O girassol não gira ao sol, pois o dia é de tempestades
São as tormentas que arrastam folhas e nem é outono
Mas a poesia não é a tempestade. tampouco o ciclone
É um quê dessa vida que caminha num sonho púrpura
Entre girassóis, esquiva dos pesadelos da vida e morte
No espelho da noite há sentimentos no corpo e n’alma
As ruas avessas da cidade exibem seu abissal encanto
E o mofo da ausência exala o odor das flores exiladas
Onde transitara a miséria dispersa na distância triste
Na tábua da salvação, escrevo este poema emergente
Que os ladrões não verão e os homens bons não lerão
Mas no azul profundo da imensa noite virá se revelar
À insônia, escrevo mil palavras indormidas e digo não
Relembro-a no aroma austero da resina, o vinho tinto
Posso ouvir o canto de paixão vindo da porta ao lado
No silvar do vento ao ouvido, soam gemidos poéticos
Engana-se quem dizer que só sonha quando se dorme
ou imagina fácil transformar a palavra solta em ideias
"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)