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IMAGINÁRIO DE UM VENTO APRESSADO

 
A folha caiu como caem os corpos no imaginário
A fome e a fé se cruzaram dando morte à serenidade
Corpo em chama escala a pedra, alma incandescente
O mundo olha, o rei ordena e tudo é desalento
Até seu Deus, seu Santo, que nunca foi adorado
Se fez sem história e naquela estrada acordado
Fugiu das balas, dos corvos e do frio ao relento
Comeu do pão, bebeu do sangue e da aguardente
Cada dia mais osso, mais puro e só todo fragilidade
Descendo aos céus, longe do sal se sentiu sedentário

Todo homem acredita na procissão e se faz solidário
Passo a passo, calo a calo, busca no frio da humanidade
O amplo sentido da vida e tudo morrer serenamente
Desencanto que ordena os tempos, louco tormento
Cria o filho na lida do barro e no sol fica morenado
Nesta fuga louca e sem fim pelo monte ondulado
Vai fazendo da glória o fracasso e da busca o talento
No desespero da cruz numa oração final e fé decrescente
Na alma suja de um inferno certo e pouca nodosidade
Sentando num canto a vida tece um louco solitário

Naquele continente se fez a procissão rumo ao calvário
Enquanto a pia guardava a água e toda a cristalinidade
Do canto pediram a Deus que tudo não fosse inutilmente
Sem oração se contentaram todos num louco lamento
Que por não saber regar se embriaga e morre abraçado
Sem filosofia e sem sentido e no silêncio cala o cansado
Rasga sua dor na procura do seu ser e do seu Invento
Nem quantas almas tinha e nas sábias buscas nesciamente
De que era a fé que antes de ver sabia da miserabilidade
De quem eram as lágrimas que salgaram a alma do corsário

Vento apressado, sem lá pra onde, carrega a alma do ordinário
Sem saber por que amar, amou na mais virgem impuridade
Sem saber por que crescer, cresceu seguindo o adolescente
Sentia uma saudade esfarelada que dói como a dor pura do sedento
Aprendeu olhar ao longe e não se ver o perto e andar atordoado
Da lua aprendeu a luz, do sol o calor e dos corpos ser enamorado
Sem o medo de ter atitude e no mais frio dos mundos cruel rebento
E as palavras rolaram das montanhas vivas e frias do continente
Que nada, que tudo, sem hora e atrevido na mais pura felicidade
Por ser só nunca foi dois, morreu e renasceu puro somente imaginário


José Veríssimo

 
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