Vislumbra tais colheitas que impetraram

Os sonhos de quem lida com sentidos
Diversos entre frases, orações.
Aos olhos, aos ouvidos consentidos
Formatos em que inserem sensações

Usar deste instrumento em faca e foice;
Das almas e verbetes aplicados,
Às vezes do que fomos, sobra o foi-se
Das dores e dos medos aplacados.

Palavras sei que são caleidoscópicas,
Nas mãos de um sonhador, serão utópicas...

45


Palavra em mansidão é proferida
Dizendo desse amor, rara promessa,
Sentido libertário não tropeça
Razão prioritária em minha vida.

A dor da solidão sendo vencida,
O tempo de viver já recomeça
A nuvem do passando, mesmo espessa
Deixada assim de lado, dissolvida.

No carrossel do sonho, volta e meia
A trama se faz plena em clara teia
O amor vem se estendendo em cada ramo,

Girando o pensamento eu não descanso,
Assim, felicidade imensa; alcanço
Brincando de ciranda com quem amo
Marcos Loures


46

Palavra em emoção já me trazia
Aroma que em verdade eu procurava
Tocado pela luz de uma alegria,
Tanta felicidade celebrava.
Misturo realidade e fantasia,
E a vida num momento se dourava.

O canto em alegria, duradouro,
A voz de quem desejo chega aqui,
Encontra no meu peito, ancoradouro,
No amor que imaginei e não vivi,
Palavra traduzindo este tesouro
Que guardas- emoção- dentro de ti.

Palavra tão sublime que foi dita,
Matando em alegria, uma desdita...


47

Palácios e banquetes, reino e glória,
Descolo uma carona no cometa
Que segue pela vida em linha reta
E volta novamente à mesma história.

A moça com a lua merencória
Nos olhos do poeta se completa,
Palavra mais distinta amor deleta

Espasmo traduzido por vitória

Fazendo vistoria nos guardados,
Os beijos entre nuvens provocados
Agindo sem temor ou rebeldia.

Cadarços amarrados; o tropeço
É tudo o que decerto eu já mereço
Caindo da esperança/escadaria...


48

Paixões que me assolaram num tropel,
Fomentos de ilusões e fantasias,
Marcando meu passado por orgias,
Erguendo meu olhar ao negro céu.

Vestida de inclemência traz no véu,
O quanto imaginara e não querias,
Minha alma transformada num bordel,
Morrendo em solidão, nas noites frias...

Mas ergues, da amizade soberana,
Uma égide por certo, salvadora,
Enquanto a sorte vem e desengana,

A mão que me sustenta, redentora,
Além do que pensei vem e transforma,
Forjando do que fora, em nova forma...


49

Paixões não são somente assim, fictícias,
Palpáveis e volúveis, com certeza.
E mesmo que com força ou mais destreza
Às vezes nos sonegam tais delícias.

Enquanto nos dominam, em sevícias
Avançam e destroem, pondo a mesa,
A mão que me acarinha também pesa
Em meio a tantas ondas de malícias.

A qualquer preço tento um novo dia,
Aonde pelo menos a alegria
Não seja momentânea. Isso me cansa.

Amar em harmonia? Necessito.
Não acho necessário um plebiscito
No grito ou em concórdia a vida avança...
Marcos Loures


12350

Paixão: um sofrimento que angustia
E faz calamidades sem motivos,
Aquece e de repente, é noite fria,
Explode em mil fantasmas emotivos.

Paixão, imensidão tão diminuta
Que perde e faz perder a quem encontra.
É látego tormento e nada astuta
É quase sempre pró, às vezes contra.

Dispara na mudez uma ofensiva,
Ao mesmo tempo cega e nada vê,
É mansa e tão cruel, é radioativa,
Em nada mais confia, em tudo crê.

Relâmpago que corta, retumbante,
E mata o que sustenta, inebriante...


51

Paixão se ardendo em fogo desejoso
Intensas labaredas e fagulhas.
Um sentimento assim maravilhoso,
Palheiro que não tem tantas agulhas.

Eu sei qual o valor e raridade
Que trazes nos teus lábios sedutores.
Glorificando a paz, felicidade
Que é feita da ternura e seus pendores.

Nos versos tal moldura que enobrece
Um coração que é feito sonhador.
Escute este meu canto feito em prece
Louvando ternamente o nosso amor.

Nas ondas deste mar, na branca areia
Paixão feita solar, nos incendeia...


52


Paixão que se fez louca e fulminante
Tomando nossos corpos, brasa e fogo,
Insânia que se entorna num instante
Não ouve da razão sequer o rogo.

Espalhas pelos sonhos, diamante,
Cristais iridescentes onde afogo
O sonho num momento deslumbrante,
Querendo tudo agora, venha logo.

Não deixe que se extinga esta fogueira
Nem mesmo que se cale nosso amor.
A sorte tão cigana, aventureira

Deixando por legado o fogaréu
Intenso e com certeza encantador
Permite que se voe, alçando o céu...
Marcos Loures


53


Paixão que se deslumbra violenta
Tragando cada sonho revelado;
Jamais se permitindo mansa e lenta
Demonstra-se no olhar mais transtornado...

Paixão que se transforma em vil tormenta
Neste incontido gesto do passado,
A boca se tornando mais sedenta
Da boca que se quer, extasiado...

Ao mesmo tempo ignóbil, anda tão frágil,
Ao mesmo tempo insana é paciente,
Permite-se ao convite e ao contágio,

Faz do meu coração pobre palhaço,
Embora se derrete em forno quente,
Cortante, no meu peito, invade o aço...


54

Paixão que nos tomando nunca cessa
Eterno vendaval em doce senda.
Amar não é segredo nem promessa
Tampouco uma vontade feita em lenda,

Amar é sensação que sem conversa,
Avassalando sempre nos desvenda,
Unindo num mosaico, não dispersa,
Depois de certo tempo em mesma tenda

Os corpos que se buscam imantados,
Profundos sentimentos domadores,
Em fantasias olhos que se tocam,

E se perdendo estão bem mais atados,
No espaço se encontrando sonhadores,
No peito dos que amam já se alocam...


55

Paixão que nos ligou em verso e prosa,
Deixando nosso canto mais bonito.
Repito todo dia um belo rito,
E venho te regar, divina rosa.

Do jeito que se quer e que se goza
A vida não produz mais dia aflito,
Eu quero estar contigo e assim repito,
Plenitude de amor, maravilhosa.

Pintando com batom meu corpo inteiro,
Beijando cada parte, sem descanso,
A tentação sem risco, quando avanço

Percebo quanto é bom ser garimpeiro,
E ter na mão pepita rara e bela,
A mulher tão fogosa se revela...


56

Paixão que me domina e me entontece,
Não me deixa pensar em quase nada
Minha alma se agiganta e se engrandece
Ao mesmo tempo morre sufocada.

Por certo, quase nunca me obedece
E segue sem sentidos, transtornada.
Depois por muito pouco se arrefece
E morre, num segundo, abandonada...

Se queres ser feliz, negue a paixão,
Se conseguir me explica como faz...
Vislumbro uma total revolução

Em cada novo dia, um novo encanto.
Loucura que mais nada satisfaz,
Paixão que me domina: riso e pranto...


57


Paixão que me domina causa dano,
Matando uma ilusão sempre querida,
Não quero mais saber do desengano,
Procuro uma manhã que traga a vida
Ao coração moleque e desumano
Antes que a morte venha e isto decida.

Um canto mais suave e mais ameno
Formado pelas gotas de esperança
Que caem nesta noite, qual sereno,
Trazendo para a vida, segurança.
Coração sem juízo e tão pequeno,
Uma alegria a mais, jamais alcança;

Eu quero o teu sabor- delicioso,
Roubando o teu prazer, divino gozo...


58

Paixão que me devora e me detona,
Com fome, tanta sede de te ter...
A lucidez, inteira, me abandona,
Eu quero lambuzar-me em teu prazer.

Depois desta loucura tão gostosa,
Vibrando em cada toque, brasa e fogo,
Ardendo em teu rubor de rubra rosa,
Perdendo meu juízo em nosso jogo...

No rito insaciável, todo dia,
Nesta satisfação que nunca cansa.
Sangrando em cada poro, poesia,
Na troca sensual, na nossa dança...

Deitar-me no teu colo apaixonado,
De novo me entregar, iluminado...


59


Paixão que decorando em rubro sonho,
Trazendo um tinto sangue apaixonado.
Vibrando no teu corpo, sempre ponho
Segredo mais voraz, extasiado.

Voar além dos mares te proponho,
Deitara-te em tanta fúria aqui do lado.
Deixando esse passado tão medonho
Distante, bem distante, abandonado...

As cores que pintamos, mil matizes,
Amores que nos roubam o juízo.
Fazendo-nos, por certo mais felizes

Mostrando no caminho sempre alerta,
A porta do divino paraíso
Pra sempre, eternamente tão aberta...


60

Paixão palpita louca no meu peito
E cria estas tormentas tão ferozes.
Sabendo que sem ti, insatisfeito,
Eu perambulo louco, ouvindo vozes...

Sem um tremor sequer tu já me espera
Sem vacilar demonstras teu carinho.
A voz em calmaria me tempera
E mostra meu temor vago e daninho.

Quando a noite chegando traz a lua,
Eu sinto o doce gosto do desejo,
Percebo a silhueta semi nua
E lúbricos prazeres antevejo...

Paixão palpita cega, coração;
Desditas e delírios da paixão!


61

Paixão me devorando, audaz e astuta.
Causando reboliço no meu peito.
O quanto que se entrega desse jeito
Permite vislumbrar se existe luta.

A voz de uma emoção quando se escuta
Tornando o meu caminho mais estreito,
Enquanto tantas vezes me deleito
Uma ilusão se mostra mais arguta.

E nisso ao ver meu dia se esvaindo
Em luzes tão distantes, sem um sol,
Angústia se espalhando em arrebol,

Embora em teimosia, prosseguindo,
Eu sei que não terei mais qualquer chance,
Amor se colocou fora do alcance.
Marcos Loures


32

Paixão alucinante e sem juízo
Domina cada passo sem pensar.
Vivendo, num pecado, o paraíso
Aos poucos, nos começa a devorar.

Um sentimento assim, tão impreciso
Não deixa nem um jeito de lutar,
Chegando quase sempre sem aviso,
Mal posso, num segundo, respirar.

Ao perder a cabeça, perco o senso,
Vagueio por teu corpo sol e lua,
No mar onde navego; tão imenso

Não tenho mais sentido, nos astrolábios
Meu rumo em teu corpo já flutua
Ao sabor das buscas dos meus lábios..
63


Paisagem que se mostra soberana
Trazendo uma alegria sempre à mão.
Às vezes nos indica a solução,
Mesmo quando a má sorte desengana.

Fazendo nossa vida mais ufana
Permite que vençamos tentação,
Uma arma contra a negra solidão
Defesa mais profícua e mais humana.

O paraíso em vida prometido
Jamais existirá sem ter a glória
De ter em cada passo percebido

O quanto nos permite esta vanglória
De ter assim, amiga; concebido
Na força da amizade, uma vitória!

64

Pairando sobre nós o bem do amor
Convida para a festa que virá
Trazendo em seu poder transformador
O dia que sublime nascerá.

Teus olhos me guiando, farto encanto,
Ternura benfazeja de um farol,
Do imenso sol, um simples helianto
Entrega-se à beleza do arrebol.

Seguindo os claros raios matinais
Eu sei que não irei mais me iludir,
Magníficos caminhos magistrais
Encontrei somente por seguir

Os rastros que tu deixas nesta estrada,
Raros brilhos em forma de pegada...


65

Pairando sobre as noites, meus desejos;
Encontram na umidade dos teus lábios
Delícias de tão doces, mansos beijos;
Certeza dos carinhos bem mais sábios.

Encontro no teu corpo meu naufrágio,
Não quero mais voltar ao triste cais.
Penetro essas entranhas, vou bem ágil,
Eu quero aqui ficar, sair jamais!

Descubro em cada sanha o meu prazer;
Cabelo da morena que se assanha,
Vontade de, meu rumo em ti perder,
Passando cada vale, mar, montanha.

Eu amo a maciez de tua pele,
O conhecer segredos, me compele...


66



Pago o pato pelos erros
Cometidos vida afora,
Se do vale vejo os cerros,
Paisagem que decora

Os engodos e os desterros
Esperança se demora,
Se mis dias fueran perros
E melhor que eu vá embora

Como mancha nos espelhos
Impedindo a clara imagem,
Resto só e; de joelhos,

Recolhendo cada caco
Reviver esta viagem
Eu garanto que é um saco!


67


Pagando tanto mico vida afora
Eu quis fazer um verso, mas não pude
Por mais que a fantasia ainda grude
O tempo de sonhar já foi embora.

Há pouco me curei da catapora,
Porém, a cicatriz não mais me ilude,
Criei, sem serventia, lago e açude
E sei que algum castigo não demora.

Minha alma comemora um simples gol,
Saneio o que deveras mal restou
E tento refazer, do nada, algum.

Maria foi segredo e foi degredo,
No quarto sempre escuro, risco e medo,
Do tanto que mais quis: sobrou nenhum...


68


Padeço dos pecados cometidos
Há tempos por estúpidas promessas.
Se tenho a poesia que confessas
Os ritos se perderam nas libidos.

Caminhos entre estrelas percebidos
E a cada novo dia recomeças
Se os sonhos mais audazes não engessas,
Meus passos são deveras repartidos.

Repatriar as velhas emoções
Beber até fartar nos ribeirões
Usando da divina complacência.

Querendo me perder em teu juízo,
Do quanto cometemos, sem aviso,
Não quero mais pudor sequer decência...
Marcos Loures


69


Pacato cidadão espera quieto,
Assim mudança é traça no Congresso.
Calado, permanece morto o feto,
Medalha nunca mostra o seu reverso.

Quem cala é que por certo está repleto
Quem vive desunido e vai disperso
Pois rã que não se move quer inseto?
Quem diz que da política é avesso

Permite por terrível omissão
Que dê sustento ao crápula quando erra
Deixando o mais humilde pelo chão.

A noite do cochilo cria e emperra
Pois oportunidade faz ladrão,
E o bom cabrito, amigo, sempre berra!


70


Pavores e tristezas vão dançando.
Morrendo pouco a pouco no poente,
O sol que um dia esteve iluminando,
Afasta-se e no frio se pressente

A noite que virá me maltratando,
Até que a morte chegue de repente,
Sem avisar nem mesmo aonde e quando,
Levando o que sobrou, quase indigente.

Assim persegue em vida, o meu Calvário,
Sou triste, isso jamais eu escondi.
O tempo de viver é temporário,

Felicidade nunca esteve aqui.
Apenas solidão em dura prece
Cativa, inda resiste e me obedece..

71

Patrão, eu te garanto que essa moça
Não foi embora apenas por querer,
Verdade se quebrando feito louça
Não deixa a realidade perceber.

Dos olhos de quem chora forma a poça
Molhando a vida inteira, o meu sofrer.
Na solidão terrível da palhoça
Apenas velha lua eu posso ver.

Cheguei neste sertão faz tanto tempo,
A seca não passou de contratempo
Os olhos não pararam de chorar.

Eu peço um só momento de atenção,
Escute estes meus versos meu patrão
Os derradeiros que eu irei cantar...
Marcos Loures

72


Passos em direção ao velho sonho
Depois de ter estado tão vazio,
Se eu tento e de repente ainda crio
Eu teimo e tento ver o que proponho,

Sem ele nada além de um mar medonho
Em trevas e borrascas, vou sombrio,
Por vezes entre medos fantasio
Um cais que se tornasse mais risonho.

O amor bem mais que lúdicas ofertas,
Enquanto esta esperança não desertas
Permites que inda possa imaginar

Que oásis da alegria seja aqui,
Ao lado de quem amo eu percebi
Poder tocar meu sonho e navegar...
Marcos Loures


73


Passos calmos procuram harmonia,
Em teus gestos esfíngicos, quimeras...
Devoras a vetusta fantasia
Que se acampara desde priscas eras

No peito solitário. Melodia
Esquecida em felizes primaveras...
Amor de tanto tempo não queria,
Sentidos anciãos já me adulteras...

Nos juncais da saudade, perco o rumo...
Espreita-me a serpente, firma o bote;
Minha alma se esvaindo, leve fumo.

Renovas sensações mais arrojadas.
Prazeres e delícias vêm em lote,
No peito, as emoções vibram rajadas...


74

Passo pela alameda dos meus sonhos,
Ouvindo sabiás e curiós...
Quem teve tantos dias mais tristonhos
Saindo de um passado tão atroz
Sabe dos caminhos mais risonhos,
Do mundo que criou, feliz, após...

Silêncio a traduzir a paz querida,
O vento passa lento pelos galhos,
De tanto que encontrei em minha vida
Projetos que encetei morreram falhos.
Nesta alameda encontro uma saída,
Juntando o coração, tantos retalhos...

Amiga, esta alameda, na verdade,
Demonstra como é bom ter amizade...


75

Passo a passo, contigo eu estarei
Na longa caminhada desta vida
Que mesmo que pareça estar perdida
Transborda em puro amor, a nossa lei.

Vivendo como sempre desejei
Na paz e no sorriso, a própria lida
Fica mais fácil, assim, de ser cumprida.
Tu és o que mais quero e que sonhei.

Um amor verdadeiro dá guarida
E traz como bandeira uma alegria.
A estrada das tristezas já vencida

Só resta-nos saber felicidade
Alimentando os sonhos, a euforia
Nos mostra em nosso amor, toda a verdade.


76

Passeio, distraído pelas ruas
Numa procura insana, mas sagaz.
Distante de meus olhos continuas,
Porém a cada passo mais audaz

Imagem em transparências, peles nuas,
Povoa o pensamento que se faz
Em sonhos e desejos, bocas cruas
Que ao se tocarem; mágica me traz.

Nos rastros prateados desta lua,
Meu passo em desatino; continua,
Até que eu sinta o cheiro que se exala

Desta mulher, fantástica miragem.
Percebo ao terminar minha viagem
Que estavas desde sempre em minha sala...
Marcos Loures


77

Passeio no teu corpo, vales, serras,
Descubro cada fonte e seus ribeiros,
Vislumbro uma beleza nos outeiros,
Encanto-me decerto em belas terras.

Tantas magias, meiga, tu encerras
Nestes teus paraísos verdadeiros
Mergulho meus desejos derradeiros,
Afasto o coração de antigas guerras,

E agradecendo a Deus e à natureza
Por esta maravilha sem igual,
O corpo desejado e sensual,

Que traz felicidade com certeza,
Deixando para trás um mundo algoz,
Vibrando em alegria nossa voz...


78


Passeio no teu corpo mil vontades
De ter tanto prazer, louca viagem,
Ao ver tua nudez, uma miragem
Desfruto de totais felicidades.

Invado calmamente e quero mais,
Voando em nosso gozo tão preciso,
Perdendo a direção, e sem juízo
Calores e loucuras tropicais...

Arranco teus gemidos com carinho,
E sinto esta umidade nos tomar,
Bebendo o teu querer, amado vinho,

Que escorre aos borbotões, mar a singrar.
Em toda a maravilha que vivi,
Sentindo, meu amor, dentro de ti...


79




Pecado inominável é o aborto,
Devemos, implacáveis, condená-lo,
Perante tal verdade, eu já me calo,
Porém num pensamento torpe e torto

A vida deve ser, pois preservada,
Para quem age assim, a penitência
Levada à derradeira conseqüência,
Mesmo que sobre ao fim, apenas nada.

Melhor morrer o corpo em salvação,
Ao arcebispo cabe a excomunhão,
Arrancando da Terra, sem um rastro.

Excomungando assim tais assassinos,
A Igreja pune todos os ladinos,
Porém não fala nada do padrasto...



80



Pecado é não poder te dar um beijo
A boca se oferece... Maravilha...
Seguir sem ter juízo a doce trilha
Que leva ao paraíso. Meu desejo...

Um jogo mais audaz ora prevejo,
Menina se tornando uma armadilha
Ao peito que cansado não mais brilha,
Fazendo da esperança um relampejo.

Sem pejos, eu vasculho esta gaveta,
Encontro a poesia predileta
E tento declamar. Triste papel...

A moça em ironia e sem confete:
Meu tio, estou bolada. Piriguete
Só topa se dançar comigo o Créu.
Marcos Loures


82


Perdoem-me estas tolas baboseiras,
São tolas teimosias de um palhaço.
Se eu causo noutro alguém, este embaraço
Não foi minha intenção. Mas não me queiras

Somente pelo aroma das roseiras
Que, às vezes espalhei no teu terraço,
Se estrelas distraídas eu enlaço,
Nunca pude enfrentar as ribanceiras.

Escondo-me da luz que sempre alcanças
Com tanta maravilha que produzes.
Se destas tais asneiras, minhas cruzes

São tolas cretinices; torpes lanças,
Diante deste brilho fascinante,
Eu sei que sou estúpido ignorante...


83


Perdoe, mas é hora de partir,
O barco encontrará enfim seu cais.
Diverso dos meus versos usuais,
Não tenho mais nem forças nem porvir.

A carne apodrecendo pouco a pouco,
Os vermes serão belos companheiros,
Distante dos sorrisos costumeiros,
A face escancarada deste louco.

Um cão que farejando qualquer osso,
Teimando em mergulhar no escuro fosso,
A campa me servindo como manto.

Pútrida solidão por sob a terra,
Gargalho em ironia, e assim se encerra
Num ápice gentil, o inútil canto...


84


Perdoe toda a farsa escancarada
Na face de quem mente sobre o amor.
A boca da verdade abandonada
Nos antros da vergonha neste andor.

Perdoe toda rosa estraçalhada
Nos dentes sem limites do pastor,
Mentira no Teu nome apregoada,
Nas taças folheadas de louvor...

Perdoe cada santo que emergindo
Dos pântanos obscuros das almas.
Da podre corrupção que se aspergindo

Em nome deste amor, que é tão perfeito,
Matando este cordeiro em novos traumas,
Se acham bem mais fortes no direito...


85



Perdoe tal demora na resposta
À carta que mandaste para mim.
Gostei da tua idéia e digo sim,
Minha alma a estar contigo; está disposta.

Quem age com carinhos, sempre gosta
Da flor que irá brotar neste jardim,
Aquele desabafo diz que vim
Apenas pra deixar minha alma exposta.

Eu nunca me senti senão feliz
Por ter a companhia benfazeja
Daquela que em carinhos vem e diz

Que a vida pode ser maravilhosa
Uma outra direção ali se almeja,
Eu sei separar espinho e rosa!
Marcos Loures


86

Perdoe se tu pensas que, distante
Esteja de teus passos, minha amada.
Teu sonho dentro em mim tão deslumbrante
Fazendo esta vontade realizada...

O manto que te cobre a cada instante
Recobre-me trazendo em alvorada
A luz deste astro-rei, forte, gigante,
Deixando a minha pele bronzeada

Ardendo neste fogo que é diuturno,
Tramando a cada dia um gozo imenso.
Deixando o que já fui- triste e soturno,

Abrindo em tanto brilho, um céu bem claro
No qual emoldurado, tanto penso,
Falando deste amor, eu me declaro...
Marcos Loures


87

Perdoe se sincero agora eu fui,
Inútil caminhar contra a corrente.
Um velho sonhador se não demente
Percebe quando o sonho cai e rui.

O verso que decerto manso flui
E tendo a corda frouxa que arrebente
Eu sei que vou bancando um penitente
E o gozo da alegria, o canto intui.

Tatuí não será jamais tatu
Assim como não tenho a pretensão
De ser algum herói tolo ou vilão

Apenas vou me expondo e estando nu
A roupa tão puída do passado
Deixará meu soneto assim, pelado...


88

Perdoe se pareço, assim, sarcástico
Não tenho mais vontade em ironia.
Do quanto o nosso amor já prometia,
Um dia mavioso e tão fantástico.

O corpo adormeceu bem mais espástico
Mudando cada nota da harmonia,
Deixando no passado a sintonia
Anel que tu me destes, foi de plástico...

Nos olhos carregando novas rugas,
Amores que encontrei, são sanguessugas,
Às vezes sou pacato, outras nem tanto.

Cabelos que afaguei, viraram cobras,
Colecionando agora, simples sobras,
Vesti meu terno novo- o desencanto.


89

Perdoe se parece atrevimento,
O que posso fazer se te desejo?
Beber de tua boca num momento
Rompendo estas fronteiras, dar-te um beijo

Entrar nestas defesas, ser teu homem.
Despindo a fantasia tropical.
Famintos, os meus olhos que te comem
Neste teu bamboleio sensual.

Salivas que se trocam, línguas feras.
Gemidos e sussurros noite afora,
Teu corpo seduzindo, em primaveras,
Na intensa sedução que em ti aflora.

Perdoe se te quero desse jeito,
Sem medo, sem vergonha, amor perfeito...
Marcos Loures


90


Perdoe se o que trago hoje a teus olhos
Retrate esta mortalha que cultivo,
De insanas ilusões, ora me privo,
Explodem no meu peito urzes e abrolhos.

Do charco de minha alma, a podridão
Exala o seu aroma e toma a sala,
Da sórdida paixão, velha vassala,
Vestida de total escrotidão.

Mergulho nas charnecas, movediço,
E sei que tantas vezes fui omisso,
Porém minha missão já se esgotando,

Teimar e persistir? Nada me importa,
Há tempos destruída a antiga porta,
Imagem podre e falsa, desabando...


91


Perdoe se não trago mais sorrisos
A cara do palhaço entristecida
Reflete bem melhor a minha vida,
Em passos tão errôneos e imprecisos.

Eu sei que não faltaram bons avisos,
Ciladas que encontrei, bala perdida,
Uma esperança morre, apodrecida
Ofídica ilusão negando os sisos.

Se eu bebo cada gota deste gim,
Placenta da esperança não sustenta
O verme que em mordaça violenta

Ainda tenta crer em flor, jardim.
Arranca dos meus olhos a figura
Esquálida e patética: ternura...
Marcos Loures



92

Perdoe se não sou nenhum eunuco
Eu gosto de fazer amor, não nego.
Se a libido, querida, eu já cutuco
O sexo nos meus versos eu emprego.

O cabo do martelo diz do prego
Relógio lembra logo o velho cuco
Eu não quero fingir nem sigo cego
Além de ser ranzinza, estou caduco.

O cheiro da morena, o que fazer?
Convida num segundo pro prazer
Que a gente faz com toda esta alegria

Embora o companheiro anda falhando,
Não custa meu amor, seguir sonhando,
Ao menos tem alguma serventia...
Marcos Loures


93

Perdoe se não sei anatomia
Às vezes eu confundo estes caminhos.
Procuro insanamente pelos ninhos,
Porém tantas estradas amor cria.

Errante não percebo a fantasia
Que é feita muitas vezes de carinhos.
Prazeres; imagino, até sozinhos
Mas nada do que penso traz valia.

Sou bruto, me disseste, gutural,
Um Brucutu somente e nada mais.
Um asinino ou mesmo até boçal,

A culpa, eu te garanto não é minha.
Se o órgão do prazer mulher já traz,
Ao homem Deus só deu uma cobrinha...


94

Perdoe se não pude ter nas lavras
Colheita tantas vezes desejada,
Perdido sem ter rumo nem palavras
Sobrando do que fomos, quase nada.

Enquanto com saudade, os olhos lavas
Entendo o que restou como um pavio,
Aonde as esperanças vãs escravas
Sonegam invernando cada estio.

Resíduos dos amores, vermes, larvas
Jamais terão a sorte das crisálidas,
As faces sem sentido, tolas, parvas
Restando tão vazias, frias, pálidas.

Quem dera! O coração segue pesado,
E vendo o que nos toca, vou calado...
Marcos Loures


95


Perdoe se não pude te encontrar,
Às vezes desencontros são fatais
Só quero que tu saibas: vou voltar
Matar a nossa sede, é bom demais.

Reuniões freqüentes no trabalho,
Momentos tediosos, o que faço?
Querendo ter comigo o teu abraço
Eu sei que não ligar foi ato falho.

Mas pego de surpresa, novamente,
Não sei se tem desculpas, porém peço.
Assim em outra data, de repente

Terás o meu carinho, isso eu garanto,
Beijar a tua boca, não tem preço,
Rendido totalmente ao teu encanto...
Marcos Loures


96

Perdoe se não falo mais de amor,
Se os olhos embotados lacrimejam,
Os corpos que se buscam não desejam
Além de um simples gesto. Puro ardor.

Quem dera se eu pudesse. Mau ator,
Ainda que em momentos relampejam,
Os dias em lamentos, só latejam,
Deixando solitário, um sonhador...

Carrego ainda as marcas do passado,
Saudosa sensação que não me deixa.
Meu verso denotando amarga queixa

Seguindo pela vida, derrotado,
Apenas um momento de atenção:
Embora eu já perceba: foi em vão...


97


Perdoe se meus versos são banais,
Eu tento demonstrar quanto te quero.
Aos poucos, solidão, me degenero
E morro tão distante de teus cais...

Os sonhos, companheiros usuais
Nos quais, com alegria e tanto esmero
Eu sei que talvez falte algum tempero,
Mas saiba que eu adoro. Amo demais...

Eu sinto a minha vida se esvaindo,
Por entre os dedos, perco a direção,
Do gozo de um amor deveras lindo

Apenas um momento bastaria.
Mergulho num abismo, encontro o chão,
Espelho de minha alma, tão vazia...
Marcos Loures


98



Perdoe se me ausento. É necessário.
O tempo é o Senhor, pois absoluto,
Se der a cara à tapa inda reluto,
O lobo tem destino sanguinário.

Debilitado estou, porém eu luto,
Correndo contra mim, o calendário,
Escondo os meus anseios num armário,
Aguardo o meu descanso, estendo o luto.

A morte se aproxima devagar,
Apodrecendo aos poucos, sem confetes,
Quisera controlar tal diabetes,

Quem sabe, noutra estância repousar...
Deixando mansamente a minha vida,
Preparo a cada dia, a despedida...

99


Perdoe se inda sonho assim contigo,
Não devo, isso bem sei, não é direito...
O tempo que se perde e que persigo
Vivendo a transtornar meu velho peito...

O céu em níveas nuvens, sem mormaço,
Promete tal calor que não suporto...
Esqueço de viver um manso abraço
Atraco meus navios noutro porto...

Talvez ressurja calma uma alvorada
Não creio, mas pretendo ser feliz...
Depois de tanta luta, sem ter nada,
A nuvem vai mudando o seu matiz...

Das chuvas que virão, em tempestade,
Quem sabe irá nascer felicidade?


12400


Perdoe se inda escrevo sob a métrica
Algoz que não permite ser liberto.
Pregando muitas vezes no deserto,
Sonoridade é coisa amarga e tétrica...

Não posso mais seguir em tal estado,
Um verso vagabundo, o que desejo,
Sentindo a convulsão que num lampejo
Dará sem tais floreios, seu recado.

Eu rendo-me a quem faz de algum soneto
Apenas insensata mistureba,
Não quero confundir juba com jeba,

Jurássico poema. Mas prometo
Fazer sonetos falsos. Libertários,
Jogando o que aprendi nos teus armários...




1

Passando tanto tempo sem te ter
Espero que não vejas meu caminho
Como fonte maior de teu prazer.
Senão em outros braços já me aninho.

As horas se passando sem se ver
Pressinto ser feliz, mas sou sozinho.
Como posso enfim te convencer
Se tudo o que me dizes, um espinho.

Soltando pela vida o meu gemido,
O pranto que causaste, viva fonte.
Amor que sempre esquece-se no olvido,

De toda essa saudade se alimenta.
Impede novo brilho no horizonte
E todas as defesas, arrebenta!
Marcos Loures


2

Partiste num cometa ao fim da noite,
Espaços procurando e não te vejo.
Saudade vergastando, duro açoite
Deixando um rastro amargo de desejo.

Ouvindo tão distante a mansa voz
Que um dia se perdeu em burburinho,
Lembrança que castiga, dura algoz,
Sombrio e solitário, o nosso ninho.

A porta permanece sempre aberta,
Passos na escadaria? Uma ilusão.
Uma esperança, aos poucos, me deserta,
Tomado por terrível aflição

Espero a cada instante a tua volta,
Porém sem ter ninguém, resta a revolta...
Marcos Loures


3


Pareces que enfeitiças quando danças
Me sinto assim cativo e seduzido,
Em cada gesto mais mil esperanças,
Sonhando, inebriado, estou perdido...

Meus olhos eu bem sei que não alcanças
Mas mesmo assim te espero em vão; vencido
Pela tua magia em belas tranças
Largadas sobre os ombros. Iludido

Não paro de pensar na dançarina
Que quase me tocando, me feriu
Na pele amorenada da menina

Adivinho um sorriso encantador,
Um sonho do passado, de vinil,
Tocando uma balada, traz amor...


4

Parece tantas vezes ser fatal
A dor que nos atinge e tão-somente
Uma amizade mostra-se ideal
Como aliada sempre e firmemente.

Por isso, companheira e camarada
Encontro em teu apoio esta firmeza
Para enfrentar o medo e a geada
Numa esperança clara, uma certeza

De que a vida será bem mais feliz
A quem já sofreu tanto no caminho.
Cevando no meu peito a flor de lis,
Cuidando deste afeto com carinho.

Meu verso te agradece tanto, tanto,
Amor: doce refrão em nosso canto...


5

Parece que não vês quanto eu te quero,
Meu verso se encantando vai contigo
Colado no teu corpo, meu abrigo,
Um sentimento nobre como espero.

Do mundo em que vivemos, ledo e fero,
Unidos tão distantes do perigo
Durante tanto tempo assim prossigo
Atado neste sonho que venero.

Estamos tatuados pele a pele
E vamos neste passo ao infinito.
Tu sabes o que penso e acredito

Um sonho de justiça em pleno amor.
Uníssono e bem forte nosso grito
Em cada novo passo a se compor


6





Parece que não sei de outra palavra
Que trague pelo menos um sorriso,
O amor que não permite qualquer lavra
Semeia em solo amargo sem aviso.

Dos vales que sonhei, a cordilheira
Tomando este cenário, deixa além
A paz que procurava, alma se inteira
E vê depois dos montes, velho trem

Que liga o meu destino ao vão deserto,
Marmóreas pedrarias não há mais.
E sendo o que não tive; já deserto.
Ausência do futuro engole o cais.

Campanhas e campinas, doces prados,
Os dias morrerão desesperados.


7

Parceiros que se foram no caminho
Deixando como herança a solidão,
Vagando pela vida, em negação
Expresso alguma forma de carinho.

O vento que invadira o velho ninho,
Promete em tempestade a viração.
Abrindo num momento todo o chão,
Agora em pleno inverno estou sozinho.

Meu barco se perdendo sem um cais,
Prosseguindo ao sabor dos vendavais
Promete ao fim da vida, sofrimentos.

Que faço? Sem sequer um companheiro,
Estúpido, imbecil, mau timoneiro,
Perdi, sem proteção, rosa dos ventos.
Marcos Loures


8


Parceiro inseparável de quem sonha,
Amigo de quem quer só aprender.
Levando à fantasia má, risonha,
Eterno companheiro em dor, prazer.

Por páginas e letras viajamos
E vamos para além, de tempo/espaço.
Liberta a sociedade, mata os amos,
Nos acompanha sempre passo a passo.

Em papiro, papel ou na internet
Ao conhecer e ser, já nos remete;
Sem ele como haver democracia?

Na sua companhia dia a dia,
Assim evoluiu a humanidade
Assim se concebeu a liberdade...


9

Parceira dos meus sonhos mais felizes,
A tua voz chegando aqui me diz
Que mais do que tristezas ou deslizes
O rumo que busquei nada desdiz.

De todas amarguras, cicatrizes,
Apenas encontrando o que mais quis
Meu céu revigorado por matizes
Dos olhos deste encanto vibra em bis.

O amor chegando manso em nossa vida
Depois de tantas chuvas, temporais
História desde agora decidida

Permite alvorecer em plena paz.
Felicidade sabe deste cais
E mostra-se sublime e mais capaz...

À MINHA MAIS COMPLETA PARCEIRA, E UMA DAS MAIORES POETISAS VIVAS DESTE PAÍS
HELENA LUNA
Marcos Loures


10

Parábolas diversas, carrossel,
Rondando enredos vários e profanos,
Celebro os meus complexos desumanos
E bebo teu amor grama e motel.

Egressos deste barco de papel,
Meus sonhos se condenam; desenganos,
As almas que se elevam são metanos,
E o gesto mais conciso beira a fel.

Risíveis melodias que funestas,
Abrindo os meus portões, arrombam frestas,
Amor quis atacado e eu varejo.

Parágrafos; pulei em pífios sonhos,
Cadarços que amarraste, tarsos vejo,
Quebrados em tropeços tão bisonhos...
Marcos Loures


11

Parábola ancestral verdade bíblica
Falando de quem ama e não pergunta,
A vida se refaz e sendo cíclica
Passado com futuro sempre ajunta.

Bem antes de buscar conhecimento,
Nós vemos o Senhor à nossa frente,
Porém quando o saber se mostra intento
Fugimos do que cremos claramente.

Depois de tanta busca nos vestimos
E nuas nossas almas seguem vãs,
Ao Deus original quando o sentimos

De novo ao Paraíso retornamos,
Milagre se refaz toda manhã,
Em cada ser vivente, árvores, ramos...


12

Para ter um amigo,
Querer tão só não basta,
Na casa em que me abrigo,
O tempo que desgasta
Às vezes não consigo
A vida nos afasta.

Mas sempre cultivando
A flor deste jardim,
Aos poucos conquistando
Entrego-me e sem fim,
Não sei sequer nem quando,
Contigo, irei assim...

Colhendo cada fruta,
Lapido a gema bruta...


13

Para quem vive neste mundo só,
Amigos são as pontes para a vida,
Um lobo solitário causa dó,
Uma esperança sempre cai perdida.

A solidão penetra como faca
Trazendo a sensação deste vazio,
Qual febre alucinante quando ataca,
Matando sem calor, portando o frio.

No exílio de minha alma, nada resta
Senão tua amizade, companheiro.
Sem ela vou ao caos e perco a festa
O mundo sem sentido, o tempo inteiro.

Mas sei que em tanta coisa eu não me iludo,
Uma amizade plena é quase tudo...


14


Para quem exilado pela sorte
Vivendo em solidão, triste quimera,
O vento da amizade bate forte
Trazendo uma esperança em primavera.

Para quem a vida nunca trouxe
A doce sensação de ser amado,
Para quem alegria como fosse
Um sonho tão distante, sem passado,

Para quem o sabor da vida, amargo,
Perdido num futuro que não vem,
Para esse solitário, vida ao largo,
Que passa a vida toda sem ninguém,

O mundo parecendo tão miúdo...
A amizade é na vida, quase tudo...


15


Para os meus passos tortos, desvalidos,
Encontro uma esperança benfazeja
Tomando meus segredos e sentidos,
Nos braços desta lua sertaneja.

Tocando em mansidão os meus ouvidos,
Seu canto é o que se quer e se deseja,
Matando tais tristezas, tempos idos,
Amor por minha pele, já poreja.

E faz de cada sonho a redenção.
Sabendo que viver não é só sonho.
Por isso minha amada eu te proponho.

Viver o que nos resta de emoção,
Num mundo mais bonito e mais risonho;
Falando deste amor que é solução
Marcos Loures


16

Para o bem de quem desejo parabéns
O tanto tempo esvai-se num segundo.
O quanto que te quero e o que tu tens
Na profusão sincera invade o mundo.

O quando nunca tive, vagabundo
Perdendo com certeza velhos trens
Palavra que te falo e que reténs
No mar desta amizade eu me aprofundo.

Aniversários, risos e festejos,
Depois de cada curva, uma esperança
Ateio uma alegria na aliança

Fornalha preferida dos desejos.
Bebendo cada gole irei contigo
Vencendo qualquer pânico ou perigo.


17

Para falar de Amor, existe a voz
Do velho sonhador que em seu inverno
Sabendo a solidão, cruel inferno,
Aguarda o que virá, decerto, após.

O medo de sonhar, um duro algoz
Impede este momento amável, terno.
Agora ao fim da vida, não me hiberno,
Pois vejo o meu final que vem veloz,

Percebo quantas vezes fui sem rumo,
À vida em desamor não me acostumo,
Usando da garganta, mesmo rouca,

Eu brado a maravilha de sonhar,
Por mais que a vida venha maltratar
E uma amargura seja surda, mouca...
Marcos Loures


18

Para amar é preciso ter ciência
Quem nunca faz decerto já não erra,
Cumprindo por cumprir a penitência
Vacância presumida nega a terra.

À sombra deste som, semeio ao vento
Bemóis e sustenidos, flor em flor.
Pressinto o vão e tento o sentimento
Na máscara gentil do estranho amor.

A mesma claridade que me cega
Às vezes já permite revelar-se
O gozo que previsto é chique ou brega,
Mas causa quase sempre a vã catarse.

Irmã, imã mulher verde esperança
No enredo deste abraço, a moça dança...
Marcos Loures


19

Para a glória do amor, canto meus versos;
Embora tantas vezes maltratado.
Em todos os caminhos mais adversos
De facas e navalhas, vou talhado.

A cega morbidez que me enlevara
Na neve forte e brusca deste inverno.
Em cântaros jamais sequer chorara,
Fazendo deste mundo um novo inferno.

Tratando sem querer qualquer afago
Vertendo em solidão, um sentimento.
Aos poucos o que resta, cedo apago.
Não deixo de pensar um só momento.

Como é duro saber do que preciso
Se quiser te levar ao paraíso...


20

"Papai é uma bomba, velho traste
Que entope a nossa casa, porcaria."
Enquanto esta verdade me dizia
A vida se condena a tal desgaste.

Por mais que noutras sendas tu andaste
Vestígios que deixei, sem poesia,
Morrendo pouco a pouco a cada dia,
A sorte não tem rumo, se a negaste.

Apenas barrigudo e desdentado,
Deitando suas mãos, inúteis garras
Ferrenho sacripanta, mal pintado.

Versões que em diversões disseste, filho,
Rompendo corajoso tais amarras
Repetes sem saber, outro estribilho...
Marcos Loures


21

Pantanoso destino me legaste...
Nascido na floresta mais selvagem,
Procurando viver neste contraste,
Vou buscando espelhar a minha imagem,

Nas matas e nos rios que deixaste
Como oásis, delírios e miragem...
Crescendo, tentarei fincar as hastes
Nesta maravilhosa paisagem...

Mas a charneca nunca me deixou...
Entranhada em plena alma não me larga...
Essencialmente é tudo o que restou...

As marcas deste pântano que trago,
Por tantas vezes meu olhar embarga.
Delas me livrarei num manso lago.
Marcos Loures


22


Panacéia dos novos engelhados
Poética banguela dos brasilis
Os ritos vanguardistas já mofados
Arcaicas velharias geram bílis.

Primitivista esboço do futuro,
Acasos entre ocasos e mansões.
Um salto delirante neste escuro
Perpetuando vagas direções.

Moleque sertanejo do Leblon,
Surfista em Mar de Espanha, em Mirai,
Madame furta-cor tom sobre tom,
Rachaduras nos templos que erigi,

Presidente operário, ópera prima
Neste caleidoscópio, pobre rima...


23


Palpitas em teu corpo esta vontade
De se entregar inteira, sexo audaz.
Porém tu temes tanto que és capaz
De morrer quase à mingua. A claridade

Querida, só se dá pra quem se der.
Espero já faz tempo, mas não vens,
Decerto em teus pudores de mulher
Deixaste bem distante tantos bens...

Nas coxas entreabertas hábeis dedos
Ouvindo num sussurro meus convites,
Mistura de tesão com bobos medos

Impedem que tu venhas, me perturba
Saber que esta menina. Oh! Acredites,
Sozinho no seu quarto, se masturba...


24

Palmeiras, ilhas mares, onda, areia...
Deitar no teu regaço, minha amada...
Delícia de teus olhos, qual sereia
Que dorme do meu lado, extasiada...
A lua que nos banha plena e cheia,
Espera tua volta, iluminada...

O nosso ninho aguarda teu encanto,
Os travesseiros soltos pela cama...
Ouvir tua alegria em cada canto,
Sentir a transparência, imensa chama.
Deitado do teu lado me agiganto,
E a vida sem pecado sempre inflama

Um coração deveras encantado,
Espera o teu retorno, apaixonado..


12325

Palidez mortal, lívida e sombria...
Sobre teu leito adormecida, linda...
Como fora um cadáver que dormia
A madrugada companheira ainda

Espreitava a chegada, novo dia...
A aurora que transforma se deslinda.
O mundo repetirá sua melodia...
Manhã ensolarada vem, bem vinda...

Amor palpita, terremoto, luta...
Olhos ebúrneos prateada vida...
Agonizante, força vera bruta,

Não posso te negar essa esperança.
A dor que se aproxima, mal contida,
Convida nosso braços pr’essa dança!
Marcos Loures


26


Palhaço de ilusões que trama em versos
Dispersas emoções, chamas diversas,
Imerso nos grotões, busca universos
Bebendo as sensações que agora versas.

Intensas fascinantes maravilhas,
Imensas faiscantes alegrias,
Nas densas tempestades em que trilhas,
Felicidades várias ora crias.

Sabendo ser audaz quando contigo,
Erguendo a minha voz chegando a ti
No amor que me transtorna vejo o abrigo
E encontro a luz que adorna e vão perdi.

Perfeita engenharia, sentimentos,
Palavras não se perdem como os ventos...



27

Palavras tão precisas que me dizes
Suavemente trazem as promessas
De dias com certeza mais felizes,
Vontades e desejos que confessas.

Perdoe tantos erros e deslizes,
A vida; neste instante, recomeças
Deixando para trás as cicatrizes,
Do amor vamos beber novas remessas.

E assim, em poucas frases eu traduzo,
O que já parecia estar confuso,
Amor simplificando a nossa história,

Garante em mansidão o amanhecer,
Trazendo a sensação do bem viver
E nela a perfeição de uma vitória.
-
Marcos Loures


28

Palavras tão fugazes se perdendo
Moldando uma alegria em versos nobres.
O tempo com magias se vertendo
Rondando as vestes mansas em que cobres

Os olhos de quem sabe percebendo
Deixando para trás sonhos e cobres,
E os dias com carinhos convertendo
Na mansa sensação em que recobres

Sentidos verdadeiros de um amor,
Marcando em alegria, teus encantos,
Vagando com desejo sonhador

De termos depois disso, nossos cantos,
Receba com carinho cada flor
Testemunhas fiéis de amores tantos...
Marcos Loures


29


Palavras sussurradas nos ouvidos
Chamando para a festa, nossa dança
Entremeando sonhos e gemidos
Nirvana num momento amor alcança.

Tocando em maciez nossos sentidos,
Olhar ao infinito, em gozos lança
Caminhos que julgávamos perdidos
Agora são estradas da esperança.

Não sendo necessária, explicação
O jogo que traçamos, sem vitórias.
Não quero e não preciso da Razão

Falando deste amor, corpos se entregam
Singrando pelos mares, as memórias
Oceanos dos prazeres se navegam...
Marcos Loures


30


Palavras são palavras, nada mais,
Mas tanto representam num instante,
Sorriso sem juízo e provocante
Provoca os mais diversos temporais.

Linguagem pode ser a dos sinais,
O gozo se promete triunfante
E enquanto a fantasia nos encante
Colhendo estes meneios sensuais.

Os meios são diversos. Não importa,
Apenas deixe aberta a tua porta
Que tudo se resolve sem problemas.

As bocas, dedos, mãos tão curiosas
Valendo muito além de versos, prosas
Decifram com certeza, vários temas...
Marcos Loures


31


Palavras são as lavras que prefiro
Atiro mas nem sempre sou feliz
Destino em desatino tanto quis
Que fere quem me fere e nunca firo

Nas termas e nas tremas tremo,atiro
Palavras aves soltas sou perdiz
Se dizes o que dizes não me diz
Este antro que desando morto estiro.

Meu braço no meu barco sem ter flecha
O zíper desta calça nunca fecha
E deixa meu prazer quem sabe agora

O canto que me espanta novo encanto
Meu manto minha manta tanto pranto
A calça estando aberta, vamo’ embora!
Marcos Loures


32


Palavras que soltamos, vento leve,
Em confissões dubladas sem sentido.
Se o tempo que passou, correu tão breve
O mundo não se mostra arrependido.

Por mais distante que isto não me leve
Sou farto das paixões e combalido
Não quero amor que nunca me releve
Nem revele o que fora preterido.

As horas se passando sem jamais
Tampouco sem verdades absolutas.
A sorte já saiu, não volta mais,

Tantas palavras soltas, versos soltos,
Em outras fantasias, velhas lutas,
Os rumos já perdemos, mais revoltos...


33

Palavras que disseste não refazem
As noites que perdi te procurando,
As luzes se ofuscando já não trazem
Amores que se foram, me marcando.

Por mais que noutros braços inda abrasem
As horas num carinho, desfrutando,
Angústias do passado inda desfazem
Momentos em que tento ser mais brando.

Meu barco sem antigos astrolábios
Crivado por herpéticos sorrisos
Doridos, magoados os meus lábios

Em beijos torturantes, imprecisos,
Quem dera se pudessem ser mais sábios,
Os sonhos de um palhaço com seus guizos.



34

Palavras que benditas vão inclusas
Nos versos de amizade que me trazes,
Tu moldas perfeição em poucas frases
Erguendo sempre um brinde às belas Musas.

Outras situações são tão confusas
Num misto de guerrilhas entre pazes,
Ditames quase sempre mais audazes
Em mentes que se mostram mais obtusas.

Esta energia move todo o mundo,
Fazendo um coração sentir profundo
O toque de um amor que sem receio

Perfaz uma esperança de um estio,
Trazendo tanta luz em céu sombrio
Levando uma pura alma a um santo veio...

Marcos Loures

35


Palavras quando soltas não denotam
Aquilo que se sente na verdade,
Os cantos quando encontram liberdade
Às vezes noutras curvas já capotam.

Mas saiba que meus versos quando notam
Desvios de caminho, insanidade,
Reféns de uma alegria, saciedade
Em portas mais tranqüilas já se anotam.

Eu tenho uma alma livre que já sonha
Com asas que me levem, com carinhos.
A vida pode ser cruel, medonha

Mas tem toda a certeza nos caminhos
Que fazem nossa sorte ser risonha
E canta a maravilha destes ninhos...
Marcos Loures


36

Palavras quando ao vento se perdendo,
Não deixam nem sequer um eco ao menos
Os dias em mil noites convertendo,
Saudades de outros tempos mais amenos.

O coração à dor obedecendo
Espera por momentos bons, serenos,
A solidão aos poucos se tecendo
Sangrantes ilusões em medos plenos.

Saudade de quem tive, mas perdi
Vasculho cada ponto lá e aqui
Não tendo solução sigo sozinho.

Farrapos dos meus sonhos pelo chão,
Vagando não encontro solução
E morro pouco a pouco sem carinho...
Marcos Loures


37

Palavras nebulosas, vento esparso
Em cinzas desprendendo o que foi belo.
Desamarra da sorte o seu cadarço
Rouba do lavrador, o seu rastelo,

Atira um sentimento em mar revolto,
Jogando uma alegria ao precipício
Atando um pensamento que, antes, solto,
Sabia deste amor, o seu ofício.

Que sabe se o silêncio te tomasse
A vida não teria esta mazela
Nem mesmo necessário tal disfarce
Que impede, nebuloso, ver estrela

Assim, invés da treva em noite fria,
O amor se transbordasse em poesia..


38

Palavras metralhando os sentimentos,
As balas são perdidas se vazias.
Não sei se ainda posso ou deverias
Viver felicidades em momentos.

Se os gozos são dos versos, meus rebentos,
Partilhas sem demora tu farias,
Matilhas de desejos quando crias
Os templos já nos servem como alentos.

Pedaços embutidos nos armários
Acervos em compêndios mais diversos,
Colhendo os meus retalhos, são perversos,

Além de tolamente temerários
Os versos das canções que ora recrio,
Usando como mote este ar sombrio...


39


Palavras entre flores, como espadas
Cortantes com perfumes de entremeio,
Em pétalas disformes decoradas
Das águas os penedos por recheio.

Em formas contrastantes decoradas,
Aguçam as tempestas por recreio,
Nos cais tempestuosos ancoradas
Aonde amor em paz, pretendo,anseio.

Fluindo por caminhos mais cortantes,
Envoltos pelas nuvens fascinantes,
Derrames de loucuras e carícias.

Os olhos tão profanos das paixões,
Ciganos eremitas, furacões,
Destilam dos espinhos tais delícias...
Marcos Loures


40



Palavras de carinho aos teus ouvidos,
Sussurro quando acordas de manhã;
Tocando levemente os teus sentidos
O amor vai desfilando o seu afã;

Os sonhos que tivemos, divididos,
São partes congruentes da maçã;
Caminhos desvendados, repartidos,
Uma alma busca noutra gêmea irmã;

Por mais que isto não seja a realidade,
Procuro a mais perfeita liberdade,
Cativo deste nobre sentimento.

Eu sei que um paradoxo, isto parece,
Nas teias que emoção cultiva e tece
Encontro da esperança um alimento...


41

Palavra traiçoeira e venenosa
Rondando agora os velhos pesadelos
Fantástica emoção, maravilhosa
Roçando como um vento, os meus cabelos.

A pele delicada e veludosa
As pernas enroscando, teus novelos,
De forma delirante e caprichosa
Teus dotes, tão gostoso recebê-los

O olhar que outrora fora flamejante
Na chama tão dispersa, d’ora em diante
Transborda insanamente em tal veneno,

As rondas de luares sobre a Terra
Matando uma esperança cedo encerra
O sonho que se fez, outrora pleno...
Marcos Loures


42


Palavra que traduza amor em amizade
Restando em alegria um gozo em plenitude.
Sabendo ser feliz em total liberdade,
Trazendo o quanto quero assim, mais amiúde.

Não vejo tal palavra espelho da verdade,
Apenas um desejo a mais da juventude
Que cisma em misturar, sonho e realidade
Buscando quem talvez, com pena ainda ajude.

Sabendo desta missa um pouco mais que terço
Encontro esta criança em pleno e belo berço
Brincando de esperança, um lúdico desejo...

Mas creio na amizade e creio em teu amor.
Amante tempestade, um velho sonhador,
Ainda crê talvez, num último lampejo....

Marcos Loures


43

Palavra que te disse, mansa e louca;
Trazendo teu desejo para mim.
A boca procurando tua boca,
No gozo dessas flores no jardim...

Amada, como é bom falar que eu te amo!
Palavras, sentimentos tão profundos...
Qual lobo solitário; tanto chamo,
Meus olhos viajando nos teus mundos.

Deitado sobre a grama e sob a lua,
Ao ver-te em transparências caminhando,
Teu corpo se define e semi-nua;
Aos poucos meu olhar te desnudando...

E sinto teu respiro junto ao meu,
Meu corpo, nosso corpo, se perdeu...


44

Palavra quando feita em ceva, arado,
Profícuas emoções já se preparam.
Pá, lavras são metades em que o bardo
Vislumbra tais colheitas que impetraram

Os sonhos de quem lida com sentidos
Diversos entre frases, orações.
Aos olhos, aos ouvidos consentidos
Formatos em que inserem sensações

Usar deste instrumento em faca e foice;
Das almas e verbetes aplicados,
Às vezes do que fomos, sobra o foi-se
Das dores e dos medos aplacados.

Palavras sei que são caleidoscópicas,
Nas mãos de um sonhador, serão utópicas...

45


Palavra em mansidão é proferida
Dizendo desse amor, rara promessa,
Sentido libertário não tropeça
Razão prioritária em minha vida.

A dor da solidão sendo vencida,
O tempo de viver já recomeça
A nuvem do passando, mesmo espessa
Deixada assim de lado, dissolvida.

No carrossel do sonho, volta e meia
A trama se faz plena em clara teia
O amor vem se estendendo em cada ramo,

Girando o pensamento eu não descanso,
Assim, felicidade imensa; alcanço
Brincando de ciranda com quem amo
Marcos Loures


46

Palavra em emoção já me trazia
Aroma que em verdade eu procurava
Tocado pela luz de uma alegria,
Tanta felicidade celebrava.
Misturo realidade e fantasia,
E a vida num momento se dourava.

O canto em alegria, duradouro,
A voz de quem desejo chega aqui,
Encontra no meu peito, ancoradouro,
No amor que imaginei e não vivi,
Palavra traduzindo este tesouro
Que guardas- emoção- dentro de ti.

Palavra tão sublime que foi dita,
Matando em alegria, uma desdita...


47

Palácios e banquetes, reino e glória,
Descolo uma carona no cometa
Que segue pela vida em linha reta
E volta novamente à mesma história.

A moça com a lua merencória
Nos olhos do poeta se completa,
Palavra mais distinta amor deleta

Espasmo traduzido por vitória

Fazendo vistoria nos guardados,
Os beijos entre nuvens provocados
Agindo sem temor ou rebeldia.

Cadarços amarrados; o tropeço
É tudo o que decerto eu já mereço
Caindo da esperança/escadaria...


48

Paixões que me assolaram num tropel,
Fomentos de ilusões e fantasias,
Marcando meu passado por orgias,
Erguendo meu olhar ao negro céu.

Vestida de inclemência traz no véu,
O quanto imaginara e não querias,
Minha alma transformada num bordel,
Morrendo em solidão, nas noites frias...

Mas ergues, da amizade soberana,
Uma égide por certo, salvadora,
Enquanto a sorte vem e desengana,

A mão que me sustenta, redentora,
Além do que pensei vem e transforma,
Forjando do que fora, em nova forma...


49

Paixões não são somente assim, fictícias,
Palpáveis e volúveis, com certeza.
E mesmo que com força ou mais destreza
Às vezes nos sonegam tais delícias.

Enquanto nos dominam, em sevícias
Avançam e destroem, pondo a mesa,
A mão que me acarinha também pesa
Em meio a tantas ondas de malícias.

A qualquer preço tento um novo dia,
Aonde pelo menos a alegria
Não seja momentânea. Isso me cansa.

Amar em harmonia? Necessito.
Não acho necessário um plebiscito
No grito ou em concórdia a vida avança...
Marcos Loures


12350

Paixão: um sofrimento que angustia
E faz calamidades sem motivos,
Aquece e de repente, é noite fria,
Explode em mil fantasmas emotivos.

Paixão, imensidão tão diminuta
Que perde e faz perder a quem encontra.
É látego tormento e nada astuta
É quase sempre pró, às vezes contra.

Dispara na mudez uma ofensiva,
Ao mesmo tempo cega e nada vê,
É mansa e tão cruel, é radioativa,
Em nada mais confia, em tudo crê.

Relâmpago que corta, retumbante,
E mata o que sustenta, inebriante...


51

Paixão se ardendo em fogo desejoso
Intensas labaredas e fagulhas.
Um sentimento assim maravilhoso,
Palheiro que não tem tantas agulhas.

Eu sei qual o valor e raridade
Que trazes nos teus lábios sedutores.
Glorificando a paz, felicidade
Que é feita da ternura e seus pendores.

Nos versos tal moldura que enobrece
Um coração que é feito sonhador.
Escute este meu canto feito em prece
Louvando ternamente o nosso amor.

Nas ondas deste mar, na branca areia
Paixão feita solar, nos incendeia...


52


Paixão que se fez louca e fulminante
Tomando nossos corpos, brasa e fogo,
Insânia que se entorna num instante
Não ouve da razão sequer o rogo.

Espalhas pelos sonhos, diamante,
Cristais iridescentes onde afogo
O sonho num momento deslumbrante,
Querendo tudo agora, venha logo.

Não deixe que se extinga esta fogueira
Nem mesmo que se cale nosso amor.
A sorte tão cigana, aventureira

Deixando por legado o fogaréu
Intenso e com certeza encantador
Permite que se voe, alçando o céu...
Marcos Loures


53


Paixão que se deslumbra violenta
Tragando cada sonho revelado;
Jamais se permitindo mansa e lenta
Demonstra-se no olhar mais transtornado...

Paixão que se transforma em vil tormenta
Neste incontido gesto do passado,
A boca se tornando mais sedenta
Da boca que se quer, extasiado...

Ao mesmo tempo ignóbil, anda tão frágil,
Ao mesmo tempo insana é paciente,
Permite-se ao convite e ao contágio,

Faz do meu coração pobre palhaço,
Embora se derrete em forno quente,
Cortante, no meu peito, invade o aço...


54

Paixão que nos tomando nunca cessa
Eterno vendaval em doce senda.
Amar não é segredo nem promessa
Tampouco uma vontade feita em lenda,

Amar é sensação que sem conversa,
Avassalando sempre nos desvenda,
Unindo num mosaico, não dispersa,
Depois de certo tempo em mesma tenda

Os corpos que se buscam imantados,
Profundos sentimentos domadores,
Em fantasias olhos que se tocam,

E se perdendo estão bem mais atados,
No espaço se encontrando sonhadores,
No peito dos que amam já se alocam...


55

Paixão que nos ligou em verso e prosa,
Deixando nosso canto mais bonito.
Repito todo dia um belo rito,
E venho te regar, divina rosa.

Do jeito que se quer e que se goza
A vida não produz mais dia aflito,
Eu quero estar contigo e assim repito,
Plenitude de amor, maravilhosa.

Pintando com batom meu corpo inteiro,
Beijando cada parte, sem descanso,
A tentação sem risco, quando avanço

Percebo quanto é bom ser garimpeiro,
E ter na mão pepita rara e bela,
A mulher tão fogosa se revela...


56

Paixão que me domina e me entontece,
Não me deixa pensar em quase nada
Minha alma se agiganta e se engrandece
Ao mesmo tempo morre sufocada.

Por certo, quase nunca me obedece
E segue sem sentidos, transtornada.
Depois por muito pouco se arrefece
E morre, num segundo, abandonada...

Se queres ser feliz, negue a paixão,
Se conseguir me explica como faz...
Vislumbro uma total revolução

Em cada novo dia, um novo encanto.
Loucura que mais nada satisfaz,
Paixão que me domina: riso e pranto...


57


Paixão que me domina causa dano,
Matando uma ilusão sempre querida,
Não quero mais saber do desengano,
Procuro uma manhã que traga a vida
Ao coração moleque e desumano
Antes que a morte venha e isto decida.

Um canto mais suave e mais ameno
Formado pelas gotas de esperança
Que caem nesta noite, qual sereno,
Trazendo para a vida, segurança.
Coração sem juízo e tão pequeno,
Uma alegria a mais, jamais alcança;

Eu quero o teu sabor- delicioso,
Roubando o teu prazer, divino gozo...


58

Paixão que me devora e me detona,
Com fome, tanta sede de te ter...
A lucidez, inteira, me abandona,
Eu quero lambuzar-me em teu prazer.

Depois desta loucura tão gostosa,
Vibrando em cada toque, brasa e fogo,
Ardendo em teu rubor de rubra rosa,
Perdendo meu juízo em nosso jogo...

No rito insaciável, todo dia,
Nesta satisfação que nunca cansa.
Sangrando em cada poro, poesia,
Na troca sensual, na nossa dança...

Deitar-me no teu colo apaixonado,
De novo me entregar, iluminado...


59


Paixão que decorando em rubro sonho,
Trazendo um tinto sangue apaixonado.
Vibrando no teu corpo, sempre ponho
Segredo mais voraz, extasiado.

Voar além dos mares te proponho,
Deitara-te em tanta fúria aqui do lado.
Deixando esse passado tão medonho
Distante, bem distante, abandonado...

As cores que pintamos, mil matizes,
Amores que nos roubam o juízo.
Fazendo-nos, por certo mais felizes

Mostrando no caminho sempre alerta,
A porta do divino paraíso
Pra sempre, eternamente tão aberta...


60

Paixão palpita louca no meu peito
E cria estas tormentas tão ferozes.
Sabendo que sem ti, insatisfeito,
Eu perambulo louco, ouvindo vozes...

Sem um tremor sequer tu já me espera
Sem vacilar demonstras teu carinho.
A voz em calmaria me tempera
E mostra meu temor vago e daninho.

Quando a noite chegando traz a lua,
Eu sinto o doce gosto do desejo,
Percebo a silhueta semi nua
E lúbricos prazeres antevejo...

Paixão palpita cega, coração;
Desditas e delírios da paixão!


61

Paixão me devorando, audaz e astuta.
Causando reboliço no meu peito.
O quanto que se entrega desse jeito
Permite vislumbrar se existe luta.

A voz de uma emoção quando se escuta
Tornando o meu caminho mais estreito,
Enquanto tantas vezes me deleito
Uma ilusão se mostra mais arguta.

E nisso ao ver meu dia se esvaindo
Em luzes tão distantes, sem um sol,
Angústia se espalhando em arrebol,

Embora em teimosia, prosseguindo,
Eu sei que não terei mais qualquer chance,
Amor se colocou fora do alcance.
Marcos Loures


32

Paixão alucinante e sem juízo
Domina cada passo sem pensar.
Vivendo, num pecado, o paraíso
Aos poucos, nos começa a devorar.

Um sentimento assim, tão impreciso
Não deixa nem um jeito de lutar,
Chegando quase sempre sem aviso,
Mal posso, num segundo, respirar.

Ao perder a cabeça, perco o senso,
Vagueio por teu corpo sol e lua,
No mar onde navego; tão imenso

Não tenho mais sentido, nos astrolábios
Meu rumo em teu corpo já flutua
Ao sabor das buscas dos meus lábios..
63


Paisagem que se mostra soberana
Trazendo uma alegria sempre à mão.
Às vezes nos indica a solução,
Mesmo quando a má sorte desengana.

Fazendo nossa vida mais ufana
Permite que vençamos tentação,
Uma arma contra a negra solidão
Defesa mais profícua e mais humana.

O paraíso em vida prometido
Jamais existirá sem ter a glória
De ter em cada passo percebido

O quanto nos permite esta vanglória
De ter assim, amiga; concebido
Na força da amizade, uma vitória!

64

Pairando sobre nós o bem do amor
Convida para a festa que virá
Trazendo em seu poder transformador
O dia que sublime nascerá.

Teus olhos me guiando, farto encanto,
Ternura benfazeja de um farol,
Do imenso sol, um simples helianto
Entrega-se à beleza do arrebol.

Seguindo os claros raios matinais
Eu sei que não irei mais me iludir,
Magníficos caminhos magistrais
Encontrei somente por seguir

Os rastros que tu deixas nesta estrada,
Raros brilhos em forma de pegada...


65

Pairando sobre as noites, meus desejos;
Encontram na umidade dos teus lábios
Delícias de tão doces, mansos beijos;
Certeza dos carinhos bem mais sábios.

Encontro no teu corpo meu naufrágio,
Não quero mais voltar ao triste cais.
Penetro essas entranhas, vou bem ágil,
Eu quero aqui ficar, sair jamais!

Descubro em cada sanha o meu prazer;
Cabelo da morena que se assanha,
Vontade de, meu rumo em ti perder,
Passando cada vale, mar, montanha.

Eu amo a maciez de tua pele,
O conhecer segredos, me compele...


66



Pago o pato pelos erros
Cometidos vida afora,
Se do vale vejo os cerros,
Paisagem que decora

Os engodos e os desterros
Esperança se demora,
Se mis dias fueran perros
E melhor que eu vá embora

Como mancha nos espelhos
Impedindo a clara imagem,
Resto só e; de joelhos,

Recolhendo cada caco
Reviver esta viagem
Eu garanto que é um saco!


67


Pagando tanto mico vida afora
Eu quis fazer um verso, mas não pude
Por mais que a fantasia ainda grude
O tempo de sonhar já foi embora.

Há pouco me curei da catapora,
Porém, a cicatriz não mais me ilude,
Criei, sem serventia, lago e açude
E sei que algum castigo não demora.

Minha alma comemora um simples gol,
Saneio o que deveras mal restou
E tento refazer, do nada, algum.

Maria foi segredo e foi degredo,
No quarto sempre escuro, risco e medo,
Do tanto que mais quis: sobrou nenhum...


68


Padeço dos pecados cometidos
Há tempos por estúpidas promessas.
Se tenho a poesia que confessas
Os ritos se perderam nas libidos.

Caminhos entre estrelas percebidos
E a cada novo dia recomeças
Se os sonhos mais audazes não engessas,
Meus passos são deveras repartidos.

Repatriar as velhas emoções
Beber até fartar nos ribeirões
Usando da divina complacência.

Querendo me perder em teu juízo,
Do quanto cometemos, sem aviso,
Não quero mais pudor sequer decência...
Marcos Loures


69


Pacato cidadão espera quieto,
Assim mudança é traça no Congresso.
Calado, permanece morto o feto,
Medalha nunca mostra o seu reverso.

Quem cala é que por certo está repleto
Quem vive desunido e vai disperso
Pois rã que não se move quer inseto?
Quem diz que da política é avesso

Permite por terrível omissão
Que dê sustento ao crápula quando erra
Deixando o mais humilde pelo chão.

A noite do cochilo cria e emperra
Pois oportunidade faz ladrão,
E o bom cabrito, amigo, sempre berra!


70


Pavores e tristezas vão dançando.
Morrendo pouco a pouco no poente,
O sol que um dia esteve iluminando,
Afasta-se e no frio se pressente

A noite que virá me maltratando,
Até que a morte chegue de repente,
Sem avisar nem mesmo aonde e quando,
Levando o que sobrou, quase indigente.

Assim persegue em vida, o meu Calvário,
Sou triste, isso jamais eu escondi.
O tempo de viver é temporário,

Felicidade nunca esteve aqui.
Apenas solidão em dura prece
Cativa, inda resiste e me obedece..

71

Patrão, eu te garanto que essa moça
Não foi embora apenas por querer,
Verdade se quebrando feito louça
Não deixa a realidade perceber.

Dos olhos de quem chora forma a poça
Molhando a vida inteira, o meu sofrer.
Na solidão terrível da palhoça
Apenas velha lua eu posso ver.

Cheguei neste sertão faz tanto tempo,
A seca não passou de contratempo
Os olhos não pararam de chorar.

Eu peço um só momento de atenção,
Escute estes meus versos meu patrão
Os derradeiros que eu irei cantar...
Marcos Loures

72


Passos em direção ao velho sonho
Depois de ter estado tão vazio,
Se eu tento e de repente ainda crio
Eu teimo e tento ver o que proponho,

Sem ele nada além de um mar medonho
Em trevas e borrascas, vou sombrio,
Por vezes entre medos fantasio
Um cais que se tornasse mais risonho.

O amor bem mais que lúdicas ofertas,
Enquanto esta esperança não desertas
Permites que inda possa imaginar

Que oásis da alegria seja aqui,
Ao lado de quem amo eu percebi
Poder tocar meu sonho e navegar...
Marcos Loures


73


Passos calmos procuram harmonia,
Em teus gestos esfíngicos, quimeras...
Devoras a vetusta fantasia
Que se acampara desde priscas eras

No peito solitário. Melodia
Esquecida em felizes primaveras...
Amor de tanto tempo não queria,
Sentidos anciãos já me adulteras...

Nos juncais da saudade, perco o rumo...
Espreita-me a serpente, firma o bote;
Minha alma se esvaindo, leve fumo.

Renovas sensações mais arrojadas.
Prazeres e delícias vêm em lote,
No peito, as emoções vibram rajadas...


74

Passo pela alameda dos meus sonhos,
Ouvindo sabiás e curiós...
Quem teve tantos dias mais tristonhos
Saindo de um passado tão atroz
Sabe dos caminhos mais risonhos,
Do mundo que criou, feliz, após...

Silêncio a traduzir a paz querida,
O vento passa lento pelos galhos,
De tanto que encontrei em minha vida
Projetos que encetei morreram falhos.
Nesta alameda encontro uma saída,
Juntando o coração, tantos retalhos...

Amiga, esta alameda, na verdade,
Demonstra como é bom ter amizade...


75

Passo a passo, contigo eu estarei
Na longa caminhada desta vida
Que mesmo que pareça estar perdida
Transborda em puro amor, a nossa lei.

Vivendo como sempre desejei
Na paz e no sorriso, a própria lida
Fica mais fácil, assim, de ser cumprida.
Tu és o que mais quero e que sonhei.

Um amor verdadeiro dá guarida
E traz como bandeira uma alegria.
A estrada das tristezas já vencida

Só resta-nos saber felicidade
Alimentando os sonhos, a euforia
Nos mostra em nosso amor, toda a verdade.


76

Passeio, distraído pelas ruas
Numa procura insana, mas sagaz.
Distante de meus olhos continuas,
Porém a cada passo mais audaz

Imagem em transparências, peles nuas,
Povoa o pensamento que se faz
Em sonhos e desejos, bocas cruas
Que ao se tocarem; mágica me traz.

Nos rastros prateados desta lua,
Meu passo em desatino; continua,
Até que eu sinta o cheiro que se exala

Desta mulher, fantástica miragem.
Percebo ao terminar minha viagem
Que estavas desde sempre em minha sala...
Marcos Loures


77

Passeio no teu corpo, vales, serras,
Descubro cada fonte e seus ribeiros,
Vislumbro uma beleza nos outeiros,
Encanto-me decerto em belas terras.

Tantas magias, meiga, tu encerras
Nestes teus paraísos verdadeiros
Mergulho meus desejos derradeiros,
Afasto o coração de antigas guerras,

E agradecendo a Deus e à natureza
Por esta maravilha sem igual,
O corpo desejado e sensual,

Que traz felicidade com certeza,
Deixando para trás um mundo algoz,
Vibrando em alegria nossa voz...


78


Passeio no teu corpo mil vontades
De ter tanto prazer, louca viagem,
Ao ver tua nudez, uma miragem
Desfruto de totais felicidades.

Invado calmamente e quero mais,
Voando em nosso gozo tão preciso,
Perdendo a direção, e sem juízo
Calores e loucuras tropicais...

Arranco teus gemidos com carinho,
E sinto esta umidade nos tomar,
Bebendo o teu querer, amado vinho,

Que escorre aos borbotões, mar a singrar.
Em toda a maravilha que vivi,
Sentindo, meu amor, dentro de ti...


79




Pecado inominável é o aborto,
Devemos, implacáveis, condená-lo,
Perante tal verdade, eu já me calo,
Porém num pensamento torpe e torto

A vida deve ser, pois preservada,
Para quem age assim, a penitência
Levada à derradeira conseqüência,
Mesmo que sobre ao fim, apenas nada.

Melhor morrer o corpo em salvação,
Ao arcebispo cabe a excomunhão,
Arrancando da Terra, sem um rastro.

Excomungando assim tais assassinos,
A Igreja pune todos os ladinos,
Porém não fala nada do padrasto...



80



Pecado é não poder te dar um beijo
A boca se oferece... Maravilha...
Seguir sem ter juízo a doce trilha
Que leva ao paraíso. Meu desejo...

Um jogo mais audaz ora prevejo,
Menina se tornando uma armadilha
Ao peito que cansado não mais brilha,
Fazendo da esperança um relampejo.

Sem pejos, eu vasculho esta gaveta,
Encontro a poesia predileta
E tento declamar. Triste papel...

A moça em ironia e sem confete:
Meu tio, estou bolada. Piriguete
Só topa se dançar comigo o Créu.
Marcos Loures


82


Perdoem-me estas tolas baboseiras,
São tolas teimosias de um palhaço.
Se eu causo noutro alguém, este embaraço
Não foi minha intenção. Mas não me queiras

Somente pelo aroma das roseiras
Que, às vezes espalhei no teu terraço,
Se estrelas distraídas eu enlaço,
Nunca pude enfrentar as ribanceiras.

Escondo-me da luz que sempre alcanças
Com tanta maravilha que produzes.
Se destas tais asneiras, minhas cruzes

São tolas cretinices; torpes lanças,
Diante deste brilho fascinante,
Eu sei que sou estúpido ignorante...


83


Perdoe, mas é hora de partir,
O barco encontrará enfim seu cais.
Diverso dos meus versos usuais,
Não tenho mais nem forças nem porvir.

A carne apodrecendo pouco a pouco,
Os vermes serão belos companheiros,
Distante dos sorrisos costumeiros,
A face escancarada deste louco.

Um cão que farejando qualquer osso,
Teimando em mergulhar no escuro fosso,
A campa me servindo como manto.

Pútrida solidão por sob a terra,
Gargalho em ironia, e assim se encerra
Num ápice gentil, o inútil canto...


84


Perdoe toda a farsa escancarada
Na face de quem mente sobre o amor.
A boca da verdade abandonada
Nos antros da vergonha neste andor.

Perdoe toda rosa estraçalhada
Nos dentes sem limites do pastor,
Mentira no Teu nome apregoada,
Nas taças folheadas de louvor...

Perdoe cada santo que emergindo
Dos pântanos obscuros das almas.
Da podre corrupção que se aspergindo

Em nome deste amor, que é tão perfeito,
Matando este cordeiro em novos traumas,
Se acham bem mais fortes no direito...


85



Perdoe tal demora na resposta
À carta que mandaste para mim.
Gostei da tua idéia e digo sim,
Minha alma a estar contigo; está disposta.

Quem age com carinhos, sempre gosta
Da flor que irá brotar neste jardim,
Aquele desabafo diz que vim
Apenas pra deixar minha alma exposta.

Eu nunca me senti senão feliz
Por ter a companhia benfazeja
Daquela que em carinhos vem e diz

Que a vida pode ser maravilhosa
Uma outra direção ali se almeja,
Eu sei separar espinho e rosa!
Marcos Loures


86

Perdoe se tu pensas que, distante
Esteja de teus passos, minha amada.
Teu sonho dentro em mim tão deslumbrante
Fazendo esta vontade realizada...

O manto que te cobre a cada instante
Recobre-me trazendo em alvorada
A luz deste astro-rei, forte, gigante,
Deixando a minha pele bronzeada

Ardendo neste fogo que é diuturno,
Tramando a cada dia um gozo imenso.
Deixando o que já fui- triste e soturno,

Abrindo em tanto brilho, um céu bem claro
No qual emoldurado, tanto penso,
Falando deste amor, eu me declaro...
Marcos Loures


87

Perdoe se sincero agora eu fui,
Inútil caminhar contra a corrente.
Um velho sonhador se não demente
Percebe quando o sonho cai e rui.

O verso que decerto manso flui
E tendo a corda frouxa que arrebente
Eu sei que vou bancando um penitente
E o gozo da alegria, o canto intui.

Tatuí não será jamais tatu
Assim como não tenho a pretensão
De ser algum herói tolo ou vilão

Apenas vou me expondo e estando nu
A roupa tão puída do passado
Deixará meu soneto assim, pelado...


88

Perdoe se pareço, assim, sarcástico
Não tenho mais vontade em ironia.
Do quanto o nosso amor já prometia,
Um dia mavioso e tão fantástico.

O corpo adormeceu bem mais espástico
Mudando cada nota da harmonia,
Deixando no passado a sintonia
Anel que tu me destes, foi de plástico...

Nos olhos carregando novas rugas,
Amores que encontrei, são sanguessugas,
Às vezes sou pacato, outras nem tanto.

Cabelos que afaguei, viraram cobras,
Colecionando agora, simples sobras,
Vesti meu terno novo- o desencanto.


89

Perdoe se parece atrevimento,
O que posso fazer se te desejo?
Beber de tua boca num momento
Rompendo estas fronteiras, dar-te um beijo

Entrar nestas defesas, ser teu homem.
Despindo a fantasia tropical.
Famintos, os meus olhos que te comem
Neste teu bamboleio sensual.

Salivas que se trocam, línguas feras.
Gemidos e sussurros noite afora,
Teu corpo seduzindo, em primaveras,
Na intensa sedução que em ti aflora.

Perdoe se te quero desse jeito,
Sem medo, sem vergonha, amor perfeito...
Marcos Loures


90


Perdoe se o que trago hoje a teus olhos
Retrate esta mortalha que cultivo,
De insanas ilusões, ora me privo,
Explodem no meu peito urzes e abrolhos.

Do charco de minha alma, a podridão
Exala o seu aroma e toma a sala,
Da sórdida paixão, velha vassala,
Vestida de total escrotidão.

Mergulho nas charnecas, movediço,
E sei que tantas vezes fui omisso,
Porém minha missão já se esgotando,

Teimar e persistir? Nada me importa,
Há tempos destruída a antiga porta,
Imagem podre e falsa, desabando...


91


Perdoe se não trago mais sorrisos
A cara do palhaço entristecida
Reflete bem melhor a minha vida,
Em passos tão errôneos e imprecisos.

Eu sei que não faltaram bons avisos,
Ciladas que encontrei, bala perdida,
Uma esperança morre, apodrecida
Ofídica ilusão negando os sisos.

Se eu bebo cada gota deste gim,
Placenta da esperança não sustenta
O verme que em mordaça violenta

Ainda tenta crer em flor, jardim.
Arranca dos meus olhos a figura
Esquálida e patética: ternura...
Marcos Loures



92

Perdoe se não sou nenhum eunuco
Eu gosto de fazer amor, não nego.
Se a libido, querida, eu já cutuco
O sexo nos meus versos eu emprego.

O cabo do martelo diz do prego
Relógio lembra logo o velho cuco
Eu não quero fingir nem sigo cego
Além de ser ranzinza, estou caduco.

O cheiro da morena, o que fazer?
Convida num segundo pro prazer
Que a gente faz com toda esta alegria

Embora o companheiro anda falhando,
Não custa meu amor, seguir sonhando,
Ao menos tem alguma serventia...
Marcos Loures


93

Perdoe se não sei anatomia
Às vezes eu confundo estes caminhos.
Procuro insanamente pelos ninhos,
Porém tantas estradas amor cria.

Errante não percebo a fantasia
Que é feita muitas vezes de carinhos.
Prazeres; imagino, até sozinhos
Mas nada do que penso traz valia.

Sou bruto, me disseste, gutural,
Um Brucutu somente e nada mais.
Um asinino ou mesmo até boçal,

A culpa, eu te garanto não é minha.
Se o órgão do prazer mulher já traz,
Ao homem Deus só deu uma cobrinha...


94

Perdoe se não pude ter nas lavras
Colheita tantas vezes desejada,
Perdido sem ter rumo nem palavras
Sobrando do que fomos, quase nada.

Enquanto com saudade, os olhos lavas
Entendo o que restou como um pavio,
Aonde as esperanças vãs escravas
Sonegam invernando cada estio.

Resíduos dos amores, vermes, larvas
Jamais terão a sorte das crisálidas,
As faces sem sentido, tolas, parvas
Restando tão vazias, frias, pálidas.

Quem dera! O coração segue pesado,
E vendo o que nos toca, vou calado...
Marcos Loures


95


Perdoe se não pude te encontrar,
Às vezes desencontros são fatais
Só quero que tu saibas: vou voltar
Matar a nossa sede, é bom demais.

Reuniões freqüentes no trabalho,
Momentos tediosos, o que faço?
Querendo ter comigo o teu abraço
Eu sei que não ligar foi ato falho.

Mas pego de surpresa, novamente,
Não sei se tem desculpas, porém peço.
Assim em outra data, de repente

Terás o meu carinho, isso eu garanto,
Beijar a tua boca, não tem preço,
Rendido totalmente ao teu encanto...
Marcos Loures


96

Perdoe se não falo mais de amor,
Se os olhos embotados lacrimejam,
Os corpos que se buscam não desejam
Além de um simples gesto. Puro ardor.

Quem dera se eu pudesse. Mau ator,
Ainda que em momentos relampejam,
Os dias em lamentos, só latejam,
Deixando solitário, um sonhador...

Carrego ainda as marcas do passado,
Saudosa sensação que não me deixa.
Meu verso denotando amarga queixa

Seguindo pela vida, derrotado,
Apenas um momento de atenção:
Embora eu já perceba: foi em vão...


97


Perdoe se meus versos são banais,
Eu tento demonstrar quanto te quero.
Aos poucos, solidão, me degenero
E morro tão distante de teus cais...

Os sonhos, companheiros usuais
Nos quais, com alegria e tanto esmero
Eu sei que talvez falte algum tempero,
Mas saiba que eu adoro. Amo demais...

Eu sinto a minha vida se esvaindo,
Por entre os dedos, perco a direção,
Do gozo de um amor deveras lindo

Apenas um momento bastaria.
Mergulho num abismo, encontro o chão,
Espelho de minha alma, tão vazia...
Marcos Loures


98



Perdoe se me ausento. É necessário.
O tempo é o Senhor, pois absoluto,
Se der a cara à tapa inda reluto,
O lobo tem destino sanguinário.

Debilitado estou, porém eu luto,
Correndo contra mim, o calendário,
Escondo os meus anseios num armário,
Aguardo o meu descanso, estendo o luto.

A morte se aproxima devagar,
Apodrecendo aos poucos, sem confetes,
Quisera controlar tal diabetes,

Quem sabe, noutra estância repousar...
Deixando mansamente a minha vida,
Preparo a cada dia, a despedida...

99


Perdoe se inda sonho assim contigo,
Não devo, isso bem sei, não é direito...
O tempo que se perde e que persigo
Vivendo a transtornar meu velho peito...

O céu em níveas nuvens, sem mormaço,
Promete tal calor que não suporto...
Esqueço de viver um manso abraço
Atraco meus navios noutro porto...

Talvez ressurja calma uma alvorada
Não creio, mas pretendo ser feliz...
Depois de tanta luta, sem ter nada,
A nuvem vai mudando o seu matiz...

Das chuvas que virão, em tempestade,
Quem sabe irá nascer felicidade?


12400


Perdoe se inda escrevo sob a métrica
Algoz que não permite ser liberto.
Pregando muitas vezes no deserto,
Sonoridade é coisa amarga e tétrica...

Não posso mais seguir em tal estado,
Um verso vagabundo, o que desejo,
Sentindo a convulsão que num lampejo
Dará sem tais floreios, seu recado.

Eu rendo-me a quem faz de algum soneto
Apenas insensata mistureba,
Não quero confundir juba com jeba,

Jurássico poema. Mas prometo
Fazer sonetos falsos. Libertários,
Jogando o que aprendi nos teus armários...
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
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