Poemas : 

Sedentarismo

 
O casaco de malha que revestia as costas da cadeira.
Antes aconchegava as de gente verdadeira
e agora estava triste, assim dependurado,
assim despido por troca com o ar condicionado.

As pernas cruzadas faziam ângulos retos,
quando antes, deliravam com movimentos
que respondiam a desequilíbrios constantes
para chegar a destinos mais ou menos distantes.

Os olhos morriam no luminoso monitor
hipnotizados por um monte de pixeis cheios de cor
que substituíam as letras dos livros de contos,
já transformados em corpos quase mortos.

O outrora leitor, cada vez menos o era.
Quase só respirava... era mais fácil.
A facilidade. É tão cómodo ficar-se só sentado à espera
e acreditar que tudo o que não é dado é inútil.

Valdevinoxis


A boa convivência não é uma questão de tolerância.


 
Autor
Valdevinoxis
 
Texto
Data
Leituras
295
Favoritos
1
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
15 pontos
3
2
1
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Sergius Dizioli
Publicado: 15/08/2023 10:50  Atualizado: 15/08/2023 10:50
Administrador
Usuário desde: 14/08/2018
Localidade: काठमाडौं (Nepal)
Mensagens: 2221
 Re: Sedentarismo
Sou uma das pessoas que, perto dos 70, bem transita pelas novidades da tecnologia. Entretanto, não me sinto algemado a elas e nem passei a desgostar do tradicional. Meu espírito metamórfico entende que há vantagens e óbices tanto na tecnologia como no tradicional.
Mas quando falamos de livros, sou absolutamente avesso à versão de silício. Vade retro e-book e e-readers.
Kobo, Kindle, Lev: Sunt mala quae libas, ipse venena bibas(*). Amo manusear o livro, folheá-lo, sentir-lhe o cheiro peculiar, abri-lo ao acaso numa pagina e deixar que a surpresa guie ou dedilhar letra a letra de capa a capa... Para mim o livro físico tradicional é insubstituível.
Teu poema me suscitou esse raciocínio dicotômico entre a ação e a inércia ao questionar como muitos de nós estamos abandonando a ação pela contemplação. Não é o meu caso que ainda vivo esportes radicais, as caminhadas e as 'baladas'. Tudo pela tua construção realista e primorosa:"O casaco de malha que revestia as costas da cadeira./Antes aconchegava as de gente verdadeira" ou "hipnotizados por um monte de pixeis cheios de cor/que substituíam as letras dos livros de contos"
Gosto quando as palavras se tornam imagens reais e vivas como o fizeste aqui. Fossem de papel amaria mais! Saudações.






(*) "É o mal que ofereces, bebas tu do teu veneno" - Oração de São Bento.

Enviado por Tópico
Srimilton
Publicado: 23/08/2023 16:36  Atualizado: 23/08/2023 16:36
Membro de honra
Usuário desde: 15/02/2013
Localidade: Nenhuma
Mensagens: 1830
 Re: Sedentarismo
Gostei do poema. Bacana.
Luz e paz!...

Enviado por Tópico
Dirose
Publicado: 23/08/2023 17:13  Atualizado: 23/08/2023 17:13
Membro de honra
Usuário desde: 02/08/2023
Localidade:
Mensagens: 111
 Re: Sedentarismo
sou e creio que o nobre poeta também é, (se não for minhas escusas) duma época que não valorávamos os pormenores das coisas que nos cercavam, exemplo; "casaco de malha que revestia as costas da cadeira", o livro físico. hoje somos forçados a repetir vez por outra aquela máxima que diz: eu era feliz e não sabia!

Di