Sem outra saída, a fadiga consome a vida e se estampa como máscara
em nossa cara, o resultado de tantos vazios de espanto e de assombro
no desígnio de nos curvar, deixando este poema murcho de palavras.
Restou na garganta a imagem muda do que calamos em desconcerto,
de tudo aquilo que nos privamos em nome uma esperança irrealizada.
Colhemos nas trevas os frutos do plantio que se prospera em surdina.
A tela vazia reflete uma existência sem brio, um caminho descarrilhado
O pincel jaz contido tal qual o gado no cercado enquanto espera o abate
Indago porque um dia nos permitimos quedar diante da cepa do algoz
Com as asas atadas, nossos passos curtos, nossa bravura caída no oblívio
Somos quase náufragos à deriva, combalidos, sem contudo deixar morrer
A mordaça que nos cala também nos deslumbra qual o visgo da covardia.
"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)