Poemas : 

Morre-me

 

Afio os dedos com as lâminas do teu beijo
A minha angustia bebe até o bar fechar

Rasuro poemas em escombros de prédios
Refastelo-me em andaimes de medo
Sem medo de cair

Meu destino tem navalhas a sangrarem-me os pulsos
Minha voz foi comida por um verme

Penso-me uma lapa, perfeitamente quieta

Há uma hipótese de lança na forma como me olhas
Como me rasgas
Mas alguém dentro de mim
Perfeitamente indiferente a tudo isso
Cai desamparado do perfil desse desejo

Não sei falar a perda de te amar tanto
Que não seja por lágrimas de sangue
Por virgens inócuas, por sapos de papel

Não esperes por isso que te saiba dizer este amor de argila
Esta parede de azulejos mal colados

Tenho-me como um grão de universo
Única verdade de mim
Escrita que se limpa do sémen de um poema
Atingido num órgão vital

Consegues separar esta vontade de te morrer
Com a vontade que tenho de não te ter?

Entra então no meu texto pela porta dos fundos
Mata todas as personagens que encontrares pelo caminho
Faz-me a barba com um arado de morte e morre-me


O meu verdadeiro nome é José Ilídio Torres. É com ele que assino os meus livros.
Já publiquei 12 obras em géneros diversos: crónica, romance, conto e poesia.
Foi em 2007, aqui no Luso, que mostrei pela primeira vez.

 
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SilvaRamos
 
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Enviado por Tópico
SilvaRamos
Publicado: 27/03/2013 17:50  Atualizado: 27/03/2013 17:50
Membro de honra
Usuário desde: 24/02/2013
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 Re: Morre-me
Originalmente, este «morre-me» era uma prosa poética, como muitas outras que tenho. Não vejo razão para que não seja um poema.
Aliás, não sei bem o que distingue uma coisa de outra, mas suspeito de aspectos formais, que à poesia não roubam, não falseiam.

Enviado por Tópico
JoeWeirdo
Publicado: 27/03/2013 21:10  Atualizado: 27/03/2013 21:10
Membro de honra
Usuário desde: 11/03/2010
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Mensagens: 440
 Re: Morre-me
Muito bom! De verdade! Como é bom poder me identificar assustadoramente com um texto "achado" aqui no luso.
Favoritei. (: