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Branquinho

 
Ainda a esfregar os olhos, a Marlene salta da cama. De um pulo, já está a dar os bons dias à Dona, a sua coelha preferida. Desde sempre se deram bem, e agora mais do que nunca. O avô pediu para não lhe pegar, pois ela irá ter coelhinhos. Faz o ninho, algo nervosa, não mais que a menina, numa expectativa sem fim. O pêlo, manchado a preto e branco, destacou-a dos irmãos, todos castanhos. Desde cedo aceitou colo, regressando à companhia da família, no fim da brincadeira. E o gozo era evidente naquela face alegre. Talvez não só, por carregar no regaço aquele ser frágil, mimando, tanto quanto, ela mesma gostava de carinho. Talvez ainda, pela diferença natural de tamanho, a brincadeira de poder ser, ela própria, a mãe do bichinho.

A dada altura, foi chegado o tempo de apartar os pequenos, seguindo cada um o seu propósito. Aqueles foram todos destinados a ir para o curral grande, onde crescerão, até que alguém entenda que é o momento deles retribuírem os cuidados que aproveitaram. O avô pegava-lhes com jeito, e a neta ajudava. Ao colo, a Dona mudava de casa, sem nada saber. Num murmúrio de quem alinhava pensamentos, surge o comentário de que os outros já estão no ponto da matança, e que estes devem ficar bons, mesmo a tempo. Rápida, Marlene aperta a bolinha de pêlo contra o peito, perguntando: - Avô, a Dona não vai morrer, pois não? Tentando mostrar a ordem do mundo, veio a explicação que as coisas são assim, que não as podemos mudar. Mas neste caso puderam, tiveram de poder. A criança fincou pé, sem largar o seu tesouro, obrigando a uma mudança de planos. Ficará então, com um curral só para ela, para mais tarde ter filhinhos.

Está gorda, dizia, ainda sem compreender completamente o que se ia passar. E era agora. Segundo o avô, passavam dois dias, depois do tempo. Não sabia depois de que tempo, mas dizia que sim, que ia ser agora! E nesta manhã aconteceu. Bem cedo, ainda a esfregar os olhos, Marlene viu nascer, o último laparoto de uma ninhada de oito. Com certeza o branquinho, que se destaca dos irmãos.


Boa semana!

Garrido Carvalho

Maio '08


Caso alguém tenha uma sujestão de ilustração, que possa acompanhar esta pequena história, no sentido de a apresentar neste sítio internet, agradeço que a mandem por e-mail. Obrigado
 
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Garrido
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