Poemas : 

outono 17

 
celebramos intimamente e reforçamos pele
culminam borboletas, libélulas, pirilampos

vêm a chuva e a melancolia beijando a face
juntamos esperanças lançamos lembranças

trémula solidão onde ressoa vasta ausência,,,

desespero em vozes que voam noite dentro,,,

peço perdão ao cosmos por meu parco senso,
não penso e é denso o sentimento de extenso

pesar e remoer, remorso e balanço de fragas
ilhargas entre úteros e tábuas fechando a luz

sardinhas, tomate, malagueta, trigo, centeio,
chicória, radicchio, canónigos, água, hibisco

banho profundo, em camomila e calêndula,,,
o caminho, que irrompe e se anuncia, lótus,,,

noites que flutuam entre comoção, refúgio e
abandono, aos sopros telúricos da liberdade

desfalecimento, lágrimas e suspiro, um rasgo
momentâneo, desejos que vacilam por todos

os momentos e sonhos, acordam suavemente
de um sono profundo, caminhando ar e luz...

o longo curso de flores púrpura, estremecido
de dorido e rubro, paixão com que me cubro

em repouso, vagueando por sons e nevoeiros
o sangue aflora e a hora toma asas na noite,,,

o sonho expande sobre a terra de mão dada
com a vida florida entrelaçada e palpitante...

sentimentos violentos eclodem e explodem,,,
razões que os corações encontram e mordem

para beijar tão docemente a plena existência
fruto da ciência, nutrida pela árvore da vida

o encontro maravilhoso de paz e serenidade,
propagando à proximidade da semente, fogo

de ímpeto e vento interior, a harmonia d'ave
das árvores sustendo pontes suspensas no ar

e o aconchego crescendo, cor e luz brilhando
para refletir e sentir quanto é amor, verdade

da espada que desfaz a insensatez, pálida tez
rodopiando receios de voar além da aridez,,,

percorro novelos de espaço e de tempo fugaz
assaz me traz nas unhas que enredo e solto,,,

os passos do elefante cósmico soando a noite
cânticos da maternidade do mundo, infância

coração irradiante de luz e ternura entre frio
espectral e esperança real em sua renovação

do fundo abissal emergindo, na prece celeste

amor e maternidade, vénus ancestral origem

lentamente embalando doçura, perfume e lã

já liberta a respiração rumo à transfiguração

segredos e sonhos ainda por revelar imortais
soluçam lágrimas de fogo e volatilidade vital

equilíbrio ténue entre o voo e a asa, rezando,
por quanto ainda se possa sustentar amando

do fundo da mesopotâmia, de deuses frágeis,
minhas penas ágeis, céleres nos céus divinos

para envolver de prazer retumbante amante
renascida, em vida pululante, lua e chuva, fé

que tudo o que é emana radiância, distância,
estelar substância de sentimentos exaltantes

encontro,,, com a memória e a nossa própria
história, serras queimadas e alvéolos negros,

onde é possível ainda acreditar a inspiração,
nos contos de fadas, no maravilhoso, a ilusão

de abraçar o mundo e suspirar, ao rir e voar,
sonhando sobre o mar e o encanto de amar...

novo princípio com novos rumos, de prumos
fiéis de equilíbrio e livre arbítrio consagrado

sol ardente sem fim, clemência, antes do fim,
a ausência estremece, minha prece sequiosa,
sede ansiosa, de nuvens chorando por mim...

adormeço fundo,,, muito fundo,,, tão fundo...
que ao acordar confundo, mundo e segundo,
como tempo e espaço que entre si se lambem

e advém desta presença luminosa, pura rosa
de ventos, direcções, sensos, palavras bravas
toda a glosa, que discorre livre por meu bem

revoo, sol e lua se conjugam nos meus lábios
astrolábios apontam o crepúsculo, o músculo
mais forte, irado, é arado da terra, do sangue

incandescente, ascendente a condição, fulva
no coração a contrição de desejo iluminando
a vulva que cintila, só me destila, no mangue

entre o rio e o mar, sincronicidade da cidade
a lama enleva e sublima, me mima, na cama,
reclama tudo de mim, querubim, doce flama

quando o templo se contempla, a serenidade
repleta, dilecta, meu coração, afirma e firma,
acima de toda a suspeição, e sente o presente

como dádiva, maravilha imensa, flor ávida...

soçobrar, num mar de lágrimas,,, crisálidas,,,

cada ponto de energia confluindo e abrindo,
repondo a coroa de luz e de cor em espirais...
sonho mais, suponho ruir e refluir em vitrais

incandesço, remexo o passado, nado no cais,
onde sais e amor colidem, berço de catredais
estelares, os mares que vivem no céu infindo

coração emocional equilibrando luz e escuro
canção vespertina, serpentina reluz o futuro

aflorando o sorriso, despojado, amortalhado,
no rigor de flor despida em despedida e fado

tumulto, doce vulto, padrão e transformação

definindo coragem, passagem, errância e lua
nua a instância, que submete e rindo investe

sobre a pele, que se arrepia, húmida filosofia
alma mia estremece e desce a túmida veste...

a chuva turva, terra e luar, mas os céus, véus
vão clarear e apaziguar, de perfume límpido
o ímpeto e o estrondo, impondo-se celestial...

no sono profundo, água correndo, morrendo
por um momento sem alimento em suspenso

até à abundância, de fruta e de pão, carinho,
chuva e ânsia por contactar e tocar o ninho...

luz esfuziante,,, cadente, excitante, carente,,,

tremor e dissolução, arrepio e trágica queda,
amor e resolução, desvio e mágica intrépida,

de espelho em espelho explosão em explosão
a emoção, eclodindo, noite escorre vermelho

conjugando preto e branco, rosa e azul vivaz
o pranto acordado, rainha, louvor sonhado...
em paz tilintando de paixão que me liquefaz

noite espectral,,, em passos leves de sombras
crescendo, das cinzas renascendo as pombas
de amor e luz, seduz cristal nas águas limpas

minha fundação, nação e fundamento, tento,
na vinha antiga, torrão de sofrimento, vento,
varinha de condão, contento, cantiga, alento,

sobrevoando a terra em consciência, ciência,
sublevando efémera certeza, sua presciência
cintilando, aterra em beleza, mundivivência,

suave sobre o coração, sono longínquo anzol
grave desilusão, vibração tremendo sob o sol

devagar, passos pesados e fecundos, rugindo
bramindo o sofrimento, brahma, adormeço...

a mordida severa faz gemer todo o meu ser...
o começo inaugura e augura, são amanhecer

a estremecer, diante a corda, acorda o amor,
a outra ponta, aponta a ponte perfume, flor...

alegria pueril que no sonho balança e agita...
doce fita em que se equilibra, fragrante flirta

e de salto em salto se realiza entre as estrelas

o mergulho profundo na natureza cósmica e
crença que é silêncio, entre barulho e lógica,

diz, pensa, clemência num sonho vasto vazio
petiz emergindo, lúcido e lúdico, só de vê-las

adornando o infinito e a eternidade, a idade,
de adorar e orar pelos rios rumo ao mar, ave

na profundidade, águas subtis, perfil suave...
sem entrave, albatroz, lua roriz, eis a chave...

voando veloz no crepúsculo entre noite e dia
vigia o horizonte a montanha o músculo guia

perfila o ângulo,,, da asa e da luz,,, flutuando

cintila losângulo na emissão radiação estelar
e o tempo concentra, desejo e rubor ao amar

com toda a emoção, quando entra, o coração,
a elevação, magnética invisibilidade da ação

superando e crescendo, devolvendo à terra...

para que a árvore ascenda e se expanda, cai,
de folhas e cores, o prisma radiante da serra,
esvaindo exangue aos dentes que em si ferra
toda a ilusão, magna canção, pirâmide, sinai,

na terra da lua, quando pelas folhas voamos,
alegria na rua, fertilidade, beleza, dançamos
em horizontes longínquos, no limiar da vida,
sobre pontes, desígnios, olho sagrada ermida

esta despedida em nuvens, esperando chuva
na noite que o vento empurra, não perturba,
secura, adensa, minha condição, marinheiro
e náufrago, revitalizando sais ao desfiladeiro

onde porveio a aguda dor, este calor sem fim
de pavor carmim, alecrim nos acuda, o amor

expressando tão íntimo recolhimento, cetim,
no arbusto perfumado, rosmaninho e louvor

esta paixão que abraço com emoção e desejo
lampejo, estremecendo a noite, açoite e beijo

mesmerizado entoo o cântico sagrado silente
o seio da natureza, o tronco, a pedra, o vento

alento soprado que afago e a infância reluz...
comovente mistério alado, constância, induz
sentido amplo e a sensação, voando a mente,
é imagem expandido da alma o sentimento...

tilintar, na energia dissolvente e construtiva,
shiva, a distância à elegância da embriaguez

cortês e romântico, o desejo de êxtase saliva,
activa sonho tântrico, minha pulsão intuitiva

no lençol freático, onde a profundidade revê
a dimensão da luz, do espaço e da gravidade,

revelação da imensidade, fragilidade nos fez
arrebol dramático, parnaso, em espelho se lê

na água que corre da fonte cintilante, macia,
é o dia que morre, caronte, navegante o guia

ao leito da noite, onde brilha a nua via láctea
no peito afoito a cor jubila com a lua rosácea

alegria, fraternidade, terra clarão, harmonia

misericórdia, verdade, iluminação, principia
rio de glória, a superação da idade, da lezíria

perfumada, cultivando sonho, candura, pura
e enlevada cavalgando, deponho amargura,,,

assegura o anel, que a jura perdura e refulge
resplandecente de mel, a vida impele e urge,

trémulo desespero, da noite em que afundei,

êmbolo da hora que espero, revolução e eixo

como beijo de efervescente emoção, renascei
gomos de amor, reluzente elevação, o teixo,,,

pináculo da árvore primordial, luar ascende
receptáculo, trave e verve leal, o ar se fende,

pretende e atende, envolvente fervente silva
sobre o ouvido, o osso e a vibração tão cativa

da beleza da natureza, em sopros do destino,
refino a destreza sobre os destroços da alma,

tão calma, adormecida e debruada de afecto,
circunspecto, procuro-me erecto, onírico fim

carmim verdade, desejar e ficar, estarrecido,
na fina tarde, naufragar e vogar fumo, ruído

ensurdecedor, de dor o gemido, tecido ardor,
um vencedor dado por vencido lívido horror

estertor ressoando, amor flamejante, cintilar
do cobertor voando, furor faiscante, céu mar

de neve latejante, a quebra em rubro cetim,,,
um breve instante requebra outubro deserto

mergulho íntimo, nas profundezas, acalma,,,
borbulho, tinindo, entre riquezas, como sino,

anunciando amor intenso, renascimento luz,
alumiando temor eu penso sentimento seduz

virilidade e orgulho da criação em si, ceptro,
virgindade do pulo, na estação em espectro,,,

coração liberto, voo de asas, em sobressalto,,,
exalto vão certo, entoo casas, som contralto,,,

sono de paz, alva e límpida, suave chorando,
senhora, limpas e proteges, em flores e graça

percorrendo sonho e pele, repouso e quando
cintila, carinho, suavemente, por onde passa

tudo se aviva, é mais clara a realidade no ser
por prazer e palavra, canção e luminosidade

jade, liberdade, contemplativa e caminhante
floresta e gruta, templo augura desprender...

tempestade em crescendo, profunda invade,
coração e expressão, a coragem, voo rasante,

não recolho a vela e o barco voa, muito além
do mar de nuvens, caindo na terra de belém,

oferenda por tamanha graça, sopro de lenda
trovejando, enlaça e banha, jorro, desvenda,

a senda mística que trilhamos, pelos oceanos
insanos de devoção, mistério, império vénus,

linha de ação, vinha e torrão de densa névoa
ecoa e espera, tilintando a pedra, o sino, voa,

animando cada passo no espaço de cor e dor
por magia e amor, inspirando alegria e flor,,,

precipício e precipitação, clamor de água, nó
em que se enlaça o sono, a solidão corrente,,,

distende e passa fluindo, na ilusão premente
o tempo desavindo com a existência, sua mó,

triturando cada grão na comoção, locomoção
apurando esferas e ilusão, ar sobre o coração

arfando sem sufocar, no fundo do mar, ando
entre conchas e luar, a borbulhar, ardendo,,,

tão denso o arremesso em que adormecendo
apenas sinto o tempo desfalecer, quebrando,

vogando entre o frio, estrela e floco, rezando

por abundância e tolerância, ondas de amor,
calor irradiando, suavemente, pela distância

entre o fogo e o mundo, lábios cálidos, beijos
sobre a infância e a liberdade, fluem desejos

entre receios e recreios sopros sublimes vêm
interligando os seres, a memória que contêm

de trauma e restauro emocional, bem ou mal
digladiando, glândulas e almas, lã supernal...

 
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xibchel.
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Enviado por Tópico
Tonton
Publicado: 06/01/2018 19:54  Atualizado: 06/01/2018 19:54
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 Re: outono 17
lindo