Crónicas : 

A escrita é um exercício de paciência

 
Um dos maiores problemas do escritor autodidata iniciante é a ânsia por atrair leitores. Na voracidade do mundo virtual onde todos têm algo a dizer sobre a inquietação de saber-se prestes a morrer, valemo-nos sempre da pressa. Cada um de nós, sendo um universo particular, têm muito a expressar. Dois são os impulsos naturais ao homem: cantar e narrar histórias. Escrevemos para sermos lidos, decerto.

O problema está quando essa angústia cega-nos por completo, fazendo-nos cair num ciclo de autocomplacência que, via de regra, apenas joga-nos pelo caminho da frustração. Sempre mais fácil render-se à ideia do "gênio incompreendido", cujo talento não é contemplado por fatores alheios a si. Essa espiral negativa, pode principiar-se de maneira imperceptível, quase nunca repleta de sinais homéricos (somos àquilo que fazemos com constância, afinal); iniciar-se com algum sentimento negativo com relação aos mais próximos, do tipo – "fulaninho não tem cultura" e escalonar para um tipo de mágoa paralisante.

A linguagem enquanto arte, e, mais, enquanto belas-artes, tem as suas próprias regras e estruturas que precisam ser assimiladas de maneira coerente por quem propõe-se a embrenhar por ela. Exige meditação diária. Naturalmente, o acuro técnico requer um alto nível de dedicação, o que tende a ser cansativo. Quando ouvimos o jargão "escrever é mais transpiração e menos inspiração" temos de ter a consciência de seu referente na realidade. Como colocado na premissa, todo e qualquer ser humano tem histórias a contar, a questão está na forma. No como expressá-la da maneira mais eficiente possível.

Aprendi - e tenho aprendido a cada dia - nesse caminho de mais de uma década aventurando-me como aprendiz da literatura pela internet que o meio eficaz para gritar "Eu estou aqui!" é oferecer a reflexão e as dúvidas ininterruptas aos confrades.
Gerar valor ao próximo, mesmo se mínimo. E gerar valor para arte está em vivenciá-la desde suas entranhas e devolver ao mundo os frutos colhidos, para assim tentar ajudar a sanar a fome contemplativa de outros tantos, perpetuar as suas sementes para gerações vindouras. Pelo exemplo. Com erros e acertos.

A minha grande aliada nesse processo tem sido a paciência. Paciência com o processo – a arte tem seu próprio fuso. Paciência para comigo mesmo, como quem reconhece-se ainda muito distante do almejado, mas sabedor do valor de cada passo.

(Tudo isso para dizer que estou iniciando uma newsletter com o foco no meu processo criativo, minhas referências, angústias, todas as "maluquices artísticas" das quais sou adepto, para assinar: https://lucasluiz.substack.com/
Bom, é isso. Espero vê-los por lá. Um abraço!)

 
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luscaluiz
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Enviado por Tópico
HorrorisCausa
Publicado: 20/07/2023 15:19  Atualizado: 20/07/2023 15:19
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 Re: A ESCRITA É UM EXERCÍCIO DE PACIÊNCIA / LuscaLuiz
olá LuscaLuiz

acho que já disse, anteriomente, que gosto das tuas crónicas. esta é mais uma, mais que teu poetar. enfim, limitação minha, não consigo gostar de tudo nem de todos. tal como sou um ser impaciente... principalmente na escrita. que fazer se ela pulsa intrínseca e quer exteriorizar?? mas sem vaidade... há tanto, mas tanto caminho a percorrer...
por isso, escrevo, salvaguardando a porção de sentimento ingênuo que já não há nos ares que respiramos.
não conheço característica mais difícil de desenhar que o ser/ter paciência.
o nirvana, possivelmente é o céu da paciência no seu estado puro, pelo que escreves nesta crónica estás nesse caminho.
A minha grande aliada nesse processo tem sido a paciência. Paciência com o processo – a arte tem seu próprio fuso. Paciência para comigo mesmo, como quem reconhece-se ainda muito distante do almejado, mas sabedor do valor de cada passo.
grata pela partilha de algo tão precioso, a escrita.

atenciosamente
HC