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Agradecimento do Velho Sertanejo

 
Agradicimento é coisa qui nóis sabe fazê, e nóis tem feito ILIA, Deus é tistimunha... Isso já virô coisa normár pur aqui - nóis sabe agradecê sim, nóis agradece tudo, inté a chuva qui num veio e feiz a coiêta minguá... a boiada qui num guentô isperá a invernada passá... os dotôre qui o guverno prumeteu e num mandô... Nóis agradece sim.

O zói enche d’agua ILIA e a gente num acustuma é cum isso - ispia só: O leite qui as criancinha tanto isperava foi a conta do bizerro mamá treis dia, e a coitada da vaquinha qui cuirpa teve, a -dimais inha morrê tamém com pôcos dia.

Com os homi letrado da cidade e as suas tecnulogia isso tamo acustumano sim, êis tem aparicido a miúdo, a poco mémo saiu uns daqui... muncado tira retrato, otros vem documentá, interrogá agente. Vem gente de toda banda, um povo alegre, aparicido e de munta abastança, carro bão e bem vistido, cunversa difici e ri dá gente admirado... incrusive das nossa risada.

Mais num iscondo ILIA... docê eu tamém dei risada. Foi condo te vi, e dispois na roda da cumpanhêrada. Era só lembra da cena, du seu gingado; É qui condo apiô daquele seu furgão e caminhô em nossa dereção fiquei por divera emociado. - A tár impressão me incomodô... judiô de-mim ILIA.

Inconto num peguei na sua mão e disatemo a prusiá me dei pur cunvincido, é que num inxerguei nocê otra pessoa a nuncê meu irmão mais véio - éh... o meu irmão gerardo. Gerardo disimbestô novo inhanti mémo di cumpretá idade; O sór e a terra dura judiava é verdade - jugô a inxada longe e falô, ansim: Na roça eu num trabaio mais, vô simbora pra cidade - e foi divera, rumô pra capitár.

Isso já faiz mais de 49 ano - inté hoje nutiça ninguém nunca deu, telegrama, carta, recado, nada disso apareceu.

Famia é coisa cá-gente munto preza, opai e omõe num saínha da portêra isperano ele vortar... condo apontava um lá -imbaxo, na viradinha, ês gritava: Pode sê o nosso Gerardo... e foi ansim inté qui morreu os dois com essa dor nu coração, sem tornar ver o Gerardo.

Comigo num era deferente ILIA, eu tamém isperava o Gerardo... e com sua chegada aqui nu terrêro, confesso, Lembrei dos dois véi na portêra, e inté falei com minha dona: - Coitado, chegô tarde meu irmão Gerardo.

“Foi o andado seu ILIA, cê –qué-sabê... foi nu andado e balanciado du-seu curpazil qu’eu vi o irmão Gerardo!”

Mai -tá -bão, vamo dexá ficá, a vida aprepara mémo surpresa, e surpresa boa ocê veio tamém trazê e me feiz corrê água no zói duas veiz... e agaranto ILIA que tudo inconto é gente aqui do nosso sertão quiria tamém hoje te abraçá, pramode agradecê.

É qui os retrato já tava munto bão, ai ocê vem trazeno esses verso bunito, essas prosa pra infeitá ainda mais e dilatá os coração... distapano tudo incontu-é-sôdade, inté mémo ni nóis - nos mais antigo, qui lávamo iscapano como dá, principarmente hoje ILIA, quinté a roça já ta virano cidade!
Vê quem diria Artino mudá pra cidade...
Thumaiz acompanhô os fio, Vicentão tamém foi simbora...
Da famia dus Dumingo restô Maria Juana e a fia premêra, a Conceição, mémo ansim pruquê tem as –ideia trapaiada.

Eu e minha véia ainda vamo ficano, contano histora - inté condo num sei - acho qui inté nosso sinhô jesuis cristo chamá.

Condo vier dinovo, passa aqui, pá -tomá com nóis uma caniquinha de café...
Mai -vê se num demora ILIA pá –achar EU e minha véia ainda de pé.

Munto agradicido pela visita ILIA, munto agradicido.

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Autor
Mandruvachá
 
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