Na festa de Mata Verde, fantasia e realidade se confundem.
Saci-pererê, mula sem cabeça, bicho-papão, papa-figo, lobo mau…
Vão bem de verdade. São bem de verdade.
Eles falam o que querem e falam sério.
Brincadeira é querer amadurecer na festa de Mata Verde.
Querer distinguir o que é fantasia ou realidade é loucura,
É querer sarna pra se coçar,
É querer nadar contra a corrente,
É querer demais.
Ultrapassa os limites da brincadeira,
Que de brincadeira não tem nada.
Na festa de Mata Verde,
Há vantagem em ser criança
Ou brincar de criança.
Na verdade só meia dúzia de crianças se dão bem,
Mas o que importa na Mata é viver verde.
As chaves que abrem as portas e as porteiras
Não se movem de brincadeira,
Movem-se para movimentar:
O Saci-pererê, a mula sem cabeça, o bicho-papão, o papa-figo, o lobo mau e todos que estão na festa.
Movem-se para fazer a festa de quem não está na festa.
Na Mata, matérias verdes apodrecem sem jamais amadurecer.
A festa de Mata Verde é isso.
Não é pra brincar em serviço.
A festa da Mata cultiva profundamente o verde.
O saci-pererê, a mula sem cabeça, o bicho- papão, o papa-figo, o lobo mau…
Botam as crianças pra dançar,
Tiram os pés do chão e a cabeça do lugar.
Nessa festa quem quiser enxergar, ouvir, ou sentir com os próprios sentidos
Vai ver pedras e espinhos invadirem seus caminhos.