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SEM ESPERANÇAS

 
Tags:  SONETOS 2020  
 
SEM ESPERANÇAS

Não. Não nos demos falsas esperanças
D'um futuro melhor ou simplesmente
De tempos mais felizes que o presente...
Deixemos no passado as vãs lembranças.

Vamos... Sem quaisquer outras confianças,
Senão a de que somos tão-somente
Pessoas que caminham para frente,
Sem olhar para trás n'essas andanças.

Avaros como soem os mais sensatos,
Tenhamos um pelo outro cerimônias.
Sempre a certa distância; sem contatos.

E, por linhas tão tortas quanto errôneas,
O acaso nos condene como ingratos
Às solidões de inóspitas colônias!

Betim - 28 08 2020


Ubi caritas est vera
Deus ibi est.


 
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RicardoC
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Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 28/08/2020 09:29  Atualizado: 28/08/2020 09:29
Usuário desde: 06/11/2007
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Mensagens: 1940
 Re: SEM ESPERANÇAS
Poema assustador e actual.
Tem bastante engenho que dá ao lado formal e estrutural ainda maior valor.
Há uma ironia que faz ligação do apelo ao pouco, ao ser comedido, e o critica ferozmente, mas com o recurso ao pouco que apela.
Não fosse o ponto de exclamação no último verso, quase caía na conversa, meio fiada, do "vamos ser os certinhos do futuro" (parece conversa de ditadura).
Contudo os tempos a isso obrigam.
O distanciamento social é a diferença entre os grupos de risco viverem ou morrerem.
Mas apenas no presente.
O futuro tem de libertar-nos, para sermos fraternos e próximos, como éramos até há bem pouco tempo, com destemperos e assimetrias sociais (somos demasiados, mas temos todos direito à vida).

Um soneto dos bons.
Obrigado irmão