Prosas Poéticas : 

QUEM FOI QUE DISSE QUE O AMOR É UM TEMA "BATIDO", COMUM, MUITO EXPLORADO?

 
DEFINIÇÃO DO AMOR

(fragmentos)
(Gregório de Matos Guerra)

Mandai-me Senhores, hoje
que em breves rasgos descreva
do Amor a ilustre prosápia,
e de Cupido as proezas.
Dizem que de clara escuma,
dizem que do mar nascera,
que pegam debaixo d’água
as armas que o amor carrega.

.................................................

(...)

O arco talvez de pipa,
a seta talvez esteira,
despido como um maroto,
cego como uma toupeira

..................................................

E isto é o Amor? É um corno.
Isto é o Cupido? Má peça.
Aconselho que não comprem
Ainda que lhe achem venda (...)

..................................................

O amor é finalmente
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias
Uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um reboliço de ancas,
quem diz outra coisa é besta.

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Quem foi que disse que o Amor é um tema “batido”, comum, muito explorado?


Errou feio e muito feio!...

Podemos citar como exemplo de que esse tema é inesgotável a obra poética do barroco (Gregório de Matos e Guerra – 1636/1695 – Brasil Colônia) como prova irrefutável de que nunca o Amor será um tema comum, “batido”, muito explorado, cansativo, etc.

Sempre haverá um Romeu e uma Julieta, um Dante e uma Beatriz, um Peri e uma Ceci (Cecília), um Bentinho (Bento Santiago) e uma Capitu (Capitolina), etc.

Segundo o poeta baiano o Amor é tudo (união de pernas, barrigas, artérias, bocas, veias, balanço de ancas...), e diz tudo isso sem beirar ao exagero, sem chegar ao calão (linguagem medíocre, chula), sem nenhuma ofensa, diz com a beleza de quem sabe dizer.

Com os fragmentos acima entendemos claramente toda a força de sua poesia e também o porquê de sua alcunha “Boca do Inferno” ou “Boca de Brasa”, fato que lhe causou muitas perseguições e exílios.

Essa poesia completa tem cento e sessenta e nove versos divididos em vinte e uma estrofes de oito versos (oitavas) e uma de nove, colhi apenas as mais interessantes para o tema (assunto, motivo) em questão:

O Amor é um tema “batido”, comum, muito explorado?

E o poeta do Barroco (1601 – 1778) ainda ironiza o Romantismo brasileiro (1836 – 1881): “Quem diz outra coisa é besta...”



Augusto de Sênior.
(Amauri Carius Ferreira)
(FERREIRA, A. C.)


Augusto de Sênior
(Amauri Carius Ferreira)
(FERREIRA, A. C.)



 
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AugustodeSênior
 
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