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Diario de bordo a bordo -III

 
Quarta-feira, XXVI / I / XVI

Hora de enfrentar a dura e crua realidade. O tempo ainda está escuro e um pouquinho frio, estou tremulo, o estomago naquele jeito. Talvez seja fraqueza e o receio de encarar as merdas que devo ter feito no domingo a noite. Para mim a qualquer momento vai chegar alguém eme ameaçar ou me chamar a atenção. Já basta os problemas domésticos. Arroto azedo, a boca amarga.. Maldito vicio, porque essa loucura de embriagar-me e fazer merdas. Levo sorte de ainda não ter sido surrado por alguém. Toda vez prometo que vou dar um tempo, mas basta botar uma mincharia no bolso corro para o Seu Raposo e me empanzino de latas de cervejas até ficar liso e louco. Depois fico doente e com cara de madalena arrependida. Pertubo as pessoas com aquelas conversas enjoadas de bêbado. Não compro nada significante e ainda fico devendo. Não paguei a conta de energia. Minha amada cunhada tem razão.
- São seis horas e um minuto.
Troco de pilhas do radinho todo remendado com fita isolante, o tempo clareou, mas o céu continua encoberto por nimbus-cumulus. Os passarinhos alegres saúdam de seus ninhos o novo dia que desponta timidamente.

Se tivesse vivo, o grande mestre da canção Antonio Carlos Jobim ou simplesmente Tom, o maestro soberano com diz o grande Chico Buarque de Holanda estaria completando noventa anos. Autor da antológica canção "Garoto de Ipanema" em parceria com o poetinha Vinicius de Moraes.
Estou deambulando na Alexanderpltaz em Berlim, no ano de 1929 em companhia do rotundo Franz Biberkopf, recém saído da Prisão de Tegel, onde cumpriu quatro anos por assassinato da companheira Ida. Querendo levar uma vida honesta, envolve-se por acaso num roubo e é descartado pelo parceiros que o empurram do veiculo em movimento e outro carro passa por cima de sua braço esquerdo que teve de ser amputado.
A Universidade FM faz uma singela homenagem e tributo ao grande ícone da canção nacional. Relendo esse roamnce escrito pelo medico alemão Alfredo Doblin sobre o sub-mundo berlinense, ocorreu-me a idéia de retratar também a minha São Luis e seu centro histórico com seus casarões coloniais que alugam ou sublocam quartos para diversos inquilinos de baixa renda. Conheci muitos deles, como a de Chiquinho no canto da Rua Jacinto Maia com a 28 de Julho. Embaixo funciona o a sua mercearia e o resto é divido por cômodos. É meu sonho escrever um romance sobre o bairro que nasci "Desterro" - muitos personagens desfilam diante de mim, como Davi, o engraxate que sabia tudo a respeito de todos, de Seu Ivan estivador aposentado, jogou no Maracanã e morreu sozinho num quarto a travessa da Lapa. Tinha um ditado que o popularizou virando até nome de judas "Besta não cai, quem cai é o sabido" - não ´que ele tinha razão veja os casos recente dos sabidos tudo sendo preso: Eike, Cabral e etc. E muitos outros que marcaram muito a minha adolescência, gostava de ouvi-los e as vezes até os acompanhava a 'Farmácia" para beber um aperitivo de cana de açúcar. Papai também tem a sua parte.... nossa rua era muito movimentada, havia comércios, bares, restaurantes, fabricas de gelo e uma de fio. E o porto do Desterro onde barcos, lanchas ancoravam e descarregavam as suas preciosas cargas. Era bonito ver nas manhã do período chuvoso quando fazia sol, as velas triangulares abertas para enxugarem ao vento de todas as cores. Comecei a fazer uns esboços de alguns dos principais personagens, mas tudo continua indefinido. Não sei por onde começar, terei que reler a "A Historia dos Pobres Amantes" do italiano Prattolini que se passa numa parte da Florença, numa rua chamada "via dos cornos" -bem italiano, cheio de barulho. Só poderei escrever sobre a Vila Embratel, depois de contar a historia do meu berço querido, o meu velho e bom Desterro.
Com fazer? Existem uma gama de personagens que ainda estão emaranhados num caldeirão. Muito material.
A água chegou tarde, quase as quatro horas,antes cochilei um pouco no sofá a esperando e depois de encher os litros Pet de Antenor, os baldes da cozinha e a caixa d'água no quintal fui almoçar um escabeche de cabeça de pescadinha que eu mesmo preparei, estava salgado.

Para mim é a melhor hora, quando coloco a cadeira de macarrão aqui no terraço e venho desfrutar o final da tarde relendo os bons livros. Faz umas três semanas que não compro nenhum livro. Ingeri uma Compraz-diazepan para relaxar um pouco os meus tensos nervos que aos poucos vão voltando ao normal. Professor continua na piração alcoólica. Os mosquitos expulsaram-me do terraço.


 
Autor
r.n.rodrigues
 
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