Poemas : 

Gris

 
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As vertentes antes altivas da serra já não se impõem na paisagem
Tomadas de nuvens gris. Meu pensamento, por isso, paira perdido
Orbitando em vão sobre o eco dos passos, sempre mais distantes
Criei em torno de mim paredes fermentadas de desejo reprimido
Sou ser à espreita. Como o mosto que um dia será maduro vinho
Reconstruir todo silêncio à minha volta e nele me fazer invisível
Como os sinos que dobram, indiferentes, a cada quarto de hora
Tudo é distante e intemporal, meras imagens inglórias no espelho
O que permanece é vazio, cinza, tal um dia que não amanheceu
Nesse abandono gratuito já se fez muitos mortos. Será destino?
Em meu ser um sonho azul desnudo se reergue em meio à chuva
Na busca de mínimos mitos, de uma coleção infinda de abraços
A vida em sua concepção é fumaça ambígua diante das pupilas
Porém a lua é intacta, minha herança, doce farol no teu caminho
Resiste em mim o aroma dos campos, as crinas soltas dos cavalos
Céleres qual vento nas tardes de maio, nos poemas vivos do olvido


"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


Uma lembrança ao poeta Luciano Spagnol, um dos poemas escritos pelas minhas viagens por sua Minas Gerais. (maio/2001)
 
Autor
Sergius Dizioli
 
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Enviado por Tópico
nereida
Publicado: 14/10/2020 01:35  Atualizado: 14/10/2020 01:35
Membro de honra
Usuário desde: 27/08/2017
Localidade: São Paulo
Mensagens: 2285
 Re: Gris
Bonito seu texto apreciei a leitura.
Abraço fraterno


Enviado por Tópico
Migueljaco
Publicado: 14/10/2020 21:57  Atualizado: 14/10/2020 21:57
Colaborador
Usuário desde: 23/06/2011
Localidade: Taubaté SP
Mensagens: 10200
 Re: Gris
Boa noite Mr.Sergius, teus versos enredam as nossas inquietações, cotidianas com muita altivez, parabéns pelo vosso instigante poema, um abraço, MJ.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 15/10/2020 08:15  Atualizado: 15/10/2020 08:15
 Re: Gris


Excelente poeta
é nas tardes de maio, que estão os poemas vivos do olvido


um abraço Mr.Sergius