Poemas : 

O Papel Que Cabia

 
Tags:  poesia  
 
Ouço muito sobre fome,
Mas não ouço tocar o nome
Das causas que impulsionam essa caravela.
Não sei se vejo um barco a vela ou uma novela.

A linguiça não é sadia,
Rasga a noite e engole o dia.
Passa e não passa a coisa fria
Que queima o papel que cabia.

O pronto socorro precisa existir,
Mas a vacina contra os males deveria surgir.
Pouco vale quebrar galho
Sem nada fazer lá na raiz.
A linguiça balança o chocalho
E o clone come, some e soma feliz.

Só remediar não coliga.
Como é que pode atacar a formiga
Sem atacar o formigueiro?
Assim a raposa toma conta do poleiro.
As causas da fome comem
Tudo que falta ao homem.

Magno Ferreira
 
Autor
magnoerreiraal
 
Texto
Data
Leituras
212
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
5 pontos
1
2
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Benjamin Pó
Publicado: 24/06/2025 14:01  Atualizado: 24/06/2025 14:01
Administrador
Usuário desde: 02/10/2021
Localidade:
Mensagens: 627
 Re: O Papel Que Cabia
.
Lembrou-me este:

As Pessoas Sensíveis, de Sophia de Mello Breyner Andresen

As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra

«Ganharás o pão com o suor do teu rosto»
Assim nos foi imposto
E não:
«Com o suor dos outros ganharás o pão»

Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem