I. Olhar filosófico
Se é preciso tempo para viver, por que vivemos como se o tempo fosse coisa alheia?
Medimos a existência em relógios, mas esquecemos que o tempo não se mede: se esculpe.
E na pressa de chegar, perdemos o único lugar que tínhamos: o agora.
II. Olhar psicológico
Vivemos ocupados, ansiosos, cheios de metas,
mas vazios.
O tempo nos escorre pelo afeto não dito, pela presença ausente, pelo abraço que virou notificação.
Ter tempo virou luxo, mas o luxo é poder parar e respirar sem culpa.
III. Olhar estético-existencial
Há beleza em uma tarde sem urgência.
Há arte em ouvir o silêncio de si mesmo.
Mas fomos ensinados que só vale o que produz.
E agora caminhamos entre obras inacabadas,
nós mesmos inacabados, cansados de tentar completar calendários que nos devoram.
IV. Olhar espiritual
E Deus, se é que ainda sussurra, não está no futuro que corre, mas no instante que pousa.
Amar é dar tempo, rezar é silenciar as tarefas.
A eternidade não está depois da vida: talvez esteja no intervalo entre dois pensamentos
sem cobrança.
V. Olhar poético
O tempo, menino traquina,
esconde-se debaixo da cama
sempre que queremos brincar.
Mas às vezes, ele volta
entre um café e um pôr do sol.
E se ri com a gente,
é porque sabe que viver
é também saber parar para dançar
com o que nos falta.
Síntese atemporal
Quem vive sem tempo, morre em partes.
E quem descobre o tempo dentro do peito,
descobre o coração como relógio:
não para medir, mas para pulsar