meu Deus
palavras de papel
depois do verão
são como lembranças
no chão da procissão
são como folhas
protegendo as letras
das chuvas
são como as ruas compridas
com tantas portas
mas nenhuma
saída
minha largada alma
já não tenho as palavras
as erradas
que te faziam sorrir
as certas
que te faziam pensar
as nossas
que nos faziam sonhar e amar
hoje as palavras
[de validade expirada]
não tem a frescura afiada
[de outrora]
nem a intensidade da novidade
[de antigamente]
enfim
não tem aquela capacidade
de borbulhar
aquele afeto
respingado
no peito
por mais que te arremessa
o amor falado
nos vocábulos
já não chegam
como antes
aos seios
com o gosto
dos lábios …